quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Notas soltas



(Uma nota prévia. Não gostei nada de perder. Nunca gosto. O árbitro foi uma nódoa em relação aos critérios disciplinares. Sei também que não jogamos fora contra um campeão nacional de uma potência alpina pois aí seríamos esmagados, apanhávamos pelo menos cinco. Também não sou músico. Dito isto, passemos à música.)

A nível orquestral estivemos bem em muito aspetos. A Família das Percussões marcou bem o ritmo. Os instrumentos de percussão pontuaram e destacaram bem os trechos da peça em execução e fizeram a orquestra vibrar. O piano (sim, é um instrumento de precursão!) entregue como sempre ao brilhante Rui Patrício, esteve excelente. Não falhou uma nota. Não se lhe pedia rapidez de processos mas sim concentração e discernimento e foi o que ele deu. Já o par de pratos esteve desequilibrado. Jérémy Mathieu, teve uma das melhores exibições da noite, esteve sempre afinado e corajoso a equilibrar a sua secção. Arriscou a espaços uns solos e, em determinadas alturas, calou até solistas adversários de classe mundial. Já Sebastián Coates, falhou muitas vezes os tempos e marcações e deu uma fortíssima fífia numa nota falsa que marcou fortemente o desempenho da orquestra. Os tímpanos, Fábio Coentrão e Cristiano Piccini, estiveram atentos e acertados e, por vezes, audazes, pelo menos enquanto tiveram forças e lhes chegou oxigénio ao cérebro, a um mais do que a outro.

A Família das Madeiras, aqueles que normalmente dão “cor” ao som da orquestra, esteve reduzida aos clarinetes de Marcos Acuña e Gelson Martins. Não estiveram particularmente brilhantes no capítulo de atacar os momentos altos da peça. No entanto, quanto a manter a unidade musical da orquestra e a sua coesão, estiveram muito bem e foi incontestável a sua entrega ao sucesso coletivo da orquestra. Nestes casos é difícil julgar a interpretação dos instrumentistas sem conhecer as instruções precisas do maestro.

Na Família dos Metais, o maestro abdicou para esta interpretação da tuba de Alan Ruiz, o que se percebe dada a ligeireza e rapidez de interpretação que se pedia para esta peça. Assim, esta secção foi assegurada pelo trompete de Bruno Fernandes que teve uma interpretação com altos e baixos. Esteve bem na intensidade e nos ocasionais solos e muito menos lúcido na distribuição e nas entradas. De qualquer modo, compreende-se pois ainda não é um intérprete maduro e não contemporiza devidamente os silêncios. Nesta secção esteve ainda o potente trombone de Rodrigo Battaglia e a magistral trompa de William Carvalho. Ambos foram responsáveis pela avalanche sonora da orquestra, conferindo-lhe a dramaticidade e a grandiosidade que a obra pedia. Deram agilidade sonora ao mesmo tempo que soaram de maneira ponderada e majestosa, nem se dando assim pela falta da tuba. 

Não sendo de todo habitual em relação aos cânones clássicos, mas normal no que a este tipo de peças diz respeito, o maestro abdicou da Família das Cordas tendo apenas alinhado com um spalla, o primeiro violino. Para muitos, este é o principal grupo de instrumentos de uma orquestra e dentro destes o violino, graças à sua versatilidade e alcance, que se torna assim a principal voz da família. Tendo abdicado das violas, violoncelos, contrabaixos e harpa, o maestro entregou esta dura tarefa a dois violinistas. Primeiro, Seydou Doumbia que, assertivo e empenhado, tentou em rapidez levar a orquestra a outros níveis. Não foi bem sucedido e o jurado romeno Ovidiu Hategan acabou mesmo por não ajuizar bem a sua interpretação solista. Foi substituído no segundo andamento por Bas Dost. Um intérprete com outro peso, com mais escola, mais clássico e disciplinado na sua interpretação. Mesmo assim, não tendo deslustrado, também não atingiu a musicalidade pretendida. Acabou por oferecer a melhor oportunidade de solo que teve ao trompetista Fernandes e este não a aproveitou da melhor forma. Dizem que este parece mais talhado para raros momentos Maestosos do que para os comuns Vivace.

Quanto ao maestro, Jorge Jesus, deve ser realçado que desta vez não deu largas à sua liberdade criativa, própria de quem vem de áreas mais populares como o fado operário ou malandro, não se tendo entregado a improvisações interpretativas. Preocupou-se desta vez, e bem, com a coesão da orquestra, deixando em aberto a possibilidade de um ou outro solista brilharem, o que, infelizmente, não veio a acontecer.

Em suma, foi um bom concerto, animado e colorido, excelente público e com bons intérpretes mas, infelizmente, a música continuou a mesma!

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Aviso aos sportinguistas: não discutam futebol com quem prefere o Messi ao Ronaldo!

Tinha agendado para hoje um jantar com um portista ferrenho. Educadamente, perguntou-me se não estaria interessado em adiar o referido jantar, dado que o Sporting jogaria hoje com o Barcelona. Respondi-lhe que esse jogo não me interessava e que a minha resposta seria completamente diferente se se tratasse de outra qualquer partida para o campeonato nacional: entre um Moreirense e um Barcelona, não tenho dúvidas para que lado cai a minha atenção.

Uma resposta destas pode sempre gerar mal-entendidos. Mesmo sendo difícil, é necessário explicar bem esta aparente falta de lógica. Expliquei que entre duas competições que antes de se iniciarem têm um leque reduzido de possíveis campeões, prefiro aquela em que o Sporting tem algumas possibilidades de vencer apesar de todas as vicissitudes. Para jogar por jogar, ou pelo prestígio ou pela camisola, como se costuma dizer, temos a Taça Lucílio Baptista.

O jantar manteve-se, mas uma dúvida assaltou-me. Porventura o adiamento poderia ser menos do meu interesse e mais do interesse de quem quer ver jogar o Messi. Por mais educados que sejam, não se pode confiar nos portistas. Quando se confrontarem com qualquer um deles, devem sempre perguntar-lhe se prefere o Messi ou o Ronaldo. Se preferir o Messi e começar com grandes explicações, concluindo que o Ronaldo também é um grande jogador, tirem da cabeça qualquer ideia de discutir futebol. Não vale a pena fazer o teste com benfiquistas. Com eles ninguém tem dúvidas.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Ausências

Falhar cada vez melhor seria um bom lema noutras épocas. O nosso sentido de humor acompanha sem dificuldades qualquer resultado menos conseguido (como agora se diz), mas o nosso coração e a nossa paciência têm vida própria. Não vou discutir se a cabecinha dos jogadores (e equipa técnica?) já estavam com o Barcelona. Parece-me até um contra-senso relativamente a épocas anteriores. O que eu sei é que se na cabeça houvesse alguma estratégia para o campeonato, o jogo com o Moreirense (antes de receber o Porto) revelava-se de grande importância. Avisei de tarde que íamos falhar quando uns amigos se deslocaram ao estádio. Eu não podia ir e estava a picar, claro. O que eu não sabia é que a nossa equipa só ia entrar em campo apenas na 2ª parte e ainda assim a espaços.

Não se tratou apenas da ausência de Acuna, do jogo menos conseguido do Fernandes, mesmo jogando numa outra posição, da ausência do Ruiz do jogo (qual a novidade?), mas da inércia (e sobranceria?) da equipa em geral, deixando verdadeiras avenidas à surpreendida equipa contrária. Até o filosofo Machado acreditou que a décalage entre ambas afinal seria menor. Questiono-me sempre sobre as ausências quando estas funcionam em grupo. Por isso não percebi JJ quando este se referiu a um ou dois jogadores. Não percebeu que ganhamos um ponto. E ainda não percebeu que é líder de uma equipa. Voltamos a olhar para cima. Venha lá o Barcelona. 

sábado, 23 de setembro de 2017

Sonsice

Li o artigo do Presidente da FPF no Público de hoje (ontem). A rapaziada do futebol nunca nos surpreende. Começa com a gabarolice de ter sido nomeado para uns cargos quaisquer na UEFA e na FIFA que ninguém quer saber. A partir daí e cheio de si começa uma reflexão profunda sobre o papel do futebol na Europa e no Mundo. Conclui essa parte da reflexão com um verdadeiro achado: “o ecossistema económico do futebol mundial está a mudar muito depressa”.

Imbuído da autoridade que os tais cargos internacionais lhe dão e embalado pela sua prosápia sobre o “ecossistema”, desata a defender a paz no futebol, qual Guterres de chuteiras. Fala de ódio, cobardia, violência, insultos, ameaças, insinuações. Conclui com a mais recente descoberta do caminho marítimo para a Índia: “existem sinais de alarme no futebol português”.

Dedica a parte final do artigo a falar de corrupção. Sempre há corrupção no futebol português. Não é novidade para ninguém. O que é novidade é o Presidente da FPF ter falado nisso como se tivesse nascido hoje. Apelou ao Estado, ao Governo e à Assembleia da República para acabarem com este estado de coisas (devia ter apelado ao Trump, por que para acabar com alguma coisa, seja qual for a coisa, não há melhor). Conclui afirmando que a FPF “está a fazer a sua parte” e que “ninguém pode ficar de fora desta responsabilidade” (o parágrafo é razoavelmente incompreensível mas parece que a responsabilidade está na procura de “soluções construtivas e pacificadoras”, na linha de uma Madre Teresa de Calcultá ou de um Mahatma Gandhi).

A primeira parte é possidonismo em estado puro. Na segunda parte, fiquei a saber que o ódio, a cobardia, a violência, os insultos, as ameaças e as insinuações começaram no sábado passado comigo e com um amigo meu a ver o Sporting – Tondela enquanto emborcávamos uma garrafa de Guarda Rios que comprámos em promoção no Continente. O senhor qualquer coisa da UEFA e da FIFA só descobriu tudo isso hoje e não tem nenhuma responsabilidade. Por fim, fiquei descansado por a FPF “estar a fazer a sua parte”. Não me parece que deva explicar aos pacóvios tugas da bola de que “parte” se trata. Será uma “parte” que só pessoas que têm cargos internacionais e falam de “ecossistemas” entendem.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Umbiguismo


(Desculpa Gabriel, não aguentei calado!)

Sistema integrado de redes (não confundir com baliza)

Em vez do vídeo árbitro, clama-se por um SIRESP que vá de encontro aos anseios do nosso rival benfica. Enquanto o sistema de comunicações não funcionar na plenitude da sua sapiência, informa-se que todas as derrotas ou empates do clube da luz, deverão ser devidamente embalsamadas em resultados (supostamente) positivos da sua SAD. Qualquer voz encartilhada, fora do baralho, deverá rapidamente voltar à base para receber instruções em conformidade. Para qualquer assunto contactar a sede. As polémicas sobre o sistema de comunicações serão rebatidas em sede própria. Entretanto, o Carrilho já está a fazer furor em Inglaterra. Deseja-se o mesmo para o sr. Ruiz. Isso e uma alimentação equilibrada. Cuidado com a fruta. Já voltamos.  

Miopia

Estendeu os braços carinhosamente e avançou, de mãos abertas e cheias de ternura.
- És tu Bruno Fernandes, meu amor?
Não era. Era o Alan Ruiz.
Isso não os impediu de terem muitos meninos e não serem felizes.
É o que faz a miopia.

(Adaptado do “Noivado”, da obra “Contos do Gin-Tonic” de Mário-Henrique Leiria)

domingo, 17 de setembro de 2017

Proteger os árbitros

Pensei que as tentativas de ressurreição tinham acabado depois do jogo contra o Feirense. Estava enganado. Continuamos a esperar que se escreva direito por linhas tortas. Enquanto esperamos continuamos a jogar com dez e a ganhar. Só Jesus era capaz de assumir um desafio destes. Ganhar o campeonato parece pouco. Ganhar o campeonato a jogar com dez é que constitui um desafio à sua altura.

A jogar com dez temos mais dificuldades de criar oportunidades de golo, como se viu ontem no jogo contra o Tondela. Mas sem se criar qualquer oportunidade de golo marcámos dois de bola parada: um com balanço, pelo Mathieu, e o outro sem balanço, pelo Bruno Fernandes. Finalmente com onze jogadores em campo passámos a criar oportunidades, confirmando a minha teoria que se se pode jogar com onze não se deve jogar com dez.

Foi um privilégio voltar a ver a velha escola do Porto, imortalizada por diversas façanhas de duplas como Jorge Costa e Fernando Couto. O Ricardo Costa ameaçou e bateu em tudo o que se mexia. Esperando ressurreição, o Alan Ruiz escapou. De outros mais buliçosos, como o Bas Dost, o Bruno Fernandes ou o Iuri Medeiros, não se pode dizer o mesmo. Do árbitro, nem um amarelo para amostra. Compreendo e respeito esta opção. Ninguém se sente confortável a fugir do Ricardo Costa pelo campo fora. Para mártir, chegou o José Pratas. Como costuma dizer a APAF, é preciso proteger os árbitros. Por mim, não quero que por atitudes impensadas, como mostrar cartões, fiquem desprotegidos.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Banco bom e banco mau

Ontem, só vi a segunda parte do jogo contra o Olympiacos. Fiquei com o malparado todo. Quem só viu a primeira parte, teve direito a uma garantia do Fundo de Resolução (para quem se preocupe com estas coisas fica mais tranquilo ao saber que o Fundo de Resolução foi criado pelo Decreto-Lei n.º 31-A/2012, de 10 de fevereiro, que veio introduzir um regime de resolução no Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras, aprovado pelo Decreto-Lei nº 298/92, de 31 de dezembro). Quem viu o jogo todo, pode ser considerado um lesado, isto é, começou por acreditar no que viu e depois foi enganado.

Mal comecei a ver o jogo, apanhei logo uma desmarcação tresloucada do Coates pelo lado direito, seguida de umas tabelinhas com o Gelson Martins. Não via nada daquilo desde que o Schelotto se foi embora. Tudo acabou em bem, como acaba sempre com o Coates, com ele a arrear em dois adversários e a parar qualquer possibilidade de contra-ataque. Percebi de imediato que estávamos a um passo do abismo. Conheço o Sporting há meio século e sei bem como é que a malta se deslumbra nestas circunstâncias. Esse deslumbramento não escolhe nacionalidades. Pode atacar um uruguaio ensimesmado ou um brasileiro acabado de chegar da escola de samba da Tijuca.

Fiquei mais descansado quando o Piccini atrasou à queima a bola a meia altura para o pé direito do Rui Patrício e nada aconteceu. O Piccini é o jogar mais regular do Sporting. É sobretudo um jogador de hábitos. Uma vez por jogo é atacado de paralisia cerebral súbita que, quase sempre, dá em golo. Desta vez não deu. O Rui Patrício é mais irregular. Não sabemos ao certo quando é que vai ser atacado dessa doença. Ontem, essa doença acertou-lhe que nem um raio e ele desmarcou o avançado do Olympiacos e nada aconteceu também. Se estava descansado depois da jogada do Piccini mais descansado fiquei depois dessa: o Olympiacos estava no papo. Mesmo quando enfardámos duas batatas e o comentador da televisão ficou histérico, mantive-me impassível e continuei a comer os choquinhos de coentrada que me tinham posto à frente.

O que se passou na segunda parte acontece com demasiada frequência para o considerarmos um mero acaso. O Jorge Jesus sempre teve dificuldade em controlar os jogos com ou sem bola quando está a ganhar. No Benfica era assim também, mas a arbitragem assegurava sempre tantas faltas e faltinhas quantas as necessárias para o jogo não andar. No Sporting tem que puxar pela cabeça e arranjar uma maneira, porque da arbitragem não só não se espera nada disso como se espera exatamente o contrário. É que os jogadores não parecem confortáveis nestas circunstâncias. Não sabem se hão-de atacar ou defender. Se engonham ou se continuam a jogar à bola. O resto está dito e muito bem dito aqui.

(O Jorge Jesus é um grande treinador. Ninguém tem dúvidas que é o melhor em Portugal a quilómetros de distância de qualquer outro. Os benfiquistas também sabem disso e é por isso que não param de falar dele, mesmo quando aparentemente pretendem falar mal. Não há necessidade nenhuma de se autoelogiar. É mais forte do que ele. O que é que se pode fazer?)

Problemas de comunicação

Ao contrário do que é hábito acompanhei a estreia do Sporting na Champions de forma 'diferente': num sítio com várias TVs onde haviam dois jogos a competir pela atenção de quem por ali andava.

Durante a primeira parte não consegui tirar os olhos do jogo do Sporting, embalado pela perplexidade gerada por termos conseguido marcar um golo não só num lance de bola parada, mas num daqueles que o Freitas Lobo diriam ser "de laboratório". Depois de anos a fio em que mal se viam golos de canto ou livre, ainda não acreditava no feito quando Gelson elevou vantagem para 2-0; e ainda menos acreditava na mão cheia de golos falhados. Quando chegou o 3-0 já não acreditava em nada - deviam ser problemas com a transmissão.

Na 2a parte as coisas mudaram muito. Deu ideia que os treinadores ao intervalo terão dito aos jogadores qualquer coisa como: estamos aqui pelo dinheiro; o dinheiro está entregue e não depende do número de golos, portanto meus amigos lembrem-se que há pontos a ganhar no fim-de-semana. Assim, tudo corria bem para os dois lados - a coisa estava tão lenta que cheguei a pensar que seria jogo para o Alan Ruiz  - até entrar aquele Pardo que ou não ouviu a palestra ao intervalo, ou ainda não se entende bem com o Grego. Nessa altura eu já acabava por ter os olhos mais no outro jogo, que tinha o resultado em aberto, pelo que não me apercebi de como aconteceu exatamente o 'susto' que hoje falam por todo o lado. Sinceramente, duvido que depois do que vimos esta época com Feirense, Estoril ou Setúbal se possa dizer que ontem algum Sportinguista se assustou. Mais uma vez deve haver aqui um problema de comunicação e já nos bastava o do Pardo. A única coisa que me assusta é o Tondela. Pode parecer exagero, mas sabemos bem o que nos custaram as brincadeiras na Champions o ano passado...

sábado, 9 de setembro de 2017

Os milagres e a minha bomba da asma

A minha bomba da asma não faz milagres. Na verdade é um dois em um: ventila através do fumarato de formoterol di-hidratado que é um broncodilatador, e previne a inflamação dos pulmões através de um corticosteróide chamado  budesonida. Não faz milagres, mas tomada regularmente ajuda-nos a respirar com normalidade e sem sintomas. Muno-me sempre da bomba quando está um jogo do Sporting por perto. Foi o que aconteceu ontem. Já se sabe, o Sporting é meio caminho andado para um pacemaker. Não convém esquecer.

A primeira parte do jogo mostrou-nos que a genica dos imponderáveis se dá bem com o planeamento de uma época, principalmente se o principal actor da mesma for o nosso Sporting. O jogo estava controlado, com o Feirense a fazer uma fantástica exibição, segundo o Sr. Freitas Lobo. Com a saída do Piscinas, não tendo nenhum defesa direito no banco (por onde anda o Ristovski?), tivemos que fazer aquilo que fazemos melhor: inventar. O Sr. Freitas Lobos tocou a rebate. Ainda estava a tocar a rebate quando a primeira parte acabou. O Ruiz bate pouco nos adversários, mas é um picanhinha em potência ao nível dos lípidos.

Foi com naturalidade que chegamos depois à vantagem. O Ruiz continuava à procura de um churrasco no relvado. E foi ainda com mais naturalidade que nos deixamos empatar. O Sporting tem destas coisas. A bomba estava por perto. Um pacemaker também não é difícil de arranjar. A malta, mesmo não religiosa, acredita sempre. E vale a pena acreditar quando a equipa de arbitragem ainda não precisa de ir ao oftalmologista. Nem todos os jogos tiveram esse privilégio. É marcar uma consulta...

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Acabaram-se os milagres

Jesus ressuscitou Lázaro, de acordo com os evangelhos. Há quem interprete esse milagre como uma alegoria. Há quem faça uma leitura literal. Não sou eu que vou dizer quem está certo ou errado. Pode-se afirmar, no entanto, que existe alguma probabilidade de Jesus ter ressuscitado Lázaro.

Jesus tentou com sucesso outras ressurreições (não sei se esses milagres estão descritos nos evangelhos, mas na “Wikipédia” diz-se que sim). Não se ficou por aqui. Tentou até falhar. Aos oitenta e cinco minutos do jogo de hoje contra o Feirense, atirou finalmente a toalha ao chão: não era possível ressuscitar o Alan Ruiz definitivamente.

Mandou tirar o morto de campo e meteu o Iuri Medeiros, que está vivo e goza de boa saúde, e o Sporting ganhou. Moral da história, estar morto é o contrário de estar vivo e vice-versa ou, em linguagem científica só ao alcance de um Carlos Daniel ou de um Freitas Lobo, jogar com um morto é o mesmo que jogar com dez.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

O verdadeiro combate do século: Eliseu desafia McGregor!

A notícia está a correr mundo. É uma bomba no MMA ou “Mixed Martial Arts” para os que andam mais distraídos e não conhecem esta modalidade. O repórter insustentável não podia perder a oportunidade de uma entrevista ao mais recente ídolo nacional: Eliseu. Encontrámo-lo depois de lutar arduamente com um prato de picanha. Estava a preparar-se para uma sesta com aquele ar de quem nunca é nada com ele, mesmo quando acaba de enfiar uma bolachada num adversário.

Por que razão desafiou o Conor McGregor? O combate do século não deveria ser com o Floyd Mayweather? Acabou de ganhar ao McGregor… 
Esse combate foi uma fantochada. Se é para bater bate-se com tudo o que se tem mais à mão ou ao pé. Se o adversário está a pedir para lhe empurramos com o calcanhar a cana-do-nariz para junto do hipotálamo, não faz sentido nenhum enfiar-lhe um soco na boca. Os homens lutam quando não há regras ou se querem ver livres delas. Lutar com regras não faz sentido nenhum. O McGregor, se quisesse, enfiava-lhe dois biqueiros e resolvia o assunto.

A sua vida vai dar uma grande volta. O que o leva a deixar o estádio da Luz e outros estádios de Portugal para continuar a sua carreira em sucessivas “tournées” organizadas pela UFC (“Ultimate Fighting Championship”)? 
Estou farto da Liga e da FPF. Não organizam nada de jeito. É por estas duas entidades que me vou embora. Vim para o Benfica porque me disserem que tudo era permitido e que podia fazer tudo o que quisesse. É verdade. Mas que interesse tem fazer tudo e mais um par de botas se ninguém marca nada?

Mas acabou de renovar contrato com o Benfica…
Porque me disseram que com o vídeo-árbitro passavam a marcar tudo e é o que se vê. A continuar por cá a minha carreira não sai da cepa torta.

Queixa-se que o Benfica não o apoia? Que não lhe dá todas as condições para evoluir? 
Estão sempre a dizer que não faço nada. O que é que quer que eu pense? Como é que posso evoluir? Não é só o treinador e o presidente. Os adeptos e os comentadores da televisão também. Há dias apliquei um “quebra rótulas” ao Diogo Viana. O árbitro ainda marcou uma canelada a favor dele quando ele nem sequer me tocou. Na televisão, um Senhor Doutor, que faz comentários de MMA, com imagens em câmara lenta e tudo veio dizer que fiz “pé em riste”. Diz que quer levar o MMA para Loures. Diz que enfia uma pantufada nas ventas do Quaresma. Como é que vai fazer isso tudo se confunde um “quebra rótulas” com um “pé em riste”?...

Mas os adversários queixam-se muito de si. Há razões para isso?
Claro que sim. Queixam-se por que elas lhes doem e não é pouco. Em Portugal, há “fair play”. Os adversários reconhecem o que eu faço. As injustiças são tão grandes que são eles próprios a recorrer para a Liga e a FPF. Mesmo assim o que é que acontece? Nada como se eu nunca lhes tivesse feito nada.

Em Espanha o seu trabalho era mais reconhecido? 
Em Espanha é tudo muito diferente. Não interessam as cores das camisolas nem os nomes de ninguém. Só interessa se dás ou se levas. Espetas uma cotovelada num Messi ou num Cristiano Ronaldo e o árbitro marca. Se for num outro jogador qualquer, acontece-te o mesmo. Em Espanha marcavam-me tudo. Em Portugal não me marcam nada.

A ida para UFC vai permitir a sua evolução? Quais são as expectativas?
Gosto de estar dentro de um octógono. Quatro linhas são muito poucas para mim. Para o Caniggia quatro linhas estavam bem. Para mim não dá. Se os lados fossem todos iguais ainda vá que não vá. Assim estão-me sempre a fugir pelo comprimento. Vejo-me e desejo-me para os apanhar, sobretudo o Gelson. A maior parte das vezes não consigo e só vou a tempo de lhes arrear fora das quatro linhas, que não conta para nada.

Vê-se a regressar a Portugal, ao Benfica ou a outro clube qualquer?
Não encaro essa possibilidade. Não quero acabar como o Paulinho Santos que foi o herói de toda uma geração. Nunca mais me vou esquecer de o ver esfregar o cotovelo, uma e outra vez, no céu-da-boca do João Pinto. Veja o que é que lhe aconteceu? Um dia, na Final da Taça, fez bem a montada num argentino e encheu-lhe a cara de socos. O árbitro não marcou nada. O argentino, que era um fiteiro, enfiou-lhe uma cotovela nas fuças ao ponto de elas ficarem tão amolgadas que mais pareciam a montanha-russa da Disneylândia, em Paris, onde levei os miúdos no ano passado. Nunca mais ninguém o respeitou. O Porto ainda o tentou aproveitar nas camadas jovens, para ver se descobria novos talentos para a modalidade. Mas, nessa altura, os árbitros se viam uma camisola deles não marcavam nada. Uma injustiça. Não quero acabar assim.

Desejo-lhe boa sorte, Eliseu. Venham daí esses ossos para despedida. Ai! 
Desculpe o mau jeito, mas não se deve aproximar pelo meu lado esquerdo. Com todas as lesões no plantel, o médico do Benfica nunca mais me faz a operação à catarata deste olho. Só vejo sombras. Na dúvida ponho sempre o cotovelo à frente.

Esta entrevista é um soco no estômago. Causa uma profunda impressão, mesmo em jornalistas experimentados como o insustentável. Estamos condenados a ver os melhores de nós partirem. Partem porque não são piegas. Partem porque partem a cara a qualquer um sem pedir autorização a ninguém. É o sentimento de injustiça, mais do que o dinheiro, que os leva a partir. Estamos condenados a vê-los triunfar lá fora, onde se pode começar a vida de novo sem olhar à cor da camisola que se veste. O jornalismo de investigação faz-se destas denúncias.


(Nem sequer há a possibilidade de existirem coincidências. Não existe semelhança com a realidade. O insustentável repórter não existe. O futebol não é o MMA. É um desporto com regras, em que não se permite qualquer tipo de violência sobre os adversários. Os árbitros estão lá para que assim seja. Se não virem o que deviam ter visto, o vídeo-árbitro verá com toda a certeza. A Liga e a FPD existem para assegurar que essas regras são cumpridas e que existe “fair play”. Estas instituições e todos os protagonistas do futebol estão sempre sob permanente escrutínio de uma imprensa desportiva livre e implacável, doa a quem doer. Este “post” constitui uma simples homenagem ao Mário-Henrique Leiria e uma lembrança das conversas deste Verão com o meu sobrinho João)