sábado, 29 de novembro de 2014

O contributo do Setúbal para o fim de um mito urbano

Há um mito urbano muito alimentado pelos comentadores do costume: se se jogar com dois avançados a equipa fica desequilibrada e adversários, como o Setúbal, podem aproveitar para fazer transições perigosas; essas transições são potenciadas por jogadores com maior mobilidade e rápidos.

É um mito que não resiste a qualquer evidência empírica como a de hoje. Quando se joga com dois avançados, a equipa adversária acantona-se na sua área (expressão digna do melhor Gabriel Alves) e tem como único objetivo ver-se livre da bola e suspirar de alívio enquanto ela não regressa uma e outra vez. Jogando com os tais avançados rápidos nestes moldes - e, portanto, sem o grandalhão do costume a avançado para tentar atrapalhar os centrais – nem uma bola conseguem ganhar na frente. Mais, em equipas como estas, os jogadores ou são rápidos ou sabem jogar à bola. Nunca acumulam as duas competências.

Dito isto, aos cinco minutos podíamos estar a ganhar por três a zero. Aos vinte podiam estar seis a zero. Acabámos por ganhar por três a zero, com golos só na segunda parte. Isto para dizer que o resultado certo só podia ser um múltiplo de três. Não é um daqueles jogos em que se possa dizer que merecemos ganhar por cinco ou seis. É um jogo em que só se pode dizer que merecemos ganhar por seis ou nove, por exemplo.

É pena que esta tática não tenha sido tentada mais cedo. Talvez não tivéssemos perdido os pontos que perdemos em casa. Como costumo dizer, na maior parte dos jogos em casa, não jogar com dois avançados é dar descanso e moral à equipa adversária.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O Nani, o meu colega Manel, o Slimani, o Benfica e a geografia do futebol

Nos últimos tempos não tenho tido tempo para nada, muito menos para ver futebol. Só ontem é que revi o jogo do Sporting contra o Maribor.

Não tenho uma opinião formada sobre o golo do Nani. Parece uma peladinha das que jogava na escola. Na minha escola, como em todas as escolas, havia pelo menos um miúdo que pegava na bola fintava os outros todos e marcava os golos. Estas jogadas repetiam-se um sem número de vezes, com muitos de nós a fazermos de figurantes. Na minha escola, o Manel passava os jogos todos nisto. O Nani fez-me lembrar, por um momento, o Manel. Só espero que os outros jogadores não se sintam como eu me sentia.

Mas o golo do Nani não foi o que mais gostei. Gostei muito, mas mesmo muito, do golo do Slimani. Aquilo é que é um golo a sério. Bola meia morta na área e, de repente, está lá dentro, sem o guarda-redes ter tempo sequer para perceber como ela entrou.

O Benfica perdeu e não só foi eliminado da Liga dos Campões como ficou excluído da Liga Europa. A comunicação social apressou-se a informar-nos que o Benfica joga melhor cá dentro do que lá fora. O Benfica joga sempre o mesmo. As regras do jogo é que variam com a latitude e a longitude.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

As Ilusões da Champions

Sob qualquer perspectiva possível devemos concluir fizemos uma boa Champions. Jogámos quase sempre bem, ganhámos os jogos em casa contra quem era exigível ganhar e só não ganhámos fora o jogo que era suposto ganharmos devido aos divertidos malabarismos da dupla bucha e estica. Só não empatámos fora contra o nosso adversário "directo" devido a um par de incríveis ilusionistas Russos patrocinados pela Gazprom.   

A tudo isto se acrescentam boas exibições e muitos golos, e uma razoável prestação  naquele jogo que nos mostrou que a Champions para nós não é real, é uma ilusão. E é por causa desse jogo que continuo a achar que o melhor seria ficar em terceiro e seguir para a Liga Europa. A nossa Champions já está feita, e aquele jogo mostrou que a diferença para as 8/9 melhores equipas é tão grande que pensar que podemos fazer melhor que isto na Champions é pura ilusão.

domingo, 23 de novembro de 2014

Mais futsal no nosso futebol

Não gosto muito de futsal. Para mim, os jogos são demasiado táctivos e, por isso, aborrecidos. No entanto, hoje, não deixei de ver o jogo do Sporting contra o Inter Movistar. Ganhámos com muito mérito, um jogo muito difícil, e assegurámos o apuramento para a “final four” da Taça de Campeões da UEFA em futsal.

Nesta modalidade, o Sporting dispõe de todas as características que levam ao sucesso. Uma organização que cria boas condições de trabalho. Um treinador competente e que sabe organizar a sua equipa. Jogadores de qualidade técnica mas que, sobretudo, sabem seguir as orientações do seu treinador. Um público entusiasta que apoia a sua equipa sem quebrantos.

Este exemplo devia ser reproduzido em todos os contextos desportivos. Este jogo devia ser visto e revisto por todos os jogadores das restantes modalidades, nomeadamente do futebol.

sábado, 22 de novembro de 2014

Ficamos a aguardar pelo resultado do Porto

Não vi a primeira parte. Pelo que ouvi na rádio, enquanto conduzia para casa, não perdi grande coisa. Na segunda parte estivemos bem. Nunca chegaremos a saber se estivemos mesmo bem ou se, simplesmente, o Espinho estava a entrar em coma.

Gostei da atitude. Um jogo, qualquer jogo, é para jogar do princípio ao fim sempre da mesma forma. Marcámos cinco, mas podíamos ter marcado mais. O Espinho pedia tréguas insistentemente nos últimos vinte minutos.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O Nani disse o óbvio e o Bruno de Carvalho fez o óbvio

O Nani disse o óbvio. Se o Manchester United, que lhe paga cinco milhões de euros por ano, quiser que ele regresse, ele regressa. Se quiser que ele faça a volta ao Mundo em balão em oitenta dias, ele faz. Não existe qualquer relação disso com o que disse ou não disse o Bruno de Carvalho, porque se o mandarem ficar, ele fica, que remédio.

Aliás, não sei bem o que disse o Bruno de Carvalho. O que sei é que, no local onde trabalho ou em qualquer organização que se preze, quando se perde por três a zero a jogar daquela forma com o Guimarães que nos cabe em sorte, ninguém tem dúvidas que alguém acabará por nos chamar para informar que uma brincadeira daquelas não é para repetir. A diferença é que ninguém se lembra do Facebook para isso.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Não podemos ser esquisitos



Grande aborrecimento. “Secante”, como dizem os meus fregueses. El Greco pode até (ainda) não ter nada a ver com isto, mas jogamos à moda da Grécia, para não dizer à Paços de Ferreira, com onze atrás da linha da bola à espera de qualquer coisa que já não o Espirito Santo, o Bom.  No fim, ganhámos à benfica, sem jogar um cú marcamos um golo em cima da hora. Assim, ainda vamos ser campeões!
De qualquer modo não podemos ser esquisitos. Afinal, no espírito da teoria do “senador” Lobo Xavier de que «não podemos ser esquisitos com o dinheiro», falava ele acerca dos vistos gold, também nós não podemos ser esquisitos. Com o dinheiro, com as exibições, os jogadores, o selecionador ou o resto da malta: gestores, governantes, ministros, presidentes, enfim, as elites e os outros todos. Não podemos ser esquisitos. Muito menos quando ganhamos.

Nota: A estreia de Adrien na seleção A foi para mim uma sensação ambígua: feliz por ele, triste pela injustiça de só agora ter tido essa oportunidade quando já lá jogaram grandes pernetas, mais ou menos polivalentes. Vá lá, para ele, não foi uma homenagem póstuma.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O problema é a falta de jeito

Ninguém tem grandes expetativas relativamente ao desempenho do Fernando Santos. Perdeu um campeonato para o Inácio e outro para o Jaime Pacheco, mas foi o engenheiro do penta. Depois disso, o Porto concedeu-lhe uma sabática, como ao Ivic e a outros. Acabou despedido do Benfica e do Sporting.

Foi para a Grécia e não fez má figura. As equipas dele portaram-se bem, sem praticarem um futebol propriamente exaltante. Na seleção, conseguiu os apuramentos todos. Agora ninguém se lembra da Grécia pelo seu futebol empolgante. Foi sempre realista e conservador: convocou os nossos conhecidos Karagounis e Katsouranis mesmo depois de atingirem a idade da reforma.

Ninguém estava à espera que viesse para a Seleção fazer a revolução. Também não era preciso. Bastava mudar o Paulo Bento para tudo mudar para melhor. Na Grécia como em Portugal, na dúvida, escolhe o Karagounis ou o Katsouranis, sejam eles agora o Ricardo Carvalho ou o Tiago. O bom futebol não escolhe idades. Agora, outra coisa completamente diferente é a seleção do Postiga. Não é um problema de idade. É um problema de falta de jeito para a bola e, em particular, para marcar golos.

sábado, 15 de novembro de 2014

Agora e na hora da nossa morte

Godinho Lopes e as Direcções anteriores, não deixaram apenas um clube na miséria. Deixaram também uma fasquia de gestão tão baixa e miserável que é relativamente fácil perpetuar a incompetência, invocando sempre que se está a fazer muito melhor que no passado.

Bruno de Carvalho – e muito bem – colocou sempre um nível de exigência muitíssimo elevado na avaliação das antigas direcções. É com este nível de exigência que devemos analisar a gestão de Bruno de Carvalho e o daqueles que lhe seguirem. Tendo sempre por comparação, não o que se fez, mas o que devia ter sido feito.


Esperemos que quem com ferro mata, com ferro não morra. Embora, em abono da verdade, nunca ninguém morre de gestão danosa, nem por comprar Shikabalas ou Dramés. Na bola a morte chega com as derrotas. Quanto mais não fosse os últimos 30 anos de Sporting são claros quanto a isso. Tanto faz ser-se justo ou populista, ter canais de televisão ou não, clamar pela indignidade ou calar. Com maior ou menor rapidez, nunca ninguém sobreviveu às derrotas. Como diz o Rui, “futebol é bola e jogadores”.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Não me peçam para os ouvir

Tentei ver a entrevista do Bruno de Carvalho. Não aguentei muito tempo: um xarope que não há memória. Ver três jarrões a fazer uma entrevista foi demais para mim.

Não é um problema específico desta entrevista. Futebol é bola e jogadores. Futebol é jogo. Antes e depois é para os adeptos. Todos os outros são dispensáveis: dirigentes, jornalistas, comentadores e por aí fora. Não discuto a sua utilidade. Não me peçam é para os ouvir.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Prognósticos no fim do jogo

1. O que mais irrita é a construção “a posteriori” da história dos jogos de futebol em função dos resultados. Quando uma equipa das, ditas, pequenas faz um bom resultado em casa do Sporting, Benfica ou Porto, esse revisionismo vem sempre acompanhado da exaltação do seu brilhantismo técnico-tático. A maior parte das vezes, esses resultados devem-se mais ao acaso do que a outra razão qualquer.

2. Na primeira parte, perante a apatia do Sporting, o Paços de Ferreira jogou o típico futebol português. Jogou para os lados e para trás e fez um remate à baliza que deu golo. Não me lembro, ninguém se lembra de qualquer outra oportunidade de golo. O Patrício não fez uma defesa duante o jogo todo. Quem ler ou ouvir os comentários sobre o jogo, fica com a sensação que o Paços de Ferreira foi o Chelsea.

3. A prática do futebol indígena por equipas como o Paços de Ferreira passa pelo antijogo sistemático. Ontem, foi praticado desde o início do jogo e até à exaustão. Esse antijogo não só contou com a complacência do árbitro como foi premiado com o tempo de descontos.

4. Sem ter feito um grande jogo, o Sporting podia ter goleado o Paço de Ferreira, como o demonstra o número de oportunidades de golo. A sorte (ou a falta dela, melhor dizendo), o cansaço não o permitiram. Mas se o jogo tivesse chegado ao final com uma goleada ninguém, que tivesse visto o jogo, se teria espantado.

5. Foi anulado um golo limpo ao Sporting. Esta é forma como vejo o lance. Posso sempre admitir que o lance é duvidoso. Só que o lance do segundo golo do Benfica é duvidoso. Mais, é anulado um golo limpo ao Nacional (não se pode falar propriamente de golo porque o Júlio César não se faz ao lance). Na semana passada anularam um golo limpo ao Rio Ave. Mais uma vez, o Sporting foi prejudicado em termos absolutos e relativos.

6. As equipas nem sempre jogam bem. Nem sempre têm a sorte a acompanhá-las. São estas decisões que determinam os campeões.

7. Dito isto, pareceu-me que os jogadores do Sporting não podiam com uma gata pelo rabo. Os falhanços também resultaram do cansaço. O Sporting está a jogar um futebol muito ofensivo. Obriga os jogadores a libertarem-se para o ataque sempre que possível. Não sei se temos plantel para jogar este futebol em várias frentes. Agora, há treinador. A equipa joga bem e joga de acordo com as opções do treinador. Que diferença face ao Paulo Sérgio e outros parecidos!

domingo, 9 de novembro de 2014

Venha a Liga dos Campeões

A brincadeira da Liga dos Campeões paga-se cara. É bom para o ego ganhar ao Schalke 04. Face ao que interessa, que é o campeonato, não só não serve para nada como prejudica. Hoje estávamos mortos. Na segunda parte demos tudo por tudo, mas as jogadas eram todas feitas em esforço. Com outra disponibilidade física e mental, não se tinham falhado os golos cantados que se falharam nos últimos vinte minutos.

Demos uma parte de avanço. Conseguimos jogar ainda mais devagar do que o Paço de Ferreira. Na segunda parte, com a saída do William Carvalho e do Carrillo, supostamente partiríamos o jogo. Estaríamos mais expostos ao contra-ataque. Mas, como sempre digo, quando se mete mais um avançado nenhuma equipa como o Paços de Ferreira quer dividir o jogo. Recua a defesa e esquece-se de atacar.

O árbitro promoveu ao antijogo. Nada que não estejamos habituados. O livre assinalado pelo árbitro aos setenta e quatro minutos só foi marcado pelo Nani aos setenta e oito. Um jogador do Paços de Ferreira lesiona-se e demora dois minutos a sair. Volta a entrar, dá uma corrida, atira-se para o chão e demora mais dois minutos a sair. Desde o primeiro minuto, que era preciso pedir por favor ao guarda-redes para marcar um pontapé de baliza. Levou um amarelo a acabar o jogo. No final, o árbitro deu quatro minutos de descontos.

Em condições normais, o campeonato já se foi. Agora, esta fatalidade pode não ser má. Temos a Liga dos Campeões. Não sei se foi com o objetivo de a ganhar que preparámos a equipa. Pensei que não. Mas às tantas não tenho, nem nunca tive razão.


(Que ninguém fale da falta de atitude dos jogadores. Deram o que tinham e o que não tinham. Agora, não dá para jogar neste sistema de jogo duas partidas por semana com o plantel que temos)

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Um jogo-treino bem pago

Todos sabem o que penso da Liga dos Campeões. Em termos desportivos, qualquer jogo vale tanto como um jogo-treino. Só se diferencia de um vulgar jogo-treino pelo montante envolvido em caso de vitória e pela cobertura mediática (que pode proporcionar uma venda qualquer, nomeadamente, quem sabe, do Capel ou do André Martins).

Dito isto, tirámos a barriga de misérias contra o Schalke 04. Dá para esquecer o jogo de Guimarães e ganhar ânimo para o próximo contra o Paço de Ferreira. Esse, sim, é que interessa.

O treinador passou de besta a bestial. O Presidente passou de desestabilizador a animador. Os jogadores passaram de meninos do coro a homens feitos e dispostos a conquistar todas as glórias.

Se correr bem, ganhamos ao Maribor (pelos vistos ainda não sofreram os trezentos e sessenta e quatro golos do Bate Borisov) e vamos à Liga Europa. Se correr muito bem, vamos à Liga Europa com a sensação que moralmente devíamos passar aos oitavos de final. Se correr mal, somos eliminados. Se correr muito mal, vamos aos oitavos de final e enfardamos uns tantos daqueles clubes que a UEFA já decidiu que vão estar nas fases seguinte.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Árbitro de baliza: o novo Júlio César

Ontem escrevi isto. Recebi uma série de comentários enfurecidos da rapaziada do Benfica. Alguns, tive que os apagar. A rapaziada enerva-se e desata a dizer as alarvidades do costume.

Escrevi o que escrevi, após ouvir os comentários do Pedro Henriques. Considera que não houve falta sobre o Jardel. Já somos pelo menos dois a pensar o mesmo.

Agora, a questão não é essa. O árbitro e o árbitro de baliza não consideraram a existência de falta sobre o Jardel e ponto final. Sendo assim, depois disso o que é que viram para terem marcado canto? O Jardel não toca a bola com a mão involuntariamente. O Jardel praticamente agarra a bola (porventura, convencido que vai ser marcada a falta). Ao pegar na bola com as mãos e ao atirá-la para fora do campo, o que é que o árbitro de baliza e o árbitro viram para marcar canto?

Nós, sportinguistas, percebemos bem o que viram, o que lhes passou pela cabeça, e a razão da decisão. Percebemos tudo isso como também percebemos a marcação pelo árbitro de baliza do “penalty” a favor do Schalke 04. Aliás, sportinguista que se preze percebe mais disso do que outro assunto qualquer.

Quanto à rapaziada do Benfica sugiro-lhes o seguinte. Quando voltarem a ver o lance imaginem que não é o Jardel mas o Maurício. Vão ver que se riem à gargalhada. É bom e desopila bastante.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Árbitro de baliza: o segundo guarda-redes

O árbitro de baliza é a nova bizarria do futebol. Vê ou não vê conforme lhe dá jeito. Hoje não viu a dois metros de distância o Jardel a agarrar a bola; ou viu e achou normal, tanto mais que marcou pontapé de canto.

A esperteza saloia da arbitragem também ficou evidente no lance que devia ter dado a expulsão do Enzo Pérez. Quando não se quer expulsar o jogador, o melhor mesmo é não marcar sequer a falta.

O salvador do Benfica foi mesmo o Talisca?

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Perder um jogo e não perder a cabeça

Pode-se perder um jogo. O que não se pode é perder a cabeça.

O jogo contra o Guimarães foi uma porcaria, primeiro ponto. O campo estava num estado lastimável. A bola andava aos saltos permanentemente. Perante isso, tinha que se jogar forte e feio. O Guimarães fê-lo. Nós não. Resta saber se o não fizemos por soberba ou por incapacidade. Se for a segunda é que é grave.

O jogo resolveu-se mais pelo acaso do que por qualquer outra razão. Os dois primeiros golos são de bola parada. O segundo é um autogolo precedido de fora-de-jogo. Tirar daqui grandes conclusões sobre banhos táticos é a normal teoria da construção “a posteriori” dos jogos a partir dos resultados. 

A segunda parte foi uma autêntica vergonha. Valeu de tudo. Uma agressão que passou sem vermelho. Jogadores a rebolarem-se no chão ao mais pequeno toque. Perdas de tempo sistemáticas. O futebol português no seu melhor.

Agora, é neste futebol que vamos ter que jogar. Temos que estar preparados para isto e muito mais. Às vezes não dá para sair a jogar. É necessário jogar à biqueirada para a frente e ganhar as bolas divididas. A defesa é má. Mas parece pior do que é. O meio-campo tem que a proteger mais e melhor. Não se pode soltar toda a gente para o ataque. O William Carvalho, em muitos jogos, tem que ser mais posicional e não deixar grande espaço à frente da defesa. Os extremos têm que baixar, para que os laterais possam fechar mais dentro.

O Marco Silva tem que garantir que, em certas fases de jogo, a equipa não se expõe. Mais, tem que treinar as bolas paradas, defensivas e ofensivas. Em Portugal, os jogos ganham-se nessas jogadas. A conversa da tática é treta. O Guimarães ganhou com três bolas paradas.

Só existem duas dúvidas: se o Marco Silva aprende, e com ele a equipa, e se a preparação dos jogadores dá para aguentar estes jogos todos.

domingo, 2 de novembro de 2014

Teatro


Foi uma grande noite de teatro. Na primeira parte tivemos comédia. Da melhor, exibida sem esforço pelo grupo de atores do Sporting. Na noite de ontem, quase todos eles excelentes nesse papel. De realçar o quinteto da defesa que se tem revelado harmónico e bastante dado a este género burlesco. De entre estes, na noite de ontem, o jovem Cedric merece uma nota especial. Esse comediante revelou uma entrega absoluta ao papel tendo inclusive roubado algumas cenas aos seus pares, fazendo umas chalaças de bom nível para sacar umas gargalhadas extras ao esclarecido público que enchia a plateia. O pequeno Jonathan não se mostra tão adaptado a este género, parecendo mais fadado para as tragicomédias. Já o árbitro, excelente exemplo vindo do teatro amador, colaborou na pilhéria e o segundo golo, em fora de jogo, foi um belo chiste para acabar o primeiro ato.

Na segunda parte o público foi brindado com uma bela farsa, entendida aqui como uma «pequena peça teatral de poucos atores apresentada através de um simples diálogo, ação trivial ou burlesca, gracejos, situações cómicas, ridículas, etc.». Foi isso que nos ofereceram os sublimes farsantes vitorianos a fingirem com brio e admirável trabalho de maquilhagem, faltas, lesões, agressões e penalidades. Por seu lado, a trupe do Sporting alimentou a farsa e continuou a fingir que jogava e os árbitros, qual grupo de coristas, enquanto marcavam o ritmo ao som dos apitos fingiam que acreditavam no que viam, até no penalti.

Para o fim ficaram as tragédias. Duas menores e pouco importantes: o resultado e a exibição do Sporting. Uma verdadeiramente grave quando o habitual grupo de grunhos, alimentado a ignorância, cobardia e estupidez natural, agrediu e apunhalou adeptos do Sporting deixando um deles à beira da morte.
Para alguns, esperemos que para todos, a vida continuará. Na próxima semana o programa seguirá como habitualmente, agora com circo, género tão do agrado da pequenada mas também dos três graúdos. 

Quanto aos grunhos, volto a citar Linus van Pelt:

"Eu gosto da humanidade. O que eu não suporto são as pessoas"

O futebol não é para meninos

Fui ver o jogo com o Júlio Pereira num café à beira-mar em Vila do Conde. Quando vemos um jogo os dois as coisas correm sempre mal. Mas hoje tinha de ser.

Os meninos do Sporting julgaram que, com o campo naquele estado e contra o Guimarães, podiam ir jogar com tabelinhas e toques de calcanhar. Não podiam, como se provou. O Sporting nem sequer chegou a entrar no jogo. O mais penoso foi verificar que a vinte minutos do fim já nenhum jogador podia com uma gata pelo rabo.

A defesa é má. É difícil dizer qual é o pior. O Jonathan em dez metros é capaz de perder quinze em corrida com o adversário. O Paulo Oliveira estava em sobressalto permanente e à beira de um esgotamento nervoso. O Cédric foi de asneira em asneira até ao penalty final. O Maurício fez dois “alley-oops”. Foram dois grandes afundanços.

Mas o afundanço foi geral. Salvou-se o Slimani com a sua força de vontade habitual. Só que a bola não chegou lá. Ele ainda andou pelas laterais e tudo à procura da bola. O Nani escondeu-se o tempo todo nas linhas. Porventura estava sem pilha.

Espero que os jogadores e o treinador tenham aprendido que o campeonato é para jogadores de barba rija. Espero que se deixem de brincadeiras contra o Schalke 04 e o Chelsea. O nosso campeonato não é esse.