sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Bater e pegar-se com os outros, é assim a Taça Lucílio Baptista: uma merda

Não bastava ser um jogo para a Taça Lucílio Baptista. Não bastava o jogo ser aquilo que o Freitas Lobo designa em linguagem técnica como uma merda (é a primeira vez ao longo destes anos todos recorro a um palavrão; vão-me desculpar mas estou como o William Carvalho, não me sai uma de jeito). Ainda era preciso o Coates marcar um autogolo. Seja como for, passámos à fase seguinte por um critério qualquer como o da época passada. Qualquer coisa como a cor das meias ou assim.

O Belenenses fez o que lhe competia: esforçou-se, esforçou-se muito. Está tudo dito quando o melhor jogador deles é o Yebda. Bateu à esquerda, bateu à direita, bateu no Battagalia, bateu no Acuña e bateu na avó. Na primeira parte devia estar na rua. Continuou a bater na segunda parte e nem um amarelo para amostra. Percebe-se a intenção do árbitro. Tendo saído em precária, não se deve logo no primeiro jogo inviabilizar qualquer possibilidade, mesmo que remota, de reinserção social.

Do Sporting, só me lembro do Acuña. Pegou-se com o Fábio Coentrão. Pegou-se com o árbitro. Pegou-se com meia equipa do Belenenses. Até que, finalmente, pegou-se com a bola e meteu-a lá dentro para a castigar com o pé que tinha mais à mão, que só para chatear desta vez era o direito.

Esta coisa - que de coisa se trata - da Taça da Lucílio Baptista apura um tal de Campeão de Inverno. Não tenho preferência por nenhuma estação do ano. Primavera, Verão, Outono ou Inverno tanto se me dá. Sendo assim, prefiro o campeão das quatro estações, lá para maio, se não me falham as contas de cabeça.

Tristes figuras

Ontem, depois de uns comentários despropositados e vagamente encartilhados ao “post” que escrevi, procurei informar-me melhor sobre a atualidade dos emails. Voltei ao Francisco J. Marques e ao Porto Canal. A história das perguntas elaboradas pelo Carlos Janela para o Diamantino as fazer ao Luís Filipe Vieira foi um dos maiores exercícios de humilhação a que me foi dado assistir. Quem não se sente desconfortável ao ver aquilo?

Eu próprio me senti incomodado pelo Diamantino. O Diamantino foi um grande jogador de futebol. Talvez o Benfica não tenha ganhado uma Taça dos Campeões Europeus devido a uma lesão inoportuna que o impediu de jogar a final contra o PSV Eindhoven. Era meia equipa, nessa altura. É um símbolo do Benfica. É assim que a história e os símbolos de um clube merecem ser tratados? Não são os adeptos do Sporting que os tratam assim. São os próprios adeptos do Benfica e a sua Direção, ao não respeitarem o seu passado, promovendo tristes figuras, mesmo que o próprio não perceba ou não queira (ou possa) perceber.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Ninguém se sente enojado?

O futebol tem uma componente de aleatoriedade que confere uma imprevisibilidade aos resultados como praticamente nenhuma outra modalidade desportiva ou, pelo menos, as mais populares. Nessas modalidades, os resultados quase que podem ser determinados probabilisticamente a partir dos dados de cada jogo. As percentagens determinam os resultados, por outras palavras. No futebol, muitas vezes, demasiadas vezes não é assim. Num dado jogo, um acontecimento isolado, por muito inverosímil que pareça, pode determinar o resultado. É por isso que ao árbitros têm mais influência nos resultados nesta modalidade do que em qualquer outra e as suas decisões acabam por os determinar.

A influência dos árbitros nos resultados está mais documentada. Lembro-me de várias situações. Para, pelo menos, não parecer facioso, recordo algumas que não envolvem o Sporting. Recordo o Mundial de 2002, em que tudo se fez para que a Coreia do Sul fosse o mais longe possível na prova. Recordo o jogo entre Chelsea e o Barcelona para a Liga dos Campeões, em 2009, em que não foram assinalados quatro penalties a favor do Chelsea. Recordo, por fim, o jogo entre o Bayern de Munique e o Porto para a Liga dos Campeões, em 2000, em que, depois do golo do empate do Mário Jardel, o árbitro nunca mais deixou jogar o Porto até estar assegurada a vitória do Bayern de Munique. Assisti aos jogos e senti-me enojado.

Se era assim no futebol organizado pela FIFA e pela UEFA não era difícil de perceber que no futebol português a situação ainda era pior. O Apito Dourado revelou todas as práticas e relações perigosas entre os diferentes agentes do futebol português. Essas práticas e relações perigosas atingiam evidentemente toda a organização do futebol português. Se não foram promovidas, foram pelo menos toleradas pelos dirigentes da Federação e da Liga. Em vez de se levar a investigação até ao limite e varrer tudo o que havia para varrer, atribuiu-se a culpa ao Valentim Loureiro e ao Pinto da Costa e um estatuto de gente débil aos árbitros, especialmente a alguns deles. Circunscrevendo-se desta forma as responsabilidades, o famoso “sistema” estava oleado para continuar a funcionar com os mesmos e com outros protagonistas. O facto de ter passado quase incólume pelo Apito Dourado, dava-lhe mais força e autoridade ainda.

A recente revelação de emails demonstrou que o “sistema”, nas suas práticas e relações entre agentes, estava mais refinado. Em vez de telefonemas, passou-se às novas tecnologias e ao “agora, apague tudo”. Os media e a comunicação social agora também fazem parte desse "sistema". Assiste-se na televisão e nos jornais a autênticas campanhas de desinformação e manipulação da opinião pública. O que vem nos emails é grave, mas o que não vem, ou ainda não veio, é mais grave. Todas as patifarias que possamos imaginar se não aconteceram foi por mero acaso. As práticas e relações que as permitem estão à frente do nariz e atingem o coração do futebol português. Só não vê quem não quer ver. A simples suspeita mata, neste caso o futebol português.

A Federação e a Liga apelam às boas maneiras e à paz no futebol, como se o problema fosse de discurso e da mania de se andar à pancada e não de organização e de adoção de práticas e relações adequadas da sua estrita responsabilidade. O governo e as organizações do Estado, nomeadamente o IPDJ e a ERC, assobiam para o lado. O Ministério Público e a Judiciária parecem ser os únicos a fazer alguma coisa perante o alarme social. Mas o tempo da Justiça não é o tempo dos cidadãos e das suas organizações e a sua aplicação não pode, não deve deixar de se basear na presunção da inocência.

Nestas circunstâncias, como defendi, este campeonato nem se devia ter iniciado. Aparentemente, está-se à espera que a caravana passe mesmo que os cães estejam mais acirrados do que nunca. Não me parece que seja possível. Com o campeonato disputado como está pelo Benfica, Porto e Sporting, é possível? Se até lá não acontecer nenhuma desgraça, alguém acredita que no Marquês de Pombal ou na Avenida dos Aliados se vai fazer uma simples festa do título? Ninguém vai fazer nada? Não está ninguém desse lado a ler e a ouvir o que se passa? Ninguém se sente enojado?

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O Sporting é um clube estrangeiro a jogar no campeonato nacional

Tenho para mim, que quem não valoriza as outras equipas e os seus jogadores não valoriza a sua própria equipa e os seus jogadores. Como simples adepto do Sporting, não posso deixar de reconhecer que o Jonas é um goleador praticamente insuperável e que o Brahimi talvez seja o melhor jogador do campeonato. Por reconhecer essas qualidades, é que ficarei mais contente quando ganharmos ao Benfica e ao Porto. Mesmo quando se joga contra equipas de outros países, não me custa nada reconhecer o mérito dos outros, mesmo do Messi, e detesto o estilo patrioteiro dos nossos relatos de futebol.

Tudo isto vem a propósito dos relatos da SporTv. Como vejo os jogos no café da esquina, não posso mandar baixar o som. Jogo atrás de jogo ouço sempre o mesmo. Qualquer perneta da equipa que joga contra o Sporting é transformado num astro do planeta futebolístico. Quem ouvisse o relato do último jogo, achava que o Nakajima era muito melhor do que o Gelson Martins ou que o Paulinho era melhor que o Bas Dost, tais as referências encomiásticas a estes jogadores e sem qualquer paralelo com a avaliação dos do Sporting. Para os relatores e comentadores, o Sporting deve ser um clube estrangeiro que, vá-se lá saber porquê, pretende insistentemente jogar o campeonato nacional.

domingo, 17 de dezembro de 2017

Não se importam de falhar menos golos para a próxima, se faz favor?

Foi um jogo sem história ou, por outra palavras, com uma história de golos falhados e de um vitória que acabou por ser fácil. Entrámos a toda a brida e não demos a tradicional meia parte de avanço. Com o Podence e o Gelson Martis a aparecerem por todo o lado, qualquer defesa começa a adornar. Marcámos um golo na primeira meia hora, mas ficámos a dever à falta de jeito no último passe e a hesitações na finalização mais um ou outro. Mas o golo foi uma delícia: o Podence recebe a bola no meio, avança e ameaça um passe para a desmarcação do Bas Dost, faz uma revienga e passa de calcanhar a bola por trás das costas e desmarca pelo meio o Bruno Fernandes que, na cara do guarda-redes, faz golo com a frieza de um veterano de uma qualquer equipa italiana.

O Portimonense fez o que pôde e o que não pôde para se manter à tona. Por volta da tal meia hora equilibrou mais o jogo. Durante a primeira parte, destacou-se um tal de Paulinho, que sentou duas vezes o Mathieu e mandou uma biqueirada para a bancada, e um tal de Nakajima, que, supersónico, ficou de caras com o Patrício e o seu pânico por se encontrar frente-a-frente com ele levou-o a aliviar a bola pela linha de fundo. Seja como for, o Portimonense tentou sempre jogar o jogo pelo jogo sem as mariquices das perdas de tempo e do autocarro do costume. Não deu, mas podia ter dado.

Para a segunda parte a malta estava desconfiada. Como se viu, o Portimonense não veio a Alvalade para alegrar a festa e para desistir à primeira contrariedade. Continuámos a falhar golos, mas o jogo estava animado. Adivinhava-se o golo do Sporting – até por que o Bas Dost ainda não tinha marcado nenhum – mas o Portimonense não dava ar de se resignar. Até que o lateral direito se passou da cabeça e quis arrancar a canela do Acuña. O árbitro mostrou-lhe o segundo amarelo, mas podia, e devia, ter mostrado o vermelho direto. A jogar contra dez, o cerco do Sporting apertou-se e marcámos o segundo. O Bas Dost recebeu a bola no meio, desmarcou o Gelson Martins que, depois de ir à linha, atrasou para o Bruno Fernandes dar um toque para o lado onde apareceu o Bas Dost novamente a marcar como se de um penalty se tratasse: fez a paradinha habitual, atirou o guarda-redes para um lado da baliza e rematou para o outro.

O Jorge Jesus mandou, e bem, acabar com a brincadeira e tirou o Acuña, que estava um pouco chocho, diga-se, e o endiabrado Podence, metendo o Bruno César e o Battaglia. Passámos a controlar mais o jogo, o Portimonense continuou a tentar, mas o meio-campo e a defesa chegavam e sobravam para as encomendas. Com o jogo neste marasmo, passei a ter um olho na televisão e outro na leitura de um livro de John Roemer, “Um futuro para o socialismo marxista”, que tinha acabado de comprar no Continente, juntamente com o bacalhau, que o “voucher” de 15% acabava esta semana (não deixa de ser espantosa a combinação de coisas que podemos comprar nestes hipermercados; não existe ideologia ou a ideologia é a do consumo à esquerda ou à direita das prateleiras).

O Roemer, às páginas tantas, afirma que os países da COMECON apresentaram melhor desempenho económico que os países da OCDE desde o pós-guerra até aos anos 70. O declínio deveu-se a problemas de agente-principal e à incapacidade de inovar sem estímulos de mercado. No Sporting não parece que tenhamos esses problemas: os interesses dos agentes (jogadores) correspondem aos interesses do principal (treinador), isto é, embora o Jorge Jesus não faça como o Estaline e não mande os jogadores para o Gulag, ninguém se atreve a não fazer o que ele manda, e a inovação, enquanto deixarem jogar o Podence e o Gelson Martins, parece não ter fim.

domingo, 10 de dezembro de 2017

Os cinquenta por cento do assassino silencioso

Se não fossem a transmissão da SporTv e os comentários do Freitas Lobo, o jogo contra o Boavista teria sido aquilo que se designa tecnicamente por uma chatice pegada. Aprecio a capacidade do Freitas Lobo de descobrir nos jogadores das equipas que jogam contra o Sporting qualidades que eles próprios nem desconfiam. Jogadores que ninguém conhece de parte nenhuma, depois de uma corrida, de um remate ou de uma canelada passam a ser extraordinários. Os do Sporting não merecem nenhuma referência quando todos sabem que são grandes jogadores e não precisam de nenhum jogo em particular para o demonstrar.

Aprecio especialmente o seu desprendimento em falar da arbitragem, quando os erros penalizam o Sporting, pelo facto de amar o jogo, seja isso o que for, embora se descaia com uma curiosidade mórbida quando os erros podem beneficiar o Sporting. Constitui nos tempos que correm o melhor vídeo-árbitro. Decide rapidamente mesmo sem ver a repetição. Hoje no penalty sobre o Podence voltou a ser tão perentório como no fora-de-jogo do Bas Dost no golo do Battaglia contra o Paços de Ferreira.

Com esta banda sonora, a transmissão da SporTv foi um petisco. Na primeira parte, apreciei de sobremaneira as duzentas e vinte repetições de uma falta de um jogador do Boavista sobre o Piccini, como se a decisão tivesse sido errada. Apreciei a forma expedita como procederam à repetição do golo do Boavista do único ângulo em que era possível verificar da existência (ou não) de fora-de-jogo. Só depois do vídeo-árbitro se decidir é que a SporTv se decidiu igualmente mostrar-nos esse ângulo da transmissão. Antes disso, mostrou-nos a repetição sempre de ângulos absolutamente inconclusivos para essa análise.

O penalty sobre o Podence é indiscutível. O Podence ganhou a posição e ia disputar a bola de cabeça quando um calmeirão do Boavista veio desembestado e o atropelou acertando em tudo que se mexia, desde a bola ao jogador adversário. Logo a seguir, junto à linha lateral o Fábio Coentrão ganhou de cabeça a bola por detrás do jogador do Boavista e o árbitro não teve dúvidas em marcar falta. Aliás, se dúvidas existissem na dualidade de critérios, vale a pena rever o lance em que o Coentrão leva amarelo numa outra disputa de bola de cabeça. Se esse lance é para amarelo, então aquele que envolveu o Podence merecia o vermelho. O golo do Boavista é muito duvidoso, para não se afirmar definitivamente que é fora-de-jogo. Por menos, este ano, o Portimonense viu um golo anulado na Luz. Em ambos os lances sou capaz de dar o benefício da dúvida ao árbitro. Não dou é o benefício da dúvida aqueles que não o dão quando a dúvida pode favorecer o Sporting.

Até agora, falei da SporTv, do Freitas Lobo e do árbitro. Não é para me candidatar a comentador de nenhum programa televisivo. É que o jogo propriamente dito foi uma chatice pegada, como disse. Na primeira parte, o Boavista fez das tripas coração e deu o que tinha e o que não tinha para que não se jogasse à bola. Não fez antijogo, no sentido que é atribuído à palavra. Fez um jogo que é a antítese do jogo: muita correria, muita luta, muita biqueirada e nem uma jogada em condições. Desde que não se jogasse à bola, o dia estava ganho. O Sporting, por sua vez, entrou em campo a pensar que ainda estava na Liga dos Campeões, onde quem tem melhores jogadores e joga melhor costuma ganhar.

Como de costume, preparávamo-nos para dar uma parte de avanço quando, numa biqueirada para a frente, o Bas Dost ganhou uma bola de cabeça e desmarcou o Podence no lado direito. O baixinho ficou á espera que o Bas Dost e mais alguém aparecessem na área para meter a bola. Para ganhar tempo, fez uma finta ao Talocha e continuou a esperar. Enquanto continuava a esperar, repetiu a finta vinte e quatro vezes, para um lado e para o outro, até que desesperado acabou por apostar as fichas todas num centro ao segundo poste para uma cabeçada em câmara lenta do Fábio Coentrão, que deu o nosso primeiro golo.

Na segunda parte, a perderem por um a zero, os jogadores do Boavista precisavam de jogar à bola. Não no sentido que o Freitas Lobo vinha elogiando, mas fazendo jogadas com cabeça, tronco e membros, concluídas com remates à baliza do Rui Patrício. Com a necessidade de fazerem o que não sabem e depois das canseiras resultantes de umas tantas correrias tontas na primeira parte, tudo parecia mais fácil para o Sporting. Era fácil e mais fácil se tornou quando o Bas Dost se deixou de mariquices e foi a um ressalto à Slimani e a meteu lá dentro com o joelho. Quando parece que tudo está facilitado, há sempre um jogador do Sporting que tem um apagão e oferece um golo ao adversário. Neste jogo não fugimos à regra e o Coates resolveu oferecer um golo ao Mateus, que conta mais anos de idade que o do Evangelho. Quando nos preparávamos para mais um sofrimento à Sporting, o Bas Dost ainda antes do cabeceamento do Mathieu desmarcou-se para o lado contrário para onde se dirigia a bola, empurrando-a depois ao segundo poste.

Ganhámos ao Boavista como a Juventus ou o Barcelona nos ganhou a nós. Os jogadores são melhores e a equipa no seu conjunto também. É o que acontece mesmo quando se joga assim-assim ,mas se tem um assassino silencioso como o Bas Dost. Teve duas oportunidades e marcou dois golos. Contra o Barcelona, também teve duas e não meteu nenhuma. Prossegue assim uma época em que apresenta um nível de eficácia próximo dos cinquenta por cento.

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Foi tão bom para ti como para mim, não foi?

Dois grandes treinadores, dois grandes senhores do futebol mundial. Decidiram tudo no “pré-match”. O Jorge Jesus avançou primeiro: “Valverde, não metes o Messi e eu não meto o Bas Dost. Que dizes?” Valverde, como grande negociador, contrapôs: “Não chega. Tens de meter o pastelão do Alan Ruiz”. Jorge Jesus não se ficou atrás e procurou fechar o negócio: “Meto o pastelão do Alan Ruiz e tu metes o pastelão do André Gomes”. “Fechado”, conclui Valverde, acompanhado da bacalhauzada do costume. Duas notas sobre este diálogo: a enorme dificuldade em traduzi-lo do espanhol e o facto de o Jorge Jesus, como qualquer Secretário-geral da Organização das Nações Unidas, tratar toda a gente por tu.

Com os dois maiores goleadores europeus fora de campo e, em vez deles, dois dos maiores pastelões da Europa e, até, do Mundo, a primeira parte decorreu como se esperava. Não aconteceu rigorosamente nada. O Barcelona foi trocando a bola até lhe ser marcado jogo passivo. O Sporting resolvia tudo muito mais depressa, perdendo a bola sob qualquer pretexto ou sob pretexto algum. Salvou-se um nó do Luis Suárez sobre o Coates seguido de um remate para grande mancha do Rui Patrício. Pensei que se tratava de uma quebra do código de conduta grave entre dois uruguaios e que tudo podia acabar com o Coates a enfiar-lhe uma chuteira pelo esófago abaixo. Depois percebei que era tudo a brincar e combinado com o Rui Patrício. O Rui Patrício precisava de aquecer para a entrada do Messi e, como se viu depois, adora chatear qualquer Bota de Ouro.

Na segunda parte, tudo mudou. O Jorge Jesus quebrou o pacto de não-agressão. Tirou o pastelão do Alan Ruiz e meteu o Bas Dost. Para que não existissem dúvidas sobre as suas (más) intenções, meteu o Gelson Martins também. O Valverde nem queria acreditar no que via e colocou o Messi a aquecer. Mesmo com ele a correr fora do campo, o Barcelona desatou logo a jogar melhor. De repente, estava no banco a despir o fato de treino. O Jorge Jesus deu imediatamente ordens para deixarmos marcar um golo para que, na dúvida, o Valverde não o metesse. Só assim se explica que, na sequência de um canto, um jogador de metro e meio tenha marcado de cabeça um golo ao primeiro poste sem saltar praticamente.

Mas o Valverde estava furioso e não voltou atrás e o Messi entrou mesmo. Com medo que ele entrasse desembestado e desatasse a correr, fintar e marcar golos, o Jorge Jesus deu ordens para o Bas Dost falhar golos de baliza aberta para não o irritar ainda mais. Não era preciso, como se viu. O Rui Patrício entre o Ronaldo e o Messi não tem dúvidas. É capaz de levar um golo de remate do Ronaldo do meio-campo, mas come remates do Messi à entrada da área ao pequeno-almoço todos os dias. O dois zero só aconteceu porque o Mathieu queria demonstrar que o Rui Patrício só leva golos parvos e sem culpa nenhuma.

Noutro contexto, tudo isto teria acabado com o Valverde a empurrar para trás com a perna despida os lençóis e a passar o cigarro ao Jorge Jesus, depois de uma puxa profunda, enquanto perguntava: “foi tão bom para ti como para mim, não foi?”

Pensei que o Benfica tinha pulverizado todos os recordes da Europa. Não é verdade. Fiquei a saber que não bateu o recorde do Dínamo de Zagreb. Foi por pouco, mas há que dar o mérito a quem o tem. Mesmo assim, não deixa de ser um feito passar a ser a pior equipa que jogou a Liga dos Campeões abaixo dos 45 graus de latitude e a oeste dos 15 graus de longitude.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Pôr as barbas de molho

Na época passada apanhámos o Jorge Sousa como árbitro no jogo contra o Benfica na Luz. Todos nos lembramos dos penalties que não foram marcados. Num deles, o transporte da bola com o braço é de tal forma flagrante que mesmo no voleibol, no andebol ou no basquetebol seria falta. Este ano, o Jorge Sousa calhou em sorte ao Porto no jogo contra o Benfica no Dragão. Um penalty não assinalado e um golo mal anulado, foram os resultados da arbitragem do melhor árbitro português. O Benfica, que devia ter saído do Dragão a oito pontos, saiu a três de distâncias do Porto e do Sporting.

Não tenho nenhuma procuração para defender o Porto. Não gosto do Porto, especialmente do Pinto da Costa. Detesto é coincidências. Detesto mesmo, por que de outra coisa não se está a tratar. Por outras palavras, espera-se que por coincidência não aconteça na Luz o mesmo que aconteceu na época passada. Entretanto, convém ir pondo as barbas de molho.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Picar o ponto

Pedia-se aos jogadores que fizessem o seu trabalho e ficassem à espera que no Dragão os do Porto e do Benfica fizessem o mesmo. Se todos fizessem o seu trabalho, nós ganhávamos sempre. Fizemos o nosso trabalho. Estamos à frente, nem que seja por um par de horas.

Começámos bem, com o Podence endiabrado. O Podence tem tanto de endiabrado como de inconsequente. Ninguém avisou os jogadores do Belenenses e na primeira oportunidade um deles atirou-o ao chão dentro da área. Penalty sem vídeo-árbitro e com vídeo-árbitro, que assim é que é bonito. O Bas Dost fez o truque do costume que acaba sempre com o guarda-redes sem saber bem o que fazer à vida. É uma pardinha em câmara tão lenta, tão lenta que suspeito que se um dia um guarda-redes não se atirar para um dos lados o Bas Dost fica petrificado com o pé direito no ar até se transformar numa estátua.

Continuámos a insistir até á meia-hora. Os jogadores do Belenenses mal ganhavam a bola perdiam-na logo a seguir tal a rapidez à sua perda pelos jogadores do Sporting. Criámos uma outra jogada perigosa, ficando sempre a um danoninho de sair um último passe bem feito. Depois dessa meia-hora, o Belenenses equilibrou o jogo e foi toda a gente para o intervalo entediada.

Na segunda parte o Belenenses entrou melhor e passámos a cheirar a bola. Não ganhávamos uma única bola, parecendo que a equipa se estava a ressentir fisicamente. O Jorge Jesus meteu o Battaglia e a porta ficou mais ou menos trancada. Depois, foi substituindo os jogadores que mais a cair para o lado estavam. Saiu o Acuña e entrou o Bryan Ruiz. Perto do final, entrou o Bruno César e saiu o Bruno Fernandes.

Estivemos em três ocasiões para matar o jogo. Na primeira, o William Carvalho rematou contra as pernas de um defesa. Na segunda, tudo foi bem feito, incluindo o remate do Bryan Ruiz, e um defesa safou a bola na linha de golo sem saber ainda hoje como o fez. Logo a seguir, na sequência de um canto, o Coates ganhou de cabeça no meio e junto ao poste o Bas Dost falhou o desvio.

Sem conseguir matar o jogo, resistimos muito bem até ao final. Mais uma vez, encanámos a perna à rã em todos os centímetros de terreno. O Bryan Ruiz levou uma sarrafada e ficou no chão. O Battaglia levou uma canelada e ficou no chão. O Bas Dost levou uma cotovelada no peito, impedindo-o de chegar à bola, e ficou no chão. De cada um dos livres, saía sempre uma série de passes até se ganhar outro, um lançamento de linha lateral ou um pontapé de canto.

Ganhámos bem, mais pela forma como defendemos do que pelo ataque. Porventura, o resultado mais certo seria o dois a zero. O Belenenses jogou bem, mas não criou uma oportunidade de golo. Agora, vou ali ao Flávio ver como é que os andrades e os lampiões se estão a safar.

PS. Vi os últimos 35-40 minutos do jogo do Porto contra o Benfica. O antijogo e as permanentes zaragatas que protagoniza a equipa do Benfica transformam qualquer jogo numa final da Taça dos Libertadores entre o River Plate e o Flamengo.

domingo, 26 de novembro de 2017

Cada equipa tem o Aboubakar que merece

Depois de uma boa exibição para a Liga dos Campeões e do empate do Porto ontem, o jogo contra o Paços de Ferreira era decisivo. O Jorge Jesus meteu os melhores, mesmo que o Acuña não parecesse estar nas melhores condições, e assim ninguém o pode acusar de não “meter a carne toda no assador”. Nestas circunstâncias, as equipas que querem ganhar campeonatos não podem vacilar. Não vacilámos e é o que fica para a história.

O jogo foi razoavelmente chocho. Não entrámos muito bem. O Paços de Ferreira entrou melhor. As primeiras jogadas de ataque foram deles. Depois equilibrámos o jogo e, mais ou menos, a passo começámos a chegar à baliza. Começou por falhar o Gelson Martins e um pouco mais tarde o Bas Dost, de forma escandalosa (para um jogador como ele). Acabámos por marcar à Porto, na sequência de um canto. Bola desviada ao primeiro poste pelo William Carvalho, seguida de uma série de carambolas entre o Battagalia, o Bas Dost e o Coates, com o guarda-redes à mistura. Marcou o Aboubakar à segunda, depois do Marega também se ter metido ao barulho mais o Danilo. O Freitas Lobo quis logo fazer de vídeo-árbitro e anular o golo. Para quem diz amar o jogo e que não gosta de falar das arbitragens, convém não cometer este tipo de deslizes, não vamos pensar que se trata de um amor de conveniência.

A partir daí, continuámos a encanar a perna à rã com mais afinco ainda, esperando o intervalo. Entrámos na segunda parte para continuar a encanar a perna à rã até ao final do jogo. O Paços de Ferreira é que não estava para brincadeiras e continuava a insistir, sem grande jeito, diga-se. O Mathieu é que também não estava para brincadeiras e desatou a jogar contra o resto do Mundo, enquanto o William Carvalho continuava a marcar os adversários com o olhar. O seu olhar penetrante costuma chegar, mas nada impede uma ou outra canelada e um ou outro encosto.

O Jorge Jesus tirou o Acuña e meteu o Bruno César, o que se compreende (porventura, a melhor solução de início deveria teria sido a inversa). O Battaglia mandou uma biqueirada na bola e, ao mesmo tempo, levou uma cacetada de um adversário, lesionando-se,  tendo entrado o Bryan Ruiz. Esperava-se que fosse para o lado esquerdo, deslocando-se para oito o Bruno César. Não foi assim que aconteceu, ficando a mosca morta do Bryan Ruiz no meio. No passado, esta opção deu sempre para o torto. Hoje, não deu para ver, por que enfiámos a segunda batata logo a seguir, com um centro do Coentrão para uma revienga do Gelson Martins seguida de um remate rasteiro junto ao poste. Esperemos que os restantes jogadores aprendam com o Coentrão. Mesmo a dez à hora, não falha um passe e, quando chega ao momento de meter a bola na área, não a manda para a molhada, fazendo passes direitinhos para o jogador que está melhor colocado.

Ficámos a dois pontos do Porto. Mérito nosso, que ganhámos, e de mais uma trapalhada da arbitragem. Mas não fomos só nós que ganhámos: o Benfica não vai ao Dragão a cinco pontos de distância do Porto, podendo de lá sair a oito. Convém não nos iludirmos: para a próxima toca-nos a nós.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Greves assim-assim

Comecei por ouvir que os árbitros iam fazer greve na próxima jornada do campeonato. Afinal não era verdade. Iam pedir dispensa alegando que não andam bem psicologicamente (costuma-se dizer que não andam bem da cabeça), mantendo, portanto, o salário. Era uma greve que não podia ser greve por que seria ilegal. Seria uma coisa em forma de assim.

Afinal também não era verdade. Tinham metido dispensa tarde e a más horas e a dispensa só podia ser concedida passados vinte dias. É uma greve que não é greve, convocada nos prazos legais, mas não envolvendo o respetivo sindicato. Este é um exemplo com enorme potencial para ser replicado em todas as profissões em Portugal. Os professores, os enfermeiros e os trabalhadores do INFARMED devem ser os senhores que se seguem.

A dispensa é fundamentada nas suspeições e críticas e, sendo assim, na necessidade de dar um murro na mesa, pelo que li por aqui. Os juízes julgam dando com o martelinho na mesa. Os árbitros julgam aos apitos. Não vejo como é que podem passar a julgar aos murros na mesa. Não me parece que se façam ouvir assim, para além de ser bastante incómodo andar no relvado com uma mesa debaixo do braço. Também é um excelente exemplo para ser replicado em Portugal por todas as pessoas e instituições que julgam o cumprimento de regras. Se quem é julgado critica e recorre de decisões, passa a contar com o amuo e, depois, a greve ou a dispensa de quem julga. Os ladrões agradecem.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

“My job is scoring goals”

Foi assim que acabou a “flash-interview” do Bas Dost. Não me lembraria de melhor resumo do jogo. O Bas Dost marcou dois golos e fez o seu trabalho. A equipa ganhou, arrecadou a massa da Liga dos Campeões e apurou-se para a Liga Europa, que sempre serve para entreter a malta a meio da semana no próximo ano, fazendo assim o seu trabalho também. Se fôssemos o Benfica, estaria toda a gente a lembrar-se do empate do Olympiacos com o Barcelona e, de máquina de calcular em punho, a dizer que o Messi não tinha jogado hoje contra a Juventus para se poupar para o próximo jogo da Liga dos Campeões.

Foram três golos mas podia ter sido mais um ou dois. Faltou o do Bruno Fernandes. O rapaz ficou descoroçoado, mas também ninguém o manda tentar marcar golos com remates ao ângulo. O primeiro golo é arte de cavalgar a toda a sela de um ponta-de-lança, com a desmarcação ao primeiro poste do Bas Dost e o desvio da bola para a baliza, fazendo a bola bater leve, levemente nas redes da baliza como quem chama por mais. O segundo é todo um manual de chuta-chuta. Bruno César chuta contra um defesa, pressiona outro, ganha o ressalto e chuta outra vez de bico para a baliza. Como se demonstra, quem chuta sempre alcança. O terceiro está-se a transformar num clássico em Alvalade: canto, centro de Bruno Fernandes e Bas Dost a encostar de cabeça, invertendo o sentido da bola e deixando o guarda-redes em contrapé.

Este foi o melhor jogo da época do Sporting. Quando assim é, não há muito a dizer. Jogámos bem. Merecemos ganhar. Controlámos o jogo do princípio ao fim e só foi pena o golo final do Olympiacos. Não foi tanto pelo golo mas pela forma como aconteceu, com um jogador adversário a impedir que o Rui Patrício defendesse o remate. Se assim não fosse, o Rui Patrício tê-lo-ia defendido e estaríamos, agora, a dizer que mais uma vez demonstrou que está entre os três melhores guarda-redes do Mundo.

sábado, 11 de novembro de 2017

Que equipa de andebol é esta?

Ganhámos o campeonato da época passada. O Porto perdeu-o mais do que nós o ganhámos. A equipa parecia irregular e tremia nalguns momentos de jogo. Muito à imagem das equipas portuguesas, não jogava consistentemente durante 60 minutos. O Hugo Canela não parecia capaz de tirar o devido proveito dos jogadores. Parecia sobretudo que os jogadores se tinham unido para dar o título ao treinador e aos adeptos.

Para esta época, a equipa não mudou muito. Entraram o Tiago Rocha, o Pedro Valdez e o Felipe Borges. Percebia-se a entrada do “pivot” e do ponta, face à saída de Zabic e à lesão do Pedro Solha. Percebia-se menos a entrada de um novo lateral esquerdo, quando as lacunas pareciam estar na lateral direita, onde nem o Bozovic nem o Cláudio Pedroso parecem convencer definitivamente.

Vi o jogo contra o Montpellier e vi o jogo de hoje contra o Besiktas. Quase não acredito no que vi nestes dois jogos. Ainda admiti que o jogo contra o Montpellier tivesse sido especial, por não se ter nada a perder a pela motivação adicional. O Hugo Canela parece estar a escrever direito por linhas travessas, colocando novamente o Frankis Carol a lateral direito.

A primeira linha está absolutamente explosiva com o Frankis Carol, o Edmilson Araújo e o Pedro Valdez. Se lhes dão espaço é golo pela certa. Se não lhes dão, o Tiago Rocha ou marca ou saca os dois minutos da ordem. A defender mantém-se o 6x0 do Zupo, mas menos estático e com mais saídas a fechar linhas de passe e a bloquear os laterais. O Pedro Valdez parece um monstro.

Parabéns à equipa e ao Hugo Canela. Parabéns à realização da SportingTv. O locutor é frenético como se espera num jogo em que não há tempo a perder e o resultado é sempre incerto. O comentador é do melhor que ouvi até hoje: ensina-nos e ajuda-nos a perceber o jogo e apreciá-lo melhor. Ambos têm um enorme respeito pelo jogo, pelos adversários e pelos árbitros.

domingo, 5 de novembro de 2017

O último a ficar de pé é o culpado

Piccini, Mathieu, Coentrão, Acuña, William Carvalho, Bas Dost: nem o “Sitting Bull” infligiu tantas baixas às tropas do General Custer como o Jorge Jesus à sua própria equipa. Quem é o senhor que se segue? O Gelson Martins? O Bruno Fernandes? É sempre o que nos vem à cabeça quando acaba um jogo.

O que mete ainda mais confusão nem sequer são as sucessivas lesões musculares; estamos sempre à espera. É elas acontecerem ao vivo e em directo durante os jogos. Qualquer um que tivesse visto o jogo contra o Rio Ave percebia que o Acuña estava no limite. Voltou a jogar de início contra a Juventus. Hoje, contra o Braga, há meia-hora estava esticado no chão. Era preciso ter-se chegado a este ponto?

É verdade que o vídeo-árbitro não nos ajudou. Se tivesse anulado o golo do Bas Dost, o Braga não se teria lembrado de atacar. Continuaria desconfiado. A vinte minutos do fim não tinha nada a perder. O Abel meteu uns ciclistas e a equipa do Sporting foi-se abaixo com estrondo, perante a impotência do Jorge Jesus (estava à frente do nariz que era necessário meter um trinco para avançar o Battaglia, dado que ele, o Bruno César e o Bruno Fernandes, não davam conta do recado). Sofremos dois golos, mas poderíamos ter sofrido muitos mais. Fomos salvos pelo Alan Ruiz, que se preparava para sair da área com a bola e, como de costume, encanzinar mais uma jogada, procurando avançar às arrecuas. É a ironia do destino acabarmos por nos salvar por um jogador que estava de costas para a baliza.

Não sei como é que se recupera fisicamente esta equipa com o campeonato em pleno andamento. O Jorge Jesus ainda vai ser o treinador que mais irá apostar nos jovens. A continuar assim, não lhe restará outro remédio se não meter os miúdos da equipa B e dos juniores. A não ser que queira ver os jogadores a cair um a um durante os jogos. Tem uma vantagem: o último a ficar de pé é o culpado.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Quase, quase!...

Primeira vitória: não perdemos com a Juventus. Segunda vitória: a Juventus não nos ganhou. Estivemos quase a não perder os jogos com o Real Madrid, o Borussia de Dortmund, o Barcelona e a Juventus. Desta vez, novamente com a Juventus, estivemos quase a ganhar o jogo. Não foi quase, foi quase, quase!... Parafraseando George Orwell, os quase são todos iguais mas há uns mais iguais do que outros.

Só vi a última meia hora de jogo e, por isso, não posso dizer muita coisa. Quando comecei a ver, a Juventus estava a pressionar que não era brincadeira e o árbitro ainda mais, com uma pressão altíssima (começou logo com um cartão amarelo ao Bas Dost de ir às lágrimas). Mas quem estava a pressionar ainda mais era o comentador da SporTv. A ansiedade era muita, a vontade ainda mais, foi pena os jogadores da Juventus não ouvirem, tão embrenhados estavam no jogo, e não seguirem as suas instruções. É uma situação a rever na próxima oportunidade, para que não se corra o risco de ganharmos o jogo.

Vi pouco e pouco me foi dado rever. Dizia-se que a defesa estava remendada, mas, pelo que me foi dado observar, pareceu-me nova em folha. Não foi pela defesa que sofremos o golo. Foi culpa única e exclusiva da Juventus e dos seus jogadores. Começa tudo numa viragem de flanco muito longa para um jogador ganhar de cabeça e passar para o meio, onde apareceu outro a atrasar de primeira para Cuadrado, que ficou com todo o espaço e tempo para decidir como entendesse, avançando, rematando ou passando, o Ristovski baixou da linha de fora-de-jogo para marcar por dentro e cobrir uma desmarcação e, embora tenha recuperado rapidamente, colocou em jogo o Higuaín, que se tinha desmarcado nas costas do André Pinto, para transformar o difícil naquilo que até parece fácil nos pés e na cabeça dele. Foi sem espinhas: limpinho, limpinho!...

Do que li, vi e revi, retiro duas ou três conclusões. Pode ser que o Jorge Jesus tenham percebido o que qualquer pessoa bem-intencionada percebe: todos têm direito a uma segunda oportunidade na vida, quanto mais para jogar na sua equipa. Nestes jogos temos saudades do Slimani. Tinha infernizado a cabeça aqueles defesas na parte em que estávamos mais à rasca, bastando para tal deixá-lo correr como um maluco atrás da bola depois de qualquer biqueirada para a frente. Depois chegava sempre a tempo nas entradas de carrinho. O Bas Dost não dá a mesma profundidade e quer marcar golos de carrinho em grande estilo e falha sempre por uma unha negra. Daqui a dez anos, Rui Patrício, ao olhar para o outro lado do campo noutro jogo contra a Juventus, verá o Buffon a defender como se de um muro se tratasse uma cabeçada à queima do Bas Dost e perguntar-se-á: “como é possível ter ficado à frente dele no ranking para melhor do Mundo?”

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Quase que ganhávamos a Battaglia

Primeiro foi o Chuta-Chuta, depois o quase-quase. Confirmamos a possibilidade de continuar na senda do quase sem alguns titulares. Neste caso até foi um quase-quase. Podemos até fazer melhor na liga dos calmeirões com menos titulares. Assim ganhamos uma equipa, um grupo, e concentramo-nos no campeonato. Mesmo aí, no campeonato, todos os jogadores fazem falta. E afinal, o Palhinha tanto joga com o Rio-Ave como com a Juventus. Do Ristovski nem se fala, se jogasse no nosso rival que tanto furor anda a fazer pela Europa, já estava vendido por 70 milhões. Até o sr. Silva mostrou estar apto para uma grande época na taça da Liga, e mesmo o André Leite não anda por ali apenas para conviver com o Paulinho.

De resto, toda a gente sabe que o Patrício é o melhor guarda-redes do mundo, depois do Svilar, bem entendido. Se preciso for o Battaglia vai à baliza e faz o lugar com a placidez comprometida a que já nos habituou. Melhor só o Iordanov. Temos gente para subir com o cachecol ao Marquês e abraçar o leão.

Caro JJ, em vez de pensar em reforços por atacado em Janeiro, vá a jogo com o que tem. Vai ver que não custa nada. Ou custa menos. 

terça-feira, 31 de outubro de 2017

“No priest, no party”

Quatro jogos na Liga dos Campeões, quatro derrotas, quatro “penalties” contra, dois vermelhos, dez golos sofridos, um marcado, guarda-redes goleador. Como diria Francisco J. Marques, “no priest, no party”.

Serviço público

Ontem, com tinha assinalado, estive à conversa com o Zé, o Pedro e o João no Sporting 160. Podem ouvir a conversa aqui.

A conversa não vale tanto pelo que disse mas pela iniciativa do Sporting 160. Trata-se de serviço público puro e simples. O futebol é uma parte muito importante da vida de todos nós e constitui uma dimensão muito significativa da nossa vida em comunidade. Basta ver o tempo que todos nós, uns mais, outros menos, dedicamos a falar de futebol com os nossos amigos, vizinhos e colegas de trabalho. O futebol é um tema fundamental da nossa sociabilização.

Quando o espaço público mediático, nas televisões, nas rádios e nos jornais, é caracterizado pelo mais puro fanatismo e pela insanidade, o Sporting 160 é uma autêntica brisa marítima em tempos de canícula. Fala-se de futebol, como todos os adeptos gostam de falar, e não há muito espaço para a insanidade. Três adeptos organizaram-se para fazer serviço público quando o serviço público pago por todos nós não o faz. O Zé, o Pedro e o João merecem a nossa admiração.

O Fernando Gomes se estivesse atento e com vontade de fazer alguma coisa, talvez, em vez de andar a escrever textos, no mínimo, infantis, devesse salientar esta iniciativa, como evidentemente outras que devem existir e não conheço. Adeptos de um clube organizaram-se não para andar à pancada mas para terem espaço e dar espaço a outros para respirar melhor.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Hoje, no Sporting 160

Conheci o João Castro há um par de anos, como se costuma dizer. Ele era um miúdo e eu ainda tinha cabelo. Conhecemo-nos na casa de família da minha mulher, em Bucos, Cabeceiras de Basto. Namorava, nessa altura, a melhor amiga da minha sobrinha Luísa.

Fomo-nos encontrando uma ou outra vez ao longo destes anos. Sempre que nos encontrámos falámos sem parar do Sporting, até alguém se irritar e nos mandar calar. Convidou-me para conversar hoje no Sporting 160. É um prazer e uma honra ao mesmo tempo. Sinto-me com a angústia do guarda-redes no momento do “penalty”. Espere que passe, de outra forma não sei se acaba bem. Se passar, espero que desta vez ninguém nos mande calar.

domingo, 29 de outubro de 2017

Vitória de Pirro

Fui ver o jogo a Vila do Conde com o meu amigo Júlio Pereira. Saí desembestado do trabalho, depois de uma trapalhada com um exame da época especial que andava esquecido. O trânsito no Porto estava caótico. Contra o costume, fintei não sei quantas filas de carros e armei-me em parvo. Pelo caminho, fui carregando o telemóvel no computador e combinando o encontro com o Júlio Pereira, que passava por deixar a mochila em casa dele e comer qualquer coisa. A primeira grande surpresa ao chegar ao estádio foi ver tanta gente jovem nortenha do Sporting. A maior parte deles não sabe o que é o Sporting campeão. Somos um grande clube, somos sobretudo os melhores pais do Mundo!

A noite estava magnífica. Uma verdadeira noite de Verão, mas sem incêndios. A bancada tinha de tudo um pouco. Ricos, remediados e pobres. Homens, mulheres e crianças. Barrigudos, tísicos e assim-assim. Altos, médios e baixos. Para espanto meu, havia umas senhoras muito interessantes, que pareciam dialogar furiosamente no “WhatsApp”.

O jogo começou com a história do “ataque posicional” do Jorge Jesus. Cada equipa tentava contrariar o tal “ataque posicional” da outra. Parecia um jogo de xadrez, mas a correr. Falando em correr, a nossa equipa ainda avançou duas ou três vezes para contrariar o tal “ataque posicional” do Rio Ave. De cada vez, ia menos um. A partir da terceira, passaram o Bas Dost e o Podence a fazer papel de tontos. O Rio Ave começou a jogar ao meinho, até o Fábio Coentrão se enervar e sair disparado atrás de um deles até lhe ganhar a bola.

O nosso meio campo continuava a funcionar em modo burocrático, com o Bruno Fernandes sem saber bem se devia avançar ou recuar. As jogadas repetiam-se de forma enfadonha. O William Carvalho recebia a bola e envia-a ao Coates para os “devidos efeitos”, que depois de a trocar com os colegas, na expetativa que algum se “entalasse” e se “atravessasse”, a remetia novamente para o William Carvalho “à consideração superior”. Concordando, devolvia-a para que se procedesse à respetiva “audiência prévia”. O Coates e os seus colegas embaralhavam-se no “contraditório” com os adversários, até que alguém destinava a bola ao “Bas Dost” para “devida sequência”. O Bas Dost procurava dar a sequência possível, mesmo que inconsequente. No Sporting como na administração pública, procura-se avançar passando sempre a bola para trás como no “rugby”. Fomos para o intervalo empatados, graças a São Patrício e à falta de jeito dos avançados do Rio Ave para rematar à baliza.

Voltámos para a segunda parte sem o Podence e com o Battaglia. No meio-campo, os duelos começaram a fiar mais fino. O Bruno Fernandes, mais liberto, começou a pegar no jogo. Só que foi Sol de pouca dura. Por volta dos sessenta minutos a equipa tinha “dado o berro”. Chegava a ser penoso ver o esforço que faziam o Gelson Martins e, sobretudo, o Acuña quando tentavam correr: tentavam é a palavra certa, dado que o Acuña nem correr conseguia, embora parado jogasse melhor que muitos outros a correr. O Rio Ave ficou por cima do jogo e só um milagre nos podia dar a vitória. O milagre aconteceu com o Bruno Fernandes, cerca dos sessenta e nove minutos. Estranhamente, o vídeo-árbitro continuava ligado.

O Jorge Jesus não foi de modas e meteu o Doumbia, o “joker” do costume. A relação dele com a bola e jogo não é a melhor, mas os adversários ficam desconfiados quando passamos a jogar com dois avançados. Começa-lhes a passar pela cabeça que queremos ganhar o jogo e, assim sendo, o melhor é deixá-lo correr até ao empate final. O Jorge Sousa também entendeu que se tinha negociado este armistício, e ainda parou mais o jogo, com faltas e mais faltas e grandes explicações aos jogadores. Começava a combinar com o Júlio Pereira o sítio onde iríamos beber umas cervejas, quando o Battaglia desobedeceu ao Jorge Jesus: ganhou uma bola no meio-campo e desatou a correr como se não houvesse amanhã, depois de a passar ao Acuña, para a receber mais à frente e cruzar de primeira para o Bas Dost a enfiar lá dentro. O Battaglia é um jogador intelectualmente muito limitado. Só faz o simples e óbvio, ganha bolas aos adversários, passa-as aos colegas, corre até lhas fazerem chegar para as entregar ao Bas Dost, acabando a tirar “selfies” com os adeptos. Até ao final foi um verdadeiro sufoco. Valeu-nos o Patrício que parecia não saber se estava canonizado e fez tudo para sair de Vila do Conde com o São.

A conferência de imprensa foi o “must” habitual do Jorge Jesus. Em vez dele, devia passar a estar o médico, para anunciar as baixas e começar e preparar as baixas seguintes. A continuar assim, com mais uma Vitória de Pirro como esta e estamos perdidos. Não se percebe como é que se esticam jogadores até caírem para o lado, como o Mathieu e o Piccini, ou se andarem a arrastar, como o Acuña, à espera de uma lesão muscular. Espremem-se os uns jogadores para se acabar a lançar outros, como o André Pinto, que não comprometeu, sem tempo de jogo. Ou muito me engano ou o próximo jogo contra a Juventus vai acabar por umas semanas com uns tantos jogadores.

"Are you talking to me?", made in Júlio Pereira

(Nunca tinha presenciado a receção dos jogadores no final. É muito comovente. Os adeptos, sobretudo os miúdos, ficam doidos quando eles se deslocam para o autocarro. Estupidamente, muitos deles reagem de forma muito fria, não se dando ao trabalho de os ir cumprimentar. Salvaram-se o Battaglia, o Bruno Fernandes, o Gelson Martins e o Jorge Jesus. É inimaginável a alegria de um pequenote, que estava às cavalitas do pai, quando se abraçou ao Francisco Geraldes que lhe passava ao lado. Fazem mais os abraços e as “selfies” que toda a banha da cobra da estratégia de comunicação do Sporting. É imperioso rever esta situação. Senti vergonha de alguns jogadores do Sporting, nomeadamente do William Carvalho, que saiu com os auscultadores encafuados nas orelhas. Não lhes custa nada e para os adeptos vale uma vida)

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Rio Ave - Sporting

Com uma grande exibição do guarda-redes leonino, perdão, do Real Madrid, Svilar, o Sporting, perdão, o Real Madrid, acabou por ganhar o jogo ao Rio Ave, perdão, ao Sporting, com um golo ao cair do pano de Bas Dost, perdão, de Benzema. Afinal sempre temos a nossa liga dos campeões. Obrigado. 

PS: o Cristiano Ronaldo não saiu do banco.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

E se aos sessenta e seis minutos o VAR...

Ontem falou o homem forte da Federação Portuguesa de Futebol. Falou e disse. Fundamentalmente que andava desatento. A reboque da vitória da selecção no europeu e do Ronaldo The Best, entreteu-nos com um discurso digno de um extra-terrestre. Tivesse o senhor Gomes um pé no futebol do burgo, saberia que nada das banalidades do que disse era realmente novo. Aparecer na TV com um cabaz cheio de boas intenções remete-nos para a incredulidade dos felizes. Violência, claques (des)organizadas, pressão sobre os árbitros. O senhor anda a reboque das aparições de nossa senhora do Correio da Manhã. Não fosse o nosso rival da segunda circular olhar para cima, e outros valores se levantariam. As falhas de comunicação do VAR dão nisto: um tremendo nada. 

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A-gu-en-ta! A-gu-en-ta!

Nunca estamos preparados para ver um jogo do Sporting. Preparava-me para ver 45 minutos de engonha, sustentados numa tática marada do Jorge Jesus, seguidos de mais uns tantos minutos de nervoseira e de uma ponta final em modo de desespero com o Doumbia e o Bas Dost no ataque. Até cheguei a imaginar o ar displicente e de autossatisfação com o que os jogadores do Sporting iriam entrar em campo depois de quase terem conseguido qualquer coisa no jogo contra a Juventus.

O Jorge Jesus e os jogadores supreenderam-me. O Alan Ruiz apareceu mais rápido e mais baixo e com as trocas de posição com o Gelson Martins baralhou a defesa do Chaves. Ainda há pouco tempo atrás diria que colocar na mesma frase Alan Ruiz e trocas de posição seria impossível. Está-lhe a fazer bem a dieta. Mas tudo se resolveu porque o Bas Dost resolveu resolver, nas duas primeiras vezes que tocou na bola. Ainda aproveitou para molhar a sopa mais uma vez, fazer um passe notável para a desmarcação do Gelson Martins que originou o terceiro golo e assistir o Acuña para o quarto. Foi pena estar fora-de-jogo na assistência para o Doumbia se enrolar com a bola e metê-la lá dentro aos tropeções. Precisamos de um Teo e o Doumbia é o que mais se assemelha.

O golo do Chaves não devia contar. Há falta de “fair play” do seu jogador. Naquela altura, ninguém queria saber do jogo para nada, embora para quem não queria saber o Bruno César não tenha feito grande figura, contrariamente ao Mathieu que fez de conta que se quisesse podia cortar o lance mas, na dúvida, o que não queria era fazer “penalty”. É a experiência. Também ninguém me tira da cabeça que em condições normais, depois do dois a zero, teríamos deixado de jogar à espera que o jogo acabasse. Os restantes golos foram para embirrar com o árbitro..

Se os Jorge Jesus e os jogadores nos surpreendem por vezes, os árbitros, esses sim, nunca param de nos surpreender. Apreciei a forma como o árbitro foi conduzindo o jogo sem mostrar amarelos aos jogadores do Chaves, continuando a avisá-los que para a próxima é que era quando se ia na décima oitava falta. A coisa foi tão longe que admito que alguns deles tenham ficado aborrecidos, dado que têm uma reputação a defender que não é compatível com esta situação. Quem não viu o jogo ainda pode começar a pensar que são uns frouxos e deixar de os respeitar em campo. Foi bastante interessante ver mostrar o primeiro amarelo a um jogador do Chaves a acabar o jogo não por antijogo mas por querer jogar mais depressa (embora se tenha esquecido de o expulsar numa falta que fez logo a seguir). É o hábito ou a falta dele, mais propriamente.

Mas a parte mais deliciosa foi quando mesmo com o recurso às imagens continuou a ver o que ninguém viu, a simulação do Gelson Martins, e a não ver o que toda a gente viu, a falta e o “penalty” cometido pelo jogador do Chaves. Se bem percebi, o vídeo-árbitro (VAR) também viu o que havia para ver, o “penalty”, dado que de outro modo o jogo não teria sido interrompido. Imagino que o árbitro lhe deve ter dito: “A-gu-en-ta! A-gu-en-ta! Falta muito tempo e isto ainda pode virar”. Esta semana andaram quatro magistrados do Ministério Público, dois juízes de instrução e vinte e oito elementos da Polícia Judiciária, incluindo inspetores e peritos financeiros e contabilísticos e informáticos, à procura de umas coisas que o Benfica terá escondido. Não percebo a razão de tanto aparato e de se andar à procura de coisas que estarão escondidas quando basta ir aos estádios e ver o que lá se passa enquanto se bebe uma mini e se avia um pires de tremoços.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Está lá? É o inimigo?

Há uma componente da coreografia futebolística nacional que não acompanho. Vou recebendo umas mensagens do meu amigo Júlio Pereira e fico-me por aí. Se bem percebi do que li, as entidades competentes, seja lá o que isso for, queriam fazer uma busca às instalações do Benfica para ver se encontravam os emails que o Diretor de Comunicação do Futebol Clube do Porto anda a revelar. Resolveram anunciar ao Mundo que se não as agarrassem (as ditas entidades competentes) iam mesmo lá. O Benfica, e muito bem, telefonou-lhes a dizer que estavam à espera delas (as ditas entidades competentes).

Podia imaginar o diálogo. Mas muito antes de mim e muito melhor do que eu, o Raúl Solnado escreveu-o e representou-o. Aprecio especialmente esta parte:

“-Quando é que nos pretendem atacar?
- Sábado não, que fazemos fim-de-semana à inglesa.
- Sexta-feira a que horas?
- Ainda estamos a dormir. Vocês não podiam vir depois do almoço? Atacavam pela fresquinha. Depois jantavam cá connosco.
- Quantos é que vêm?
- Ena que brutos! Não sei se temos cá balas que deem para todos”

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Jogámos bem exatamente para quê?

Não tenho uma visão utilitarista de toda a atividade humana. A arte é arte e ponto final. O futebol não é arte é competição. Se se perde, nada fica. Também não interessa se se perde por um ou por dois. Se se perde, perde-se. Tudo o resto são explicações que devem ser guardadas para uma comissão científica designada pela Assembleia da República.

A alegoria do David contra o Golias é isso mesmo, uma alegoria. O David enganou Golias com uma fisga. A alegoria hoje seria o David com uma “Flobert” a enganar o Golias armado com um “Tomahawk”. Alguém acredita nisso por um momento sequer? Os grandes existem para que existam os pequenos e vice-versa. Os grandes fazem “bullying” sobre os pequenos. Nós, sportinguistas, sabemos muito bem isso a custas próprias. Nas últimas duas épocas jogámos seis jogos contra quatro das melhores equipas do Mundo (Real Madrid, Barcelona, Juventus e Dortmund) e perdemos sempre pela margem mínima. É azar? É incompetência? Nada disso. Foi assim porque os grandes quiseram que assim fosse. Não levam muito a sério os jogos contra nós. É necessário gerir esforços, porque sabem que vão resolver os jogos quando for preciso, se não se resolverem por si.

Hoje foi evidente que íamos perder. Na parte final do jogo e empatados a um o destino estava traçado. A qualquer momento íamos sofrer um golo. A culpa é do Jonathan Silva, como de costume. Mas se não fosse dele era de outro qualquer. Se não marcassem de cabeça teriam marcado com um remate de fora de área ou com um “penalty” inventado pela proteção civil equipada de calções, apito e bandeirinha que está no campo para que nada de mal aconteça. Eles são melhores. São tão melhores que se podem permitir que pensemos que somos melhores do que somos. A diferença foi evidente em todos os pormenores. A acabar o jogo, o Doumbia falhou a interseção da trivela do Bruno Fernandes. Se fosse do outro lado aconteceria o mesmo? Certamente que não.

Se é assim, se é sempre assim, de que vale o esforço? Perdemos e jogámos bem. Teríamos perdido se jogássemos mal. Teríamos perdido também se jogássemos assim-assim. Teríamos sempre perdido por poucos. Com os italianos, mais do que um é goleada. As equipas assentam em sólidos princípios de desenvolvimento sustentável: não gastam energia se não for estritamente necessário. Têm medo também de se desconcentrarem se ficarem a ganhar por mais do que um.

Podia o esforço não ter servido para nada. Não era bom, mas também não era necessariamente mau. O problema é que é mau. Começam os malucos das contas a achar que podemos ganhar por dois em casa e continuar com a passagem desta fase de grupos em aberto. Não podemos. Entretanto, perde-se foco, os jogadores perdem foco, contra o Chaves e o Rio Ave passam a ser jogos que não interessam para nada. Perde-se foco e perde-se frescura física. Ou não se rodam os jogadores e andam alguns a arrastar-se em campo ou rodam-se no campeonato quando deviam ser rodados na Liga dos Campeões.

Não queremos servir de animadores em jogos-treino das equipas grandes na Liga dos Campeões. Queremos ser campeões nacionais e nada mais. É pedir muito?

domingo, 15 de outubro de 2017

De arromba

Não me interessa se é uma exigência das televisões. Ou se resulta da visão (ímpar) dos dirigentes (sempre dos clubes mais pequenos). Os campos são aquilo que são. Sempre foram. Ainda me lembro dos pelados. Dos batatais ainda reza por aí muita história. Na taça as equipas pequenas tinham a oportunidade de receber clubes de outra liga e dimensão. Tinham a oportunidade de os receber bem e de mostrar a sua terra. A festa era isso. E às vezes ganhavam. Não entendo as capas com alusões à festa da taça este fim-de-semana. O esquecido Lusitano de Évora mostrou a sua terra em Lisboa. Quantas pessoas estavam no estádio no jogo com o Porto? O que ganhou o clube com isso? E o Olhanense, na impossibilidade de receber o Benfica na Luz, lá teve que jogar no estádio do Algarve. Uma festa de arromba, sem dúvida.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

A festa da taça

No jogo com o Oleiros para a taça de Portugal, o Sporting joga em Oleiros, num sintético. Foi necessário uma grande empreitada de ultima hora para o jogo ser possível. O Sporting questionou as condições, mas acordou jogar em Oleiros. A comunicação social andou a bradar sobre o assunto, naturalmente.

No jogo com o Olhanense para a taça de Portugal, o Benfica não joga em Olhão. O jogo será no estádio do Algarve. Naturalmente. Ainda se pensou em realizar o jogo no estádio da luz, mas tal não foi possível. A comunicação social foi assobiando para o lado. Segundo o treinador do Olhanense, o relvado só não serve para o Benfica. E quando não serve, não serve mesmo. 

terça-feira, 10 de outubro de 2017

O tiki-taka do apuramento para o Mundial com recurso ao vídeo-árbitro (*)

20.18h 
RM: Os suíços estão a jogar melhor. Mais uns tansos que o Santos leva ao engano.
20.29h 
RM: Eu bem dizia. Aos trambolhões como deve ser. Foi cedo de mais. O Danilo vai ter de começar a aquecer.
20.34h 
RM: Com o Danilo e o Adrien na segunda parte o jogo estava no papo. Só com o Danilo pode ser curto O Battaglia está inscrito na FIFA. Vamos ver se entra também.
20.45h
JP: Vinha no carro a pensar: na lógica divina do Santos quem é que fará o papel do Éder neste jogo decisivo? O único que me ocorreu foi o Eliseu. Não pensei num golo às três pancadas. Devia ter desconfiado que a recuperação da lesão do centralão da Suíça – um rematado nabo que jogava no Arsenal – tinha o dedo do Santos.
20.46h 
RM: Vamos ter de jogar com o Danilo a seis. O William Carvalho passa a jogar a seis também. O Moutinho fica entre os dois, a seis igualmente. Mais tarde, o Cristiano Ronaldo passa a jogar a oito para sair com a bola e a levar ao Cristiano Ronaldo.
20.59h
RM: Surpreendemos completamente os suíços. Marcámos um golo a jogar à bola com o Moutinho à mistura e tudo. É um escândalo.
21.05h
JP: O João Mário está a levar a equipa demasiado para a frente. Para o que sabe, o Moutinho arriscou demasiado no lance do golo. Em breve, teremos o André Gomes ou o Renato Sanches a espalhar magia no nosso meio-campo.
21.12h
RM: O amarelo estúpido do Eliseu a acabar a primeira parte pode revelar-se decisivo. A saída de campo foi de uma enorme dignidade, simulando uma lesão conveniente.
 21.16h
JP: Protestos de um suíço. “Porra! Uma coisa é ganharem-nos, outra bem diferentes é ganharem-nos com o André Gomes”.
21.19h 
RM: Enquanto estiver a jogar o Seferovic, não deve entrar o Danilo. Em equipa que ganha não se mexe. O problema é se, estando na Luz, não entra o Mitroglou. Ainda acabamos em sofrimento.
21.33h 
RM: Entra o Danilo e sai o Seferovic para a ovação da noite. Jogo esforçado e de sacrifício em prol da selecção.
21.41h
RM: Acabou tudo em bem. A família do Cristiano Ronaldo gostou do passeio a Lisboa e o William Carvalho está em condições de jogar contra o Oleiros.
21.44 
JP: Uma coisa é acabar com olés ao adversário, outra é acabar com o André Gomes em campo. Os suíços não mereciam esta falta de “fair play”.

(*) Conversa no "WahtsApp" entre Rui Monteiro (RM) e Júlio Pereira (JP) enquanto decorria o jogo Portugal-Suíça de apuramento para o Mundial na Rússia.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

O foco

A atender em alguns programas desportivos(?) que ontem visitei  de forma fugaz, o foco das atenções, não é, pasme-se, a selecção nacional, mas sim o Sporting. Não nos admiramos nada com o incómodo causado por estarmos vivos. E bem vivos. Mas há quem não consiga disfarçar de forma alguma. Recuemos então à semana que antecedeu esta paragem para as selecções.

Será interessante analisarmos essa semana de três jogos sob a perspectiva (hoje muito utilizada) do foco. O foco, como motor oculto da excelência, para nos socorrermos do Goleman, não é nada fácil de explicar e muito menos de potenciar. Mas parece. O foco é jogo a jogo, dizem-nos. Nesse caso o foco do Sporting seria o Moreirense, o Barcelona e depois o Porto. Alguns seres humanos julgaram ser possível esta sequência focal. Digamos assim.

Lamentamos desanimá-los, mas o foco deveria ser o campeonato. Ganhar o título nacional. Nesse sentido, ganhar em Moreira de Cónegos revestia-se de importância capital. O Sporting partiria para o jogo com o Barcelona como primeiro do campeonato e assim chegaria ao jogo com o Porto. Duas ou três batatas não fariam mossa. Afinal era o Barcelona em pleno PREC Catalão, como estupidamente li algures. Com o Moreirense empatámos por falta de comparência, e não sou eu quem o digo. Muitas almas presentes no jogo confirmaram-me isso mesmo sem quaisquer rodeios: pagaram bilhete e o Sporting só apareceu a meio da segunda parte para comer bolo. Qual era o foco então? Nem sequer o jogo a jogo. É isso que jogo a jogo quer dizer: nada. Às vezes a cabeça voa e já está noutro lado.

Com o Barça ganhámos…moral. Destas vitórias anda o inferno cheio. A liga dos calmeirões é uma competição digna de um conto de fadas, mas cheia de sapos que dificilmente serão príncipes. Quem escreve o guião não está para aí virado, basta ver os nossos jogos contra equipas alemãs noutros anos. Contra o Barça perdemos o jogo e voltamos à confraria do quase. Perdemos, igualmente, o Doumbia e meio joelho do Coentrão. O resto da equipa ficou feita numa compota de músculos a despedir-se dos adeptos.

Foi essa compota de músculos que entrou em campo no jogo seguinte. O jogo seguinte é sempre o foco, não é? O Porto focou-se mais na nossa baliza e não respeitou o nosso grande esforço contra o Barcelona. Ficamos a saber que um joelho do Coentrão vale mais que o Silva completo. Ficamos a saber que grande parte dos jogadores que não jogam, estão lá para não jogar. Ficamos a saber que vamos ter que ir ao mercado (diz-nos JJ) pele centésima décima quarta vez. Ao contrário de outros anos, tivemos sorte e ficamos vivos. A compota de músculos agradeceu aos adeptos. Os focos desligaram-se ao saberem que numa semana não ganhámos nenhum dos jogos, a não ser um: moralmente. 

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Luís Filipe Vieira compra um resultado e dá-o a Rui Vitória

Na última Assembleia Geral do Benfica, o seu presidente, Luís Filipe Vieira, num vernáculo que teria feito corar o Capitão Haddock, afirmou que nunca tinha comprado um resultado. Mesmo não comprando, não deixou de assumir, pelo menos de forma implícita, que tal coisa se vende. Ele lá saberá. Eu não faço a mínima ideia: não sabia sequer que tal coisa se vendia.

O facto de não saber, não me impede de imaginar a forma como tal coisa pode ser transacionada. Vamos admitir que o Luís Filipe Vieira queria comprar o resultado do Basileia. Imagino que para o comprar se desloque ao talho do Continente ou do Pingo Doce do costume.

“Tirando a senha, esperou pacientemente a sua vez, enquanto a esposa ia comprando os legumes e os restos das necessidades da semana. Chegada a sua vez, pediu:

- Queria um bom resultado com o Basileia, do lombo de preferência.
- Ó senhor Vieira, já vendemos quase tudo. Só temos um cinco a zero. É duro. Aconselho-o a não levar. Se levar, só serve para guisar.
- Tenho de levar um resultado seja ele qual for. Se fosse com a Liga ou com a FPF ainda vá, com a UEFA tenho de levar alguma coisa mesmo que não goste.
 - Vou-lhe aviar o cinco a zero que temos, mas depois não se queixe. Uma vez o senhor Vale e Azevedo veio cá comprar um resultado com o Celta de Vigo. Só tínhamos um sete a zero. Disse-lhe para não levar. Insistiu e depois ficou a remoer naquilo uma eternidade. Por essas e outras nunca mais foi o mesmo. Não quero que fique assim também depois de uma indigestão.

Cabisbaixo, foi ter com a esposa para colocar o cinco a zero no carrinho das compras. Informou-a que só havia um cinco a zero e que era melhor guisá-lo. A esposa, que tinha pensado servir o resultado no almoço de domingo com a família, ficou furiosa como só as mulheres conseguem ficar furiosas quando os maridos não compram o que lhes mandam. Explodiu, dizendo:

- Ó Luís, um cinco a zero nem os cães o querem!
- Deixa lá, dá-o à mulher do Rui Vitória. Pode ser que ela o queira. Se não quiser, o Rui dá-o ao Varela ou ao Júlio César que, educados como são, não o hão-de recusar.

E assim os dois, marido e mulher, empurrando o carrinho das compras, dirigiram-se para a caixa mais próxima, enquanto o Luís Filipe Vieira tentava tirar um banco do bolso para pagar as compras da semana”.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

O cansaço

As equipas do Jorge Jesus são sempre espremidas até ao tutano. Não é só assim no Sporting. Foi assim no Benfica. O lote de fieis é sempre reduzido, aparentemente pelo facto de ser muito difícil a todos os jogadores do plantel interpretarem o modelo de jogo preconizado pelo treinador. Esta é a justificação que nos vai sendo apresentada e tem alguma lógica.

Quem tem responsabilidades de liderar um grupo de trabalho ou uma organização, sabe que tem de contar com todos (os treinadores – uns mais do que outros - ainda têm a possibilidade de andarem sempre a dispensar jogadores e a contratar outros). A falta de motivação de uns contamina os outros. Uma organização ou um grupo de trabalho é muito mais do que a soma das partes, isto é, tem de gerar processos produtivos com rendimentos crescentes à escala. Recorrendo ainda mais ao economês, chama-se a isto a divisão social do trabalho, na linguagem mais da escola marxista, ou as economias de escala dinâmicas, na linguagem mais dos neoclássicos.

Não consigo compreender como é que os treinos podem ser intensos e intensamente trabalhados se uma parte dos jogadores sabe que pouco conta. Como é que os jogadores dessa parte podem entrar em campo, quando faltam os outros, sabendo que o treinador não confia neles, por mais que lhes diga o contrário antes de jogarem?

Não percebo nada de futebol como profissional, sou um simples adepto, mas pratico e ensino coisas destas há umas décadas. A experiência também me ensinou que as pessoas são todas diferentes, têm as suas idiossincrasias, sejam jogadores de futebol ou secretárias de uma repartição pública. É preciso saber falar com cada uma delas. Com umas conversa-se de uma maneira com outras de outra. No final, o discurso tem de ser coerente e justo para com todos. Não há nada que mine mais uma organização que a perceção dos que lá trabalham da injustiça (e a injustiça que mina mais não é absoluta é a relativa, a que tem por referência os outros).

A profundidade do plantel e o cansaço de alguns, físico e psicológico (que é o mesmo porque não existe corpo sem espírito e vice-versa), numa equipa como a do Sporting, não resulta tanto da qualidade individual dos seus jogadores mas, sim, da falta de concorrência saudável para uns e da sensação de exclusão do grupo para outros.

Não sabemos o que se passa nos treinos do Sporting e na relação do dia-a-dia entre o treinador e os jogadores. Só conhecemos, pelo menos eu, o que é visível durante os jogos. O Jorge Jesus não tem autodomínio. Grita com os jogadores e humilha-os, fazendo-o mais com os que têm menos estatuto e são mais jovens (não me parece que os temos da relação que estabeleceu com o Coates ou com o Mathieu, por exemplo, sejam os mesmos da que mantém com o Gelson Martins, o Iuri Medeiros ou o Palhinha). Há jogadores que reagem a isso de uma maneira e outros de outra. A reação não pode ser boa para todos, porque cada um é uma pessoa diferente.

O que acabei de escrever é especulativo e resulta do simples facto de neste momento, antes de me deitar, não ter nada de mais interessante para fazer. Mas se o diagnóstico tiver alguma ponta de verdade, então o Jorge Jesus tem de mudar alguma coisa. Não tem mal nenhum. Aprendemos todos os dias e mudamo-nos em resultado dessa aprendizagem. Os jogadores têm de perceber de que forma devem jogar para o treinador se sentir mais confortável com o modelo de jogo que quer adotar. O treinador tem de adaptar o seu modelo de jogo para que os jogadores se sintam mais confortáveis a pô-lo em prática. Se nessa frente tudo correr bem, as vitórias farão o resto (embora as vitórias dependam de imponderáveis que nem os jogadores nem os treinadores controlam).

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Perdemos o Barreiro mas salvámos Almada por uma unha negra

“Never was so much owed by so many to so few. We shall never surrender”. Deve ter começado assim o discurso de Jorge Jesus ao intervalo. Tínhamo-nos salvado graças à pronta intervenção de Rui Patrício e Mathieu que, nos seus Spitfires, aguentaram os Messerschmitts do Marega e do Aboubakar, depois da nossa Linha Maginot, do Battaglia e do William Carvalho, ter sido destroçada, tendo-se assistido à debandada dos restantes jogadores rumo a Dunkerque. Reuniu-se o que restou das tropas e procurou-se resistir na segunda parte, esperando que os frios das estepes parassem os adversários, apesar dos nossos já estarem a sofrer de escorbuto.

Com efeito, na primeira parte, fomos simplesmente arrasados. Os do Porto tinham muito mais intensidade no jogo, pressionando sempre em todo o campo e ganhando todas as bolas que havia para ganhar. Quando a ganhavam, desatavam à desfilada para a nossa área e nem se davam ao trabalho de fintar os nossos jogadores, limitando-se a atropelá-los. O Brahimi fazia sempre a mesma jogada e a malta caia sempre, fletindo da esquerda para o meio e ganhando superioridade no meio e no lado direito. Enquanto isso, o Marega ia tropeçando na bola e no Jonathan Silva com enorme convicção até deixar o Mathieu com os seus poucos cabelos em pé. Mesmo eriçado, ele, o Rui Patrício e a barra foram os nossos melhores jogadores.

Só equilibrámos o jogo na segunda parte, quando começaram a faltar as forças aos do Porto e o Jorge Jesus acordou de um sono profundo e colocou o Acuña, um esquerdino, a fechar o lado de dentro do Piccini, impedindo que as jogadas do Brahimi se repetissem. O Gelson Martins do outro lado começou a desesperar o Layún e o Marega teve que recuar para ajudar, avançando o Jonathan Silva. O jogo passou a ficar equilibrado e alguns jogadores do Porto, passada a fase da alucinação, em que estavam a jogar acima das suas possibilidades, voltaram a ser o que nunca deixaram de ser, oferecendo-nos o Danilo dois golos que desperdiçámos. Para não lhes ficarmos atrás, oferecemos-lhes um golo também, mas o Marega não tropeçou da melhor maneira na bola e o Rui Patrício defendeu.

Quando pensávamos que finalmente íamos para cima deles, não fomos. As forças não davam para mais e os suplentes não davam garantias. O Bruno César não entrou mal mas, nesta fase da vida, não atrasa nem adianta. O medo de nos desequilibrarmos numa transição era tanto, que o Podence só entrou nos descontos.

Assim se continua a escrever o planeamento desta época. As contratações foram melhores que as da época passada, mas o plantel continua a não ter profundidade. Jogam os mesmos até morrerem. O Jorge Jesus não gera alternativas e, pelo contrário, até as vai queimando (em contrapartida, o Sérgio Conceição até os mortos vai ressuscitando). Ninguém percebe por que razão não jogaram na Taça da Liga os juniores ou os da Equipa B. Não se percebe muito bem como é que nesses jogos, que não interessam a ninguém, o Gelson Dala não tem lugar. Só se for para evitar, à treinador português, que o rapaz faça uma grande exibição e passe a ser concorrente de um outro que é o preferido. O Iuri Medeiros pode ser um jogador pouco intenso e com lacunas defensivas, mas ninguém tem dúvidas sobre a sua qualidade técnica. O nível de massacre nos treinos deve ser de tal ordem que quando entra em campo até parece que aprendeu a jogar futebol no dia anterior. Entretanto, vamo-nos entretendo a brincar aos crescidos na Liga dos Campeões, sem proveito nenhum e a perder pontos para o campeonato.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Notas soltas



(Uma nota prévia. Não gostei nada de perder. Nunca gosto. O árbitro foi uma nódoa em relação aos critérios disciplinares. Sei também que não jogamos fora contra um campeão nacional de uma potência alpina pois aí seríamos esmagados, apanhávamos pelo menos cinco. Também não sou músico. Dito isto, passemos à música.)

A nível orquestral estivemos bem em muito aspetos. A Família das Percussões marcou bem o ritmo. Os instrumentos de percussão pontuaram e destacaram bem os trechos da peça em execução e fizeram a orquestra vibrar. O piano (sim, é um instrumento de precursão!) entregue como sempre ao brilhante Rui Patrício, esteve excelente. Não falhou uma nota. Não se lhe pedia rapidez de processos mas sim concentração e discernimento e foi o que ele deu. Já o par de pratos esteve desequilibrado. Jérémy Mathieu, teve uma das melhores exibições da noite, esteve sempre afinado e corajoso a equilibrar a sua secção. Arriscou a espaços uns solos e, em determinadas alturas, calou até solistas adversários de classe mundial. Já Sebastián Coates, falhou muitas vezes os tempos e marcações e deu uma fortíssima fífia numa nota falsa que marcou fortemente o desempenho da orquestra. Os tímpanos, Fábio Coentrão e Cristiano Piccini, estiveram atentos e acertados e, por vezes, audazes, pelo menos enquanto tiveram forças e lhes chegou oxigénio ao cérebro, a um mais do que a outro.

A Família das Madeiras, aqueles que normalmente dão “cor” ao som da orquestra, esteve reduzida aos clarinetes de Marcos Acuña e Gelson Martins. Não estiveram particularmente brilhantes no capítulo de atacar os momentos altos da peça. No entanto, quanto a manter a unidade musical da orquestra e a sua coesão, estiveram muito bem e foi incontestável a sua entrega ao sucesso coletivo da orquestra. Nestes casos é difícil julgar a interpretação dos instrumentistas sem conhecer as instruções precisas do maestro.

Na Família dos Metais, o maestro abdicou para esta interpretação da tuba de Alan Ruiz, o que se percebe dada a ligeireza e rapidez de interpretação que se pedia para esta peça. Assim, esta secção foi assegurada pelo trompete de Bruno Fernandes que teve uma interpretação com altos e baixos. Esteve bem na intensidade e nos ocasionais solos e muito menos lúcido na distribuição e nas entradas. De qualquer modo, compreende-se pois ainda não é um intérprete maduro e não contemporiza devidamente os silêncios. Nesta secção esteve ainda o potente trombone de Rodrigo Battaglia e a magistral trompa de William Carvalho. Ambos foram responsáveis pela avalanche sonora da orquestra, conferindo-lhe a dramaticidade e a grandiosidade que a obra pedia. Deram agilidade sonora ao mesmo tempo que soaram de maneira ponderada e majestosa, nem se dando assim pela falta da tuba. 

Não sendo de todo habitual em relação aos cânones clássicos, mas normal no que a este tipo de peças diz respeito, o maestro abdicou da Família das Cordas tendo apenas alinhado com um spalla, o primeiro violino. Para muitos, este é o principal grupo de instrumentos de uma orquestra e dentro destes o violino, graças à sua versatilidade e alcance, que se torna assim a principal voz da família. Tendo abdicado das violas, violoncelos, contrabaixos e harpa, o maestro entregou esta dura tarefa a dois violinistas. Primeiro, Seydou Doumbia que, assertivo e empenhado, tentou em rapidez levar a orquestra a outros níveis. Não foi bem sucedido e o jurado romeno Ovidiu Hategan acabou mesmo por não ajuizar bem a sua interpretação solista. Foi substituído no segundo andamento por Bas Dost. Um intérprete com outro peso, com mais escola, mais clássico e disciplinado na sua interpretação. Mesmo assim, não tendo deslustrado, também não atingiu a musicalidade pretendida. Acabou por oferecer a melhor oportunidade de solo que teve ao trompetista Fernandes e este não a aproveitou da melhor forma. Dizem que este parece mais talhado para raros momentos Maestosos do que para os comuns Vivace.

Quanto ao maestro, Jorge Jesus, deve ser realçado que desta vez não deu largas à sua liberdade criativa, própria de quem vem de áreas mais populares como o fado operário ou malandro, não se tendo entregado a improvisações interpretativas. Preocupou-se desta vez, e bem, com a coesão da orquestra, deixando em aberto a possibilidade de um ou outro solista brilharem, o que, infelizmente, não veio a acontecer.

Em suma, foi um bom concerto, animado e colorido, excelente público e com bons intérpretes mas, infelizmente, a música continuou a mesma!