Esta época, vi pela primeira vez um jogo do Sporting como deve ser visto, com atenção. Gostei do que vi, mas gostar é mais não gostar do que gostar. Não sei se me consigo fazer explicar. Como qualquer sportinguista, há um dos cinco violinos em mim que espera sempre nota artística. Esse violino é o contrário do grilo falante. É o que nos engana, o que nos faz acreditar no Bobby Robson ou no Mirko Jozić. O verdadeiro grito falante, aquele que nos diz o que nem sempre queremos ouvir e nos dá bons conselhos, é o Paulo Bento ou, nos seus melhores dias, o Leonardo Jardim. Diz-nos coisas simples: não sofrer golos dê por onde der; treinar, treinar muito as bolas paradas e apostar em centrais altos; na dúvida, a saída de bola deve ser fazê-la sair seja para onde for, incluindo do campo ou do estádio. Estes conselhos foram seguidos à risca através de princípios de jogo cumpridos ao milímetro
Primeiro princípio de jogo cumprido: anular o adversário seja como for até o levar à desesperança, à desistência, à rendição pura e simples. O Paços de Ferreira não teve uma oportunidade de golo para amostra e nem sequer acertou na nossa baliza. A meio da segunda parte os únicos que ainda acreditavam no Paço de Ferreira eram os comentadores da SportTV [até tu, Tonel?].
Segundo princípio de jogo cumprido: os jogos no futebol português não se ganham como na “playstation”. Viu-se trabalho tático nas bolas paradas, como agora se costuma dizer. Um dos cantos acabou em “penalty” e no primeiro golo; outro concluiu-se com o segundo, após jogada entre os nossos dois centrais calmeirões, Coates e Feddal, que não desistiram enquanto não conseguiram o “touchdown” [gosto da cara deste rapaz Feddal, faz-me lembrar a do Naybet, sempre com um ar de quem joga de alfange nos calções]
Terceiro princípio de jogo cumprido: o que importa é ganhar e, ganhando, o resultado de pouco ou nada serve. Se estás a ganhar, então não precisas de marcar mais nenhum golo e se, porventura, o marcares, não precisas de marcar outro e assim sucessivamente. Todas as táticas são válidas depois de estares a ganhar. Atrasa a bola, passa-a para o lado, garante que não a perdes ou se a perdes, perde-a longe da tua baliza.
Quarto princípio de jogo cumprido: acabar o jogo com seis amarelos em doze faltas [um amarelo por cada duas faltas] contra dois amarelos em dezoito faltas [um amarelo por cada nove faltas] sem tentar um mata-leão no árbitro. Como o cão é o melhor amigo do homem, assim o árbitro é o melhor amigo da equipa adversária. Os conceitos de calcadela, empurrão, pontapé ou entrada variam com as cores das camisolas e é preciso aguentar com cara alegre.
Precisamos de nos ver livres do Neto. É bom rapaz, amigo do seu amigo, deve fazer bom balneário; na época passada, disse umas coisas acertadas em nossa defesa enquanto a direção estava em parte incerta, mas não dá, não combina com a nossa linha de “safeties” ou “defensive backs”. Diz-se que queremos contratar o Lyanco, do Torino, um rapaz de quase um metro e noventa e cara de poucos amigos. Com este e com um avançado do campeonato italiano em idade de reforma, um Fabio Quagliarella ou um Goran Pandev, e tínhamos equipa para cumprir estes princípios jogo atrás de jogo. Posso estar enganado, mas estamos de regresso aos bons e velhos tempos do Paulo Bento. Não vai ser fácil ganhar mas será ainda mais difícil ganhar-nos. O Sérgio Conceição leva dois títulos em três campeonatos assim [sim, eu sei, não sou ingénuo, os nossos árbitros não são os mesmos que arbitram os jogos do Porto].