Por razões pessoais e profissionais e de manifesto desinteresse pelo mundo
da bola e seus arredores, o que talvez inclua grande parte do país, não foi
possível apresentar a minha versão dos factos que rodearam o último dérbi. Em
primeiro lugar já não me recordo da última vez que o Sporting ganhou um jogo na
luz para o campeonato, nem sequer tenho lembrança próxima de qualquer vitória
em clássicos recentes (Porto ou Benfica). São factos, discutíveis para alguns, mas factos.
Posto isto, que não interessa para nada, é preciso notar que
o jogo foi sorrateiramente inclinado para o Benfica pela arbitragem (o que até
nem ia dando em nada). Na primeira parte não me recordo de qualquer falta
assinalada ao Benfica, já o Sporting não leu a sebenta do costume e um
desorientado Inácio deixou-se ir à confiança. Basta atentar no dualidade de
critérios demonstrada no amarelo ao Edwards, deixando os entretidos
malabaristas Rafa e Di Maria, entre outros, mostrar todos os seus dotes artísticos
com a conivência dos juízes.
Posto isto, que já se sabia que possivelmente iria
acontecer, é preciso notar que o Sporting entrou no jogo em jeito de pisa ovos,
demorando a perceber que este Benfica é só fumaça, acabando a primeira parte
com um grande golo (e jogada) de um jogador que o ano passado, por exemplo, não
faria falta nenhuma, segundo informações próximas. Na segunda parte
concretizou-se a tentativa de inclinação do campo e, talvez por isso, o nosso
adversário praticamente não conseguiu criar qualquer perigo, tal era o declive que
certamente os estonteava.
A entrada de Paulinho, surpreendente para alguns, não apanhou
de surpresa aqui o escriba, já embalado com um bom tinto e embaciado pelo fumo
de alguns cigarros, porque o ano passado Paulinho já assumia lá na frente um
papel de defesa avançado, competindo com o Coates para o óscar de melhor
central de lança. Só é chato para o Bragança, que assim ficou a
perceber que, para o treinador, talvez o lugar dele seja no meio, mas do banco
de suplentes.
A mensagem do treinador foi eficaz, ficando o adversário
confuso com a sua fumaça, o declive acentuado do campo e a nova dinâmica
leonina, cujas pedras se amontoavam num caos de aparente lucidez futebolística.
Esse amontoado caos de aparente lucidez futebolística resultou num acumulado de
jogadores do Sporting dentro da pequena área (outros marcando com os olhos) o
que possibilitou a possibilidade (deixem passar) de um jogador do Benfica
rematar à baliza com todas as condições possíveis e imaginárias para fazer um
golo num treino entre familiares próximos. O que se passou a seguir foi mais
uma faúlha para juntar às pilhas do pacemaker que, como todos sabemos, é meio
caminho andado para qualquer sportinguista.
Dos dirigentes do Sporting, paladino incluído, nem uma
palavra sobre a inclinação do campo, não fossem para o ano deixar de ter
direito a camarote presidencial e, quem sabe, a um voucher com tudo incluído.
Nem nos miaus deste ano se miou sobre o assunto, apenas um bramido para o
império mumificado das antas, e uma palavrinha de relance para o trinador (esta
palavra existe) dos milhafres, como se agora um presidente tivesse de se
dirigir a um funcionário de outro clube. São factos, embora sem grande
interesse, de facto.