Recentemente, o presidente do
Sporting, em mais uma entrevista na figura de paladino (só faltaram os cocos a
fazer as vezes do trote dos cavalos fantasma, como no filme dos Monty Python e
o Cálice Sagrado), conseguiu não acrescentar nada de realmente novo, nem
explicar nada de realmente velho, como o facto de fazer de morto tão bem. Sem
acrescentar nada de novo? Não foi bem assim:
O presidente assumiu que o
plantel era – pelos vistos ainda deve ser- ajustado a um sistema que hoje não
se aplica (já agora, não se aplica porque está fora de moda, ou não se aplica porque
os treinadores preferem outro sistema?), mas que isso não terá passado por ele
(a palavra usada foi: nós). Isto é,
não terá passado pela direção, foi que o presidente disse, tentando sacudir o
resto da água do capote, admitindo, embora sem o desejar, que era Rúben Amorim
(e o seu braço direito) que decidiam o plantel, o sistema, o modelo, o diabo a
quatro, incluindo não se vender jogadores e apostar tudo no (bi)campeonato,
coisa que, aliás, foi reafirmada, publicamente, em segundas núpcias, após a tal
viagem a Londres para conhecer o seu famoso
smog, com a cabeça na neblina de Liverpool, e ter voltado para ganhar o
título.
Tratar-se-á do mesmo sistema
(será modelo? - nunca sei estas coisas) ultrapassado que o presidente anunciou
com pompa na apresentação da continuidade, quero dizer, na apresentação da next big thing João Pereira? Uma next big thing que vinha sendo preparada
para saltar de paraquedas e a seu tempo exportada, obviamente.
Tínhamos, portanto, um manager (vamos dar nome ao fantasma) que
decidia o sistema, o plantel, as cedências, as viagens turísticas, o menu do
almoço e os posters que os diretores do clube deviam emoldurar nas suas
paredes; presumindo-se, igualmente e, sem grande margem de erro, que também
decidiu os moldes do seu contrato. Não apenas a sua duração e respectivos
valores, mas, sobretudo, as cláusulas que dele constavam. Sabemo-lo: nele se
encontravam definidos valores para clubes portugueses e estrangeiros e, dentro
destes, parece que alguns clubes teriam direito a saldos. Ninguém se lembrou
(ou o manager não aceitou) de acrescentar que estas cláusulas apenas teriam
valor no final de cada época desportiva? Ou, sei lá, apenas teriam validade se
o pagamento da cláusula fosse paga por um representante que apenas se
deslocasse ao pé-coxinho? Qualquer coisa que impedisse uma saída a meio da
época com o clube em primeiro lugar, fenómeno nunca antes visto, ou sequer sonhado
pela ficção intrépida de um qualquer Kafka da bola.
Foi possível porque a direcção
depositou todas as fichas na estrutura
(exportado e respectivo braço direito igualmente exportado), aparecendo nas festas
e fazendo-se de morta quando a coisa corre mal. A estrutura será sempre um bom bode expiatório.
Calhando, as lesões (traumáticas
ou musculares) até servem para alimentar o bode. Calhando, as arbitragens são
uma esfarrapada desculpa, bem a jeito. Se recomeçar a correr bem, vislumbra-se
uma boa entrevista anunciando que tudo estava devidamente assinalado no radar.
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