[Descobrimentos]
Não sei se se pode dizer que o Rúben Amorim descobriu [novos] jogadores, como o Catamo ou o Bragança. Talvez a expressão mais correta seja inventá-los. É descobri-los enquanto jogadores, naquelas que são as suas qualidades técnicas e táticas, e colocá-los a jogar nas posições e nas circunstâncias mais surpreendentes. A vitória no campeonato muito se deveu a estas invenções e aos seus efeitos no alargamento da base competitiva do plantel.
[Todos contam]
As idas do Catamo e do Diomandé para o Campeonato Africano das Nações e do Morita para Taça Asiática pareciam dificuldades inultrapassáveis [tanto mais que St. Juste se lesionou pela quinquagésima sétima vez, embora ainda tenha recuperado a tempo de dar uma ou outra ajuda, sobretudo nos jogos contra o Benfica]. O Pedro Gonçalves recuou para o meio-campo, o Quaresma ressuscitou e o Trincão transformou-se num monstro. O momento [aparentemente] mais difícil transformou-se no mais produtivo.
[Cautelas e caldos de galinha]
O Sporting necessitou de quase uma dezena de defesas centrais. Este número deve-se à tática, seguramente, que implica sempre o envolvimento de três centrais e a necessidade de os ir substituindo para manter ou alterar a dinâmica da equipa [são eles que determinam o ritmo de jogo, são eles que, subindo ou descendo, colocam a equipa a jogar mais ou menos pressionante, são eles que iniciam as jogadas e é através deles que o jogo chega à frente]. Mas dispor de várias alternativas foi absolutamente decisivo para evitar vermelhos e jogos em inferioridade numérica. Uma grande parte destas substituições entre centrais durante os jogos serviram para evitar [esses] males maiores.
[Fazer o gosto ao pé]
Já tudo se disse sobre a influência do Gyökeres na vitória deste campeonato, pelos golos que marcou, pelas assistências que fez, pelos permanentes sobressaltos das defesas contrárias. Mas a onda de ataque, a onda de golos, arrastou a equipa e todos marcaram mais golos do que se esperava. É difícil marcar o Gyökeres, mas ainda é mais difícil marcá-lo a ele, ao Pedro Gonçalves, ao Trincão e ao Paulinho ao mesmo tempo. No final dos jogos, havia defesas que já só pediam descanso e que os deixassem em paz e sossego.
[Destruir a identidade]
Na época 1999-2000 ganhámos o campeonato, com o Augusto Inácio, e na época 2001-02 voltamos a fazer o mesmo, com o László Bölöni. Não descansámos enquanto não contratámos o Peseiro para que tudo voltasse a ser como era. Com o Rúben Amorim ganhámos o campeonato nas épocas 2020-21 e 2023-24. Não satisfeito, promete ganhar mais uma e outra vez. Um dia destes somos um clube como os outros, um clube que quer ganhar campeonatos como se não houvesse amanhã, tão-só. A identidade [perdedora] laboriosamente construída ao longo de décadas e décadas está em risco. Dentro de um ano ou dois o Peseiro está disponível? E o Silas?
Em relação ao Gyokeres quer-me parecer que os defesas acabam os jogos de rastos mas é de tanta sarrafada lhe aplicarem. Aquilo acaba a ter custos! Até os próprios árbitros não têm outro remédio senão compadecer-se dos desgraçados mais o esforço adicional.
ResponderEliminarQuanto aos treinadores, ia o Rui tão bem mais as crónicas de bons augúrios e desata nessa loucura de perguntas disparatadas??? ponha-se fino, Rui, senão ainda desencanta para aí alguma maldita disponibilidade ...!!
Meu caro,
EliminarComeço a pensar que os defesas deviam dispor de subsídio de risco. Tanta pancada não faz bem à saúde de quem dá também. Os árbitros deviam proteger mais estes pobres indefesos da pancadaria que eles próprios promovem.
Há qualquer coisa que está a mudar no Sporting. Há uma mudança geracional. Para a minha geração, ganhar um campeonato era um feito heroico que não teria repetição tão cedo, admitindo que fosse repetível. Para esta nova geração de sportinguistas que o Rúben Amorim ajudou a dar centralidade, ganhar é normal e a cada vitória deve-se esperar outra a seguir. Não sei se o Peseiro ou o Silas ainda são capazes de recuperar a identidade perdida. Bem, talvez não valha sequer a pena tentar. Vamos-nos rejuvenescer também e esquecer a identidade perdida.
Abraço,
RM
Isso! Há, de facto, uma identidade para enterrar por aí algures. Eu também levei com os anos oitenta ... (e noventa, evidentemente...)
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