Ganhámos, ganhámos e voltámos a ganhar e alguns sportinguistas, não satisfeitos, parecem embalados na conversa dos comentadores oficiais do regime. Aproximam-se tempos tenebrosos, de jogos atrás de jogos, de dificuldades e mais dificuldades. O horror, a frustração, o desânimo estão ao virar da esquina! O que vai fazer o Ruben Amorim? Como é que irá reagir um Nuno Mendes, um Tiago Tomás ou um Bragança a estas exigências? E os amarelos? E o avançado que tanto vem como não vem? E o central, não precisamos de um central, vamos continuar com o Neto?
Este Natal foi um belo exemplo de que há coisas que interessam mais, muito mais. Este Natal foi chocho, muito chocho. A pandemia não dá tréguas e as mensagens foram poucas e pouco animadoras. Irritado, enviei uma série de mensagens de bom Natal com umas imagens parvas que para aí andam, com o Pai Natal vestido de verde e apelos ao exemplo do Sporting de isolamento e distanciamento. As respostas foram às pazadas de sportinguistas, de portistas, e de benfiquistas. De repente, estava a responder a um mar de gente. Um amigo de longa data, com o qual não converso há anos, liga-me e conta-me as histórias do filho mais novo, miúdo, do seu orgulho em ir à escola para demonstrar aos seus colegas benfiquistas e portistas com quantos paus se faz uma canoa.
Não, não estamos a perceber nada do que está a acontecer. A disputa do campeonato pouco importa. É mais, muito mais do que isso. Estamos a redimir-nos, a reconciliarmo-nos connosco próprios e com os outros. Já ganhámos, não custa assim tanto perceber. Devemos isso ao Ruben Amorim, ao Tiago Tomás, ao Coates, ao Neto [sim, ao Neto também!], ao Pedro Gonçalves, ao Nuno Santos, ao Sporar [também ao Sporar, sim senhor, ou não nos lembramos do penalty à Panenka no último minuto?!] e por aí fora. Há as sombras do costume e esta jornada foi pródiga nelas, no jogo do Porto e no do Benfica. Mas até os Contos de Natal do Charles Dickens não vivem sem o odiento Scrooge, que até ele se redime [se um dia houver juízo, talvez o futebol português aproveite esta oportunidade para se aproximar da redenção].
Nada do que possa acontecer nos retira o que já ganhámos, o que os nossos já ganharam com a nossa camisola. Não há ninguém, nem o Scrooge, que faça o tempo andar para trás. Não tendo desejado um bom Natal, desejo um excelente ano de 2021 aos rapazes da nossa equipa e, através deles, a todos os sportinguistas.