Não tenho uma visão utilitarista de toda a atividade humana. A arte é arte e ponto final. O futebol não é arte é competição. Se se perde, nada fica. Também não interessa se se perde por um ou por dois. Se se perde, perde-se. Tudo o resto são explicações que devem ser guardadas para uma comissão científica designada pela Assembleia da República.
A alegoria do David contra o Golias é isso mesmo, uma alegoria. O David enganou Golias com uma fisga. A alegoria hoje seria o David com uma “Flobert” a enganar o Golias armado com um “Tomahawk”. Alguém acredita nisso por um momento sequer? Os grandes existem para que existam os pequenos e vice-versa. Os grandes fazem “bullying” sobre os pequenos. Nós, sportinguistas, sabemos muito bem isso a custas próprias. Nas últimas duas épocas jogámos seis jogos contra quatro das melhores equipas do Mundo (Real Madrid, Barcelona, Juventus e Dortmund) e perdemos sempre pela margem mínima. É azar? É incompetência? Nada disso. Foi assim porque os grandes quiseram que assim fosse. Não levam muito a sério os jogos contra nós. É necessário gerir esforços, porque sabem que vão resolver os jogos quando for preciso, se não se resolverem por si.
Hoje foi evidente que íamos perder. Na parte final do jogo e empatados a um o destino estava traçado. A qualquer momento íamos sofrer um golo. A culpa é do Jonathan Silva, como de costume. Mas se não fosse dele era de outro qualquer. Se não marcassem de cabeça teriam marcado com um remate de fora de área ou com um “penalty” inventado pela proteção civil equipada de calções, apito e bandeirinha que está no campo para que nada de mal aconteça. Eles são melhores. São tão melhores que se podem permitir que pensemos que somos melhores do que somos. A diferença foi evidente em todos os pormenores. A acabar o jogo, o Doumbia falhou a interseção da trivela do Bruno Fernandes. Se fosse do outro lado aconteceria o mesmo? Certamente que não.
Se é assim, se é sempre assim, de que vale o esforço? Perdemos e jogámos bem. Teríamos perdido se jogássemos mal. Teríamos perdido também se jogássemos assim-assim. Teríamos sempre perdido por poucos. Com os italianos, mais do que um é goleada. As equipas assentam em sólidos princípios de desenvolvimento sustentável: não gastam energia se não for estritamente necessário. Têm medo também de se desconcentrarem se ficarem a ganhar por mais do que um.
Podia o esforço não ter servido para nada. Não era bom, mas também não era necessariamente mau. O problema é que é mau. Começam os malucos das contas a achar que podemos ganhar por dois em casa e continuar com a passagem desta fase de grupos em aberto. Não podemos. Entretanto, perde-se foco, os jogadores perdem foco, contra o Chaves e o Rio Ave passam a ser jogos que não interessam para nada. Perde-se foco e perde-se frescura física. Ou não se rodam os jogadores e andam alguns a arrastar-se em campo ou rodam-se no campeonato quando deviam ser rodados na Liga dos Campeões.
Não queremos servir de animadores em jogos-treino das equipas grandes na Liga dos Campeões. Queremos ser campeões nacionais e nada mais. É pedir muito?
Caro Rui,
ResponderEliminaracho que o interesse da liga dos Campeões se resume a valorizar alguns jogadores e a encaixar algum dinheiro através dos pontos e receitas... ou seja "meramente" económico. O pior é que depois ele se esquecem disso e começam a sonhar que podem fazer dinheiro com os tubarões e comprometem o campeonato, isso é que não pode acontecer. De resto, é sempre bom poder ver o Sporting jogar a meio da semana.
Saudações Leoninas (não gosto de abreviações -atalhos é outra conversa - e SL deixa-me a um B de ficar mal disposto)
Meu caro,
EliminarEstamos de acordo em tudo em especial num ponto: a Liga dos Campeões serve para vermos o Sporting a meio da semana. Há mais de duas semanas que não víamos bola nenhuma. O jogo em Oleiros foi magnífico e uma grande festa. Com esta calamidade dos incêndios, devíamos fazer mais jogos destes nem que fossem amigáveis. Os nossos concidadãos do interior do país merecem e precisam da nossa ajuda.
SL
Este esquecimento é imperdoável: "O SL deixa-me a um B de ficar mal disposto". Simplesmente genial.
EliminarRui, concordo com quase tudo o que tem defendido brilhantemente ao longo dos anos sobre a participação, ou talvez melhor, o investimento que fazemos nas competições europeias.
ResponderEliminarChegados ao fim, serve para quê? E a resposta tem sido, invariavelmente, um imenso NADA.
Se assim é, porque é que só "quase" concordo consigo? É que concordando que só há neste momento uma prioridade - o campeonato - sei também que só existe uma forma de ser maior e melhor, é competir contra os melhores. Podemos crescer mais, evoluir mais, quando perdemos contra um Barcelona do que quando ganhamos a um Oleiros.
Ao contrário do que leio hoje, acho que ontem levámos um grande banho de bola, o nosso jogo foi de recua, aguenta e recua, até à derrota final. Não dominámos nada, nunca controlámos o jogo, nunca verdadeiramente competimos e agora sim, por esta razão não teremos qualquer benefício do nosso investimento, nem ontem, nem nas outras ocasiões em que estivemos expostos a um grau de competição superior ao nosso.
Jogámos como um brilhante e luxuoso Oleiros, fomos quase perfeitos, faltou o quase e mesmo que esse quase tivesse sido ultrapassado e tivéssemos conquistado um ponto ou até os três, porque estivemos em vantagem, a pergunta que teria ficado para mim seria, é desta forma que o Sporting deve jogar? Há alguma equipa grande que se baseie na encolha para conquistar coisas grandes e ser campeão?
Provavelmente se tivéssemos ido a Turim jogar à maior, de peito feito, à campeão, teríamos levado um correctivo de 5-0 ou 5-2, a diferença não é grande para o 2-1 de ontem, mas o que brilhantemente fizemos em campo para garantir uma derrota pequena não nos serve de nada para ganhar ao Chaves. Não vai ser com trancas e retrancas que vamos ganhar no domingo, e é neste ponto que discordo de si, estes jogos servem para treinar como vencer o Chaves, perder contra italianos perdemos sempre, mas ontem perdemos uma oportunidade de treinar atacar contra os melhores do mundo a defender, algo que seria útil para vencer 85% dos nossos adversários em Portugal.
O Jorge anda enganado, esta equipa NÃO joga ao nível do Real Madrid, do Barcelona, do Dortmund e da Juventus, ela joga contra os tubarões europeus ao nível de um Vitória cá do burgo mas com esteróides, a quem ganhámos este ano (pelo menos ao de Setúbal) como os grandes ganham, à rasca, por 1-0, aos 85 min. ou seja à Campeão.
Meu caro,
EliminarO jogo estava perdido e estava. O custo de oportunidade de arriscar ou pelo menos não mudar o táctica a procurar ganhar o jogo era baixíssimo. Não entendi a saída do Gelsos Martins para entrar o Palhinha. Admitindo que o Gelson Martins não estava bem, metia-se o Podence e mantinha-se a táctica.
O seu comentários é magnífico. Se vamos à Liga dos Campeões para ganhar experiência, então que se ganhe a experiência necessária para se ser campeão nacional.
SL
Caro Rui,
ResponderEliminarNão se preocupe que domingo descansamos desta nossa ida a Turim ver os grandes jogar.
Sim, porque o jogo de domingo não serve para nada, a não ser começar a gerir o esforço e preparar o novo treino de dia 31 da Juventus, mas desta vez em Alvalade (o acordo foi esse).
O único consolo é que o Alan Ruiz não deve recuperar até domingo.
um abraço
ps: grande comentário do LMGM!
Caro Cantinho,
EliminarAinda não começou e já estamos a ver o filme. Começamos por ver o que jogo dá armados com uma táctica infalível que o Jorge Jesus vai inventar que nos vai levar ao sono mais profundo. Na segunda parte começa a nervoseira do costume e acabamos em modo de desespero com o Doumbia e o Bas Dost dentro da área.
Um abraço
Caro Rui Monteiro, não podia estar mais de acordo. Parece mesmo que podemos ganhar aos melhores, mas é só isso: parece. Parabéns pelo texto.
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarÉ isso mesmo. A ilusão paga-se cara. O Jorge Jesus tem uma confiança absolutamente inabalável nas suas capacidades e não percebe o que está à frente do nariz.
SL
Caro Rui Monteiro, o seu comentário é do melhor que alguma vez vi na "net". Independentemente da sua essência - há coisas com que concordo, outras nem tanto - a estrutura e a formulação de ideias são excelentes. Sinceros Parabéns!
ResponderEliminarP.S. quando li a " alegoria de hoje", inicialmente a ideia soou-me ao contrário, imaginei o "tomahawk" como o machado dos Apaches (bem sei que é o nome de um míssil, mas tal só me ocorreu despois). Não invalida nada do que escrevi, anteriormente, mais scud, menos scud, está espectacular!
Pedro Azevedo
Caro Pedro Azevedo.
EliminarMuito obrigado.
Isto é escrito ao correr da pena depois de organizar meia dúzia de ideias enquanto regresso a casa depois de ver o jogo no café (estou proibido de ter a SporTv). Se fosse reflectir agora sobre o que escrevei também estaria em discordo comigo mesmo em alguns pontos.
A alegoria de hoje começou com a Flobert. Tive uma quando era miúdo e não me esqueço. Faltava outra arma para comparação. Ainda me lembrei da G3 de quando andava na tropa. Depois achei que era melhor arranjar um míssil. De facto lembrei-me do Scud, mas também me lembrei que os iraquianos os usavam na primeira guerra do golfo e mais pareciam tiros de pólvora seca para os americanos. Googlei e recorri ao primeiro que apareceu.
Toda a discussão é muito bonita, mas qual é a alternativa?! Falta de comparência? Perder a pré- eliminatória de propósito? Ir lá descansar e trazer uma vergonha de uma cabazada no bucho?
ResponderEliminarTemos de ir e honrar a nome do Sporting! A manta é curta? É. Estamos a jogar com crónicos finalistas de uma competição onde quase nunca pomos os pés!
Meu caro,
EliminarNão se pode mudar a equipa toda, mas pode-se mudar alguma coisa. Os outros jogadores estão no plantel porque o treinador acha que servem para alguma coisa. Se não servem, não percebo a razão de lá andarem.
Vou fazer um palpites à treinador de bancada. Não se pode mexer muito na defesa mas pode-se mexer alguma coisa. Guardava o Coentrão para o Chaves. Se era para jogar o Jonhatan Silva mais valia que fosse do início. Porventura testava o Ristovski na lateral esquerdo. Não sei se não era jogo para testar o André Pinto. Um dia destes vamos precisar do terceiro central.
No meio-campo metia de caras o Palhinha e o Podence. Deixava estar o Bas Dost que precisa de ganhar confiança. Só ganhamos o campeonato se voltar ao que era na época passada. Talvez não metesse o Gelson Martins e substituía-o pelo Podence. Do Acuña, William Carvalho, Battaglia e Bruno Fernandes escolhia um para ficar no banco.
Provavelmente teríamos perdido na mesma. Muito pior não faríamos. Pelo caminho ganhávamos mais um ou duas alternativas para o campeonato nacional que é longo.
SL
Tudo bem que podia ser assim. Mas essas mesmas mudanças também deveriam chegar para ter uma equipa suficientemente forte para praticamente todos os jogos no campeonato :)
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