quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Se há bons e maus, nós somos dos bons

Há dias ouvi o Pedro Adão e Silva a falar sobre o Benfica e os diferentes processos em investigação pelo Ministério Público e, em particular, sobre aqueles em que existem arguidos constituídos e a acusação deduzida. Para ele, existem dois Benficas, à semelhança do BES. Há um Benfica moderno com uma estratégia desportiva e empresarial de sucesso. Esse Benfica vive paredes-meias com outro que vem do Norte, esse local geográfico de onde vêm todos os males que periodicamente assolam Lisboa, e dos tempos do Calor da Noite e do Canal Caveira. 

Para ele, as vitórias devem-se ao Benfica moderno (e lisboeta, digo eu), constituindo o outro Benfica (o do Norte, digo eu) um anacronismo porque os tempos também são outros. Concluiu que se enganam os benfiquistas que acreditam que a aposta nesse passado longínquo, em tempo e espaço, os levou ou os pode levar a qualquer lado. 

Compreende-se o argumento. Durante o Estado Novo, esse argumento era muito comum nas conversas em voz baixa nalguns locais: o regime não era intrinsecamente mau, o Presidente do Conselho era de uma probidade a toda a prova, o problema residia numas certas pessoas que gravitavam à sua volta e abusavam da confiança. É o “não há rapazes maus” do Padre Américo, podem é andar mal acompanhados (digo eu que não tenho certeza se o Padre Américo o disse mas que o pensou, pensou). 

Não tenho elementos para desmentir esta visão dual do Benfica do Pedro Adão e Silva e da supremacia do lado moderno na produção de resultados. O que conheço e procurei demonstrar estatisticamente aqui há alguns anos é a implausibilidade dos resultados se se procurar explicá-los pelo lado moderno. É mais fácil explicá-los pelo lado anacrónico, mas não tenho a pretensão de dispor da sabedoria do Pedro Adão e Silva em todos os domínios da vida pública.

4 comentários:

  1. No programa "O Outro Lado" da RTP3 de ontem a noite foi notória a fragilidade da coluna vertebral de Pedro Adão e Silva. E também a sua falta de isenção. Aconselho a quem não viu, rever a discussão sobre a substituição de Joana Marques Vidal na PGR.
    De Pedro Adão e Silva já ouvi a desculpabilização de certos actos praticados pelos benfiquistas com a irracionalidade da paixão pelo clube. Um artista, portanto.
    SL
    JHC

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    1. Caro JHC,
      As coisas também não podem ser colocadas assim. Não conheço o PAS. Tenho respeito intelectual por ele no que respeita à análise política. Revela um certo alinhamento político, mas diz ao que vem só sendo surpreendido quem não conhece os partidos políticos. Esse alinhamento não o impede de procurar analisar e racionalizar muita da atividade política com a independência.

      O problema é que o PAS do Benfica trai o PAS que faz análise política. Não sei como analisaria a situação política de um partido e dos seus dirigentes se estivessem na mesma alhada do Benfica. Há coisas que não se toleram seja a propósito do que for, incluindo com o nosso clube. Desse ponto de vista não deixa de ser um artista como diz.

      SL

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Meu caro,

      O futebol precisa de justiça de uma vez por todas. Os tempos estão a mudar e há certas coisas que não se toleram. O poder do Ministério Público não existe por si próprio. Existe por ser legitimado pelo estado de direito e pela democracia. Os benfiquistas e os adeptos de quais quer clubes têm de perceber que não há excepções.

      SL

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