terça-feira, 15 de abril de 2025

(des)comunicado

Algumas pessoas descobriram recentemente, não sem espanto, que o título de campeão nacional ainda não estava (nem tinha sido ainda) entregue. Percebe-se a perplexidade: segunda-feira, dia 7 de Abril, por volta as 22h35, mais coisa menos coisa, após o jogo entre Sporting e Braga, terminado empatado, e com os jogadores (pelo menos os do Sporting) e os adeptos sonolentos, tinha sido decretada, não se sabe bem por quem, a decisão do campeonato. O Benfica tinha goleado no dragão e o Sporting marcava passo, ficando a uns intransponíveis dois pontos da onda vermelha, facto corroborado por vários comentadores a serviço (já para não falar do jogo seguinte nos Açores contra a equipa sensação e filial da onda).

Sucede que o Sporting ganhou o jogo contra o Santa Clara, ultrapassando à cabeça uns intransponíveis dois pontos de vantagem. Essa vitória foi alcançada com a sabedoria tática de Rui Borges: não marcar muito cedo para eles não pensarem que somos superiores, nem tentar acabar com o jogo depois de marcar, fazendo de Vitória, ou mesmo de Moreirense, para os convencer que não conseguíamos fazer mais. É brilhante: a tática convence mesmo os jogadores do Sporting, como se pode apurar mesmo não assistindo aos jogos.

No dia seguinte, com as faixas a fazerem de águia vitória, o Benfica entrou em campo para fazer valer a sua superioridade e os tais pontos verdadeiramente intransponíveis, coisa que fez brilhantemente, não fosse do outro lado o adversário armar ao pingarelho e empatar o jogo perto do fim. Não se pode atingir o cume da iminência sem que não haja alguém a estorvar o processo: a equipa adversária, que teima em jogar futebol, e o árbitro que não se deixa pastorear com o resto do rebanho, não arbitrando de acordo com os trâmites legais, nem respeitando as transmissões televisivas da BTV e respectiva orgânica festiva. Alguns comentadores pasmaram perante o inexplicável. Mas não foram os únicos.

Existe, toda a gente sabe, uma indústria de faixas de campeão antecipado. É uma indústria quase tão importante como a indústria dos comunicados à pressão, esta última muito desenvolvida cá no burgo, como ficou demonstrado através da rapidez supersónica com que o comunicado do Benfica saiu cá para fora após o jogo (note-se que era dia festivo), ainda o Rui Costa não tinha chegado ao túnel para conversar amigavelmente com o arbitro (não tinha sido entregue o voucher?) e com os jogadores. Talvez o comunicado tenha saído com a sua assinatura mas sem o seu conhecimento, como usual por aquelas bandas.

Tratava-se de um comunicado que comunicava a impossibilidade do resultado final, onde a vitória do Benfica era descomunicada com um empate, consequência de uma arbitragem não conforme com o roteiro e o cartaz da festa. Tudo isto fica devidamente demonstrado através de uma imagem na CNN em que no rodapé se podia ler: Benfica ganha 2-2.

Nota: ontem à noite, enquanto procurava o Seinfeld para mais uma revisão, dei de caras com uma notícia no canal dissidente (só pode) A Bola, onde se afirmava que os Leões foram prejudicados em 14 lances e Águias em 7 ao longo do campeonato. Vale o que vale, mas ainda estou à espera do comunicado.

6 comentários:

  1. Gabriel,
    Uma delícia. Está aqui tudo. Quem quiser saber o que aconteceu na futebolândia nacional na última semana, não precisa de ir a outro lado.
    Abraço,
    RM

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    1. Obrigado Rui,
      por vezes é necessário descomunicar.
      Um abraço

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  2. Como dizia um amigo meu: "se não tivessem que jogar, eram sempre os maiores. O problema é que têm que jogar"

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    1. Meu caro,

      O problema é quando os outros também jogam. Não faz parte do programa.

      SL

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