Os jogos do campeonato cumprem diversas funções, nem sempre as mesmas. Assegurar que se cumpre o calendário é a função, o objetivo de que nenhum jogo se encontra dispensado. Aliás, há jogos que servem única e exclusivamente para cumprir calendário, como o deste sábado [do Sporting] contra o Estoril. O resultado deste jogo, qualquer que ele fosse, não alteraria [no essencial] a classificação e os objetivos estabelecidos para esta época nem de uma nem de outra equipa: o Sporting era e é campeão; o Estoril não descia e não desce de divisão. Nada mudou, nada mudaria.
Jogos como este obrigam a preparação especial dos espetadores. Atendendo à recente conquista do campeonato e às festividades que se seguiram, isto é, em contexto de anticlímax, exigia-se preparação especial dos adeptos do Sporting. Ou o jogo era um prolongamento da festa e constituía um pretexto para essa festa ou, então, era preciso tomar uns estimulantes [um simples café, que fosse] para permanecer acordado. Estando em Braga e não participando na festa, restava-me a segunda possibilidade; e não, não estava preparado para a sonolência da primeira parte.
O Rúben Amorim quis proteger [e bem] o Diogo Pinto, o guarda-redes substituto, do substituto, do substituto, e manteve uma defesa mais baixa com laterais menos subidos e com menos propensão para subir [Esgaio e Matheus Reis]. O Estoril tinha dois objetivos [complementares] que se mantiveram durante o jogo: estorvar o Sporting e bater no Gyökeres. Com uma equipa que não queria arriscar no ataque [e que parecia um pouco pesada, lenta, depois das festividades] e outra que mais não pretendia do que chatear [até mais não], o jogo gerava a emoção de um filme do Alain Resnais ou do Manuel de Oliveira.
A primeira parte foi isto o tempo todo, a segunda foi isto uma parte do tempo, até o Rúben Amorim meter o Nuno Santos e o Paulinho, substituindo o Matheus Reis e o Pedro Gonçalves. A partir destas substituições, passou a haver futebol, apesar do Gyökeres continuar a ser atropelado, sem remissão, sem condescendência. A inquietação, o bulício do Nuno Santos, acompanhado da vontade insaciável do Paulinho de marcar mais um golo que seja, começaram a desmantelar o lado direito da defesa até à desistência e à vitória final. Faltando objetivos, inventam-se outros para justificar que não se tratava de um jogo para cumprir calendário. Fizemos mais pontos e ganhámos mais jogos esta época do que em qualquer outra e ainda falta um [último] jogo. Estava encontrada a razão para se voltar ao Marquês e em força!