Na terça-feira jantava com amigos. Saio do trabalho ao fim da tarde e ouço o final do relato da primeira parte do Benfica contra o PAOK, enquanto me desloco até casa. Quem ouvisse pensava que o Benfica estava a jogar contra o Cascalheira de Baixo para a taça do presunto local. “O Jorge Jesus melhorou o jogo posicional”. “O Jorge Jesus é hoje melhor treinador do que era (se tal ainda é possível, digo eu)”. “O Jorge Jesus regressou para afirmar a dimensão europeia do Benfica”. Estava zero a zero ao intervalo mas a segunda parte serviria para cumprir o destino que estava escrito à partida.
Esperando pelo jantar, beberico um Martini com os amigos e pelo canto do olho vejo num ecrã de televisão festejos de uns jogadores com camisolas às listas pretas e brancas. Recebo uma primeira mensagem de WhatsApp: “Depois do Novo Banco, só nos faltava o buraco na defesa do Benfica também”. Um pouco mais tarde recebo outra: “Vai ser preciso financiar o Cebolinha, o Pedrinho, o Darwin, o Vertonghen e o Waldschmidt pelo Mecanismo de Recuperação e Resiliência da União Europeia”.
Regresso a casa tarde e a más horas. Não tenho sono. Não resisto à tentação de rever os comentários desportivos. É como ir ao supermercado escolher melões. Fico-me pela SIC Notícias. Ouço a conferência de imprensa final do Jorge Jesus. Queixava-se (e bem) das regras da Liga dos Campões. O objetivo era passar a fase de grupos (que seria “peanuts”) e, de eliminatória em eliminatória, chegar à final. Não fazia qualquer sentido começar da frente para trás, disputar uma competição de pernas para o ar, começando por jogar a final. A equipa ainda não estava preparada para tanto. Faltava um avançado. Imaginei que fosse o Cavani. Aparentemente não. O Benfica acabara de gastar cerca de 50 milhões de euros com o avançado do PAOK, um tal de Zivkovic (bom pé esquerdo o deste rapaz!).
Os melões estavam maduros. O Joaquim Rita estava um belíssimo Casca de Carvalho, com o picante no ponto, malhando no Jorge Jesus. O David Borges estava mais Melão de Almeirim, mais doce, falando de injustiças. Deito-me e adormeço, não sem antes ler mais um pouco de “Uma História de Espanha”, de Artur Pérez-Reverte. Às páginas tantas, o autor interroga-se por que razão Filipe II não transferiu a capital para Lisboa, mantendo-se entrincheirado no centro da península, no seu mosteiro-residência do Escorial. Não sei se seria a sorte dos espanhóis, mas seria a dos nossos comentadores seguramente. As narrativas seriam as mesmas, mas sempre teriam um Real Madrid ou um Barcelona para as legitimar.
foi um gozo infinito ver as caras desses lampiões. E então a do batista ? e o escroque do cristóvão ? o homem deve estar cheio de alzheimer ....
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarNão tive paciência para apalpar todos os melões que pretendia. Andar com o comando para trás e para a frente deixa qualquer um exausto. Os dois que apalpei são dos que prefiro. Em bom rigor, nem chego a perceber nada do que dizem. A preocupação, o cuidado é tanto com o que dizem que nem chegam a dizer. O Rita e o Borges falam exatamente de quê?
SL
Caro Rui,
ResponderEliminarA narrativa é um bem precioso. Os detentores de lugares sentados nas cátedras do comentário não chegam a todo o lado. Com o resultado de hoje, nova narrativa será forjada e injectada em doses letais. Resta-nos sonhar, as narrativas não o impedem. Chegará?
Um abraço
Caro Gabriel,
EliminarA narrativa precisa de condizer com os factos. Desta vez correu mal. Segue-se a narrativa de que o que importa é o campeonato nacional e que são candidatos à vitória na Liga Europa. A nós resta-nos fazer uma época à Paulo Bento, sem grandes entusiasmos e muito realismo. Depois logo se vê o que os árbitros fazem.
Abraço
Coitados dos gregos!
ResponderEliminarQuem pronunciou esta célebre frase?
Entretanto Jorge de Jesus diz que o grande objetivo do Benfica é o campeonato, se falhar, será a taça Lucílio.
Hoje o sorriso voltou, os olhos brilharam,a lampionagem das televisões em festa.
Caro João,
EliminarOs comentadores do regime não se contém e saem coisas como essas. Coitados dos benfiquistas. No Brasil, o Jorge Jesus era um pouco mais contido. Voltou e voltou a fanfarronice que é mais sinal de baixa do que alta autoestima. Como o campeonato nacional é constituído por uma série de equipas de bairro, a coisa compõe-se. O problema é se no final no Porto não ganha outra vez e sem nota artística como de costume.
Abraço
Coitados - olhar para cima desse 4 lugar deve fazer mal ao pescoço...
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarNão percebo nada do que diz. Este jogo era a final. Não havia lugar a classificação. Essa era a fase de grupos que segundo o Jorge Jesus era “peanuts”.
Caro Rui,
ResponderEliminarOs jogadores não têm culpa nenhuma do exagerado discurso nacional-benfiquista promovido pela Comunicação Social. Depois no fim, a culpa é sempre deles e do treinador. Os comentadores, diretores e presidentes esses estão sempre certos.
Mas é bom aproveitar estes momentos para saborear um bom melão. Eu prefiro os que nos envolvem - provámos um delicioso no ano passado, quando tivemos com eles uma meia-final da taça em que a dúvida era apenas saber se ganhavam com um handicap de mais ou menos 5 golos. Nos tempos que correm não nos vejo a ganhar nada, valha um bom melão alheio de vez em quando para nos divertirmos.
SL