Ao contrário de Jorge Jesus, tenho várias ideias, outras tantas teorias e, por vezes, até alguns pensamentos que redundam em nadas. Um desses pensamentos que se desdobram em teorias é sobre o Nani. Bom, o Nani é como os eucaliptos (vamos exagerar): seca tudo à sua volta (ou quase). Ele não faz por mal, é um grande jogador, símbolo do nosso clube, importante na conjuntura actual (que não é fácil), mas não é um líder. Isso percebemos com a naturalidade da nossa insignificância. Nem sequer me refiro à sua saída, em braços imaginários, em Braga. O homem não gostou (lembram-se de Rochemback?) e o Peseiro lá teve que fazer aquilo que era o bom senso em termos de balneário: não o convocar para o jogo com o Marítimo. Com esforço, imaginamos.
Parte disto (lá estão as minhas teorias) explica a primeira parte de ontem com o Marítimo. O Fernandes soltou-se, deixou de pensar na vida, de ter um símbolo ali por perto, e começou a pautar o jogo nem que seja pela sua presença. O Peseiro é que tem que ver isso (eles podem jogar os dois, claramente), descobrindo a complementaridade entre ambos que beneficie a equipa, mas de forma a que coisa carbure. O Nani chama a si todas (ou quase) atenções; parte significativa das bolas, e até alguns adversários para receberem um autografo ou lhe darem uma pranchada. Temos que utilizar isso para a equipa, deixando o Fernandes na sua rotação assassina (desculpem, são influências da TV). O Marítimo tem bons jogadores mas só nos vai ganhar se um for jogo muito importante para nós e, sobretudo, para o Benfica. De resto, deixam jogar.
Foi o que se viu, uma primeira parte santa, podíamos ter marcado mais. Até o Montero fez o gosto ao pé de nós todos. Na segunda entramos em modo farsolas: quinze minutos e nada mais. O Marítimo à socapa contactou o nosso rival. Eles estavam chateados, nada de mais, a procissão ainda vai no adro. O resto foi peanuts, como diria JJ. Deu para o Peseiro inventar o Misic (ah, e ainda lá andava o Petrovic- que grande vitória a nossa), e fazer uma substituição aos noventa e três: entrou o Mané para os pôr em sentido. Todos nós ficamos. Claro.
Falaremos do Sporting, mais mal do que bem. Falaremos também do Benfica, sempre mal. Falaremos do Porto, conformados.
domingo, 30 de setembro de 2018
Teorias
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Gabriel Pedro
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21:09
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sábado, 29 de setembro de 2018
...
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A. Trindade
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quinta-feira, 27 de setembro de 2018
Entreacto
Jorge Jesus, em mais uma conferência de imprensa imperdível,
afirmou, agastado com o (suposto) anti-jogo adversário, que na Europa em noventa minutos, jogam-se cinquenta, mas que na Árábia Saudida se jogam apenas trinta minutos de tempo
jogado, como se cinquenta fosse muito. Não é nada que não soubéssemos já. Mas
temos que reflectir acerca da generalização europeia. Serão cinquenta minutos uma média europeia? Pois se
assim for, não poderemos comparar Portugal a Inglaterra, e estaremos mais
próximos (esperemos que apenas nisso, tendo em conta a sociedade
progressista saudita) da Arábia saudita. Proponho deste já, apenas para dar o
mote, a descida dos bilhetes para metade, toda a gente sabe que os clubes não
vivem da bilhética (os estádios vazios são disso prova), matando-se assim
vários coelhos com uma cajadada: o nosso tédio, mais gente nos estádios e menos
gastos na carteira do entediado. Os trinta euros para os adeptos sportinguistas
no jogo com o Braga são bem demonstrativos do que é realmente o anti-jogo.
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Gabriel Pedro
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14:42
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quarta-feira, 26 de setembro de 2018
Se há bons e maus, nós somos dos bons
Há dias ouvi o Pedro Adão e Silva a falar sobre o Benfica e os diferentes processos em investigação pelo Ministério Público e, em particular, sobre aqueles em que existem arguidos constituídos e a acusação deduzida. Para ele, existem dois Benficas, à semelhança do BES. Há um Benfica moderno com uma estratégia desportiva e empresarial de sucesso. Esse Benfica vive paredes-meias com outro que vem do Norte, esse local geográfico de onde vêm todos os males que periodicamente assolam Lisboa, e dos tempos do Calor da Noite e do Canal Caveira.
Para ele, as vitórias devem-se ao Benfica moderno (e lisboeta, digo eu), constituindo o outro Benfica (o do Norte, digo eu) um anacronismo porque os tempos também são outros. Concluiu que se enganam os benfiquistas que acreditam que a aposta nesse passado longínquo, em tempo e espaço, os levou ou os pode levar a qualquer lado.
Compreende-se o argumento. Durante o Estado Novo, esse argumento era muito comum nas conversas em voz baixa nalguns locais: o regime não era intrinsecamente mau, o Presidente do Conselho era de uma probidade a toda a prova, o problema residia numas certas pessoas que gravitavam à sua volta e abusavam da confiança. É o “não há rapazes maus” do Padre Américo, podem é andar mal acompanhados (digo eu que não tenho certeza se o Padre Américo o disse mas que o pensou, pensou).
Não tenho elementos para desmentir esta visão dual do Benfica do Pedro Adão e Silva e da supremacia do lado moderno na produção de resultados. O que conheço e procurei demonstrar estatisticamente aqui há alguns anos é a implausibilidade dos resultados se se procurar explicá-los pelo lado moderno. É mais fácil explicá-los pelo lado anacrónico, mas não tenho a pretensão de dispor da sabedoria do Pedro Adão e Silva em todos os domínios da vida pública.
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Rui Monteiro
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terça-feira, 25 de setembro de 2018
O “quatro em linha” de Peseiro
Este jogo era um teste importante para o Sporting de Peseiro. Não tenho dúvidas que seria assim que o Freitas Lobo iniciaria este texto se estivesse no meu lugar. Continuando assim a pensar pela cabeça dele, depois de um ror de vitórias e de um empate na Luz, deixámos de ser o patinho feito e passaram a levar-nos a sério. Um bom resultado seria um indicador importante sobre a necessária resiliência da equipa para se assumir como candidata ao título ou se, na melhor das hipóteses, não lhe restaria outra alternativa que não fosse a de se assumir como “outsider”. A partir do resultado, a cabeça dele produziria um emaranhado de congeminações técnico-táticas-psicológicas-anímicas que levaria a uma conclusão lapidar: se sim, sim, se não, não, mas talvez, talvez. Infelizmente não sou o Freitas Lobo e tenho de trabalhar a fazer qualquer coisa que se veja sem poder viver do bitaite.
Sendo ele um especialista e eu um amador, volto à sua apreciação. Acho que ele também diria que as equipas se encaixaram taticamente. Cada uma das equipas condicionou a saída da bola da outra, passando-se a jogar à biqueirada para a frente. O jogo transformou-se num “solteiros contra casados”, ganhando um bacalhau (do miúdo, naturalmente) e um garrafão de vinho tinto (morangueiro, evidentemente) quem chutasse com mais força. Podia não ter sido assim, mas para que assim fosse, o Artur Soares Dias anulou-nos uma jogada de ataque prometedora, como agora se diz, por fora-de-jogo inexistente. Sem o VAR, as regras são para beneficiar o ataque. Com o VAR, ainda mais, devendo-se deixar decorrer a jogada até ao fim para se averiguar se houve ou não qualquer infração. As regras nunca se nos aplicam, é um azar que temos a juntar a tantos outros como o de termos o Peseiro a treinador. Voltando ao mesmo, o jogo teve momentos que nos fez lembrar algumas das partidas mais memoráveis de Vidal Pinheiro e do Salgueiros.
Na segunda parte, o Sporting pareceu apostado no contragolpe. A tática é baseada no conhecido “deixa-os poisar” misturado com o não menos conhecido “apanhá-los com as calças na mão”. A ideia (de jogo, como diz o Jorge Jesus) não parecia má. Quando um jogo está para o chocho, é provável que ganhe quem tem jogadores mais virtuosos no ataque e nós tínhamos os três mosqueteiros e o D'Artagnan: Raphinha, Montero, Bruno Fernandes e Nani (a ordem é arbitrária). A tática esteve para dar resultado, mas o Bruno Fernandes rematou ao lado. Quando, por azar, essa tática não resulta acaba por perder quem tem o pé mais frio e nisso, com o Peseiro, somos imbatíveis.
O Braga andava num afã tonto a fingir que atacava quando ganhámos a bola e procurámos partir em desfilada para o contra-ataque. A bola chega ao Montero que procura fazer não sei o quê e acaba por a passar atrasada para a corrida do Ristovski – primeiro azar do Peseiro. O Braga recupera a bola e uma mosca morta que por ali andava (nas palavras sábias do Freitas Lobo, o homem andava por ali devido a um pensamento tático revolucionário do Abel) avança para a área pelo lado esquerdo do ataque. Hesita tanto e demora tanto, mas tanto, que permite ao Montero recuperar e fechar o lado de dentro, ficando o Coates com a cobertura do lado de fora, o que em condições normais permitiria matar o lance de ataque. A mosca morta conseguiu centrar sem saber bem como e a bola passou por debaixo do pé do Coates – segundo azar do Peseiro. Um avançado do Braga antecipa-se à defesa e remata meio enrolado para a baliza, só que estava um outro jogador do Braga a fazer de homem-estátua à frente do Salin, impedindo-o de ver a bola e de a defender – terceiro azar do Peseiro. Para cúmulo, o Ristovski tinha recuperado a sua posição defensiva, colocando em jogo, desta forma, o homem-estátua – quarto azar do Peseiro. O golo resultou assim de um “quatro em linha” do Peseiro.
O Braga andava num afã tonto a fingir que atacava quando ganhámos a bola e procurámos partir em desfilada para o contra-ataque. A bola chega ao Montero que procura fazer não sei o quê e acaba por a passar atrasada para a corrida do Ristovski – primeiro azar do Peseiro. O Braga recupera a bola e uma mosca morta que por ali andava (nas palavras sábias do Freitas Lobo, o homem andava por ali devido a um pensamento tático revolucionário do Abel) avança para a área pelo lado esquerdo do ataque. Hesita tanto e demora tanto, mas tanto, que permite ao Montero recuperar e fechar o lado de dentro, ficando o Coates com a cobertura do lado de fora, o que em condições normais permitiria matar o lance de ataque. A mosca morta conseguiu centrar sem saber bem como e a bola passou por debaixo do pé do Coates – segundo azar do Peseiro. Um avançado do Braga antecipa-se à defesa e remata meio enrolado para a baliza, só que estava um outro jogador do Braga a fazer de homem-estátua à frente do Salin, impedindo-o de ver a bola e de a defender – terceiro azar do Peseiro. Para cúmulo, o Ristovski tinha recuperado a sua posição defensiva, colocando em jogo, desta forma, o homem-estátua – quarto azar do Peseiro. O golo resultou assim de um “quatro em linha” do Peseiro.
Depois, bem, depois o Peseiro fez o que pôde. Tirou o Nani e meteu o Jovane Cabral, ficando com dois extremos rápidos e com dezenas de metros de “sprint” nas pernas. Tirou o Montero e meteu o Castaignos como avançado mais fixo para o assalto final. Quem não tem cão, caça como um gato; o que não caça é com uma torre eólica “offshore” holandesa. Recomenda-se que para a próxima se meta um central e se adiante o Coates. Ainda demorou uma dezena de minutos para se decidir a partir o jogo, tirando o Gudelj e metendo o Diaby.
A equipa tentou e ia conseguindo. O Raphinha junto à meia-lua rematou a rasar o poste. Um pouco mais tarde, na sequência de um canto e de uma troca de bola com o Bruno Fernandes, enfiou um tiro que parecia ir direitinho ao ângulo mas ou porque a bola tocou ao de leve num jogador do Braga ou porque ganhou vida própria saiu milimetricamente ao lado. O Jovane Cabral ganhou uma bola a dois jogadores do Braga e foi desembestado para a área passando à vez por cada um dos três mecos que lhe apareceram pela frente até rematar mas sem conseguir desviar a bola suficientemente do guarda-redes que fez uma boa defesa. Ganhámos a primeira bola nuns tantos chuveirinhos mas não foi ter com nenhum dos nossos jogadores permitindo os alívios do Braga.
A equipa tentou e ia conseguindo. O Raphinha junto à meia-lua rematou a rasar o poste. Um pouco mais tarde, na sequência de um canto e de uma troca de bola com o Bruno Fernandes, enfiou um tiro que parecia ir direitinho ao ângulo mas ou porque a bola tocou ao de leve num jogador do Braga ou porque ganhou vida própria saiu milimetricamente ao lado. O Jovane Cabral ganhou uma bola a dois jogadores do Braga e foi desembestado para a área passando à vez por cada um dos três mecos que lhe apareceram pela frente até rematar mas sem conseguir desviar a bola suficientemente do guarda-redes que fez uma boa defesa. Ganhámos a primeira bola nuns tantos chuveirinhos mas não foi ter com nenhum dos nossos jogadores permitindo os alívios do Braga.
Perdemos. Se fosse o Freitas Lobo, estaria a fazer prognósticos no fim do jogo, incensando o engenho tático do Abel e sublinhando a rematada estupidez do Peseiro. Mas ninguém me tira da cabeça que o resultado se explica pela biqueira da bota do Bruno Fernandes e pelo “quatro em linha” do Peseiro. Se fosse com outro clube, havia todas as razões para desanimar. Tratando-se do Sporting, não. Há sempre um exemplo que compara pior num passado mais ou menos recente. Quando fazemos mal, encontramos sempre outra situação que ainda fizemos pior. No ano passado, com o rei da tática, perdemos também e jogámos muito pior. Nessa altura, ficámos a oito pontos do primeiro e agora ficámos a três. É mau? É. Podia ser pior? Podia. A situação pode melhorar? Pode. O que fazer, então? Comprar uma pata de coelho ao Peseiro e pedir à SportTv para nos livrar do Freitas Lobo.
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Rui Monteiro
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09:00
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sexta-feira, 21 de setembro de 2018
O infinito infinitamente e mais além
Como sempre digo nestas alturas, as competições europeias e, especialmente, a Liga Europa não interessam nem ao Menino Jesus (sempre tive dúvidas sobre a graça desta alegoria e, com o despedimento do Jorge Jesus, ainda tenho mais dúvidas agora por nem sequer se compreender muito bem). Jogámos contra o Qarabag. Nunca tinha ouvido falar desta equipa. O nome é tão estranho que nem sequer consegui arranjar forma de meter um género de acento circunflexo às avessas por cima do guê. Visto de Portugal, imaginei que fosse de um país algures entre a Galáxia de Andrômeda e o infinito. Uma pesquisa no Google permitiu-me saber que se trata de um clube do Azerbaijão. O nome começou a não me parecer estranho até que percebi que, embora jogando em Baku, o clube se situa no enclave de Nagorno-Karabakh que vem sendo disputado pelo Azerbaijão e a Arménia. Também fiquei saber que, para a UEFA, pertence à Europa e não à Ásia. O Festival da Eurovisão e as competições europeias têm vindo a baralhar a geografia toda.
Mas o futebol não se rege por latitudes e longitudes, como diria o Conde de Abranhos. O Qarabag não é clube de futebol qualquer. Na época anterior, disputou a fase de grupos de Liga dos Campeões. Integrando um grupo de tubarões europeus (Roma, Chelsea e Atlético de Madrid), fez dois pontos. Tendo como referência a participação na Liga dos Campões, verifica-se que somos melhor equipa em 250%. O desnível em relação ao Porto é maior: +400%. Quanto ao Benfica, a relação inverte-se e inverte-se de tal forma que chega ao infinito (diferença (%)=[(2-0)/0]x100). É uma equipa pior do que nossa, muito pior ainda do que a do Porto, mas infinitamente melhor do que a do Benfica (sem toupeiras e sem o Renato Sanches, diga-se em abono do Benfica). Se todos os cuidados são poucos contra o Benfica, ainda mais deviam ser contra o Qarabag.
O Peseiro fez estas e outras contas e analisou o papel do Azerbaijão e, em particular, do Qarabag na geoestratégia mundial e foi consequente: retirou o Jéfferson da equipa e colocou no seu lugar o Acuna; medida que se veio a revelar adequada como se verá mais para a frente. O treinador do Qarabag não lhe ficou atrás e engendrou uma tática de autocarro que não deixava um metro quadrado de terreno livre nem no meio campo, nem, muito menos, na grande área. A defender, com uma linha defensiva de cinco jogadores, bem sincronizados nas subidas e descidas no terreno, muito junta à linha do meio campo, não deixava espaço para os jogadores do Sporting respirarem quanto mais para correrem.
Quando porventura se pedia a bica para dentro da área, para se jogar em profundidade como agora se diz, preferimos a desmarcações do Montero para trás e para os lados em apoio aos médios, melhorando a nossa posse de bola e a forma como se torna mais fluída a sua circulação, mas esquecendo-nos de meter em sua substituição alguém na área adversária.
Assim, na primeira parte, criámos um único lance de perigo depois de uma finta do lado esquerdo absolutamente estonteante do Mathieu (ainda hoje o defesa deve estar a procurar saber exatamente o que lhe aconteceu) e culminada com uma finalização de calcanhar do Montero. Noutras circunstâncias teríamos gritado: “Olé!”; e o Montero sairia em ombros com, pelos menos, uma orelha e um rabo. As circunstâncias não eram as mais adequadas e os jogadores saíram cabisbaixos para o intervalo com um empate.
Não chegámos a perceber se se corria o risco da segunda parte reproduzir a primeira. Às páginas tantas, o Mathieu ganha a bola na defesa, sai com ela controlada, mete-a na frente no Bruno Fernandes (e não para o lado, como mandava o Jorge Jesus) que a recebe e se vira para a frente de forma ao segundo toque a colocar no Nani que a recebe também para a frente e ao segundo toque faz um passe (se fosse o Gelson Martins acabava tudo numa correria e num centro para a molhada) para o segundo poste onde apareceu o Raphinha a empurrar para o primeiro golo. Com seis toques apenas se percorreu uma distância de mais de sessenta metros, passando a bola por quatro jogadores e acabando dentro da baliza. É nestas alturas que nos lembramos do “com três letras apenas se escreve a palavra mãe, é das palavras pequenas a maior que o Mundo tem”.
A partir desse golo o jogo descomplicou-se e passámos a criar sucessivas oportunidades. Os jogadores soltaram-se e passaram a estar exclusivamente focados no jogo e na bola, sem as dúvidas existências que o Jorge Jesus lhes suscitava como se estavam a fazer o que lhes tinham ordenado naquelas circunstâncias de tempo e lugar e de que forma o que faziam ou não faziam se enquadrava numa perspetiva ontológica. De vez em quando, havia um ou outro que resolvia isolar um adversário para rapidamente aparecer o Salin ou o Coates a safar a situação. Com a aproximação do final do jogo, qualquer sportinguista sabe que o pior está para acontecer e essa crença é reforçada quando está o Peseiro está no banco.
Só que, num ataque pelo lado direito, um avançado procurou passar por dentro o Acuna que, de imediato, lhe ganhou a frente, fazendo-lhe uma projeção (um “ippon” mais precisamente), ficou com a bola e enfiou-lhe uma biqueirada para tão longe quanto as forças lhe permitiam. A bola foi batida com tanta força que chegou quase à bandeirola de canto do adversário, tendo um defesa acorrido para a recuperar e a proteger com o corpo para evitar a entrada do Montero. No entanto, o Montero, sem saber como, ganhou-lhe a frente e ficou com a bola. Quando se esperava que encanasse a perna à rã, aguardando pelo encosto e pela falta, resolveu fazer tudo errado e fê-lo de tal forma que deu tudo certo: com o calcanhar meteu uma cueca ao adversário, foi buscar a bola, passou-a de primeira para o Raphinha - que tinha acreditado naquela pantominice, vá-se lá saber porquê -, a receber, levantar a cabeça e colocá-la à hora certa e no sítio certo para o Jovane Cabral marcar um “penalty” em corrida. Assim se cumpriu a profecia que não se sabe se o é ou se o é porque se autorrealiza: o Jovane Cabral quando entra mexe sempre com o jogo e é decisivo. Como se costuma dizer no basquetebol americano, o Jovane Cabral está na naquela fase em que só se pede uma única coisa: “Não toquem no homem!”.
Há muito tempo que não me divertia a ver um jogo do Sporting. Gritei quando marcámos ou quando estivemos quase a marcar. Mandei para um sítio que eu cá sei o Battaglia, o Coates e o Gudelj quando iam isolando os adversários. Insultei o Montero quando fez o que não devia para acabar a gritar que estávamos em presença de um génio que precisava de ser, mais do que reconhecido, canonizado em vida se fosse possível. No final estava feliz, pelo resultado e pela convicção que, por nós, o enclave de Nagorno-Karabakh era português.
(O Renato Sanches marcou um golo. Pelo que percebi da leitura dos jornais, o Benfica terá empatado um a um com o Bayern de Munique. Parabéns ao Renato Sanches pelo golo marcado e parabéns ao Benfica por num só jogo ter superado o desempenho da época passada na Liga dos Campeões)
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Rui Monteiro
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terça-feira, 18 de setembro de 2018
É isto, não é?
Os danos são irreparáveis e estão à vista de todos: a SAD do Benfica é acusada pelo Ministério Público pela prática de 30 crimes no processo e-toupeira. O Benfica promove o “fair play” e os mais elevados padrões de ética desportiva. Os seus dirigentes são exemplos de probidade, não sabendo nada nem de nada. Até agora é isto que os media nos vão informando todos os dias.
Se bem percebo o que fui lendo e ouvindo nos media até ontem, então o funcionário judicial que se encontra em prisão preventiva acusado destes e doutros crimes no mesmo processo e-toupeira agiu por iniciativa própria para prejudicar o Benfica e os seus dirigentes, infligindo os danos que se conhecem. Se bem percebo o que fui lendo e ouvindo nos media ontem a propósito da cessação do contrato com o Benfica, é possível que o Paulo Gonçalves possa estar de alguma forma envolvido com esse funcionário judicial, causando em conjunto esses danos. Se bem percebo tudo isto, o Benfica vai processar o primeiro e, possivelmente, o segundo pelos danos causados. É isto, não é?
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Rui Monteiro
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segunda-feira, 17 de setembro de 2018
Os “flippers” da vizinha são melhores do que os nossos
O Peseiro não facilitou. Insistiu na mesma equipa do jogo contra o Feirense com duas alterações: uma por lesão do Nani, jogando o Jovane, e outra por opção, tirando o Ristovski, que tinha jogado dois jogos em pouco tempo pela seleção, e metendo o Bruno Gaspar. Contra todas as expetativas, manteve o habitual duplo pivô: Battaglia e Acuna. Não é bem isso, é mais um par de “flippers”. Cada um tem a responsabilidade de acertar na bola quando ela anda pelo seu lado e procura marcar pontos tabelando com os obstáculos que estão à sua frente, que neste caso se designam “jogadores adversários”.
Contrariamente ao que acontece no jogo de “flippers”, os obstáculos mexem-se e querem eles próprios fazer de “flippers” tentando acertar na bola também e tabelar nos obstáculos, que neste caso passam a ser os jogadores do Sporting. A existência de vários jogos de “flippers” num mesmo jogo em que os “flippers” e os obstáculos se revezam à vez, torna o jogo um pouco confuso. A solução passa ou pela bica para a frente, tentando que o jogo de “flippers” se jogue no meio campo do adversário, ou pelo recuo do Bruno Fernandes para se sair a jogar. Com o Jorge Jesus, o Bruno Fernandes jogou praticamente em todas as posições. Com o Peseiro deu-se um passo em frente e espera-se que o Bruno Fernandes jogue em todas as posições ao mesmo tempo, faltando jogadores na frente porque ainda não lhe é possível, por agora (com o treino lá chegará), estar em todo o lado e ir passando a bola a si próprio até encontrar uma brecha para rematar.
Esta leitura do jogo permite compreender melhor a sagacidade do Peseiro. Aposta mais nos "flippers” adversários do que nos seus. Sempre que pode, a equipa pressiona alto e impede a saída confortável do adversário. A pressão parece um pouco atabalhoada, mas há sempre um “flipper” adversário tonto que tenta fazer o que mecanicamente não é possível, entregando-nos a bola em zona perigosa. Foi assim que nasceu o primeiro golo, com o Jovane a recuperar uma bola junto à área adversária e a passá-la de imediato ao Montero que, após a pausa do costume para processamento das coordenadas dos colegas e adversários no seu GPS, desmarcou o Raphinha que rematou para o um a zero. Para além do golo e de um cabeceamento do Coates ao lado, a primeira parte teve pouco mais.
A segunda parte não se iniciou com melhores augúrios. Só que, em dado momento, o Jovane entrou desembestado na área a contornar os obstáculos que se lhe depararam até um deles fazer de “flipper” antes do tempo e acabar por o derrubar. O Mota que vê tudo – ainda nos lembramos dele a ver um falta de Slimani que ninguém viu e a anular-nos um golo e a impedir-nos a vitória e a manutenção da distância para o Benfica na época 2013/14 quando liderávamos o campeonato - viu o “penalty” e marcou-o. O Bruno Fernandes com a paradinha habitual fez o dois a zero. O jogo parecia arrumado, mas nos “flippers” nunca se sabe. O Acuna de olhos fechados procurou atrasar uma bola para a defesa e acabou a passá-la a um adversário, originando o dois a um. O passe surpreendeu não só a defesa como o realizador da SportTv, que só conseguiu filmar o jogador do Marítimo isolado a marcar o golo.
Duas circunstâncias impediram que o final do jogo se transformasse no “ai Jesus” do costume. Depois de marcar um golo, o Bruno Fernandes libertou-se de angústias e entrou no seu normal que constitui a “twilight zone” para qualquer mortal. A bica para a frente promovida pelo Peseiro tem muito que se lhe diga. A do Jesus pressupunha que o Bas Dost ganhasse a primeira bola, perdendo-se sempre a segunda porque os colegas não percebiam a ideia de jogo do treinador com o “up and under kick”. O recurso ao rugby com o Peseiro é mais eficaz. Sem o Bas Dost na frente, não se espera ganhar a primeira bola, avançando a equipa em bloco para ganhar a segunda. Numa destas jogadas, o Bruno Fernandes ficou com a bola de frente para a baliza, tabelou com o Montero, fez uma revienga a um adversário e meteu-a pelo buraco da agulha para o três a um. Depois deu para tudo. Deu para se estrearem o Wendel, o Gudelj e o Diaby e para um defesa do Marítimo ter sido acusado e condenado por homicídio na forma tentada.
Com o Jorge Jesus, o nosso futebol era um aborrecimento, mas era porque era para ser assim. Não se esperava que melhorasse. Nem nós, adeptos, o esperávamos, nem os jogadores. A esperança é a última a morrer mas estava, há muito, morta e enterrada. Jogava-se mal porque os conceitos de mau e de bom do treinador não eram idênticos aos nossos. Bom é com o treinador. Mau é com os jogadores. Como não são os treinadores a andar aos pontapés na bola, só víamos o mau sem compreendermos o bom que estava por detrás dele e na cabeça (ou na ideia de jogo) do criador.
Com o Peseiro existe aborrecimento mas também existe esperança. Ainda acreditamos que o aborrecimento é por acaso. Falta tempo, isto é, treino e entrosamento dos jogadores, que chegaram às pinguinhas. Em cada jogo, esperamos sempre melhorias e estas têm aparecido, poucas mas suficientes para não se perder a esperança. É um “learning by doing” permanente. Com o Raphinha hoje, o Gudelj amanhã e o Sturaro um dia destes é possível voltar a ver a nossa equipa a jogar bom futebol. A ganhar já vemos.
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Rui Monteiro
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terça-feira, 11 de setembro de 2018
É giro!
Não acompanhei com atenção devida a campanha eleitoral. Não ouvi ou li sequer uma única entrevista ou um único debate. Acompanhei a campanha pelas chamadas “gordas” dos jornais. Com tão pouco conhecimento do que se passava, achei por bem não efetuar grandes análises enquanto decorria a campanha. Neste momento, penso que posso dizer alguma coisa, dado que os órgãos sociais estão eleitos e daqui nada resulta ou pode resultar.
Embora nas redes sociais se tenha continuado a alimentar as teorias da conspiração e o entrincheiramento entre “croquetes” e “brunetes”, na campanha nado disto foi tema de discussão e cada candidato contraditou os outros e defendeu os seus pontos de vista sem desqualificar os adversários e o debate público. Com exceção do Pedro Madeira Rodrigues, com os (maus) resultados que se conhecem, ninguém se lembrou de prometer o que não pode e arranjar uma catrefada de cromos (jogadores e treinadores). Esta atitude coletiva revelou sentido de responsabilidade perante a atual situação económica e financeira do Sporting.
Rapidamente a corrida ficou reduzida a três contendores com reais hipóteses de vitória: Ricciardi, Benedito e Varandas. Destes mais rapidamente ainda se passou para dois: Benedito e Varandas. O Ricciardi só tinha para oferecer os seus conhecimentos na banca de investimento e, por isso, insistiu numa campanha monotemática sobre a situação patrimonial e financeira, entregando o futebol ao José Eduardo, esse grande ex-apoiante do Bruno de Carvalho e defensor do croquete sem qualquer sentido metafórico. Ando há demasiados anos a ensinar que a situação patrimonial e financeira mais tarde ou mais cedo reflecte sempre a viabilidade do modelo de negócios de qualquer organização. No Sporting, a médio e longo prazo, não se consegue a sustentabilidade financeira sem vitórias, títulos, bom futebol e mobilização dos adeptos, não sendo separáveis os Ricciardis, para um lado, e os Josés Eduardos, para o outro.
Não gosto muito de futsal, é um género de andebol mas com menos jogadores e jogado com os pés. Mesmo assim, vi muitos jogos do Sporting e assisti a muitas vitórias e a conquistas de títulos com o Benedito a capitão. Nunca gostei de jogadores baixotes. O Benedito é baixote mas parecia de borracha, chegando a bolas impossíveis; e, sobretudo, tinha uma alma que não acabava, vivendo cada jogo como se fosse o último da sua vida e festejando todos os títulos com os adeptos como se fosse, e é, um de nós. Tudo isto, associado ao percurso académico e profissional que seguiu, bem como à equipa que constituiu, dava garantias de ser um bom presidente.
Agora parece mais conveniente dizê-lo, mas o meu candidato sempre foi o Varandas. O Varandas era o médico da equipa principal de futebol. Imagino que não ganhasse pouco, exercendo, ainda por cima, a profissão que é a dele e que ele gosta de exercer, como se verificou nas suas intervenções em campanha. Podia ter tentando passar pelos pingos da chuva sem se molhar, continuando a exercer a sua (bem remunerada) profissão. Deixou acabar a época para se demitir, cumprindo até ao último dia as suas funções, disponibilizando-se imediatamente para ser candidato, quando o Bruno de Carvalho ainda tinha poder e todos os que se lhe opunham andavam a fazer contas de cabeça. Foi corajoso e deu esperança a quem não se revia em Bruno de Carvalho e isso não era pouco nessa altura, quando simplesmente se especulava sobre uma suposta destituição sem qualquer alternativa no horizonte.
Dito isto e acabada a história, importa pensar o futuro com o Varandas a presidente. Ontem, cheguei ao trabalho e perguntei às minhas colegas o que pensavam do Varandas a presidente do Sporting. A resposta foi unânime: “É giro!” Um pouco despeitado, procurei aprofundar a análise. “Está bem, mas o que pensam dele a presidente do Sporting”. A resposta foi novamente unânime: “É o mais giro presidente do Sporting e o presidente mais giro de todos os clubes portugueses”. Não insisti e procurei não me ver ao espelho durante o dia. Hoje, voltando a pensar no assunto, percebi melhor o que elas me disseram. Não sabemos se o Varandas vai ser um bom presidente e tão bom ou melhor do que os seus antecessores ou os dos clubes rivais. Mas sabemos com certeza que é o mais giro e, para início, isso não é pouco. As minhas colegas estiveram, hoje, muito mais disponíveis para falar comigo, mesmo sobre futebol, melhorando imenso o ambiente de trabalho.
Embora nas redes sociais se tenha continuado a alimentar as teorias da conspiração e o entrincheiramento entre “croquetes” e “brunetes”, na campanha nado disto foi tema de discussão e cada candidato contraditou os outros e defendeu os seus pontos de vista sem desqualificar os adversários e o debate público. Com exceção do Pedro Madeira Rodrigues, com os (maus) resultados que se conhecem, ninguém se lembrou de prometer o que não pode e arranjar uma catrefada de cromos (jogadores e treinadores). Esta atitude coletiva revelou sentido de responsabilidade perante a atual situação económica e financeira do Sporting.
Rapidamente a corrida ficou reduzida a três contendores com reais hipóteses de vitória: Ricciardi, Benedito e Varandas. Destes mais rapidamente ainda se passou para dois: Benedito e Varandas. O Ricciardi só tinha para oferecer os seus conhecimentos na banca de investimento e, por isso, insistiu numa campanha monotemática sobre a situação patrimonial e financeira, entregando o futebol ao José Eduardo, esse grande ex-apoiante do Bruno de Carvalho e defensor do croquete sem qualquer sentido metafórico. Ando há demasiados anos a ensinar que a situação patrimonial e financeira mais tarde ou mais cedo reflecte sempre a viabilidade do modelo de negócios de qualquer organização. No Sporting, a médio e longo prazo, não se consegue a sustentabilidade financeira sem vitórias, títulos, bom futebol e mobilização dos adeptos, não sendo separáveis os Ricciardis, para um lado, e os Josés Eduardos, para o outro.
Não gosto muito de futsal, é um género de andebol mas com menos jogadores e jogado com os pés. Mesmo assim, vi muitos jogos do Sporting e assisti a muitas vitórias e a conquistas de títulos com o Benedito a capitão. Nunca gostei de jogadores baixotes. O Benedito é baixote mas parecia de borracha, chegando a bolas impossíveis; e, sobretudo, tinha uma alma que não acabava, vivendo cada jogo como se fosse o último da sua vida e festejando todos os títulos com os adeptos como se fosse, e é, um de nós. Tudo isto, associado ao percurso académico e profissional que seguiu, bem como à equipa que constituiu, dava garantias de ser um bom presidente.
Agora parece mais conveniente dizê-lo, mas o meu candidato sempre foi o Varandas. O Varandas era o médico da equipa principal de futebol. Imagino que não ganhasse pouco, exercendo, ainda por cima, a profissão que é a dele e que ele gosta de exercer, como se verificou nas suas intervenções em campanha. Podia ter tentando passar pelos pingos da chuva sem se molhar, continuando a exercer a sua (bem remunerada) profissão. Deixou acabar a época para se demitir, cumprindo até ao último dia as suas funções, disponibilizando-se imediatamente para ser candidato, quando o Bruno de Carvalho ainda tinha poder e todos os que se lhe opunham andavam a fazer contas de cabeça. Foi corajoso e deu esperança a quem não se revia em Bruno de Carvalho e isso não era pouco nessa altura, quando simplesmente se especulava sobre uma suposta destituição sem qualquer alternativa no horizonte.
Dito isto e acabada a história, importa pensar o futuro com o Varandas a presidente. Ontem, cheguei ao trabalho e perguntei às minhas colegas o que pensavam do Varandas a presidente do Sporting. A resposta foi unânime: “É giro!” Um pouco despeitado, procurei aprofundar a análise. “Está bem, mas o que pensam dele a presidente do Sporting”. A resposta foi novamente unânime: “É o mais giro presidente do Sporting e o presidente mais giro de todos os clubes portugueses”. Não insisti e procurei não me ver ao espelho durante o dia. Hoje, voltando a pensar no assunto, percebi melhor o que elas me disseram. Não sabemos se o Varandas vai ser um bom presidente e tão bom ou melhor do que os seus antecessores ou os dos clubes rivais. Mas sabemos com certeza que é o mais giro e, para início, isso não é pouco. As minhas colegas estiveram, hoje, muito mais disponíveis para falar comigo, mesmo sobre futebol, melhorando imenso o ambiente de trabalho.
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segunda-feira, 10 de setembro de 2018
How Democracies Die
O apuramento dos resultados das eleições do Sporting coincidiu com a leitura de “Como as Democracias Morrem”, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt. Demorando seis horas para anunciar os resultados finais, o trapalhão do Marta Soares conseguiu que lesse o livro todo antes de ficar a saber que Frederico Varandas era o novo presidente do Sporting. Há males que vêm por bem.
A sobrevivência das democracias não depende exclusivamente da existência de constituição que as defenda nem de eleições livres. Depende de muitas regras, mais tácitas do que explícitas. As mais importantes são a da autolimitação de quem exerce o poder e a do respeito pelo adversário, nunca em nenhum momento, por muito que se discorde, deverá ser considerado nem insinuado como ilegítimo.
O Sporting não vive em nenhum sistema presidencial nem parlamentar. Apurados os resultados, as candidaturas e os seus protagonistas deixam de representar quem quer que seja e os diferentes órgão sociais eleitos passam a representar todos os sportinguistas. Os sportinguistas a partir desse momento passam a representar-se a si próprios nas Assembleias Gerais. O que visa as eleições é assegurar a livre escolha de órgão sociais do clube que garantam a prossecução dos seus objetivos e a perenidade da organização.
Desse ponto de vista, mal acaba o ato eleitoral, deixa de haver vencedores e vencidos. Há órgãos sociais eleitos e que passam a exercer funções e nada mais, em benefício do Sporting e dos seus associados, representando-os a todos. O João Benedito e o Frederico Varandas estiveram muito bem nas declarações finais. O João Benedito reconhecendo o Frederico Varandas como seu presidente. O Frederico Varandas reconhecendo, com humildade, que, pela sua relevância como atleta do clube, o João Benedito tem um lugar inapagável na história do Sporting.
Há só um ponto que vi esgrimido no final das eleições e que vem da deriva autocrática do passado e daquela que há no pior de cada um de nós. Depois de eleito pelas regras vigentes, Frederico Varandas é o legítimo presidente do Sporting. O facto de ter menos eleitores não diminui em nada a sua legitimidade. As regras, tácitas e explícitas, não se colocam em causa, sob o risco de se colocar em causa o modo de vida democrático. Espero que se tenha aprendido com a experiência e se deixe de brincar aos estatutos e regulamentos, com alterações sob chantagem e sem se cuidar das regras de convivência que estabelecemos e nos permitiram chegar até aqui após mais de cem anos de existência.
A sobrevivência das democracias não depende exclusivamente da existência de constituição que as defenda nem de eleições livres. Depende de muitas regras, mais tácitas do que explícitas. As mais importantes são a da autolimitação de quem exerce o poder e a do respeito pelo adversário, nunca em nenhum momento, por muito que se discorde, deverá ser considerado nem insinuado como ilegítimo.
O Sporting não vive em nenhum sistema presidencial nem parlamentar. Apurados os resultados, as candidaturas e os seus protagonistas deixam de representar quem quer que seja e os diferentes órgão sociais eleitos passam a representar todos os sportinguistas. Os sportinguistas a partir desse momento passam a representar-se a si próprios nas Assembleias Gerais. O que visa as eleições é assegurar a livre escolha de órgão sociais do clube que garantam a prossecução dos seus objetivos e a perenidade da organização.
Desse ponto de vista, mal acaba o ato eleitoral, deixa de haver vencedores e vencidos. Há órgãos sociais eleitos e que passam a exercer funções e nada mais, em benefício do Sporting e dos seus associados, representando-os a todos. O João Benedito e o Frederico Varandas estiveram muito bem nas declarações finais. O João Benedito reconhecendo o Frederico Varandas como seu presidente. O Frederico Varandas reconhecendo, com humildade, que, pela sua relevância como atleta do clube, o João Benedito tem um lugar inapagável na história do Sporting.
Há só um ponto que vi esgrimido no final das eleições e que vem da deriva autocrática do passado e daquela que há no pior de cada um de nós. Depois de eleito pelas regras vigentes, Frederico Varandas é o legítimo presidente do Sporting. O facto de ter menos eleitores não diminui em nada a sua legitimidade. As regras, tácitas e explícitas, não se colocam em causa, sob o risco de se colocar em causa o modo de vida democrático. Espero que se tenha aprendido com a experiência e se deixe de brincar aos estatutos e regulamentos, com alterações sob chantagem e sem se cuidar das regras de convivência que estabelecemos e nos permitiram chegar até aqui após mais de cem anos de existência.
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sábado, 8 de setembro de 2018
Para todos os gostos
Hoje é um importante dia de Sporting. Estamos perante um acto eleitoral, vai-se tornando um hábito, mas bastante diferente do habitual. Praticamente ninguém se recandidata. De resto um pouco de tudo.
Temos candidaturas que fazem do futebol a sua bandeira, candidaturas que apostam nas modalidades. Temos candidaturas mais próximas de modelos empresariais, de clube-empresa, outras que nem querem ouvir falar disso. Temos candidatos que conhecemos desde sempre, outros que nunca tínhamos ouvido falar. Candidatos do Sporting de Lisboa, outros do Sporting do país. Candidatos que apostaram tudo numa boa empresa de comunicação, outros que nem à televisão foram. Candidatos que o foram e desistiram, candidatos que queriam ser e não o são. Há para todos os gostos, e isso é positivo. Vamos ter o Sporting que a maioria dos sócios quiserem. Podemos escolher e não há nada de errado nisso.
Também temos opinion makers que acham que ter muitos candidatos é mau. Mesmo apesar de alguns deles terem feito parte de Governos que conseguiram maiorias parlamentares com uns 40% dos votos, acham que o Presidente do Sporting precisa de ter um resultado quase Venezuelano para ter legitimidade. Não podia discordar mais. O último Presidente teve 90% e deu no que deu...
Posto isto vamos votar e esperar os resultados. Hoje o Sporting só pode sair a ganhar!
Temos candidaturas que fazem do futebol a sua bandeira, candidaturas que apostam nas modalidades. Temos candidaturas mais próximas de modelos empresariais, de clube-empresa, outras que nem querem ouvir falar disso. Temos candidatos que conhecemos desde sempre, outros que nunca tínhamos ouvido falar. Candidatos do Sporting de Lisboa, outros do Sporting do país. Candidatos que apostaram tudo numa boa empresa de comunicação, outros que nem à televisão foram. Candidatos que o foram e desistiram, candidatos que queriam ser e não o são. Há para todos os gostos, e isso é positivo. Vamos ter o Sporting que a maioria dos sócios quiserem. Podemos escolher e não há nada de errado nisso.
Também temos opinion makers que acham que ter muitos candidatos é mau. Mesmo apesar de alguns deles terem feito parte de Governos que conseguiram maiorias parlamentares com uns 40% dos votos, acham que o Presidente do Sporting precisa de ter um resultado quase Venezuelano para ter legitimidade. Não podia discordar mais. O último Presidente teve 90% e deu no que deu...
Posto isto vamos votar e esperar os resultados. Hoje o Sporting só pode sair a ganhar!
quinta-feira, 6 de setembro de 2018
Copiões
Ontem, fiquei num hotel em Lisboa a passar a noite. No quarto, comecei por preparar a reunião de trabalho de hoje que tinha justificado a minha deslocação. Acabada essa tarefa, fiquei sentado na cama com o comando da televisão na mão a desfilar os canais, tentando ultrapassar o habitual tédio deste momento (o mais deprimente de quem está habituado a viajar em trabalho). Independentemente dos canais, o tema era sempre o mesmo: Benfica, Benfica e mais Benfica.
Com o BdC, todos os canais se transformaram na SportingTv. Sentíamo-nos sempre em casa. Agora, todos os canais se transformaram na BenficaTv. Não nos sentimos em casa, mas o processo mediático é o mesmo. De repente, temos especialistas de bola a falar sem se rirem de Código Penal e Código Processo Penal; temos juristas a falar disso, mas, sobretudo, de bola e de cabalas sem se rirem também. Na SportingTv os temas e os intervenientes eram os mesmos. Os benfiquistas não suportam o sucesso dos outros e desataram a copiar-nos: copiões, é o que eles são.
Como tinha dito aqui e aqui, os administradores da SAD do Benfica começaram por considerar que o facto de não saberem implicava a não existência. Agora, passaram a considerar simplesmente que o facto de não saberem (só eles, Deus e o Ministério Público é que sabem se sabem ou não) não os responsabiliza. Aparentemente, há quem alinhe nesta nova metafísica da linguagem que não é nova, se nos lembrarmos das declarações dos administradores da PT e do BES na Comissão de Inquérito da Assembleia da República.
Numa organização que se preze, o desconhecimento dos seus administradores de atos e factos potencialmente graves responsabiliza-os por isso mesmo: por não saberem. É suposto que saibam e, sobretudo, que não ignorem. É para isso que lhes pagam salários simpáticos. Neste caso, a situação agrava-se. Podiam não saber dos factos, mas sabiam da gravidade das suspeitas e nenhuma diligência interna efetuaram entretanto para os apurar ou, pelo menos, não o demonstraram.
Numa organização que se preze, existindo suspeitas, o funcionário é suspenso de funções e é aberto respetivo processo de inquérito para apuramento de atos, factos e, potenciais, responsabilidades, podendo acabar em procedimento disciplinar. Estas diligências efetuam-se, antes de mais, para defesa da organização e do próprio funcionário. O que os administradores da SAD do Benfica deviam estar a informar os acionistas, os sócios do clube e os adeptos em geral era dessas diligências e respetivas conclusões; e não a fazer juras de desconhecimento e de “licitude”.
Numa organização que se preze, administradores que assim não procedessem iam para o olho da rua pelo seu próprio pé ou empurrados quando viessem com juras e não com atos e conclusões. Esta responsabilidade pode não ter contornos criminais (os tribunais é que servem para isso), mas não deixa de ser responsabilidade e de ter responsáveis (embora esta responsabilidade seja de natureza diferente da anterior, embora potencialmente complementar em função da gravidade dos atos e factos apurados internamente e consequente comunicação ao Ministério Público).
Com o BdC, todos os canais se transformaram na SportingTv. Sentíamo-nos sempre em casa. Agora, todos os canais se transformaram na BenficaTv. Não nos sentimos em casa, mas o processo mediático é o mesmo. De repente, temos especialistas de bola a falar sem se rirem de Código Penal e Código Processo Penal; temos juristas a falar disso, mas, sobretudo, de bola e de cabalas sem se rirem também. Na SportingTv os temas e os intervenientes eram os mesmos. Os benfiquistas não suportam o sucesso dos outros e desataram a copiar-nos: copiões, é o que eles são.
Como tinha dito aqui e aqui, os administradores da SAD do Benfica começaram por considerar que o facto de não saberem implicava a não existência. Agora, passaram a considerar simplesmente que o facto de não saberem (só eles, Deus e o Ministério Público é que sabem se sabem ou não) não os responsabiliza. Aparentemente, há quem alinhe nesta nova metafísica da linguagem que não é nova, se nos lembrarmos das declarações dos administradores da PT e do BES na Comissão de Inquérito da Assembleia da República.
Numa organização que se preze, o desconhecimento dos seus administradores de atos e factos potencialmente graves responsabiliza-os por isso mesmo: por não saberem. É suposto que saibam e, sobretudo, que não ignorem. É para isso que lhes pagam salários simpáticos. Neste caso, a situação agrava-se. Podiam não saber dos factos, mas sabiam da gravidade das suspeitas e nenhuma diligência interna efetuaram entretanto para os apurar ou, pelo menos, não o demonstraram.
Numa organização que se preze, existindo suspeitas, o funcionário é suspenso de funções e é aberto respetivo processo de inquérito para apuramento de atos, factos e, potenciais, responsabilidades, podendo acabar em procedimento disciplinar. Estas diligências efetuam-se, antes de mais, para defesa da organização e do próprio funcionário. O que os administradores da SAD do Benfica deviam estar a informar os acionistas, os sócios do clube e os adeptos em geral era dessas diligências e respetivas conclusões; e não a fazer juras de desconhecimento e de “licitude”.
Numa organização que se preze, administradores que assim não procedessem iam para o olho da rua pelo seu próprio pé ou empurrados quando viessem com juras e não com atos e conclusões. Esta responsabilidade pode não ter contornos criminais (os tribunais é que servem para isso), mas não deixa de ser responsabilidade e de ter responsáveis (embora esta responsabilidade seja de natureza diferente da anterior, embora potencialmente complementar em função da gravidade dos atos e factos apurados internamente e consequente comunicação ao Ministério Público).
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terça-feira, 4 de setembro de 2018
O interlúdio de Sousa Cintra e da Comissão de Gestão
Depois de todos os incidentes que, podemos dizer, se iniciaram com o jogo entre o Atlético de Madrid e se concluíram com a destituição de BdC, o Sporting estava escaqueirado (este é o termo exato). Os sócios e adeptos estavam divididos, não havia direção, nem treinador (ou havia um que ganhava um balúrdio sem nada no currículo que o justificasse) e os principais jogadores tinham rescindido alegando justa causa sem que houvesse dinheiro para contratar outros de igual valia. É neste contexto, caótico, que é designada a Comissão de Gestão, assumindo Sousa Cintra a liderança da SAD.
Ninguém, no seu juízo perfeito, esperava milagres ou, dizendo melhor, esperava um único milagre: que se realizassem com a normalidade possível as eleições e, até lá, que o Sporting desportivamente não desaparecesse. Esperava-se que a Comissão de Gestão ganhasse tempo precioso para que Sporting pudesse voltar à normalidade.
A Comissão de Gestão cometeu seguramente erros, mas cumpriu o essencial e o essencial não era fácil. Contratou um dos poucos treinadores experientes que se encontravam disponíveis para pegar a prazo numa equipa que ainda nem se sabia que equipa era. Assegurou o regresso do Bruno Fernandes, do Bas Dost e do Battaglia. Negociou e vendeu o William Carvalho para o Bétis de Sevilha. Contratou os jogadores que pôde dentro das preferências do treinador e das disponibilidades financeiras. A equipa tem feito o que pode e à quarta jornada o Sporting está na frente do campeonato, depois de ter defrontado o Benfica na Luz.
Podemos analisar as decisões tomadas pela Comissão de Gestão e pelo Sousa Cintra e se se encontram reunidas (ou não) as condições necessárias para o Sporting dispor de uma equipa de futebol competitiva. Mas, como sempre costumo dizer, antes das explicações vêm os resultados. A primeira avaliação é se os resultados esperados foram concretizados. Esperava-se que ganhassem o tempo necessário para que uma nova direção pudesse tomar legitimamente posse, depois de ser escolhida pelos sócios do Sporting, sem entretanto se comprometer o futuro mais do que estava.
Pode-se sempre afirmar que podiam ter feito mais e melhor, mas uma coisa é certa: o Sporting tem um treinador, uma equipa com bons jogadores e está em primeiro lugar do campeonato. Naqueles que eram os resultados essenciais, a Comissão de Gestão e o Sousa Cintra cumpriram e o Sporting conseguiu a normalidade possível. Para o bem ou para o mal, o passado é da responsabilidade da anterior direção e o futuro será da direção que vai ser eleita no próximo dia 8.
Ninguém, no seu juízo perfeito, esperava milagres ou, dizendo melhor, esperava um único milagre: que se realizassem com a normalidade possível as eleições e, até lá, que o Sporting desportivamente não desaparecesse. Esperava-se que a Comissão de Gestão ganhasse tempo precioso para que Sporting pudesse voltar à normalidade.
A Comissão de Gestão cometeu seguramente erros, mas cumpriu o essencial e o essencial não era fácil. Contratou um dos poucos treinadores experientes que se encontravam disponíveis para pegar a prazo numa equipa que ainda nem se sabia que equipa era. Assegurou o regresso do Bruno Fernandes, do Bas Dost e do Battaglia. Negociou e vendeu o William Carvalho para o Bétis de Sevilha. Contratou os jogadores que pôde dentro das preferências do treinador e das disponibilidades financeiras. A equipa tem feito o que pode e à quarta jornada o Sporting está na frente do campeonato, depois de ter defrontado o Benfica na Luz.
Podemos analisar as decisões tomadas pela Comissão de Gestão e pelo Sousa Cintra e se se encontram reunidas (ou não) as condições necessárias para o Sporting dispor de uma equipa de futebol competitiva. Mas, como sempre costumo dizer, antes das explicações vêm os resultados. A primeira avaliação é se os resultados esperados foram concretizados. Esperava-se que ganhassem o tempo necessário para que uma nova direção pudesse tomar legitimamente posse, depois de ser escolhida pelos sócios do Sporting, sem entretanto se comprometer o futuro mais do que estava.
Pode-se sempre afirmar que podiam ter feito mais e melhor, mas uma coisa é certa: o Sporting tem um treinador, uma equipa com bons jogadores e está em primeiro lugar do campeonato. Naqueles que eram os resultados essenciais, a Comissão de Gestão e o Sousa Cintra cumpriram e o Sporting conseguiu a normalidade possível. Para o bem ou para o mal, o passado é da responsabilidade da anterior direção e o futuro será da direção que vai ser eleita no próximo dia 8.
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segunda-feira, 3 de setembro de 2018
Salvos pelo Castaignos ou pelo Princípio da Incerteza de Heisenberg
Caros amigos (esta resulta da influência das crónicas do Nelson Rodrigues que ando a ler), no sábado, finalmente pude ver um jogo do Sporting do primeiro ao último minuto no Flávio. Na mesa e na cadeira do costume, à distância certa da televisão. Com os sportinguistas de sempre, cinco, contando comigo e com o dono do café, e contra todos os benfiquistas que ocupam o resto da sala e não se calam um segundo. No meu “habitat”, consegui ver o jogo como gosto de ver para vos puder relatar como deve ser.
O Peseiro escala uma equipa como qualquer um de nós o faria. Há um guarda-redes, quatro defesas, os mais altos jogam a centrais, e um ponta-de-lança, sendo os restantes distribuídos pelo campo de forma mais ou menos equilibrada espacialmente, três mais ou menos no meio, uns mais à frente e outros mais atrás, e dois mais ou menos nas laterais. Este equilíbrio territorial, que se baseia numa certa simetria longitudinal na disposição dos jogadores, é um bom princípio de jogo. É um bom princípio, mas o jogo tem mais que o princípio e, mesmo com todas as perdas de tempo dos jogadores do Feirense, sob o olhar complacente do árbitro, é necessário assegurar que tenha um bom meio e um bom fim, isto tudo durante noventa minutos.
Este bom princípio rendeu logo uma excelente jogada de ataque. O Bruno Fernandes desmarcou-se entre o central e o lateral do lado esquerdo, centrou atrasado, o Nani rematou de primeira contra as pernas de um defesa, a bola ressaltou para o lado onde apareceu o Acuna a fechar os olhos e a acertar com a bola numa perna do guarda-redes. Depois, bem, depois foram acontecendo coisas. Não sei descrever as coisas que foram acontecendo a não ser como coisas que são. O Battaglia pegava na bola e corria do meio para o lado direito até esbarrar em alguém e voltar para trás e passar a bola. O Acuna fazia o oposto, pegando na bola e correndo do meio para o lado esquerdo até esbarrar em alguém também e passar a bola. O desespero vai-se apoderando de um e de outro até que um dos centrais resolve iniciar a jogada de ataque, normalmente o Coates, enfiando um biqueirada para a frente ou passando a bola junto à linha para um dos laterais. O Nani e o Bruno Fernandes bem tentavam desmarcar-se para dentro ou para fora, mas a bola não lhes chegava, não lhes servindo de nada esbracejar. O Montero esforçava-se no famoso jogo entre linhas mas sem que a bola chegasse por uma vez para tabelar com um médio ou com um extremo.
Os jogadores do Feirense também não faziam nada que se visse. Demoraram a adaptar-se à nossa pressão alta um pouco caótica, não conseguindo sair com bola e limitando-se a umas biqueiradas que os centrais e o Battaglia inevitavelmente resolviam. Havia isto tudo e o Jéfferson que é um caso à parte. É irrelevante que à sua ferente esteja um jogador de carne e osso, um soldadinho de chumbo ou um jerrican, quando procura centrar a bola acerta sempre no adversário que está à sua frente.
No início da segunda parte, tudo piorou, se ainda era possível. Os jogadores do Feirense deixaram de se atrapalhar com a suposta pressão alta e passaram a dominar o jogo a toda a sela. Não criaram grande perigo porque não sabem mais e a nossa defesa também não dá abébias (o André Pinto está a revelar-se). Só que, simplesmente, deixámos de chegar à área contrária. Como é quase impossível marcar qualquer golo sem se chegar lá, o Peseiro fez o que costuma fazer e que é a única tática disponível neste momento: meteu o Jovane Cabral e tirou o Jéfferson. O acerto foi total, na entrada e na saída.
A jogar com onze e o Jovane Cabral a correr como se não houvesse amanhã, por contágio, os restantes jogadores desataram a correr também. O jogo ficou partido que é como o Battagalia mais gosta de jogar, mais de metade do relvado e meia equipa adversária ficam por sua conta. Os jogadores do Feirense deixaram de ter descanso e montamos-lhe definitivamente o cerco, passando à fase do tiro ao boneco com o Salin a encarnar no Caio Secco, guarda-redes do Feirense, e a parar todos os remates. Estava-se neste impasse quando o Peseiro, na sua cabeça, assumiu que só com um jogador que tivesse com a bola uma relação baseada no Princípio da Incerteza de Heisenberg é que seria possível ganhar o jogo. O Castaignos é o jogador que, no Mundo, mais dificuldades tem em determinar simultaneamente a posição e a velocidade da bola, às quais adiciona a tradicional dificuldade de escolha da extremidade do corpo mais adequada para a jogar.
A sua entrada foi decisiva. Bola metida em profundidade à procura da velocidade e da desmarcação do Raphinha, o defesa esquerdo corta de cabeça para o meio onde, à entrada da área, o Castaignos a recupera e a passa ao Raphinha definitivamente. O Raphinha domina-a e levanta a cabeça, percebendo que não tem a quem a passar, faz pedalada e meia e passa por fora o defesa e ganha a linha, toca de calcanhar para trás e simula que vai centrar, acabando por fazer uma cueca no defesa que apanha o Ristovski desmarcado e em grande aceleração. O Ristovski junto à linha de fundo não vai de modas e centra rasteiro de primeira para a entrada da pequena área onde aparecia o Castaignos a atrapalhar um defesa, a bola passa por ele e o Jovane Cabral ao segundo poste antecipa-se a um adversário e em esforço mete-a lá dentro. Chegados a este ponto percebe-se melhor a entrada do Castaignos: foi a sua incapacidade em determinar simultaneamente a posição e a velocidade da bola que permitiu, por um lado, atrapalhar os defesas e, por outro, a entrada convicta do Jovane Cabral. Esta incapacidade é reconhecida pelo próprio, como se viu na forma como deixou a bola para trás e entrou a toda a brida pela baliza dentro, não estorvando, assim, a possibilidade de finalização do seu colega.
O Jorge Jesus, supostamente, tinha uma ideia de jogo e era apegado a ela. A ideia era estúpida, como se viu pelos resultados, mas uma ideia é sempre uma ideia, quando, na cabeça, para além dela só se dispõe de um risco ao meio. Quanto ao Peseiro não se sabe se tem uma ideia de jogo, mas, se tem, não parece muito apegada a ela, porque nunca percebemos muito bem o que se está a passar em campo. A ideia de jogo é capaz de ser a ideia que cada jogador tem de si próprio e dos seus colegas. É uma ideia que se vai construindo ao longo do jogo. Pouco a pouco, os jogadores esperam entender-se, trocando ideias. É um “brainstorm” permanente. No final, com uma ideia, sem ideia nenhuma ou com tantas ideias quantas as cabeças, o resultado é o mesmo: uma hora de avanço concedida ao adversário e meia hora com o credo na boca. Sendo o resultado o mesmo e o ordenado infinitamente mais reduzido, podemos concluir, como qualquer economista, que estamos muito mais eficientes: o custo por golo marcado e por ponto conquistado reduziu-se e muito.
O Peseiro escala uma equipa como qualquer um de nós o faria. Há um guarda-redes, quatro defesas, os mais altos jogam a centrais, e um ponta-de-lança, sendo os restantes distribuídos pelo campo de forma mais ou menos equilibrada espacialmente, três mais ou menos no meio, uns mais à frente e outros mais atrás, e dois mais ou menos nas laterais. Este equilíbrio territorial, que se baseia numa certa simetria longitudinal na disposição dos jogadores, é um bom princípio de jogo. É um bom princípio, mas o jogo tem mais que o princípio e, mesmo com todas as perdas de tempo dos jogadores do Feirense, sob o olhar complacente do árbitro, é necessário assegurar que tenha um bom meio e um bom fim, isto tudo durante noventa minutos.
Este bom princípio rendeu logo uma excelente jogada de ataque. O Bruno Fernandes desmarcou-se entre o central e o lateral do lado esquerdo, centrou atrasado, o Nani rematou de primeira contra as pernas de um defesa, a bola ressaltou para o lado onde apareceu o Acuna a fechar os olhos e a acertar com a bola numa perna do guarda-redes. Depois, bem, depois foram acontecendo coisas. Não sei descrever as coisas que foram acontecendo a não ser como coisas que são. O Battaglia pegava na bola e corria do meio para o lado direito até esbarrar em alguém e voltar para trás e passar a bola. O Acuna fazia o oposto, pegando na bola e correndo do meio para o lado esquerdo até esbarrar em alguém também e passar a bola. O desespero vai-se apoderando de um e de outro até que um dos centrais resolve iniciar a jogada de ataque, normalmente o Coates, enfiando um biqueirada para a frente ou passando a bola junto à linha para um dos laterais. O Nani e o Bruno Fernandes bem tentavam desmarcar-se para dentro ou para fora, mas a bola não lhes chegava, não lhes servindo de nada esbracejar. O Montero esforçava-se no famoso jogo entre linhas mas sem que a bola chegasse por uma vez para tabelar com um médio ou com um extremo.
Os jogadores do Feirense também não faziam nada que se visse. Demoraram a adaptar-se à nossa pressão alta um pouco caótica, não conseguindo sair com bola e limitando-se a umas biqueiradas que os centrais e o Battaglia inevitavelmente resolviam. Havia isto tudo e o Jéfferson que é um caso à parte. É irrelevante que à sua ferente esteja um jogador de carne e osso, um soldadinho de chumbo ou um jerrican, quando procura centrar a bola acerta sempre no adversário que está à sua frente.
No início da segunda parte, tudo piorou, se ainda era possível. Os jogadores do Feirense deixaram de se atrapalhar com a suposta pressão alta e passaram a dominar o jogo a toda a sela. Não criaram grande perigo porque não sabem mais e a nossa defesa também não dá abébias (o André Pinto está a revelar-se). Só que, simplesmente, deixámos de chegar à área contrária. Como é quase impossível marcar qualquer golo sem se chegar lá, o Peseiro fez o que costuma fazer e que é a única tática disponível neste momento: meteu o Jovane Cabral e tirou o Jéfferson. O acerto foi total, na entrada e na saída.
A jogar com onze e o Jovane Cabral a correr como se não houvesse amanhã, por contágio, os restantes jogadores desataram a correr também. O jogo ficou partido que é como o Battagalia mais gosta de jogar, mais de metade do relvado e meia equipa adversária ficam por sua conta. Os jogadores do Feirense deixaram de ter descanso e montamos-lhe definitivamente o cerco, passando à fase do tiro ao boneco com o Salin a encarnar no Caio Secco, guarda-redes do Feirense, e a parar todos os remates. Estava-se neste impasse quando o Peseiro, na sua cabeça, assumiu que só com um jogador que tivesse com a bola uma relação baseada no Princípio da Incerteza de Heisenberg é que seria possível ganhar o jogo. O Castaignos é o jogador que, no Mundo, mais dificuldades tem em determinar simultaneamente a posição e a velocidade da bola, às quais adiciona a tradicional dificuldade de escolha da extremidade do corpo mais adequada para a jogar.
A sua entrada foi decisiva. Bola metida em profundidade à procura da velocidade e da desmarcação do Raphinha, o defesa esquerdo corta de cabeça para o meio onde, à entrada da área, o Castaignos a recupera e a passa ao Raphinha definitivamente. O Raphinha domina-a e levanta a cabeça, percebendo que não tem a quem a passar, faz pedalada e meia e passa por fora o defesa e ganha a linha, toca de calcanhar para trás e simula que vai centrar, acabando por fazer uma cueca no defesa que apanha o Ristovski desmarcado e em grande aceleração. O Ristovski junto à linha de fundo não vai de modas e centra rasteiro de primeira para a entrada da pequena área onde aparecia o Castaignos a atrapalhar um defesa, a bola passa por ele e o Jovane Cabral ao segundo poste antecipa-se a um adversário e em esforço mete-a lá dentro. Chegados a este ponto percebe-se melhor a entrada do Castaignos: foi a sua incapacidade em determinar simultaneamente a posição e a velocidade da bola que permitiu, por um lado, atrapalhar os defesas e, por outro, a entrada convicta do Jovane Cabral. Esta incapacidade é reconhecida pelo próprio, como se viu na forma como deixou a bola para trás e entrou a toda a brida pela baliza dentro, não estorvando, assim, a possibilidade de finalização do seu colega.
O Jorge Jesus, supostamente, tinha uma ideia de jogo e era apegado a ela. A ideia era estúpida, como se viu pelos resultados, mas uma ideia é sempre uma ideia, quando, na cabeça, para além dela só se dispõe de um risco ao meio. Quanto ao Peseiro não se sabe se tem uma ideia de jogo, mas, se tem, não parece muito apegada a ela, porque nunca percebemos muito bem o que se está a passar em campo. A ideia de jogo é capaz de ser a ideia que cada jogador tem de si próprio e dos seus colegas. É uma ideia que se vai construindo ao longo do jogo. Pouco a pouco, os jogadores esperam entender-se, trocando ideias. É um “brainstorm” permanente. No final, com uma ideia, sem ideia nenhuma ou com tantas ideias quantas as cabeças, o resultado é o mesmo: uma hora de avanço concedida ao adversário e meia hora com o credo na boca. Sendo o resultado o mesmo e o ordenado infinitamente mais reduzido, podemos concluir, como qualquer economista, que estamos muito mais eficientes: o custo por golo marcado e por ponto conquistado reduziu-se e muito.
Publicada por
Rui Monteiro
à(s)
09:00
22
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