terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

É dia de jogo ou de ir ao cinema, tanto faz!

Há Sun Tzu. Há von Clausewitz. Há estratégia, enfim. É absolutamente genial a ideia de criar um equipamento próprio para o jogo de ontem e, logo, de um equipamento igual ao da Académica [de Coimbra], do clube do nem sim, nem sopas, do assim-assim, do não me comprometas. Não, ninguém prejudica um velho clube de velhos aristocratas que não têm clube [ou têm, mas não querem dizer]. 

O árbitro só começou a vislumbrar este embuste quando o Gyökeres reclamou dos permanentes empurrões de um defesa do Moreirense. O árbitro olhou para ele e esse olhar encerrava o dilema espaço-tempo. Será que uma pessoa pode ser duas, pode estar em dois lugares ao mesmo tempo, pode voltar ao passado, matar o avô e regressar ao presente? Sim, o ligeiro franzir do sobrolho era o espelho do que lhe ia na alma: “Se marco falta, se assinalo “penalty”, estou a admitir que o Gyökeres joga na Académica. Terá deixado o Sporting? Joga no Sporting e na Académica? Será possível? Não, não marco nada, não vou passar por tolo. Finjo que nem o estou a ver”.    

A baralhação, o caos inicial também nos ofereceu o primeiro golo. Vendo a sua equipa de verde e branco vestida e o adversário de equipamento negro, o jogador do Moreirense não teve dúvidas de que lado se encontrava: foi à bola com a mão, com o tronco, com a canela e não descansou enquanto não meteu a bola na baliza. Era golo do Sporting e ele era o Gyökeres ou assim pensava [ser]. Os comentadores da SporTv viram-se e desejaram-se para decidir se era golo ou autogolo tal era a baralhação, o caos. 

O segundo foi um excelente golo da Académica, desculpem, do Sporting. O Trincão [sim, o Trincão, estão a ler bem], domina de peito, passa para o Catamo, desmarca-se nas costas, recebe mais à frente, passa para a entrada do Pote que passa para a baliza e faz golo, sem que a sua melena tremesse, se desmanchasse um poucochinho que fosse. Ou ele ou Edwards? Desde os tempos do Restaurador Olex que não se assistia a um duelo assim, entre um cabelo liso e uma carapinha. A carapinha já conheceu melhores dias, já esteve [mais] na moda. O cabelo liso com risco ao meio começa a ser o preferido dos betos [e dos verdadeiros croquetes, é preciso que se diga].

Com o resultado feito, os jogadores do Sporting dedicaram-se a um jogo popular. Os centrais vão passando a bola de pé para pé, devagar, devagarinho. Os jogadores adversários e, em particular, os seus avançados ficam [inicialmente] expetantes. Continuando este rola que enrola, os adversários acabam por se passar da cabeça e partir à desfilada para roubar a bola. Fartos de saber que isso vai acontecer, mais tarde ou mais cedo, os centrais atrasam a bola ao guarda-redes e voltam a fazer o mesmo um pouco mais atrás. Outras vezes, passam para a frente, abrem num flanco, variam para o outro, centram, criam uma hipotética oportunidade de golo, mas preferem recuperar a bola e atrasá-la para que tudo possa voltar ao início.

Uma vez tem piada. Duas também. A partir da terceira, tudo é preferível a continuar a ver aquele jogo da apanhada, da macaca ou da cabra-cega, pouco importa. Ao intervalo, desisti e fui ao Theatro Circo, ver “Pobres Criaturas”, de Yorgos Lanthimos. 


[Ao ver Willem Dafoe a representar o papel do Dr. Godwin Baxter, médico e investigador vítima das mais incríveis e sádicas experiências científicas do seu pai, que os desfiguraram, reconheço que se é um pouco excessivo nas considerações estéticas a propósito de um Paulinho ou de um Slimani. O personagem principal tem uma cabeça que não pertence ao corpo que a suporta (e vice-versa) e essa relação entre corpo e cabeça que não combinam, para além de enxaquecas, origina incompreensões emocionais com aqueles que combinam corpo e cabeça (e vice-versa, também). Talvez seja por essa razão que embirro com este ou aquele jogador, cujo nome omito, pois uma alegoria é uma alegoria, tão-só]

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