Não é fácil comentar o jogo de sábado contra o Moreirense. Não é fácil porque ainda estou a sofrer dos efeitos de uma caixa de Sedoxil que mamei durante o jogo ["Varandas, pá, quando voltar a haver público, não esquecer de distribuir mexazolan à rapaziada, percebido?!"]. A mania de ir para o ataque, criar vantagem numa ala, estar em condições de meter na área, voltar para trás e para trás até chegar ao guarda-redes e começar tudo de novo transforma qualquer um num “serial killer”. Encontrar-se um jogador à entrada da área com tempo e espaço para rematar e vê-lo passar para o lado e ensaiar uma tabelinha leva a querer cortar os pulsos. Assistir à incapacidade do Sporar de reagir a tempo, de antecipar o lance, de chegar primeiro deixa-nos com uma enorme dor de cabeça depois de a enfiarmos uma e outra vez contra a esquina da parede. A interpretação do Lago dos Cisnes pelo nosso João Nureyev Mário no meio campo deixa-nos com vontade de enfiar o gato pela sanita abaixo ["Desculpa Ana, o gato é teu, mas esteve quase, quase; não, não sou um anormal e prometo que isto nunca mais me volta a passar pela cabeça, mas esconde o gato, por favor, esconde o gato"].
Só de escrever isto voltei a ficar à beira de mais um ataque de ansiedade [um momento, um momento para ir à casa de banho enfiar mais um Sedoxil e gritar ao espelho: “Ganhámos, Ganhámos!"]. Já passou, já estou melhor e escrevo já [“Ganhámos, porra, ganhámos! Toma César Peixoto, vai buscar! Palhinha, grande Palhinha!"]. Estava a dizer exatamente o quê? Sim, qualquer coisa sobre o jogo do Moreirense. Talvez sobre os comentários ao primeiro golo do Sporting. Há quem diga que houve cotovelo do “Pote”. Acho é que há dor de cotovelo de quem gosta de meter a mão no pote, sem aspas e caixa baixa.
Fico-me pela “flash interview” e pela conferência de imprensa porque, de outra forma, torno a ventilar. O Pedro Gonçalves voltou a receber o prémio de melhor em campo e voltou a falar de equipa, equipa e mais equipa, sem o eu, nunca o eu. O Ferro falou, falou e falou, independentemente da pergunta, sempre com o processo, processo para aqui, processo para ali. O Rúben Amorim foi genial. É jogo a jogo, diz ele, e nós acreditamos, acreditamos que não há campeonato [esperemos que os do costume também se vão distraindo com essa de que não há campeonato, que não estamos a jogar campeonato nenhum, que estamos a jogar um jogo e depois outro, tão-só]. Fala do jogo a jogo e faz-me lembrar a minha infância, em Viseu, na Escola do Magistério Primário. Jogávamos contra os da Escola da Avenida. Jogávamos contra os da Escola de Massorim [os betos da altura]. Jogo a jogo, sem nenhum campeonato, pelo prazer de jogar, por uma vontade de ganhar maior, muito maior do que o medo de perder.