sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Arte e contexto

O jogo de ontem, contra o Paços de Ferreira, teve alterações táticas que deviam constar de qualquer manual de treinador de nível IV. A entrada do Borja, um esquerdino que faz parte de uma longa lista onde constam nomes célebres como o de Grimi, Marian Had, Ronny, Joãozinho, Balajic, Dimas, Zeegelaar ou Jéfferson, para atacar o nosso lado esquerdo da defesa. A entrada de Ilori que nos deixa a pensar: por que razão, estando a jogar com três avançados, o adversário resolve meter mais um? Um pouco mais tarde, compreendemos as mudanças táticas operadas na equipa do Sporting depois destas entradas, sem que o Silas tivesse necessidade de transmitir à equipa o que quer que fosse. É o trabalho invisível a fazer o seu caminho. Não sendo de esperar grande coisa do Ilori, os centrais deixaram-no solto, sem marcação, para que o Mathieu podesse marcar o Borja e, assim, evitar males maiores. 

Nevoeiro, chuva, filmagem em “zoom out” e uns mecos cor-de-rosa fluorescente a deslocarem-se, entrecortados por uma mancha azul petróleo que tudo parava para mostrar uma cartolina amarela fluorescente também, fazendo lembrar uma versão aprimorada do Branca de Neve de João César Monteiro. O que se passa no ecrã não é literal, é metafórico. Cada espetador interpreta da forma que quiser o que (não) vê. Não existe arte sem contexto, sem narrativa. O jogo de ontem prestava-se a todas, até à narrativa da sua ausência ou da sua antítese, apelando ao não-jogo, seja isso o que for na subjetividade de cada um. 

Esta semana fui ao lançamento do livro “Rendimento Básico Incondicional. Uma Defesa da Liberdade” de uns professores da Universidade do Minho. A filosofia e a arte deixam-nos a pensar, interpelam-nos. Embrulhado em ontologia, quando deixei de ver a televisão, interrogava-me: será que ganharíamos um jogo de futebol contra o Paços de Ferreira? O futebol português tem esta qualidade, a de nos deixar com mais perguntas do que respostas e com vontade de vermos mais e mais para nos inquietarmos. Espero com ansiedade o próximo jogo para que nele encontre respostas, embora não seja certo que as obtenha e não venha a ser confrontado com questões ainda mais complexas sobre a existência.

10 comentários:

  1. Esqueceu(propositado?) o grupo anti-Varandas, também fazem parte da coreografia. Quando o jogo não atrai, lá estão eles a fazer o papel daquelas meninas nos interválos dos jogos. Espetaculo gratis, ou estará incluído no preço dos bilhetes.
    SL

    João Balaia

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    1. Mas ali como não há gravações, não existe assobios...

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    2. Caro João Balaia,

      O espectáculo de tão repetido e previsível deixou de ter graça. Quer-se contestar a Presidência do Sporting, conteste-se. Convém é não baralhar a contestação com o jogo jogado. É que também se pode contestar o jogo jogado sem se contestar a Presidência.

      SL

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  2. É confrangedor ...tanta mediocridade !
    PS. Diz o Silas que estamos a jogar para o resultado...só se continuarem haver penaltis estúpidos, a favor do Sporting SL

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    1. Meu caro,

      O que se passou ontem não foi um jogo de futebol. Para mim, não foi. Pode ter sido outra coisa qualquer, mas não futebol. As equipas são más mas com aquele árbitro tudo se torna pior ainda. Como é que se admite que ainda ande de apito na boca?

      SL

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    2. Concordo mas custa-me ver o Sporting assim... tem que ser capaz de ganhar aos adversários e aos árbitros

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    3. Meu caro,

      O problema é que nenhuma equipa do mundo ganha um campeonato, ganhando jogo após jogo contra os árbitros. Ontem, o árbitro simplesmente não deixou jogar. Não se jogando é mais difícil ganhar. A influência está muito mais nas pequenas interferências em todos os jogos, basta ver as faltas e os amarelos.

      SL

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  3. A mediocridade de alguns, aliás da maioria, jogadores do Sporting apenas é superada pela mediocridade da arbitragem. Então o golo do Paços não é com o braço? Mas que Vargonha! A equipa joga muito pouco mas mesmo assim a arbitragem continua a perseguir o Sporting; é qualquer coisa de pavloviano pois só se pode entender como reflexo condicionado. Quanto a defesas esquerdos estamos conversados, o termo medíocre é bom demais para todos os referidos no post. Talvez o JJ nos envie o defesa direito do Mengão para jogar na nossa lateral esquerda pois esse exemplar é também muito bom, como se viu ontem.

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    1. Meu caro,

      A dualidade de critérios nas faltas e amarelos é de ir às lágrimas. Para além disso, o árbitro não deixou que se jogasse. Não se jogando, a equipa teoricamente mais fraca tem mais probabilidades de não perder.

      O que me mete confusão é termos abdicado do Fábio Coentrão para andarmos a contratar pernetas. O Coentrão mesmo sem se mexer é melhor do que o Borja.

      SL

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    2. Até de canadianas. Intrigante, Carlos Queirós convoca-o sempre. Aliás Queiroz tem um problema com os laterais esquerdos desde o célebre (3x6). Paulo Torres que o diga:

      João Balaia

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