domingo, 29 de dezembro de 2019

Gala dos prémios Jorge Mendes (tembém conhecidos como Globe Soccer Awards)

- Prémio CR7 Jogador do ano: Cristiano Ronaldo.
- Prémio revelação do ano João Félix: João Félix.
- Prémio agente do ano Jorge Mendes: Jorge Mendes.
- Prémio academia do ano Benfica: Benfica e Ajax (Ajax? não se entende o que faz aqui).

Prémio melhor estação do ano a cobrir a gala dos prémios Jorge Mendes TVI: TVI.

E assim se faz o entretenimento nestas semanas de descanso sem bola em Portugal. A liga também terá direito ao seu prémio. É falar com o Jorge e para o ano lá estará. Sem dúvida.

Em directo do Dubai...

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

O coração do Scrooge que há em nós (sportinguistas)

O jogo de sábado presta-se a todas as metáforas. O contexto permite várias: o Natal e o seu pinheiro, as depressões e tempestades que passaram a ter nome próprio e deixaram de ser simples vento e chuva. Talvez se preste à principal alegoria, à nossa razão de ser: a resistência. Nas últimas quatro décadas, o Sporting constitui uma impossibilidade. Pouco ou nada se ganha, o Benfica e o Porto, à vez, passeiam a sua hegemonia. Mas nós continuamos Sporting e do Sporting e, connosco, os nossos filhos e netos. Contra o Portimonense, não desistimos, não desistimos dos jogadores, os jogadores não desistiram de nós e o Silas não desistiu da sua equipa e do apuramento para a “final four” da Taça da Liga, vendo para lá do que a vista alcança. 

Começámos depressa de mais, com sentido de urgência despropositado, como se tudo tivesse que ser resolvido no primeiro quarto de hora. A precipitação, as perdas de bola, a aselhice e o azar iam deitando tudo a perder: um “penalty” escusado e um autogolo. Qualquer equipa se teria resignado. Nós não. O Ristovski fez o que sabe fazer melhor, passar ao Bruno Fernandes, e o Bruno Fernandes simulou o remate, tirou um adversário do caminho e esperou a desmarcação do Vietto para lhe fazer tabelar a bola na cabeça e assim voltarmos ao jogo. Pressentia-se o segundo golo ainda antes do intervalo, mas o nosso caminho não tem só as suas pedras, tem também árvores, bichos vários e aves raras. O árbitro viu o que não podia ver porque não existiu (teve uma alucinação, por outras palavras), e expulsou o Bolasie, premiando a batota. 

O início da segunda parte constituiu mais um teste à nossa capacidade de sobrevivência. Um avançado desmarca-se nas costas da nossa defesa, isolando-se e obrigando o Coates a um corte em desespero, que, azar dos azares, tira o Max da jogada e deixa o adversário com a baliza aberta. Esperávamos o golo, enquanto o jogador do Portimonense dominava a bola para a empurrar para a baliza. No entanto, do nada, da “twilight zone”, vimos regressar o Max ainda a tempo de se estirar e desviar o remate para o poste, mantendo-nos com a cabeça de fora. Logo a seguir, o Coates quis-nos explicar, a nós, aos seus colegas e ao adversário, que não estávamos no jogo só para sobreviver e foi por ali fora, tropeçando na bola e nos adversários, tabelando uma e outra vez, até deixar o Vietto isolado para rematar com a canela ao lado, falhando um golo cantado. 

O destino não estava escrito, ainda havia tempo para se fazer história, e o Silas substitui o Doumbia e o Ristovski pelo Luiz Phellype e o Gonzalo Plata, deixando todo o lado direito para o Rafael Camacho e assim mandando o miúdo fazer-se à vida. E o miúdo nunca mais foi miúdo, cresceu, ficou adulto e partiu tudo com o segundo golo. O Silas volta a mexer e equilibra a equipa, tirando o desgastado Wendell para meter o Battaglia, que recupera uma bola, o Vietto desmarca de primeira o Bruno Fernandes e este domina-a com um pé e, sem a deixar cair, fá-la sobrevoar um defesa, isolando o Gonzalo Plata que, mais parecendo um veterano, marca o terceiro golo. Os festejos não deixam dúvidas: temos equipa! Mas uma história, uma bela história, precisa de todos os seus heróis improváveis, todos têm o seu papel, faltando, assim, o último golo do Luiz Phellype, depois de um excelente passe do Gonzalo Plata a desmarcar o Vietto que cruza rasteiro para este marcar um “penalty” de bola corrida. 

Este jogo foi mais do que um jogo, foi um conto de Dickens. O rabugento Scrooge que há em nós (sportinguistas) tem um coração à espera da sua oportunidade. Ninguém desiste, ninguém desiste de ninguém. O Bruno Fernandes, o Camacho, o Plata, o Phellype, o Max, o Coates, o Acuña (o Mahatma Acuña neste jogo, tais foram as falta e as entradas à espera da sua reação), todos eles, não desistiram, não desistiram de nós e nós não desistimos deles. Esta é a história que queria escrever para desejar um Feliz Natal a todos os sportinguistas!

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Academia, sempre!

O Silas tem algo de Fernando Santos. Não tem tudo, ainda não determina completamente o seu destino e, com ele, o destino do mundo. Mas as suas ações estão recheadas de intenções subliminares, têm um propósito, mesmo que o ultrapasse, resultando de combinações có(s)micas. Quem criticou a tática e a constituição da equipa contra o Lask, que vá buscar a pedra de volta para a arremessar aos seus próprios telhados de vidro. Contra o Santa Clara, tínhamos uma final e, como qualquer final, o que importava era ganhar. Ganhámos com direito a brinde, com goleada e nota artística. 

Nunca sabemos se o que vemos resulta de intenção do treinador e da equipa ou da nossa propensão para encontrar racionalidade, mesmo, no acaso. Vamos admitir a primeira possibilidade porque se as coisas acontecem devem ter uma boa razão para acontecer. A melhoria da qualidade de jogo deve-se, finalmente, à projeção ofensiva dos dois laterais. Para esse efeito, a substituição do Borja pelo Acuña e a do Rosier pelo Ristovski foram fundamentais. Para assegurar adequada cobertura da zona central e dobra dos laterais, o Doumbia e, especialmente, o Wendell jogaram mais recuados. O recuo e a compensação do Doumbia permitiam ainda que o Mathieu avançasse e se encostasse mais do lado esquerdo, servindo de apoio ao Acuña e participando na construção do ataque. 

Pela primeira vez esta época, o Sporting dispôs de toda a largura de campo para atacar, obrigando a defesa e o meio-campo do Santa Clara a bascular para um e outro lado permanentemente. A possibilidade de atacar com os laterais deixou também a zona central mais descongestionada, embora o Bolasie e o Vietto fizessem movimentos interiores e, assim, garantissem mais presença na área no momento de meter a bola para a molhada. A jogar desta forma, sentimos falta do Bas Dost. O Bolasie e o Luiz Phellype fizeram o que puderam, mas não são a mesma coisa. 

Aproxima-se janeiro, o mês de todos os perigos. É evitar fazer asneiras e, para isso, o melhor é não fazer nada. É preferível não contratar ninguém, sobretudo para não se ter de vender os poucos que sabem jogar à bola, como o Acuña, o Bruno Fernandes ou o Coates. Bom, bom, seria vermo-nos livres de uns tantos, como o Borja, o Fernando, o Jesé ou o Ilori. A Academia sempre resolve o resto quando é preciso.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Sem espinhas


Vejam isto: o Sporting ganha 4-0 e o treinador da equipa adversária põe-se a efabular um discurso, que a sua equipa esteve aquém (aquém de quê?), que foi mais demérito que o mérito do adversário, que a passividade para aqui e para ali. Também é por isso que as equipas perdem, mas sobretudo porque os adversários são melhores e as obrigam a isso.  E o Sporting foi e é melhor que o Santa Clara, principalmente quando não inventa e não joga o Jesé e o Ilori, ou o Rosier. Noventa por cento dos jogos da liga portuguesa são contra equipas que lutam dignamente para não descer de divisão. Os seus orçamentos anuais não permitem sequer que Cristiano Ronaldo mantenha a sua alta rotação de relógios e brincos. Esqueçam os iates. No máximo dá para um bote. 

No final da primeira parte já podia estar três a zero, pelo menos. Porém, a passividade e o demérito da equipa da casa não nos deixaram alternativa. Marcamos apenas um e contrariados. Quando viemos dos balneários, sem tempo ainda para nos apercebermos do demérito e da passividade alheias, já lá tínhamos enfiado outra bola. Da forma como o demérito do adversário, a sua passividade e o nosso (algum) mérito andavam, via-se que íamos marcar mais e assim o fizemos. Era uma sensação estranha, via-se claramente no rosto dos nossos jogadores. O jogo acabou e na viagem para os balneários o demérito e a passividade do adversário ainda se notavam e estivemos quase para marcar mais um. Mas não gostamos de ver a malta a sofrer, a não ser nós próprios. É assim o nosso clube. E nunca deixaremos de o apoiar. 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

The Lask but not the least


Achei estranho a marcação de um jogo-treino para a Áustria. Depois percebi que havia aqui um sentido cultural, pois por essas bandas ainda se fazem verdadeiros mercados de natal de rua, onde toda a gente vai, em contraponto aos nossos centros comerciais. A ideia era interessante. Mas havia o jogo. Todas as mudanças ocorridas iam de encontro à ideia de um jogo-treino, dar uma oportunidade a alguns jovens, insistindo em colocá-los ao lado de génios como Ilori, Rosier, Jesé, para trocarem experiências. Ficar em primeiro lugar do grupo, ganhar um mísero milhão de euros, ser cabeça de série no sorteio, não poderia ser sobreposto ao próximo jogo do campeonato, onde lutamos estoicamente pelo terceiro(?) lugar e vamos jogar contra o Santa Clara. É este tipo de exigência que cria os grandes heróis.

O Lask, conhecedor dos mercados de rua e igualmente dos centros comerciais, onde se podem aquecer as mãos e os joanetes, não foi de modas e focou-se neste jogo como se de um jogo importante (a que propósito? - terá pensado Silas) das competições europeias se tratasse. Em pouco tempo percebemos que o Sporting se tinha organizado de forma a tentar não sofrer muitos golos, alguns ainda vá, mas muitos não. O lance do primeiro golo é uma pérola que deve constar dos bons manuais de como se deve defender com os olhos e em grupo. A seguir o Jesé chegou vinte minutos atrasado a um golo cantado e perguntou: Mister, isto é a sério? fosca-se… Esta sequência didática culminou com o Renan a provar por A + B que os árbitros levam estes jogos treino para terrenos pantanosos. Aquela saída ao jogador adversário já está nos anais dos jogos-treino a que se dedicam estudiosos de Ponte da Barca e Póvoa do Lanhoso.

Os nossos miúdos estavam deliciados: agora vamos ter esta experiência enriquecedora de jogar apenas com dez. A estratégia afigurava-se certa, sofrer golos, muitos é que não. Na segunda parte os jogadores do Sporting concentraram-se num jogo de bocejos muito eficaz, não estivesse o Camacho meio a dormir e até tinha marcado um golo, algo que não estava previsto. O Lask continuava a levar as coisas a sério, e lá foi tentando marcar mais golos. Dirigentes do Lask ainda solicitaram que deixassem o Sporting jogar com 11 para ver se dava pica, mas tal não foi permitido.

No final do jogo Silas esclareceu-nos tudo através do seu manual de desculpas em dois volumes. Tem a chancela da editora The Lask but not the least.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

O imenso Mathieu ou o futebol total no singular

Há vitórias por poucochinho que sabem a derrota, que o digam os Antónios, o Costa e o Seguro. Há outras, como a do passado Domingo, que representam autênticas goleadas. As expetativas não marcam golos mas também determinam os resultados. Segundo o Silas, se não fizemos o jogo da época para lá caminhámos, sendo as melhorias significativas. Estas afirmações baseiam-se em profunda evidência empírica e recurso a técnicas experimentais como as que determinaram o Prémio Nobel da Economia atribuído a Michael Kremer, Abhijit Banerjee e Esther Duflo. Colocou a equipa a jogar com e sem o Ilori e o resultado desta análise contrafactual não deixa margens para dúvidas: os problemas defensivos não são coletivos mas individuais (ou individual, melhor dizendo). 

Como venho referindo há mais de dois anos, a melhor forma de se passar ao ataque é contar com o passe tenso do Mathieu para o lateral esquerdo, normalmente o Acuña, ou, na impossibilidade, com o seu passe também rápido a virar o flanco ao jogo. Bem podem avançar e recuar o Doumbia ou Wendell que o sucesso da transição ofensiva continua a chamar-se Mathieu. O único lance de perigo do Moreirense também é revelador da nossa transição defensiva. Perda de bola e o Doumbia sem saber se corta a linha de passe ou marca o único adversário situado entrelinhas e que podia construir o contra-ataque, defesa a recuar perante um avançado de frente para a baliza e passe para o lado direito da defesa, onde não se encontra o Mathieu o nosso mais rápido e atento defesa. Com o Wendell sem capacidade de pressão, o Doumbia sem leitura de jogo, sem saber se sai ao jogador com bola, marca o espaço e as linhas de passe ou acompanha a desmarcação dos adversários, e a lentidão do Coates ou do Neto, a nosso transição defensiva também tem um só nome: Mathieu. 

O ataque também costuma ter um só nome: Bruno Fernandes. Neste jogo, as coisas não lhe saíram muito bem e o ataque também ficou entregue ao Mathieu: desmarcou o Borja para o primeiro golo, anulado por um poucochinho; rematou ao poste na marcação de um livre; participou na melhor jogada de ataque culminada com remate do Bruno Fernandes ao lado; e, cereja em cima do bolo, centrou tenso para a cabeçada do Luiz Phellype que nos deu a vitória. Enfim, no futebol existe a defesa e o ataque e, nos entretantos, conforme se ganha ou perde a bola, a transição defensiva e a transição ofensiva. Também há quem diga que existem ainda as jogadas táticas: os cantos e livres. No Sporting, Mathieu faz tudo isto e, por vezes, sozinho. É a encarnação num só jogador do futebol total do Rinus Michels e do Johan Cruijff. 

O treinador do Moreirense efetuou uma análise muito interessante ao jogo. O interesse não esteve tanto no que disse mas na semântica utilizada. Segundo ele, se os seus jogadores tivessem mais discernimento quando da posse da bola, o resultado poderia ter sido diferente. Traduzindo, se os jogadores do Moreirense soubessem o que fazer da (e com a) bola, podiam ganhar o jogo. Aparentemente, a equipa está magnificamente treinada para jogar sem bola, modalidade que designávamos por “apanhada” quando era miúdo.

domingo, 8 de dezembro de 2019

Mais uma voltinha, mais uma viagem

Demoro mais a expelir as derrotas do meu corpo e da minha mente. Como elas têm sido em número considerável, apenas com o recurso a um laxante me é permitido continuar a viver de forma minimamente aceitável. E não é nada fácil escrever sobre o assunto.

Fui ver o Sporting a Barcelona, perdão, a Barcelos, no jogo para o campeonato. Ainda hei-de escrever o guião para uma longa-metragem desse jogo e a sua envolvência. Fico-me por uma curta (metragem), mas grossa. Ali chegados, notamos o misterioso desaparecimento das roulotes. À imagem do desaparecimento das abelhas, nenhuma explicação plausível foi enunciada. Na procura de uma bucha apenas encontramos alguma irritação. Estava frio, muito frio. Na entrada para a bancada Norte, onde se encontrava o grosso dos adeptos do Sporting, à irritação, frio e alguma fome, tivemos que juntar uma pitada de paciência.

Para além da proibição (nem sempre, nem para todos) óbvia de entrar no estádio munidos de catanas, explosivos, pistolas e cacetes, também não se podia entrar com nada que tivesse grafado JL, Juventude Leonina, ou Directivo, o que desde logo suscitou algumas questões interessantes. Gente havia vestida dos pés ao pescoço com os ditos, outros juravam acrescentar a roupa interior, outros nem se lembravam se tinham, ou não tinham, em qualquer sítio, as palavras proibidas escritas. Outros juravam não entregar as tatuagens. Bom, depois de apurada conferencia lá se deixou entrar tudo menos os cachecóis. Alguns putos entraram assim no estranho mundo das proibições e dos ultras, deixando o seu querido cachecol à porta. Um absurdo que nos levou à queima para começar o jogo.

E no começo do jogo, ali mesmo à minha frente, o Jesé sofreu penalti, na única vez, em setenta e tal minutos em que ganhou a posição a um jogador adversário. O árbitro sabia ao que vinha e fez de conta (sem precisar) que não era nada com ele. A partir daí o deserto, de ideias, de fio de jogo, de qualidade dos intervenientes. A partir daí apenas o frio, a fome, alguma irritação, a paciência, nos lembravam que estávamos vivos e num estádio de futebol. Dentro de campo não se podia dizer o mesmo.

Já sabemos a história, sem remates não há golos. Apenas o Ilori torna isso possível. O Ilori e o guarda-redes do Gil. Conseguimos chegar ao intervalo sem cortar os pulsos. Foi um feito apenas ultrapassado pelos resistentes que conseguiram chegar ao final do jogo. É certo que temos cinco ou seis jogadores (cuja contratação até é da responsabilidade desta direção) cujo talento para jogar futebol foi-nos manifestamente exagerado, mas não estávamos a jogar em Barcelona, apenas em Barcelos. Compete ao treinador a redundância de treinar e o aborrecimento de planear o jogo contra uma equipa que toda a gente sabia como ia jogar.

No final do encontro Silas disse que tinha mostrar mais uns vídeos aos jogadores e que sentiu que a equipa, em certos momentos (não foram todos?), estava completamente descoordenada, com cada um a jogar para si. Esperamos, assim, pela coordenação no jogo seguinte.

O jogo seguinte continuou a ser em Barcelona, perdão, em Barcelos. Por razões profissionais não pude me deslçocar ao estádio. Não sei se as roulotes apareceram. A equipa do Sporting, isso é certo, não marcou presença na primeira parte do jogo. Por vergonha, provavelmente por estar a jogar contra as segundas linhas do Gil, lá tivemos que disputar a segunda parte com o suspeito do costume a dar um ar da sua graça, lá para o final do jogo. Silas, sempre assertivo, afirmou que tem tido pouco tempo para treinar. Ninguém lhe recordou a recente paragem de três semanas. Aqui ninguém é responsável e ninguém é responsabilizado. Somos uma simpatia no trato. É isso que às vezes enerva o Marcos Acuña. Mas já está tudo perdoado. Venha o Moreirense. Se tivéssemos tido mais tempo para treinar é que era. Não era?

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Jogar para negativos

Nem sempre os fins justificam os meios, mas, no Sporting, parece que os meios se justificam independentemente dos fins. O que conta, o que verdadeiramente conta é tática, não como forma de chegar ao resultado, mas substituindo-o como objetivo. Instalou-se uma burocracia, o que conta é o processo, que desce aos confins do departamento mais obscuro para voltar a subir na hierarquia, sem falhar uma carimbo, uma assinatura. A troca de bola entre os centrais, o recuo do Doumbia, o avanço dos laterais, a descida à vez do Wendell e do Bruno Fernandes não encontram no ataque nenhuma dinâmica que o justifiquem. O que se passa atrás não tem nenhuma relação com o que se passa à frente, onde estão os avançados parados à espera de Godot. 

O Gil Vicente não precisou de fazer nada ou, melhor dizendo, só precisou de esperar que nos suicidássemos. Na primeira parte, praticamente só o Ilori atacou com ousadia, infelizmente sem se dar conta que aquela não era a área do adversário. E os disparates são como os GNR, andam sempre aos pares: passa à bola ao adversário e recupera deixando outro em jogo. E o disparate emparelhou-se outra vez quando o remate fraco do Wendell adormeceu o guarda-redes enquanto esperava pela bola. Ao intervalo, o empate justificava-se, o que não se justificava era o resultado; em vez de 1 a 1, devia ser -1 a -1. 

Na segunda parte, o Gil Vicente passou a jogar para nulos e nós continuámos para negativos. No jogo do King é a mesma coisa, no futebol não. No futebol, quem joga para negativos perde sempre, independentemente do adversário jogar para nulos ou escolher trunfo. Oferecemos um “penalty” e, quando o Bruno Fernandes tentou fazer de central de último recurso no terceiro golo, até parecia que do outro lado jogava o Messi. O Vítor Oliveira, no fim, procurou confundir-nos ainda mais, para ser corporativamente simpático com o Silas. Talvez tenhamos piores jogadores do que o Benfica ou o Porto, mas não jogámos contra nenhuma dessas equipas, jogámos contra o Gil Vicente. Jogámos contra o Gil Vicente e não criámos uma oportunidade de golo para amostra nos segundos quarenta e cinco minutos. 

As desculpas perspetivam o pior. A carne é fraca, segundo o Silas, é fraca e não tem cabeça para cumprir as orientações, jogando cada um para seu lado. São muitos anos a virar frangos. Um Carlos Manuel ou um Paulo Sérgio cheira-se à distância. Quanto tempo vai demorar até encontramos o Jesualdo Ferreira da nossa salvação? Ainda chegará a tempo?

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Entretanto


José Mourinho foi para o Tottenham. Alguns jornalistas, comentadores e adeptos também. Embora estes últimos mais mal pagos. De repente ficou a saber-se que o Tottenham dispõe de uma academia com 17 campos relvados e um estádio novo com a segunda maior lotação da premier league. Diz-se até por aí que uma equipa com o mesmo nome foi finalista da liga dos campeões do ano passado.  A paixão tem destas coisas. Numa das milhares de reportagens feitas a partir de Londres, um jornalista folheia os jornais ingleses do dia seguinte à assinatura do contrato (nada que não pudesse ser feito a partir dos estúdios em Lisboa – seria?), deleitado com as contracapas, os rodapés, as fotografias, numa demonstração sólida do mais profundo provincianismo e do jornalismo de encher chouriços.

Entretanto, os restantes jornalistas e comentadores sobrevoaram o Atlântico para saber quem seria o novo barbeiro de Jorge Jesus e se este ainda comia peixe todos dias. Continuaram a encher chouriços até descobrirem um clube de futebol (com regatas pelo meio) e uns programas de televisão onde apenas se pode participar de megafone ou com uma garganta de aço inoxidável, programas onde incrivelmente Cristina Ferreira pareceria uma sussurradora profissional. Nesses programas, onde se mistura religião e futebol, os comentários baloiçam entre o mais puro chauvinismo e a hoste dos ressabiados, tudo por causa de um avô que lhes foi dar umas dicas sobre bola e mastigar chiclete em público, não necessariamente por essa ordem.  Os resultados estão à vista. Se Jesus tiver algum juízo, levanta ferro o mais rapidamente possível e vem treinar o Arsenal, um clube com um centro de estágios com muitos campos, todos irrigados, e um estádio com apenas menos dois mil lugares que o Tottenham. Um sonho de menino.

Entretanto, fomos à vida no futsal. Espero que este feito também seja devidamente reconhecido pela direção, à imagem do ano anterior.   

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Soltas da seleção nacional

[Sem pé quente] 
Não precisávamos de ganhar e muito menos de marcar dois golos. Desperdiçámos a possibilidade de mais um empate ao desperdiçarmos o empate da Ucrânia contra a Sérvia. A ideia de atingir objetivos sem depender de outros e da combinação de resultados pode ser o reconhecimento do Santos que o seu pé quente teve melhores dias. 

[Com os pés frios] 
No fim do jogo, os jogadores afirmaram que mal sentiam os pés, tal era o frio. Porventura, a temperatura dos pés em sentido literal influencia-a em sentido figurativo. Talvez não se possa ter pé quente com os pés frios. Na dúvida, não seria de excluir a hipótese de se colocar uma escalfeta no banco. 

[Com os pés] 
O Cristiano Ronaldo marcou o nonagésimo nono golo ao serviço da seleção nacional. O simples facto de não ser fácil dizer nonagésimo nono golo de forma seguida, sem pausas e sem nos entaramelar a língua é, só por si, um sinal do feito extraordinário. Mais do que mais um golo, este, em particular, é revelador do empenho do Cristiano Ronaldo em marcar golos que os outros fazem um esforço enorme para falhar, como se viu com o Jota, apesar do guarda-redes do Luxemburgo também ter feito um esforço não despiciendo para o sofrer. 

[Sem cabeça ou com a cabeça assim-assim] 
O treinador da seleção de Malta embateu com a cabeça no banco de suplentes e não há maneira de se lembrar do jogo contra a Espanha. O Santos por um momento também se esqueceu de ser quem é, e não dizer nada e não revelar os seus segredos, e disse na entrevista o seguinte: “Acabámos por marcar num lance que tínhamos pensado, colocando a bola na profundidade, nas costas da defesa”. Até a emissão da RTP caiu (redonda).

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Esports de inverno


por aqui vos falei da saga daquele jogador do Sporting com nome de medicamento, o Demiral 18mg. Nessa mesma posta fazia uma pequena (grande) referência a mais um central, nesse caso em trânsito para o Granada. O seu nome era Domingos Duarte e foi agora chamado à seleção nacional. Não costumo advogar o fanatismo serôdio da formação, mas deixar escapar, em saldo, jogadores destes, apenas terá uma explicação lógica: incompetência. Incompetência essa, devidamente destapada em sentido contrário, isto é, nas compras efetuadas. Mas parece que ficamos com 25% de uma futura venda. O trabalho invisível continua.  

Ontem estava a ver televisão e de repente fui levado com pompa e circunstância até ao colo do Prémio Puskás, dois mil e quinze, se não me falha a memória. Ao lado do prémio surgia um nome: Wendell Lira. Já estamos a contratar – pensei, não sei porquê, mas gostamos destas coisas. Lira vinha reforçar a nossa equipa de Esports. Por momentos pensei que estavam a inglesar o termo associando-o ao português do Brasil. Só depois percebi que o reforço era para a equipa de videojogos. Grande contratação, ninguém estava à espera. O trabalho invisível continua. Somos mesmo um clube eclético. Sem dúvida alguma.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Quem (não) faz um filho fá-lo por gosto

Comecei a perceber este jogo ainda antes de se iniciar. O nosso treinador tanto afirma que ainda não teve tempo para treinar como pretende ao mesmo tempo justificar as suas mudanças táticas de jogo para jogo pelo facto de treinar diferentes sistemas, encontrando-se a equipa em condições de optar por qualquer um como forma de surpreender o adversário. Nunca levei muito a sério aquela coisa do nível IV, mas desconfio que talvez não fosse má ideia ele fazer um curso desses nem que fosse por correspondência. 

Não fiquei, assim, surpreendido quando vi a equipa entrar com o Neto, o Coates, o Ilori, o Rosier, o Borja, o Eduardo e o Ricardo Fernandes. O Silas preparou a equipa para jogar como se se tratasse do Belenenses e o adversário o Sporting e não o próprio Belenenses. O original, por muito mau que possa ser, é sempre melhor do que a cópia. Enredámo-nos num emaranhado de sete ou oito jogadores para conseguir fazer sair a bola do nosso meio-campo. Invariavelmente, acabávamos a perdê-la ou com o Renan Ribeiro a enfiar-lhe uma biqueirada para a frente onde os dois ou três que sobravam enfrentavam opositores superiores em número e em armamento, como se estivessem em Candaar, no Afeganistão. O Bolasie e o Vietto não revelaram medo, revelariam aqui e ali alguma melancolia por não poderem conviver com os seus colegas e amigos, ensarilhando-se também com eles e com a bola, como fazem os soldados para ocuparem os poucos tempos livres entre as emboscadas. 

Os jogadores do Belenenses ficaram surpreendidos, pois pensavam que vinham jogar contra o Sporting, não estando preparados para jogar contra si próprios. Estavam preparados para montar o seu autocarro e não para enfrentar o autocarro adversário. Esta contradição não os deixou nada confortáveis. Procuraram queimar tempo passando a bola entre si, permitindo ao treinador no final dizer que tinham assumido o jogo, seja isso o que for, desde que não envolva a baliza do adversário. Os adeptos não gostaram da transmutação, do transgénero operado pelo Silas e começaram a assobiar. Depois, bem, depois uns começaram a cantar uma coisa qualquer e outros a assobiar. No estádio percebe-se bem. Na televisão não se percebe grande coisa. Só mais tarde é que percebi que enquanto uns vaiavam o Varandas os outros vaiavam os que vaiavam os Varandas. No próximo jogo, a transmissão deve ser legendada para melhor podermos acompanhar estar peripécias. 

A meio da primeira parte o Silas tirou o Neto para meter o Camacho e ao intervalo trocou o Ricardo Fernandes pelo Doumbia. Os sinais de retoma do final da primeira parte confirmaram-se no início da segunda. Mas a retoma só ficou completa quando saiu o Eduardo e entrou o Luiz Phellype. O que faltava em febra sobrava em coirato e entremeada mas era a carne que havia e foi toda para o assador. O Doumbia ficou com o meio-campo defensivo e o Bruno Fernandes e o Vietto passaram a ter mais bola. No primeiro golo, destaca-se a forma precisa como o Luiz Phellype fez embater a bola nas canelas de um adversário, fazendo-a ressaltar para o sítio exato onde apareceu o Vietto a rematar depois de um mortal à retaguarda. No segundo, a desmarcação milimétrica do Bolasie proporcionada pelo passe do Doumbia e a saída à Renan Ribeiro do guarda-redes adversário, colocando a bola à disposição do Vietto. 

Pior do que errar é insistir no erro. O Silas aprende depressa, o problema parece ser o de só aprender durante os jogos. Ao intervalo deve ter transmitido aos seus jogadores que ou as coisas mudavam ou estava disposto a fazer um filho a cada um deles. Os jogadores não acreditaram naturalmente, mas ficaram na dúvida se não estava disposto a tentar. Não foi por acaso que, por via das dúvidas, resolveram festejar os golos junto à bandeirola de canto, longe do banco.

sábado, 9 de novembro de 2019

Miaus


Frederico continua a sua saga. Escutei-o nos Rugidos do Leão. Leu uma cópia como se estivesse na escola primária. Raramente levantava a cabeça para comunicar as suas palavras com a audiência, limitando-se a ler, como um bom menino. Duas ou três enfâses povoaram essa leitura. Bom, terá dito a professora. Desta vez até estava bem alinhavado, como um verdadeiro discurso (goste-se ou não), o problema é que um discurso engloba um comunicador, o texto e a audiência. O texto é a ponte. Apenas isso. Dessa ponte deixo aqui um reparo: para além das gabarolices e do tratamento estatístico, habilmente moldado, fica mal, muito mal, esquecer a Comissão de Gestão, na excelente época (assim nos foi apresentada por Frederico) 2018-2019. Nem uma palavra. As palavras ficaram para as outras, (quantas são, afinal?) minorias. Deixo aqui um bom título para o discurso: unidos venceremos.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Bem vindos a Valhalla*


A cabeça do nosso treinador não é monótona. A cada jogo ele arranja uma forma de alinhavar uma equipa nova, confundindo assim o adversário e a própria equipa, cujo sistema de não ter sistema, feito com jeito e de forma sistemática, até pode dar alguns frutos, ainda que mirrados. O nosso treinador não fez a pré-época, andava por essa altura a observar as bancadas vazias de um tristonho Jamor, nem participou na contratação dos jogadores, embora a escolha dos mesmos nos pareça ter sido feita através de requisição civil, tentando ocultar, em parte, a greve dos nossos dirigentes em dirigir.   

O Borja tem aquele ar de bom samaritano que nasceu num sítio pobre da América Latina, mas deu a volta, afastando-se de um mundo de drogas e violência, só não se sabendo como e quando se tornou jogador de futebol. Nem ele sabe, apenas a requisição civil. O Rosier, ainda não o topei bem, tem estilo de raper dos subúrbios de  Montauban, embora  Montauban seja demasiado pequena para ter subúrbios, ele ainda assim arranjou maneira, não se sabendo bem quando o futebol começou a ser congeminado na sua cabeça. Musicalmente está nos antípodas de Jesé, futebolisticamente temos as nossas dúvidas. Ontem jogou o Neto e o Ilory, a intenção era desde o início convencer o adversário do esquema de três centrais e dois laterais subidos, escondendo o verdadeiro às de trunfo: Coates. Coates tem golo. Em qualquer das balizas. E fez um grande jogo.

Tudo baralhado como deve ser, ainda assim passamos os primeiros dez minutos a jogar de pé para pé cá atrás. Quando quisemos que a bola chegasse ao meio campo, estava lá o Doumbia. Ele já avisou que não foi para isso que o requisitaram: andar ali a receber e a ter que passar a bola, observando a posição dos outros jogadores, equipa contrária incluída, isso enerva-o, fica nervoso com a bola redondinha nos pés, mais ou menos como o Bolasie, só que o Bolasie usa isso para endrominar o adversário e a si próprio, com resultados variáveis, diga-se. O Doumbia fica igualmente nervoso com a proximidade do Eduardo, apenas se acalmando quando, levantando a cabeça, o que é raríssimo, encontra a imagem de nosso senhor Bruno Fernandes a pairar no campo. Aí, nesse momento, sorri e sente-se um verdadeiro jogador de futebol.

Estava frio, o jogo ainda não tinha aquecido e já os Noruegueses tinham papado dois golos. Aqueles Noruegueses, embora sejam muito interessantes como figurantes (ou mesmo actores) da série Vikings, como jogadores da bola deixam algo a desejar. Nesse sentido, entendem-se muito bem em campo com alguns dos jogadores do Sporting, que embora nunca tenham participado em castings para a série Vikings, têm alguma veia artística, já que conseguem representar (de forma razoável) um jogador de futebol profissional.

A segunda parte trouxe-nos à memória que no futebol (principalmente quando joga o Sporting) como na sétima arte, tudo é possível. Mas foi apenas por momentos. Ganhámos bem. Venham de lá esses toscos dos Holandeses.


quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Crónica de um relato anunciado

Não vi o jogo do Benfica contra o Lyon mas recebi o relato. Foi como se o tivesse visto. 

Antes do jogo, o entusiasmo: o Zenit tinha perdido e abria-se um caminho radioso para o Benfica afirmar a sua dimensão europeia. Com o primeiro golo, os factos começam a enganar-se e a não condizer com a realidade. “Não se percebe, uma equipa com a capacidade da do Benfica quando chega a estes jogos europeus parece entrar numa realidade paralela”, afirma um comentador. 

Depois de um ciclista francês testar a caixa de velocidades contra a defesa do Benfica, acontece o segundo golo e suspeita-se que a realidade tenha acabado de bater à porta. Apesar dos nabos dos defesas e do guarda-redes ameaçarem dar buraco, os jogadores do Lyon ganham quase todos os ressaltos e disparam em contra-ataques sucessivos deixando um dos comentadores em desespero. O desespero dá lugar à esperança quando finalmente falham um passe e o Benfica recupera a bola: “Eles também falham! Eles também falham!”, rejubila o comentador. 

A segunda parte inicia-se com os franceses em ritmo de treino e os jogadores do Benfica a cheirar a bola. De repente, chouriçada para a frente e golo do Benfica. Volta o entusiasmo, não pela vitória, mas pelo empate que deixaria tudo como dantes. Os franceses aborrecem-se com a desfeita e decidem voltar a jogar a sério cinco minutos e marcam novamente. “Está difícil o Benfica chegar à Europa”, lamenta um comentador, entrando em falso e denunciando-se, para logo em seguida vir outro em socorro e rematar a conversa, afirmando: “Este jogo prova que o Benfica não aposta na Europa”. Porque, se apostasse, a Europa render-se-ia aos pés do André Almeida, digo eu e mais não digo.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Filosofia da alcova


Por acaso ia começar esta posta mais ou menos assim:

Apesar dos deuses (os nossos) andarem loucos, os árbitros continuam a adorar os templos do costume, colocando lá as suas oferendas, em sinal de fé e de referência. Ainda por cima estando o Sporting a braços com uma equipa que (re)começa o ensino primário (do futebol?), já com o cheiro no ar a castanhas,  a papas de sarrabulho,  e com a fruta da época a dar para as romãs e os dióspiros, não parecendo de todo possível acompanhar o andar da carruagem. Pergunta: qual é a novidade? A retórica da interrogação leva-nos para uma extrema-unção mas sem padres que nos valham.

Depois de muito pensar, deu-me para continuar a posta assim:

Pese embora os floreados de vitórias (inóspitas) recentes, e outras vocações passadas, começa-nos a faltar aquele sorriso que acolhia com humor um vislumbre de pacemakers a que apenas faltariam as pilhas para continuar a acarditar; começa a falhar aquela vontade única de acolher no nosso seio o falhar outra vez, falhar melhor; começa a ser difícil digerir a força alquímica do reino do quase, quase, ou, para outros, ainda assim dos nossos, a república do para o ano é que vai ser. Começamos a ser outra coisa. E essa outra coisa, ainda indefinida, é o Sporting actual.

Falemos então de qualidade - pensei eu:

Não nego os meus modestos conhecimentos do jogo, mas perdoem-me a ignorância relativamente aos repastos que ditam as transferências, que (supostamente) ordenam as linhas mestras, que inclinam a gravidade dos campos, ou que enlanguescem as pernas dos jogadores e outros atributos cujos nomes desconhecemos. Não queremos o Sporting a caminhar sobre as águas (embora para o Sporting nada seja impossível), mas com a responsabilidade própria de profissionais bem pagos, ainda que alguns tenham verdadeiramente feito a pomba ao assinarem pelo Leão. Fazer a pomba é sair a sorte grande. A deles, claro.

Mas que raio, orçamento será sinónimo de qualidade?

Consultamos várias porcas e todas torceram o rabo: as condicionantes, as variáveis, as componentes são tantas, que inevitavelmente a sua gestão terá de vir de mãos hábeis, abraçadas a cérebros engenhosos e suficientemente astutos para resolverem quebra-cabeças enquanto o diabo está distraído e esfrega um olho. Podemos olhar para a massa de várias formas, mas quem a molda faz toda a diferença.

Exemplos, em cuja linguística se alicerça o vocábulo diferença (em território nacional):

Veja-se o caso do Tondela versus Sporting. Dizem-nos que o tamanho não importa, desde que, obviamente, haja trabalho. É um bom ponto de partida para mentes mais fracas e dadas a traumas, pois relativamente aos orçamentos ficamos logo esclarecidos. O Fernandes paga a equipa do Tondela. Mas isso dá-nos a obrigação de lhes ganhar? Bom, alguma coisa nos deveria dar. A bola não sendo uma ciência exacta e muito dada a surpresas lá vai seguindo o seu caminho com alguns padrões. Os nossos rivais tendo os maiores orçamentos (e controlando o futebol) são normalmente os que ganham. Aliás, sempre que jogamos com grande equipas europeias e, ressalvando algumas exceções, somos orgulhosamente ungidos pelas vitórias morais. E depois lá vem o dito: com um orçamento daqueles, também eu. Também tu?

Que fazer, afinal ó artista?

Blá, blá, blá... gerir melhor os recursos internos, rodear-se de gente competente e eficiente. Exigir desde o topo da pirâmide e responsabilizar. Ok, já sabemos. Aprender observando os outros. Não dividir para reinar, fundamentalmente se nem somos bons em contas de somar. Usar, seguindo os ensinamentos de Thomas Cromwell a diplomacia variável e a ciência da ambiguidade. Dá trabalho, mas poderá ajudar no caso do tamanho (já) não ser suficiente.  

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Várias equipas e modalidades e um só campeonato

É difícil explicar os resultados do Sporting. Os resultados são relativos, são aferidos em relação aos resultados dos adversários, em cada jogo e na totalidade dos jogos do campeonato. Ontem, o Sporting perdeu porque o Tondela ganhou e vice-versa. A classificação final reflete essa relação entre resultados que se opõem durante o campeonato. Sendo aferidos desta forma, os resultados têm de ser comparáveis. Para serem comparáveis, as equipas têm de disputar a mesma modalidade, implicando o respeito pelas mesmas regras. Por exemplo, não faz sentido admitir que equipa de andebol do Sporting possa ganhar o campeonato nacional de futebol, mas, se os deixarem jogar com a mão e aos adversários só com os pés e a cabeça, era provável que acontecesse. 

Ora, como as regras que se aplicam ao Sporting não se aplicam aos adversários, tenho muitas dificuldades de explicar os resultados e, assim, os méritos dos jogadores, treinadores e direções, porque num mesmo jogo se está em presença de mais do que uma modalidade. Pantominice na marcação de um “penalty” contra o Portimonense, três “penalties” a favor do Rio Ave, golo com o braço do Paços de Ferreira, regras diferentes para assinalar faltas e mostrar cartões em todos os jogos, especialmente no de ontem e contra o Boavista e o Paços de Ferreira. Ontem chegámos a mais um absurdo: em vez de ajudar a acertar, o VAR ajuda a errar. Não sei se ajuda ou se o árbitro gosta de ser ajudado. 

Contra-ataque, jogador do Tondela a entrar de carrinho ao pé de apoio do Doumbia seguido de outro a arrancar o Bruno Fernandes pela raiz. Cartão vermelho mostrado ao primeiro e esquecimento do amarelo ao segundo, primeira parte da rábula cumprida. Sururu do costume montado, enquanto a SporTv nos vai presenteando com uma reportagem do Doumbia a passear de mão dada com o jogador do Tondela em vez de repetir o lance pelas imagens conclusivas, como se gerar falsas dúvidas fosse um dos princípios da ética jornalística. O árbitro que viu o que viu, decidiu que tinha de ver na televisão também e cumpre-se a segunda parte da rábula. A rábula conclui-se com ele a dar o visto por não visto e a ficar-se por um amarelo. Para todos percebermos até onde se pode levar a rábula, a SporTv faz um programa a seguir para concluir que o lance era para vermelho e a decisão inicial correta. 

E o jogo continuou assim ou em modo de assim, com rábula atrás de rábula. Vemos ser marcada falta ao Bolasie quando tinha um adversário às cavalitas. Vemos não ser marcado qualquer livre, quando o mesmo jogador adversário lhe fez trezentas e quarenta e oito faltas seguidas para o impedir de entrar isolado pelo lado direito da área. Vemos ser marcada falta à entrada da área por entrada de um central do Tondela sobre o Luiz Phellype sem o correspondente amarelo. Vemos o Eduardo levar um amarelo após uma falta que não fez. Podia estar aqui os próximos dias a explicar que as regras aplicadas às duas equipas não foram iguais e, portanto, estiveram a jogar modalidades diferentes. 

O Sporting perdeu? O resultado só tem sentido se os desempenhos forem comparáveis, se a modalidade praticada por uma equipa for igual à da outra. Que sentido tem afirmar que a equipa de futebol do Sporting perdeu contra a equipa de rugby do Tondela?

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Arte e contexto

O jogo de ontem, contra o Paços de Ferreira, teve alterações táticas que deviam constar de qualquer manual de treinador de nível IV. A entrada do Borja, um esquerdino que faz parte de uma longa lista onde constam nomes célebres como o de Grimi, Marian Had, Ronny, Joãozinho, Balajic, Dimas, Zeegelaar ou Jéfferson, para atacar o nosso lado esquerdo da defesa. A entrada de Ilori que nos deixa a pensar: por que razão, estando a jogar com três avançados, o adversário resolve meter mais um? Um pouco mais tarde, compreendemos as mudanças táticas operadas na equipa do Sporting depois destas entradas, sem que o Silas tivesse necessidade de transmitir à equipa o que quer que fosse. É o trabalho invisível a fazer o seu caminho. Não sendo de esperar grande coisa do Ilori, os centrais deixaram-no solto, sem marcação, para que o Mathieu podesse marcar o Borja e, assim, evitar males maiores. 

Nevoeiro, chuva, filmagem em “zoom out” e uns mecos cor-de-rosa fluorescente a deslocarem-se, entrecortados por uma mancha azul petróleo que tudo parava para mostrar uma cartolina amarela fluorescente também, fazendo lembrar uma versão aprimorada do Branca de Neve de João César Monteiro. O que se passa no ecrã não é literal, é metafórico. Cada espetador interpreta da forma que quiser o que (não) vê. Não existe arte sem contexto, sem narrativa. O jogo de ontem prestava-se a todas, até à narrativa da sua ausência ou da sua antítese, apelando ao não-jogo, seja isso o que for na subjetividade de cada um. 

Esta semana fui ao lançamento do livro “Rendimento Básico Incondicional. Uma Defesa da Liberdade” de uns professores da Universidade do Minho. A filosofia e a arte deixam-nos a pensar, interpelam-nos. Embrulhado em ontologia, quando deixei de ver a televisão, interrogava-me: será que ganharíamos um jogo de futebol contra o Paços de Ferreira? O futebol português tem esta qualidade, a de nos deixar com mais perguntas do que respostas e com vontade de vermos mais e mais para nos inquietarmos. Espero com ansiedade o próximo jogo para que nele encontre respostas, embora não seja certo que as obtenha e não venha a ser confrontado com questões ainda mais complexas sobre a existência.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Minorias e maiorias de bancada

Ontem, contra o Guimarães, a expetativa era grande. Nesta altura, a expetativa é sempre grande, cada jogo é um Brexit. A carne estava toda no assador, não faltando a Dona Dolores para esconjurar maus-olhados. Jogava-se às casinhas e ao cai que não cai da Direção para se saber se ganhava a democracia da bancada ou a democracia do voto. 

O Silas não tem o Nível IV mas tem a escola toda do futebol português. Antecipando um Guimarães a jogar à bola no campo todo, organizou a equipa para jogar em contra-ataque, metendo o Jesé em vez do Luiz Phellype. Com bola, pediu paciência, muita paciência, que os seus jogadores ficam com os bofes de fora rapidamente se o jogo acelera. Pediu paciência e muita confiança em Coates e, especialmente, em Mathieu, que está em todo lado ao mesmo tempo, fechando no meio e na lateral, saindo com segurança em passes curtos ou longos. Com os inconsequentes Eduardo e Doumbia no ataque organizado, pede-se-lhe que descubra o Acuña ou o lateral do outro lado, invertendo a natural circulação da bola. 

De repente, duas cavadelas, duas minhocas, com o Vietto a demonstrar superior inteligência e capacidade técnica, passando a bola no momento certo para isolar, primeiro, o Jesé e, depois, o Acuña. As jogadas acabaram da mesma forma: bola dentro da baliza e guarda-redes deitado. Na PlayStation os nossos são bons. E o jogo podia ter ficado arrumado no início da segunda parte se não fosse a coerência do árbitro. Não viu o “penalty” sobre o Bruno Fernandes a meia-dúzia de metros e voltou a não o ver na televisão, depois do VAR o ter visto. Como diria o Einstein, só a infinita estupidez humana é certa. 

O 4x3x3 do Silas tem o problema de o Bolasie e, principalmente, o Vietto não acompanharem a movimentação dos laterais contrários quando estes atacam. Como o Doumbia e o Eduardo não ajudam a fechar por dentro, o Rosier e o Acuña ficam entregues à sua sorte. Embora a sorte do Acuña seja o azar dos adversários, do outro lado, com o Rosier, não se passa o mesmo. E o cântaro foi à fonte tantas vezes quantas as necessárias até se levar o golo do costume. Os minutos seguintes pareciam prenunciar o pior. Mas um bom central, como o Coates, não escolhe baliza, sobretudo quando o guarda-redes sofre de bicos de papagaio. 

O jogo estava resolvido e o restante tempo  constituiu um prelúdio para o que se iria passar a seguir. Ganharia a democracia da bancada ou a democracia do voto? Quando se ganha, a maioria da bancada alia-se à maioria do voto. A democracia da bancada depende dos resultados, são eles que determinam os movimentos sociais. Sem resultados, aquilo que pode parecer uma minoria rapidamente se transforma numa maioria. Com resultados, uma minoria é uma minoria. Ontem, a maioria foi uma, no próximo jogo se verá. A democracia da bancada volta dentro de momentos no próximo estádio.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

A cinética da bola

Dois momentos definem o jogo de ontem contra o Rosenborg: o Coates enfia uma canelada na bola para aliviar e fá-la embater no Doumbia e ressaltar para a barra; o Vietto remata à entrada da área contra um adversário, a bola faz um balão, o Pedro Mendes disputa-a e cai, aparecendo o Bolasie a enfiar-lhe uma marrada que a faz tabelar, primeiro, na canela de outro adversário e, depois, no braço do guarda-redes e entrar na baliza. Estes dois momentos definem com exatidão a mudança tática operada na equipa do Sporting. Em condições normais, com outro treinador, no primeiro momento, a bola teria entrado e, no segundo, batido na barra. 

O jogo teve três partes: do início ao primeiro momento; do primeiro ao segundo; do segundo até ao momento em que se agitaram lenços brancos. O início e o fim estão pré-determinados, não dependem das ocorrências do jogo: vai-se ver o jogo no pressuposto de que ele se inicia e que no final se vaia o Varandas. A cinética da bola vem por acréscimo. Os adeptos vão ao estádio para ter razão, independentemente do resultado. Quando finalmente lhes derem razão, a sua vida será um profundo vazio. É que as suas profecias autorrealizam-se e a vitória de cada um, da sua razão, será a derrota de todos.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Razão de ser

Ontem, vi o jogo da equipa de andebol do Sporting contra os finlandeses do Cocks para a Liga dos Campeões. Tudo o que podia correr mal, correu e correu ainda pior. Com Frankis Carol e o Edmilson Araújo lesionados e não se dispondo ainda do Marko Vujin, sobrava o Pedro Valdés na primeira linha, que também se lesionou durante o jogo. 

De repente, tínhamos o Carlos Carneiro a central e uma primeira linha constituída por ele, pelo Carlos Ruesga e pelo Gonçalo Vieira. O Thierry Anti e os jogadores fizeram tudo e de tudo para ganhar o jogo, acabando a nossa primeira linha com o Arnaud Bingo a lateral esquerdo e o Valentin Ghionea a lateral direito. Nos últimos minutos, o árbitro não expulsa por dois minutos um jogador adversário e deixa-nos sem o Carlos Ruesga na fase do jogo que mais dele precisávamos. Sofri com eles e acabei de ver o jogo à beira de uma apoplexia. 

O jogo é sagrado. É o jogo que nos leva a ser do Sporting. Vê-se um jogo para se sofrer com os jogadores, para os apoiar o tempo todo e celebrar com eles. Não há, não pode haver outra razão para se ir a um estádio ou a um pavilhão. Quando se vai e não se respeita o jogo e os jogadores, algo de muito errado de passa. Qual é a razão para se ser do Sporting quando o jogo e os jogadores não importam?

domingo, 20 de outubro de 2019

A propósito


Falhar outra vez. Falhar melhor.
Samuel Beckett


Falhar melhor
não sei, mas falhar
sempre

cansa!


(adaptado daqui)

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

A insustentável invisibilidade do ser

Está-se a fazer trabalho invisível, é o que nos informam. Não confundir invisibilidade com inexistência. Nem sempre o que não se vê não existe, embora o contrário seja verdade: o que se vê, existe. Preferíamos existência visível, mas, não podendo ser, que seja existência invisível. 

O pensamento é invisível, por definição, mas existe. “Não há machado que corte a raiz ao pensamento”, dizia o cantor. No entanto, mesmo com uma equipa constituída por Aristóteles, Platão, Sócrates, Kant, Heidegger, Hegel, Nietzsche, Descartes, Schopenhauer, Rousseau e Voltaire é muito difícil ganhar a onze jogadores de calções e chuteiras que correm pensando o melhor que sabem e podem enquanto o oxigénio se lhes esvai dos neurónios.

Está na altura de combinar pensamento e ação, existência e visibilidade. É que se se continua assim, é possível que se deixe de ver porque se desaparece simplesmente. O nada, o vazio, é o perfeito invisível. É que, com tão prolongada invisibilidade, começo a suspeitar que tenhamos deixado de ser.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Ler isto (ainda por cima em dia de jogo) é um orgulho!


O Sporting é um clube de culto.

Bas Dost (em entrevista à Sport 1 - citado no jornal  A Bola)

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Soltas da semana

[Caixa alta] 
Estranhamente, nenhum jornal desportivo de hoje escolheu o habitual trocadilho “Traumatismo (U)craniano”.

[Correcção de última hora] 
Afinal "A Bola" sempre recorreu ao Traumatismo Ucraniano na sua edição "on line" de ontem. Fizeram "bluff", sinalizando ao Record e ao Jogo que tinha este título na manga para hoje.

[Correcção de última, última hora]
Afinal, afinal, o "Correio da Manhã" sempre recorreu ao Traumatismo Ucraniano na sua edição de hoje. A normalidade sempre nos tranquiliza. Por momentos, temi que a imprensa nos surpreendesse.

[O maior] 
“Não persigo recordes; são eles que me perseguem”.

[Geringonça] 
Um governo minoritário foi apoiado durante uma legislatura por uma geringonça. Quem faz parte da geringonça que apoia o João Félix na seleção? É que nem canta “reggaeton” nem é suficientemente gordo para ir à baliza.

[Lições do Santos] 
É o que dá querermos ganhar. Os ucranianos só queriam empatar. Da próxima vez, voltamos ao mesmo.

[Maldição do Santos] 
No último minuto, cabeceamento do Cristiano Ronaldo salvo pelo guarda-redes na linha de baliza seguido de remate do Danilo à barra. Ou o Santos está a perder qualidades ou os ucranianos não sabem no que se meteram.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Na medida em que

Um conhecido do meu pai costumava dizer que Portugal era especial na medida em que era especial. Quando queria mostrar a sua faceta mais intelectual dizia que Portugal era especial na medida em que o era. Gosto mais desta última e serviu-me, de certa forma, como lição de vida para navegar em águas portuguesas, sempre traiçoeiras. Trata-se, aliás, de um argumento essencial à sobrevivência em qualquer tasco ou mesmo parlamento nacionais.

Foi essa mesma lição que me permitiu compreender e até explicar esta paragem longuíssima no campeonato profissional (profissional?) de futebol que se chama pomposamente de liga portuguesa de futebol (1ª e 2ª ligas). Explico: na semana passada, concretamente no fim-de- semana de 5 e 6 de Outubro fiquei intrigado por não haver futebol mas rapidamente percebi que a razão era a seleção. Bom, fiquei à espera do jogo da selecção mas o que encontrei foram vários jogos de várias ligas europeias. Que diabo, queres ver que Portugal jogo contra a selecção de esperanças portuguesa (ainda se chama assim?). Não, Portugal apenas defrontaria o Luxemburgo no dia 11 do corrente, isto é, nesta última sexta-feira e hoje jogava com a Ucrânia. Depois percebi que nem na semana seguinte a isto tudo haveria jogos do campeonato. Quase um mês de paragem – pensei… huum.

Fui averiguar, pesquisei, fiz uns telefonemas, li umas notas de rodapé, contactei a direcção do Sporting para saber se tudo não faria parte de uma estratégia para repetirmos a pré-época (esta possibilidade dava-me forças para comer e andar), mas nada, debalde, não havia qualquer explicação lógica, qualquer razão que se pudesse encontrar para sustentar uma tal paragem num campeonato dito profissional. Fui aos filósofos, aos leitores de mãos, aos bruxos da bola, mas o silêncio era ensurdecedor.

Depois percebi, era tão óbvio. A liga profissional de futebol era especial (aliás, como Portugal), na medida em que era especial. Era especial na medida em que o era. Havia uma paragem longa na medida em que havia necessidade de haver uma paragem longa. Não se jogava na medida em que não se jogava. Fiquei mais calmo. O mundo ainda era um lugar seguro na medida em que o era. Não precisamos de mais nada. Apenas fé.

Impeachment

Como qualquer cidadão de um país ocidental, vou assistindo com preocupação à onda de destruição das nossas democracias liberais. Estivemos sempre convencidos que o liberalismo de Locke e Tocqueville e a democracia representativa andavam de mão dadas, confundindo-se. Como nos explica Yascha Mounk (“Povo vs Democracia”), está em ascensão a democracia iliberal como contraponto ao liberalismo antidemocrático. O populismo e a plutocracia, à falta de melhores definições, são duas faces da mesma moeda. 

O exercício da cidadania não é exclusivo da política. A cidadania exerce-se todos os dias, nas mais diversas áreas da vida social. Não somos liberais e democratas para umas coisas e não o somos para outras. Ou somos ou não somos. De acordo com os relatos, a última Assembleia Geral do Sporting foi uma rebaldaria. Confundem-se adversários com inimigos e opiniões diversas com ataques pessoais, não se respeita quem pensa diferente mesmo em minoria e as minorias não respeitam os resultados democráticos. 

É muito tentador o “impeachment”. É a forma de se destituir quem é eleito, aproveitando uma determinada conjuntura e desrespeitando os resultados eleitorais. Mas “impeachment” não se aplica nestas circunstâncias, aplica-se se e só se existe violação grave das regras instituídas com dolo, com intenção. É necessário demonstrar essa violação e essa intenção. Quando não se concorda, discorda-se, faz-se valer pontos de vista diferentes, não se destitui. 

É necessário que a Presidência do Sporting saiba ouvir os associados e disponha de competência para os representar e defender os seus interesses. É necessário que os associados respeitem os resultados e os ciclos eleitorais. Em Portugal, o futebol ocupa demasiado espaço na nossa vida coletiva. Pouco a pouco, a forma como se discute futebol vai contaminando toda a discussão pública. Se é para isso que serve o futebol, então prefiro que se acabe com ele.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

O Treinador está no Céu

Nunca tinha visto jogar o Lask Linz. Nem sequer sabia da existência de tal clube de futebol. Muito menos sabia que as equipas estavam autorizadas a jogar de pijama. Esta falta de conhecimento nada diz sobre mim. Pareceu-me foi que estavam todos como eu, o treinador, os jogadores, a “estrutura” (seja isso o que for), e isso diz muito sobre eles. 

Em teoria, todas as táticas são boas. Em Portugal, no Sporting, no Benfica ou no Porto todas funcionam, com um, dois, ou três centrais. As restantes equipas estacionam o habitual autocarro e ninguém se atreve a pressionar a saída de bola ou, quando o faz, fá-lo com uma ou duas baratas-tontas a tentar atrapalhar e pouco mais. Como o treinador do Lask Linz não tirou o curso de treinador em Portugal, a sua equipa sabe pressionar, e bem, a saída da bola. A pressão é coletiva, não consiste em correrias de um ou de outro mais afoito. Em bloco, a equipa movimenta-se de forma muito agressiva no sentido da deslocação da bola, fechando linhas de passe em sentido contrário e no meio até encurralar um jogador adversário que acaba rodeado por dois ou três adversários e sem saber o que fazer. A fava calhou ao Mathieu, para nosso azar. Se falha o Mathieu não há Mathieu no centro da defesa para fazer de pronto-socorro. 

A primeira parte foi um sufoco permanente. Com a pressão do adversário e os adeptos a assobiar desde o primeiro minuto, a bola começou a ficar eriçada e cheia de picos. Sem extremos e só com o Bolasie a desmarcar-se para as alas, jogar comprido, em profundidade, como agora se diz, não era bem uma alternativa; era a forma mais simples de cada um que se sentisse apertado se desfazer da bola. 

Para a segunda parte, o Silas tirou o Neto e meteu o Vietto, descendo o Miguel Luís para defesa direito. A única melhoria visível foi a colocação do Mathieu mais ao meio que, em conjunto com o Coates, iam cerzindo os buracos que o meio-campo abria quando invariavelmente perdia a bola. No resto, “tudo como dantes, quartel-general em Abrantes”. Mesmo assim, fiquei mais tranquilo: a derrota era certa mas podia ser que se evitasse uma goleada histórica contra a Pantera Cor-de-rosa. 

Há, no Céu, um Treinador que estava morto quando teve tempo de serviço necessário para tirar o curso de nível IV a zelar por aqueles que por circunstâncias da sua vida de jogadores só começam esta carreira depois dos quarenta anos. Esse Treinador desceu a Alvalade que nem um raio e que nem um raio se foi, não sem antes deixar o jogo virado do avesso. Canto batido ao primeiro poste (até que enfim!), o defesa a saltar fora de tempo e o Luiz Phellype a enfiar uma marrada na bola para dentro da baliza. Bica para a frente, Bolasie a fazer o seu melhor, atrapalhar-se e atrapalhar o adversário, bola a sobrar para Luiz Phellype desmarcar Bruno Fernandes e bola, desmarcação e Bruno Fernandes na mesma frase conclui-se com golo. Até ao fim do jogo, continuou o “ai Jesus, Nossa Senhora, nos acudam!”, mas o Treinador tinha entregado a sua missão ao Renan Ribeiro, ao Coates e ao Mathieu. 

Ao longo da vida, tive a responsabilidade de negociar recursos importantes com instituições internacionais. À boa maneira portuguesa, nunca se preparavam convenientemente as reuniões. Na parte da manhã, qualquer Pantera Cor-de-rosa nos colocava em sentido. Da nossa parte, nunca se sabia quem devia responder, atropelando-se uns aos outros. Depois do almoço, a conversa melhorava sempre. A tática era sempre a mesma, passar ao Bruno Fernandes e esperar. Funcionou sempre.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

E pur si muove!

E, no entanto, move-se, a partir de uma tática retirada de um manual de subbuteo. Joga-se a passo; não se pode passar a bola a mais de três metros; ninguém passa e se desmarca para a receber; por cada um que avança recuam dois para a cobertura; os laterais deslocam-se na exata medida em que se lhe pode passar a bola para trás em apoio; ter a bola para não a deixar de ter e estar em piores condições para sofrer um golo. A equipa passou a ser um imenso meio-campo; quem quer a bola, recua para a receber e a trocar com mais sete ou oito colegas que estão nas imediações. O ataque deixou de ser uma função autónoma, é o que sobra desse triqui-troca, que está para o tiki-taka como o género humano para o Manuel Germano (esta é do Mário de Carvalho!). 

O Silas fez bem o diagnóstico, o diagnóstico médico. Os jogadores não se aguentam. Não vale a pena entrar em correrias ou arrebenta tudo em menos de um fósforo. É esperar que algo aconteça porque algo sempre acontece. E aconteceu porque tinha de acontecer, acontecendo mais depressa se jogar o Acuña. O Bolasie, um dos pouco que não fez a pré-época no Sporting, em desespero e com o bico da bota enfiou um chapéu num defesa, seguido de outro ao guarda-redes, a que se seguiria outro à baliza, não fosse dar-se o caso de o guarda-redes, ofendido, o ter agarrado pelos colarinhos. Até um árbitro português consegue perceber que não se reage desta forma a quem não se gosta ou se discorda. 

É trocar uns tantos no jogo para a Liga Europa e continuar a esperar que aconteça alguma coisa, e sempre acontece, e um conjunto de jogadores profissionais apresente condição física compatível com o salário. Há coisas que o tempo resolve e outras que nem o tempo resolve, sendo certo que o tempo joga contra nós como se fosse uma escolha do Conselho de Arbitragem.

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Peditório para a autoflagelação

Não ouvi a entrevista do Presidente do Sporting. Não costumo ouvir nem deste nem de outro qualquer. Não ajudam a compreender nada. O Sporting estava em primeiro lugar. Recebe o Rio Ave em casa e perde por três a dois com três “penalties” contra. Não há memória de tal acontecer, sendo o segundo “penalty” de gargalhada perante qualquer critério e ainda mais pelo critério do árbitro durante o jogo. A cinco minutos do fim, esse “penalty” desequilibra emocionalmente a equipa e determina o terceiro e a derrota. Não acredito que o VAR tenha validado a decisão do árbitro e, portanto, sem validação o árbitro confirmou a decisão inicial sem recurso às imagens de televisão. Em vez de continuar em primeiro, o Sporting entra em crise e despede-se o treinador. 

O Sporting preparou mal a época, é um facto. 

E o Porto? Tentaram e falharam a contratação de pelo menos dois guarda-redes. Veio o guarda-redes e mais dois em cima do início das competições. São eliminados na Liga dos Campeões por uma equipa de pernetas. Entretanto, contra o Guimarães, aos quarenta segundos, passam a jogar contra dez, depois de uma expulsão ridícula, seguida de outra, mais tarde, por o jogador discutir mais uma decisão errada do árbitro. Em Portimão, ganham por um contra uma filial depois de um “penalty” mal marcado a seu favor. 

E o Benfica? Tentaram contratar um guarda-redes aleijado. Contrataram dois avançados por cerca de quarenta milhões de euros que o Bruno Lage tem de meter  a jogar quer queira quer não queira. A equipa leva um banho em casa para a Liga dos Campões. Leva outro banho em casa contra o Porto. As vitórias são arrancadas a ferros, com a última fora contra o Moreirense precedida de falta do Rúben Dias.

Estou esclarecido há muitos anos. Não há batota nenhuma, não interpretem mal. O Porto saiu ilibado do Apito Dourado e o Benfica tem dirigentes que fazem tudo e de tudo para impressionar a direção, contra a sua vontade. O que é que o Presidente do Sporting pode dizer que não esteja à frente dos nossos olhos? Quantos presidentes, treinadores e jogadores precisamos mais para perceber o óbvio? Para o peditório da autoflagelação não dou, seja o presidente mais ou menos competente ou totalmente incompetente, como parece ser o caso.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

A Fórmula

Sou um leitor compulsivo de badanas de livros, porventura só ultrapassado pelo Professor Marcelo. Não havia mal nenhum nisso se não se desse o caso de ser também um comprador compulsivo de livros. Há dias, numa livraria, esbarrei na badana de “A Fórmula”, de Albert-László Barabási, físico, investigador de ciência de redes e professor na Northeastern University. 

Ontem, acabei de ler o livro. O livro procura explicar as razões para que certas pessoas sejam bem-sucedidas e outras não. O sucesso nem sempre está relacionado com cada um e o seu desempenho, mas com a forma como a coletividade o perceciona. Sempre que o desempenho não pode ser medido, o sucesso resulta das redes onde cada um se insere. Sendo o desempenho limitado por definição, o sucesso pode ser ilimitado. Para se ter uma carreira de sucesso é necessário sucesso prévio e aptidão. O sucesso de uma equipa exige diversidade e equilíbrio, mas um único membro obterá o reconhecimento do coletivo. Ser-se bem-sucedido não depende da idade: não se é mais criativo quando se é mais jovem, é-se mais produtivo e ao sê-lo é mais provável o reconhecimento dessa criatividade e do desempenho e sucesso subsequentes. 

Ontem, vi o jogo do Sporting contra o Rio Ave para a Taça de Liga. Não sei qual a relação de “A Fórmula” com o Sporting e, muito menos, com o resultado ou se tem sequer qualquer relação, mas não deixa de merecer reflexão. Espero que o Silas a esteja fazer, seja ela qual for.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

A saga de Frederico*


Tinha saído de um cruzamento com algum tráfego, após se ter perdido numa rotunda, vindo de uma cangosta em terra batida com a ajuda de um GPS. Saiu da viatura a arfar. Olhou em redor. Se olhássemos com atenção víamos mais duas ou três pessoas dentro da viatura. Parece que ninguém o terá acompanhado nessa saída. Estava escuro. Minutos depois voltou a entrar. Um pouco mais à frente encontrou um entroncamento com os semáforos desligados. Deitou à sorte e seguiu com determinação. A noite trazia-lhe agora algumas luzes que lhe deram algum alento. Mas a estrada era secundária e sem grandes referências. Deixou o GPS e urdiu um plano com a cumplicidade dos demais. Não andou muito até encontrar mais uma encruzilhada. Desta vez não hesitou e acelerou. Reconhecia aqueles lugares mas não lhes conseguia dar um nome. Ficou confuso. Já era dia alto quando, finalmente, encontrou o seu labirinto, ficava junto a um promontório que dava para um abismo. Pelo menos não era um beco sem saída.

(* 43º Presidente do Clã Sporting)

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

O que fazer?

Só se vê um jogo de cada vez. Um jogo é um jogo, não é uma época, não é a vida desportiva de um jogador ou de um treinador, não é um mandato de uma Direção. Se não se vir um jogo como um jogo que é e nada mais, está-se condenado a jogar em cada jogo a própria vida. Vamos a uma coisa de cada vez. 

O dado mais evidente desde o início da época é a falta de andamento dos jogadores para jogar noventa minutos contra o mais infeliz dos adversários. Não se sabe se foi pelo jogo a meio da semana contra o PSV Eindhoven, mas contra o Famalicão o estoiro ainda foi mais evidente. A pressão alta não durou uma parte sequer. Na segunda parte, os jogadores do Sporting nem capazes foram de chegar à área do adversário e quando procuraram avançar e perderam a bola os jogadores do Famalicão dispunham de um autêntico deserto para atravessar até chegarem ao golo. Os dois golos que sofremos foram repetidos. 

É culpa do treinador? É e não é. É porque é sempre. Não é, porque existe uma pré-época para se prepararem física e competitivamente os jogadores para toda a época. Não estamos felizmente no tempo em que o Agatão fingia que era preparador físico. Hoje, os jogadores são monitorizados em tempo real e a sua condição física também. Existem departamentos profissionais com técnicos especializados para efetuarem esse acompanhamento e, em conjunto com o treinador e a sua equipa, desenvolverem adequadas metodologias de treino. Como é possível ter-se chegado a esta fase da época com jogadores profissionais a parecerem amadores que treinam no fim do trabalho e fazem umas peladinhas ao fim-de-semana? 

A equipa expunha-se como nenhuma outra a sofrer golos. O treinador mudou o 4x3x3 para o 4x4x2 por força da lesão do Luiz Phellype e da ausência de alternativas, entrando o Miguel Luís. Esta mudança também visava dar mais segurança ao meio-campo, colocando os jogadores mais próximo e expondo-se menos quando passavam a bola ou a perdiam. Mas o Doumbia perde-se e, por isso, entrou o Battaglia no último jogo. Nos dois últimos jogos, a equipa pareceu entrar mais consistente, com mais posse de bola. Pouco a pouco vai-se perdendo a disciplina tática e a bola e a equipa vai ficando exposta. 

É culpa do treinador? É e não é. As alterações faziam sentido. Só que foi como se taticamente a época tivesse começado há três jogos. Um equipa rotinada a jogar em 4x3x3 passa a 4x4x2 com o meio-campo em losango em menos de um fósforo. O Doumbia se andava perdido a seis ainda mais se perdeu neste jogo contra o Famalicão. Sem o extremo do 4x4x3 que acompanhasse o lateral, esperava-se que fechasse o lado de dentro do defesa direito, coisa que não aconteceu. Apesar de tudo, no outro lado, o Miguel Luís cumpriu melhor essa função. O Rosier esteve sempre entregue a si próprio e à bicharada. A tática estava colada a cuspe. 

O que impressiona nesta equipa não é a falta de qualidade dos jogadores. Uma defesa com o Rosier, o Coates, o Mathieu e o Acuña é má? Como é que uma defesa destas sofre tantos golos? Porque a equipa como um todo defende mal. Defende mal porque está mal preparada física e taticamente, porque lhe falta agressividade na disputa da bola, porque a pressão alta é um faz de conta e muito rapidamente é ultrapassada. 

Como é que se chegou até aqui? Como é que ninguém percebeu que não se sabia o que se andava a fazer na pré-época? Como é que se prepara tão mal uma equipa? Há respostas fáceis, mas parcelares e não alinho nelas. Explicam alguma coisa mas não explicam tudo. Nem tudo se deve à substituição do Vietto ou às vendas e aquisições de última hora. A organização falhou de cima a baixo. O que há a fazer? Contratar o melhor treinador possível, em quem os jogadores possam acreditar, começar a época a partir desse momento e fazer figas, muitas figas.

sábado, 21 de setembro de 2019

Soltas da semana

[Sensibilidade de uma porta] 
Ficámos a saber que o Bruno Fernandes procurou explicar a uma porta do balneário do Estádio do Bessa o arraial de pancada que tinha levado dos jogadores do Boavista. A porta não aguentou o drama e cedeu. 

[Nascimento de um mito] 
Perdemos fora três a dois contra o PSV Eindhoven. A eliminatória está bem encaminhada, bastando um a zero em casa. Entretanto, nasceu um mito. O Bas Dost precisava em média de noventa minutos para marcar um golo. Em média, o Pedro Mendes só precisa de dez. 

[Tão grande para um país tão pequeno] 
Domingos Soares de Oliveira, Vice-presidente da Benfica SAD, concluiu que o Benfica é demasiado grande para um país tão pequeno, necessitando de se internacionalizar. É uma pena os tribunais portugueses não deixarem, obrigando a continuar a jogar o campeonato nacional. Num país da dimensão do Benfica, o João Félix teria sido vendido pelo dobro ou o triplo do valor. Num país como Portugal, não se arranja um adversário à altura nem se organiza um casamento barato em condições. 

[Banho tático] 
Acabado o jogo contra o Portimonense, o Sérgio Conceição, vociferando, encheu o Nakajima de perdigotos. O jogador manteve-se impassível, compreendendo o que lhe era dito ao mesmo tempo que agradecia terem-no deixado aquecer para tomar banho.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Ontem foi dia de Liga Europa

Farmácia, dealer, tentei a moderna drugstore, fui ao arquivo e vi vários episódios de Monty Python's Flying Circus, League of Gentlemen, e por aí fora, nenhuma dose de humor por maior que fosse conseguia apaziguar a minha alma, o meu espírito, já para não falar de um cérebro ressacado de tanto aumentar as doses. Ontem foi dia de liga Europa e obviamente perdemos. Sofremos três golos. Sofremos sempre golos. A defesa, bom não quero pensar nisso, são jovens e inexperientes aqueles centrais (risos), e o quarteto nunca tinha tocado junto, bem sei. Mas é a equipa toda que quando defende se desorganiza de uma maneira que qualquer adversário, qualquer um, marca um golo ou dois. A desorganização da equipa a atacar permite ao menos desestabilizar o adversário, e aquele adversário é frágil como se viu, a defender. E não só.

Mas enquanto se cumpria a minha demanda da dose de humor, pensava na loucura deste inicio de época supostamente planeado ao pormenor. Jogadores a saírem no último dia de mercado. A inexistência  de um ponta de lança na ausência de Luiz Phellype. A não inscrição de Pedro Mendes na liga, o que nesta conjuntura é uma mensagem esclarecedora para os outros jovens. Tudo isto cheira a amadorismo e a remates de meia distância de Bruno Fernandes.E  o homem começa a perder a paciência. E é pena, esta equipa tem pernas para andar, mas quando deixar as muletas já estaremos a planear com afinco a próxima época. É uma estratégia que dá sempre frutos.

Agora vou ali aplicar uma boa dose:

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Hoje é dia de Liga Europa

Mas não parece. Não é preciso ser um expert em propaganda e marketing futeboleiro, nem sequer em (des)informação, para perceber que alguns jornais continuam o seu trabalho de cepa em prol de um jornalismo colorido e sensacionalista, mas com uma agenda bem definida. O jornal A Bola, cada vez mais um verdadeiro sucedâneo de O Benfica, faz hoje manchete (gigante) com o guru Domingos Soares Oliveira e as contas positivas do Benfica. Até se fala de aumentar a capacidade do estádio da Luz. Isto no rescaldo da derrota (qual derrota?) para a champions e em dia de liga Europa. O Record também tem uma capa criativa, dando destaque ao Sporting para poder destacar (desculpem a redundância) um (suposto) pontapé de Bruno Fernandes a uma porta (este pormenor é importante) no final do jogo do Bessa. Não consta que este tenha voltado a ser expulso. Curiosamente, o mesmo pontapé surge na capa dos pontapés diários: o Correio da Manhã. Nada de novo, portanto. Nada a não ser o dia escolhido: dia de liga Europa. O pontapé não terá sido fotografado ontem, nem anteontem, nem no dia anterior a esses. Foi no domingo. Não foi? 

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

É de cortar as veias!

Vi o jogo do Benfica contra o Leipzig. Pagar 20 milhões de euros por um nabo espanhol delambido, que nem sequer anda rodeado de raparigas simpáticas, tatuadas e decoradas com “piercings” nem canta “reggaeton”, é de cortar as veias para um qualquer benfiquista. O Varandas não acerta no futebol, mas não erra em tudo. Depois de um curso rápido de cativações com Mário Centeno, ainda fica uma ou outra rotunda ou um ou outro pavilhão multiusos, mas, pelo menos, procura não nos deixar o Aeroporto de Beja ou o Centro Cultural de Belém.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

A mão invisível

“Se me perguntarem se prefiro o Sporting 18 anos sem ganhar um campeonato ou um Sporting a ganhar com um bom investidor, confesso que prefiro a última” 
Henrique Monteiro, “A Bola” de 12 de setembro de 2019 

Ontem, quando estava a ver o jogo contra o Boavista, veio-me à cabeça esta tirada do Henrique Monteiro. Talvez precisemos mesmo de um investidor, mas não de um investidor qualquer, de um investidor que queira simplesmente investir por falta de melhor altrnativa. Precisamos de um investidor que queira mesmo o seu dinheiro de volta acrescido de adequada remuneração e esteja disposto a tudo para que assim seja. 

O Henrique Monteiro acredita na metáfora da mão invisível do Adam Smith. Não precisamos da benevolência de um investidor, mas do seu interesse próprio. Não apelamos ao seu humanitarismo mas à sua autoestima. Se assim for, em seu benefício, conduzir-nos-á a todos (os sportinguistas) à felicidade eterna como se houvesse uma mão invisível. 

Quando o Bruno de Carvalho se candidatou à presidência do Sporting pela primeira vez, anunciou que trazia com ele investidores russos. Nada melhor do que investidores russos para defenderem o seu interesse próprio. Têm-no feito com todas as mãos disponíveis, invisíveis porque ou alguém fica sem elas ou nunca se chega a saber de quem são. 

Imagino uma mão invisível do Samuel L. Jackson a recitar Ezequiel 25:17 na sua versão muito própria: “The path of the righteous man is beset on all sides by the inequities of the selfish and the tyranny of evil men. Blessed is he who, in the name of charity and good will, shepherds the weak through the valley of darkness, for he is truly his brother's keeper and the finder of lost children. And I will strike down upon thee with great vengeance and furious anger those who attempt to poison and destroy my brothers. And you will know my name is the Lord when I lay my vengeance upon thee”.

sábado, 14 de setembro de 2019

Ilicitude lícita ou ilícita licitude?

O caso do Benfica é emblemático. A SAD não irá a julgamento no caso E-toupeira e não é por não existirem provas para o crime, um crime aliás gravíssimo. Existem, diz o tribunal, e "o crime é cometido em nome da Benfica SAD e no interesse da Benfica SAD": Só que "a Benfica SAD não pode ser responsabilizada criminalmente se não se determinar que estava a par, quis e pretendeu, por acção ou omissão, as condutas de Paulo Gonçalves". Portanto, há crime, beneficiou o Benfica, foi feito em nome do benfica, mas Paulo Gonçalves agiu como um lobo solitário porque, conclui o tribunal,o Ministério Público não apresenta provas sustentadas sobre o envolvimento da SAD, baseando-se "em 'parece que', 'suponhamos', ou é 'da experiência comum', pois tal não leva a nenhuma verdade processualmente satisfatória". Maior sova no ministério público não poderia o juiz dar. 
Pedro Santos Guerreiro (Expresso)


Não existe uma moral desta história.  Existe crime mas foi mal provado ou mal sustentado. Logo não existe crime. Quer dizer, existe mas apenas para alguns dos intervenientes. Os outros não sabiam de nada. Quer dizer, até podiam saber, mas não se fica bem a saber se sabiam. A partir de agora já sabemos. Basta um ou dois bodes expiatórios que o ministério público (supostamente) faz o resto.  Talvez seja a tal história da ilicitude lícita ou da ilícita licitude. Temos muito que aprender. 

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Silogismos

[Silogismo aristotélico] 
 Os gatos têm quatro patas? Têm. O Marcolino é um gato? É. O Marcolino tem quatro patas? Tem.

[Silogismo pós-aristotélico] 
O homem era dirigente da organização? Era. O homem respondia hierarquicamente à direção da organização? Respondia. Há indícios da prática de crimes? Há. Nesses eventuais crimes recorreu a recursos da organização? Recorreu. Esses eventuais crimes beneficiavam a organização? Beneficiavam. A organização é responsável? Não.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Atentamente

Não me admira que o senhor do Porto não esteja admirado. Não admira, o apito dourado teve o seu tempo de admiração. Aliás, não me admira que o e-toupeira não admire ninguém. Tudo somado vai dar à rua do costume que ninguém conhece. Não admira. O que me admira, a mim, é o Sporting ser tão solicito a admirar-se com os seus. Sejam estes quais forem. Temos uma história da admiração para escrever, em vários volumes. Em casa tudo bem. O resto fica alinhavado num comunicado. Temos por aqui várias ideias para comunicar que antecedam esse comunicado. Nas entrevistas recentes do (nosso) presidente, ou nos seus arredores, nada nos indica um caminho nesse sentido. Não estou admirado. Tudo o resto é uma soma de não admirações. Não se admirem com o resultado. Será sempre o mesmo. Obrigado. 

domingo, 8 de setembro de 2019

Uma varanda para a outra margem?


Sou do tempo em que as marquises começaram a confundir-se com as varandas e a fazerem parte das nossas vidas. Uma varanda com marquise era mais uma assoalhada a não desdenhar, um aproveitamento do espaço que se fazia à revelia de qualquer sentido estético e sem qualquer (até dada altura) fiscalização das autoridades competentes. Mas uma varanda com marquise não deixava de ser uma varanda, só que com marquise.

Sou um tipo com memória, daqueles chatos que ainda vai lendo umas coisas, daqueles que passou anos a coleccionar revistas, suplementos, a recortar crónicas e a guardá-las como trevos em livros. Nesse sentido, a internet até passou a facilitar-nos a vida, no entanto, com as redes sociais tudo arde mais depressa, inclusive a memória. Mas isso não implica que as coisas (e as palavras) deixem de existir, sucede apenas que ficam por aí, algures.

A entrevista do presidente do Sporting ao canal do clube (passei algum tempo a revê-la e a lê-la), é um desses momentos encenados (todas as entrevistas o são de alguma forma) cuja impreparação de todos os intervenientes roça o amadorismo. Para além de tudo ou quase tudo ser refutável e comprovadamente (lá está a memória e o algures) desmontável, perdeu-se uma oportunidade de luxo para uma demarcação clara do clube no contexto do futebol português. A visão do inimigo interno (qual é a novidade?) foi condescendentemente aplaudida pelo sr. Rui Pedro Brás, perdão, pelo sr. Luís Filipe Vieira. As palmadinhas nas costas de Pinto da Costa já são um clássico.

Dizer o contrário daquilo que dissemos ontem, ou anteontem, não é sinónimo de tontaria, já sabemos o blá blá do futebol, mas dizê-lo confiando que ninguém se recorda daquilo que foi dito, ou agindo como se nada tivesse sido dito, ou pior, fazendo-o como se estivesse a palitar os cérebros dos outros com uma linha condutora perfeitamente definida, não é apenas tontice, mas de uma inabilidade que roça a inaptidão.

Não me ia sequer debruçar sobre essa varanda, mas o Expresso de ontem, lá para a página 35 faz bem essa desmontagem e em poucas linhas. Qualquer subcontratado das pesquisas avulso faria o mesmo. Por exemplo, a contradição sobre a contratação de keizer, alicerçada nos famosos 4 parâmetros definidos pela direcção, supostamente obedecendo a uma busca exaustiva, afinal, foi assim: Keiser aceitou entrar em Alvalade quando nenhum outro treinador queria. Parece que não foi despedido no final da época por que ninguém despede um treinador que ganha duas taças. Para não ser aborrecido podem ler o texto aqui.

Mas o mais importante das entrevistas não foi o que foi dito mas aquilo que (também) foi omisso ou esquecido. Que o futebol cá do burgo tem uma direção bicéfala, não havendo lugar para mais ninguém (muito menos para o Sporting como se tem visto). Nenhuma palavra para o jogo com o Rio-Ave, o último de Keizer, onde a equipa esteve mal, é certo, mas foi muito bem secundada pelo árbitro. Ou alguém acredita que aquilo fosse possível na Luz ou no Dragão? Nada, nem uma palavra.

O facto de termos construído uma marquise a engalanar a varanda não esconde essa mesma varanda. Se calhar, é a mesma varanda de sempre. Até nisso é chato um tipo ter alguma memória.