segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Mais, sempre mais

A continuar assim, não tarda a pedir uma licença sem vencimento para continuar a ver jogos atrás de jogos e a escrever crónicas atrás de crónicas ou a juntar-me aos polícias, militares, funcionários de repartição, médicos ou professores que lutam por melhores condições de trabalho. A FIFA e a Liga simplesmente não respeitam os tempos de descanso necessários para que os bloguistas ou blogueiros [ou “bloggers”, não sei bem] se possam recuperar para o jogo seguinte e a crónica seguinte. Não há novas formas de ver os jogos ou novas ideias jogo sim, jogo também, quando se está permanenentemente à beira do esgotamento, do colapso. Com dificuldades, com muitas dificuldades, confesso, vou tentar dizer qualquer coisa sobre o jogo [do Sporting] contra o Rio Ave sem chorar [e sem me rir também].  

Este [tipo de] jogo constitui um clássico época atrás de época. O Sporting e o Benfica estavam empatados. Na próxima jornada, o Benfica vai ao Dragão. Se o Sporting ganhasse hoje, a próxima jornada poderia ser [quase] definitiva para o encaminhamento do campeonato. Era preciso evitar males maiores [ou definitivos, melhor dizendo], salvaguardando os superiores interesses do futebol português e arredores. O jogo foi organizado para defesa desses superiores interesses e esses superiores interesses foram salvaguardados como se esperava e se planeara, mais "penalty", menos "penalty", mais cartão amarelo, menos cartão amarelo, mas sempre com muitas faltas e faltinhas. Um jogo difícil tornou-se, assim, impossível [e não, não vou falar do árbitro]. 

Na primeira parte, contra o vento, fizemos um jogo razoável. Foi possível fazer o jogo habitual, construindo a partir dos centrais e empurrando o Rio Ave para a defesa. Apesar disso, muitas transições ofensivas se permitiram e, logo na primeira, um chouriço transformou-se num golo [e não, não vou falar do árbitro]. O Sporting reagiu bem, empatou, passou para a frente e, bem, quando se ia para o intervalo, o árbitro marcou “penalty” a favor do Rio Ave [e não, não vou falar do árbitro]. O jogador queixou-se da cara, mas deve ter sido das nossas caras de parvos [e não da dele], quando vimos um defesa rachar a perna ao meio do Trincão sem que nada fosse assinalado [e não, não vou falar do árbitro].

Na segunda parte, demorámos quase meia-hora a perceber o que se estava a passar [e não, não vou falar do árbitro]. Com o Rio Ave a pressionar alto e o Sporting a insistir no mesmo modelo de jogo, nem a avó morria, nem a malta almoçava. Era preciso sentido de urgência e nada melhor do que ficar a perder [o Adán foi altruísta ao arranjar um “penalty” absolutamente estúpido só para acordar a equipa]. Em desespero, percebemos que a melhor forma de jogar era em desespero de causa. Com o vento a favor, era preciso jogar comprido e procurar ganhar na frente, a primeira ou a segunda bola [e não, não vou falar do árbitro], ultrapassando a pressão do Rio Ave. Com o Coates na frente, essa tática do tudo ao molho e fé em Deus tinha condições para resultar. Resultou uma vez e poderia ter resultado mais uma ou outra, mas não, não esperem que fale do árbitro, pois não vou falar do árbitro. Percebido?

Foram-se os anéis, mas sempre ficaram os dedos [até ver]. Com um jogo em atraso, continuamos a depender de nós [e do Porto também] para chegar ao fim do campeonato em primeiro. Quinta-feira há mais. Depois de quinta-feira, há mais ainda, no domingo. Depois de domingo, há ainda mais na quarta-feira seguinte. Há mais, sempre mais um jogo, mais uma crónica, até o médico deixar ou a família me internar.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Um clube de croquetes ou a arte de ganhar com educação, com respeito

Não é simples jogar contra equipas de países neutrais. Países desses, como a Suíça, não se metem em guerras, nem em escaramuças fronteiriças sequer. As respetivas equipas de futebol metem-se em disputas, mas não deixam de ser de um país neutral por essa [simples] razão, não deixam de ser o que é da sua natureza ser, se me faço entender. Parece existir uma contradição, um oxímoro, mas trata-se de conciliar opostos, tarefa que só está ao alcance de países mais desenvolvidas, países que praticam arco e flecha em maçãs colocadas no cocuruto da cabeça. 

No jogo em Berna, ainda não tínhamos concluído se o equipamento do Young Boys nos fazia ou não lembrar a Abelha Maia e já eles tinham tratado de um autogolo e de um “penalty”. A equipa do Sporting reagiu mal, muito mal e, sem qualquer consideração pela natureza do adversário e do respetivo país, tratou de somar dois golos a seu favor imediatamente. Ainda deixámos marcar um golo, mas vínhamos da fossanguice do nosso campeonato e não tardámos a marcar o três a um e acabar com o jogo e a eliminatória. Não, não foi bonito. Não, não temos razão para nos orgulhar. Esperava-se que, na segunda mão, nos soubéssemos comportar, que soubéssemos respeitar e dar-nos ao respeito.    

Ontem foi completamente diferente para melhor. Ainda começamos com a mesma fossanguice e marcámos um golo. Bem, depois fomos exemplares. Não marcámos mais nenhum golo, mas não foi isso ou só por isso: falhámos bem, consistentemente bem; o que não está ao alcance de qualquer equipa. O Edwards a meio metro da baliza enfia um biqueiro na bola com toda a força e ela praticamente não se mexe. O Daniel Bragança a meio metro da baliza também acerta com a bola nas pernas do guarda-redes. O Gyökeres, o infalível Gyökeres falha um “penalty” [até quem não estava a ver o jogo sabia para que lado ele o ia bater]. Por fim, a cereja no topo do bolo: o “penalty” que o Edwards tratou de arranjar num gesto de reciprocidade que lhe fica bem. Um empate, um empate nestes termos honra-nos, honra-nos muito. 

A equipa aprende, umas vezes mais depressa, outras mais devagar, mas aprende. Comporta-se como se deve comportar em circunstâncias como estas, quando joga contra equipas de países neutrais, de países mais desenvolvidos, não comendo de boca aberta nem enquanto fala e não lançando, assim, perdigotos em todas as direções e sentidos. Mas o próximo jogo é contra o Rio Ave. É preciso desaprender e reaprender o que estava apreendido. Não se espera da rapaziada das Caxinas estes salamaleques, este marque vossa excelência, marque vossa excelência primeiro, se faz favor. Ninguém nos vai pedir desculpas por nos marcar um golo. Ninguém nos vai oferecer nenhum golo para ser educado. A não ser que um desprendido benemérito na bancada tenha contratado esses salamaleques só porque sim, só porque é do Sporting e quer que o Sporting [sempre] vença.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

É dia de jogo ou de ir ao cinema, tanto faz!

Há Sun Tzu. Há von Clausewitz. Há estratégia, enfim. É absolutamente genial a ideia de criar um equipamento próprio para o jogo de ontem e, logo, de um equipamento igual ao da Académica [de Coimbra], do clube do nem sim, nem sopas, do assim-assim, do não me comprometas. Não, ninguém prejudica um velho clube de velhos aristocratas que não têm clube [ou têm, mas não querem dizer]. 

O árbitro só começou a vislumbrar este embuste quando o Gyökeres reclamou dos permanentes empurrões de um defesa do Moreirense. O árbitro olhou para ele e esse olhar encerrava o dilema espaço-tempo. Será que uma pessoa pode ser duas, pode estar em dois lugares ao mesmo tempo, pode voltar ao passado, matar o avô e regressar ao presente? Sim, o ligeiro franzir do sobrolho era o espelho do que lhe ia na alma: “Se marco falta, se assinalo “penalty”, estou a admitir que o Gyökeres joga na Académica. Terá deixado o Sporting? Joga no Sporting e na Académica? Será possível? Não, não marco nada, não vou passar por tolo. Finjo que nem o estou a ver”.    

A baralhação, o caos inicial também nos ofereceu o primeiro golo. Vendo a sua equipa de verde e branco vestida e o adversário de equipamento negro, o jogador do Moreirense não teve dúvidas de que lado se encontrava: foi à bola com a mão, com o tronco, com a canela e não descansou enquanto não meteu a bola na baliza. Era golo do Sporting e ele era o Gyökeres ou assim pensava [ser]. Os comentadores da SporTv viram-se e desejaram-se para decidir se era golo ou autogolo tal era a baralhação, o caos. 

O segundo foi um excelente golo da Académica, desculpem, do Sporting. O Trincão [sim, o Trincão, estão a ler bem], domina de peito, passa para o Catamo, desmarca-se nas costas, recebe mais à frente, passa para a entrada do Pote que passa para a baliza e faz golo, sem que a sua melena tremesse, se desmanchasse um poucochinho que fosse. Ou ele ou Edwards? Desde os tempos do Restaurador Olex que não se assistia a um duelo assim, entre um cabelo liso e uma carapinha. A carapinha já conheceu melhores dias, já esteve [mais] na moda. O cabelo liso com risco ao meio começa a ser o preferido dos betos [e dos verdadeiros croquetes, é preciso que se diga].

Com o resultado feito, os jogadores do Sporting dedicaram-se a um jogo popular. Os centrais vão passando a bola de pé para pé, devagar, devagarinho. Os jogadores adversários e, em particular, os seus avançados ficam [inicialmente] expetantes. Continuando este rola que enrola, os adversários acabam por se passar da cabeça e partir à desfilada para roubar a bola. Fartos de saber que isso vai acontecer, mais tarde ou mais cedo, os centrais atrasam a bola ao guarda-redes e voltam a fazer o mesmo um pouco mais atrás. Outras vezes, passam para a frente, abrem num flanco, variam para o outro, centram, criam uma hipotética oportunidade de golo, mas preferem recuperar a bola e atrasá-la para que tudo possa voltar ao início.

Uma vez tem piada. Duas também. A partir da terceira, tudo é preferível a continuar a ver aquele jogo da apanhada, da macaca ou da cabra-cega, pouco importa. Ao intervalo, desisti e fui ao Theatro Circo, ver “Pobres Criaturas”, de Yorgos Lanthimos. 


[Ao ver Willem Dafoe a representar o papel do Dr. Godwin Baxter, médico e investigador vítima das mais incríveis e sádicas experiências científicas do seu pai, que os desfiguraram, reconheço que se é um pouco excessivo nas considerações estéticas a propósito de um Paulinho ou de um Slimani. O personagem principal tem uma cabeça que não pertence ao corpo que a suporta (e vice-versa) e essa relação entre corpo e cabeça que não combinam, para além de enxaquecas, origina incompreensões emocionais com aqueles que combinam corpo e cabeça (e vice-versa, também). Talvez seja por essa razão que embirro com este ou aquele jogador, cujo nome omito, pois uma alegoria é uma alegoria, tão-só]

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Jogo a jogo, crónica a crónica, até a polícia deixar

Anteontem, voltei a assistir a [mais] uma transmissão do jogo do Sporting [contra o Young Boys] comentada em polaco. Ao princípio estranha-se, mas depois entranha-se, tal o esmiuçamento da análise. Quando o árbitro não mostrou amarelo a um jogador do Young Boys, preferindo conversar e avisá-lo, logo nos explicaram que amanhã acordaria com uma cabeça de cavalo na cama e o árbitro à cabeceira [da dita] a fazer festas a um gato siamês aninhado no seu colo. Como os comentadores falavam muito depressa, não fiquei com a certeza se não acordaria também com o fantasma do Frank Sinatra a cantar o “My Way”. 

Em polaco, ficou explicado, muito bem explicadinho que a [simples] razão para o árbitro mostrar tantos amarelos [e um vermelho] aos jogadores do Young Boys [e o Sporting dispor de tantos livres] era as faltas que faziam [como se não houvesse amanhã]. Sem o habitual recurso aos especialistas nacionais e às suas complexas expressões e conceitos, como “intensidade” ou “imprudência”, fiquei a saber que dois mais dois é igual a quatro [começo a desconfiar que não só é como sempre foi].

A equipa do Sporting jogou a pensar no jogo seguinte contra o Moreirense. Colocou pouca intensidade no seu jogo, os jogadores evitaram disputar bolas divididas, enquanto esperava que a defesa do Young Boys se distraísse e deixasse o Gyökeres solto em situações de um contra um; mas a defesa não estava para brincadeiras e, sempre que podia, acertava-lhe o passo sem dó nem piedade. Seja como for, o Gyökeres mantinha a defesa recuada e segurava a bola na frente para que a equipa pudesse subir e respirar um pouco melhor. 

Em breves momentos, em dois fogachos, o Sporting fez dois golos: um autogolo e um golo resultante de uma “penalty”. Estamos naquela fase em que um simples pontapé meio na bola meio no chão acaba em golo e na descoberta de uma jazida de petróleo. Acontecer Sporting começa a não significar o que sempre significou, não fosse o Esgaio fazer o favor de nos recordar que, encontrando-se de boa saúde, manterá bem viva a [boa] tradição de um Polga, de um Nuno André Coelho ou de um Naby Sarr [o Adán ajudou um bocadinho, mas não vale a pena dizer seja o que for porque o uruguaio também não parece ser nada de especial].

Noutros tempos, nos bons velhos tempos [de um Peseiro, de um Sá Pinto, de um Paulo Sérgio, de um Couceiro ou de um Silas] a equipa do Sporting entraria com o coração nas mãos na segunda parte. Não entrou e bastou um par de minutos para o Gyökeres levar novo cacete e, na transformação do livre, o Inácio enfiar uma testada na bola que só parou dentro da baliza. O jogo estava concluído, embora ainda houvesse umas dezenas [largas] de minutos para jogar. Pouco a pouco, o Rúben Amorim foi desmontando a tenda, deixando o Gyökeres aborrecido pelo facto de só ter jogado cerca de sessenta minutos e necessitar, assim, de um pouco de “jogging” antes de ir dormir para compensar. Se se continuar como até agora, jogo a jogo, crónica a crónica, dificilmente os polícias da esquadra de Famalicão voltarão ao trabalho tão cedo.


[Não, ainda não foi desta que conseguimos jogar à Benfica. Jogámos contra dez, é um facto, mas não jogámos contra dez quando é mais útil, mais conveniente: quando se está a perder ou não se está a ganhar, pelo menos. Jogar à Benfica quando se está a ganhar não é jogar à Benfica, se é que me faço entender] 

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Venham mais cinco

Por improvisos e trapalhices de vária ordem, vi o jogo [do Sporting] contra o Braga acompanhado de comentários em polaco. Em polaco, compreende-se muito bem a razão para o árbitro não mostrar qualquer amarelo aos jogadores do Braga na primeira parte. Aparentemente, se se assobiar permanentemente um jogador, mostrar-lhe um amarelo quando acaba de fazer uma falta merecedora disso corresponde a uma dupla penalização. Esta interpretação aplica-se a assobios e a outros mal-estares, como a má vontade da sogra ou um cozido à portuguesa que não tenha caído bem. 

Há males que vêm por bem e a condescendência foi de tal forma que deixou de haver margem de manobra para mostrar amarelo a quem quer que fosse, passando por uma arbitragem à inglesa [se não nos lembrássemos da expulsão do Diomande no jogo contra o Arouca]. Estou a acabar de traduzir tudo muito bem traduzido para enviar ao Conselho de Arbitragem ou à APAF de forma que apliquemos a melhores práticas internacionais [tem que se acrescentar mais um árbitro que faça de médico, mas, mais um menos um, ninguém nota].

O Artur Jorge, treinador do Braga, aplicou a receita que tão bom resultado obteve no jogo das meias-finais da Taça da Liga. Embora condicionando um pouco mais a saída de bola do Sporting, com o Abel Ruiz na frente, o objetivo continuava a ser o mesmo: não deixar o Gyökeres jogar, tocar na bola sequer, apostando as fichas todas na nabice finalizadora do Trincão, Pote e Companhia. Também o Cristóvão Colombo descobriu à América quando procurava encontrar um novo caminho marítimo para a Índia. Há resultados surpreendentes, mas é preciso compreendê-los, interpretá-los, para não se atribuir ciência ao puro acaso, à sorte, ou começamos a pensar que estamos na América quando chegamos à Trafaria.

Por [mais] paradoxal que possa parecer, não deixou de ter alguma razão, pois bastou uma hesitação, uma desmarcação, um passe e zás, lá estava o Gyökeres a molhar a sopa outra vez. Imaginem o menino à solta o tempo todo. Como diz o Pedro Azevedo, restava-lhe decidir se queria perder com mais ou menos golos do Gyökeres e a nós, sportinguistas, tanto se nos dá. Decidiu como decidiu e decidiu bem, pois o nosso selecionador nacional está com uma vontade enorme, uma vontade danada de convocar o Nuno Santos e o Pote [ou até o Trincão], dado ainda não ser possível convocar nenhum jogador do nosso campeonato para as seleções adversárias que possa ser expulso uma e outra vez. Enfim, o país ficou a ganhar, o país agradece.

A jogar desta forma, continuo a pensar que devíamos cobrar cachê à equipa adversária. Não parece fazer sentido os jogadores do Braga ou o seu treinador principal e os adjuntos verem jogar de borla. O único argumento a favor da atual situação é o lugar que lhes arranjaram: de pé praticamente o jogo todo [a precisarem de uma ou outra corridinha para desentorpecer as pernas]. Fica combinado que o próximo jogo é no Theatro Circo para que possam assistir a mais uma "performance" cultural como a de ontem, mas sentados, naturalmente. 

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Cobrar cachê

Vi o jogo [do Sporting] contra o União de Leiria a meio da semana [para os quartos-de-final da Taça de Portugal]. Costuma-se dizer que seja o que Deus quiser e a polícia deixar. A polícia deixou e Deus também deve ter querido, admitindo que se interesse pelo futebol português e por jogos realizados às tantas da noite no Centro de Portugal em particular. Como houve jogo e uma vitória é preciso escrever uma crónica para que suceda novo jogo e nova vitória [até ao fim dos tempos]. O tempo não tem sido muito e a disponibilidade ainda menos. Mas o que é prometido é devido [convém relembrar em época de campanha eleitoral] e, assim, o que tem de ser tem muita força.

Comecei a ver o jogo quando o árbitro estava a ver na televisão uma coisa qualquer que o vídeo-árbitro o tinha mandado ver, depois de assinalar um “penalty”. Ou as decisões implicam interpretação e são mais demoradas ou não implicam e é só necessário ver as imagens para logo se tomar uma decisão. O tempo que se demora é revelador que nada é tão óbvio como nos querem fazer crer e, portanto, admito que os árbitros [em número infindável] estivessem a discutir os níveis de colesterol, de triglicerídeos e de ácido úrico do Gyökeres. Jogo após jogo, continuamos a assistir a estas encenações, a estas macacadas [sem desprimor para os respetivos primatas]. 

Para terem mais certezas sobre a sua situação de saúde, decidiram medir-lhe o pulso, anulando a decisão anterior e marcando canto. Resultado [final], o Gyökeres está com uma tensão arterial de categoria e ficámos a ganhar por um a zero depois de um voo sobre os centrais, como o Rui Veloso cantava [quando não imaginava que quem voava sobre os centrais um dia iria voar sobre os centrais do Porto também]. Lançado pelo Nuno Santos, o Gyökeres resolveu confirmar a tensão arterial com uma corrida e um passe para o Pote passar para a baliza e fazer o dois a zero. Diagnóstico: a mínima está alta e a máxima ainda mais alta está. A terapêutica recomendada é correr, correr sempre, correr muito e muito depressa.

O jogo podia a devia ter acabado naquele exato momento. Evitava-se o desperdício de mais umas trezentas e quarenta e oito oportunidades de golo a somar às seiscentas e noventa e quatro do último jogo contra o Sporting de Braga. Apesar disso, tomando-lhe o gosto, o Gyökeres parece gostar de molhar a sopa de cabeça também. Ainda assim, o jogo não lhe parece ter corrido bem, tal o desalento com o [pouco] tempo de desconto concedido pelo árbitro. Pode não se tratar exatamente disso, mas da necessidade de demonstrar ao Rúben Amorim que pode contar com ele, que é uma alternativa fiável sempre que o Paulinho estiver lesionado, castigado ou [simplesmente] amofinado.


[Falando um pouco mais a sério, admitindo que se pode falar a sério do que não é sério, do que dá vontade de rir, o Sporting continua a jogar o melhor futebol de há muitos, muitos anos. Penso que se deve começar a cobrar cachê aos adversários para verem o que nunca viram. Pelo contrário, a nós, sportinguistas, ainda nos estão a dever algum pelo futebol do Peseiro, do Silas ou do Vercauteren.]  

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

#ondevaiumvãotodos# ou uma greve [em forma de] assim-assim

Há pouco mais de três anos, Artur Soares Dias [vídeo-árbitro] vislumbrou um leve roçagar da melena do Coates no borboto do punho da camisola do guarda-redes e vá de chamar o Luís Godinho [árbitro] para anular o golo no finzinho do jogo [do Sporting] contra o Famalicão. O Luís Godinho jurou que viu a melena, que viu o roçagar, que viu o borboto, que viu tudo o que Artur Soares Dias lhe disse que viu e o Sporting, bem, o Sporting empatou. Há males que vêm por bem e, assim, o “onde vai um, vão todos” da conferência de imprensa do Rúben Amorim acompanhou-nos até ao título.

Há anos, apanhámos uma greve de árbitros. No sábado, uma de polícias [não foi bem uma greve, uma propriamente dita, foi mais uma em forma de assim-assim]. Nunca mais apanhamos uma de trapezistas, de malabaristas, de palhaços ou de bicharada amestrada. Treinadores adeptos do “meia bola e força” ou do “bola para o mato que o jogo é de campeonato” costumam afirmar que, quem deseja assistir a um espetáculo, deve ir à ópera. Ora, por estas ordens de razão, quem quer circo, deve ir ao circo, a não ser que haja greve [dos artistas] ou o urso esteja constipado. 


[Os impactos da falta de polícia não são neutros no que aos resultados e classificações diz respeito. Nós, sportinguistas, sabemo-lo bem. No sábado, houve uma generalizada epifania. É estranho, não é?!]