sábado, 17 de fevereiro de 2024

Jogo a jogo, crónica a crónica, até a polícia deixar

Anteontem, voltei a assistir a [mais] uma transmissão do jogo do Sporting [contra o Young Boys] comentada em polaco. Ao princípio estranha-se, mas depois entranha-se, tal o esmiuçamento da análise. Quando o árbitro não mostrou amarelo a um jogador do Young Boys, preferindo conversar e avisá-lo, logo nos explicaram que amanhã acordaria com uma cabeça de cavalo na cama e o árbitro à cabeceira [da dita] a fazer festas a um gato siamês aninhado no seu colo. Como os comentadores falavam muito depressa, não fiquei com a certeza se não acordaria também com o fantasma do Frank Sinatra a cantar o “My Way”. 

Em polaco, ficou explicado, muito bem explicadinho que a [simples] razão para o árbitro mostrar tantos amarelos [e um vermelho] aos jogadores do Young Boys [e o Sporting dispor de tantos livres] era as faltas que faziam [como se não houvesse amanhã]. Sem o habitual recurso aos especialistas nacionais e às suas complexas expressões e conceitos, como “intensidade” ou “imprudência”, fiquei a saber que dois mais dois é igual a quatro [começo a desconfiar que não só é como sempre foi].

A equipa do Sporting jogou a pensar no jogo seguinte contra o Moreirense. Colocou pouca intensidade no seu jogo, os jogadores evitaram disputar bolas divididas, enquanto esperava que a defesa do Young Boys se distraísse e deixasse o Gyökeres solto em situações de um contra um; mas a defesa não estava para brincadeiras e, sempre que podia, acertava-lhe o passo sem dó nem piedade. Seja como for, o Gyökeres mantinha a defesa recuada e segurava a bola na frente para que a equipa pudesse subir e respirar um pouco melhor. 

Em breves momentos, em dois fogachos, o Sporting fez dois golos: um autogolo e um golo resultante de uma “penalty”. Estamos naquela fase em que um simples pontapé meio na bola meio no chão acaba em golo e na descoberta de uma jazida de petróleo. Acontecer Sporting começa a não significar o que sempre significou, não fosse o Esgaio fazer o favor de nos recordar que, encontrando-se de boa saúde, manterá bem viva a [boa] tradição de um Polga, de um Nuno André Coelho ou de um Naby Sarr [o Adán ajudou um bocadinho, mas não vale a pena dizer seja o que for porque o uruguaio também não parece ser nada de especial].

Noutros tempos, nos bons velhos tempos [de um Peseiro, de um Sá Pinto, de um Paulo Sérgio, de um Couceiro ou de um Silas] a equipa do Sporting entraria com o coração nas mãos na segunda parte. Não entrou e bastou um par de minutos para o Gyökeres levar novo cacete e, na transformação do livre, o Inácio enfiar uma testada na bola que só parou dentro da baliza. O jogo estava concluído, embora ainda houvesse umas dezenas [largas] de minutos para jogar. Pouco a pouco, o Rúben Amorim foi desmontando a tenda, deixando o Gyökeres aborrecido pelo facto de só ter jogado cerca de sessenta minutos e necessitar, assim, de um pouco de “jogging” antes de ir dormir para compensar. Se se continuar como até agora, jogo a jogo, crónica a crónica, dificilmente os polícias da esquadra de Famalicão voltarão ao trabalho tão cedo.


[Não, ainda não foi desta que conseguimos jogar à Benfica. Jogámos contra dez, é um facto, mas não jogámos contra dez quando é mais útil, mais conveniente: quando se está a perder ou não se está a ganhar, pelo menos. Jogar à Benfica quando se está a ganhar não é jogar à Benfica, se é que me faço entender] 

4 comentários:

  1. Rui Monteiro
    Como sempre, uma crónica divinal!
    Gostei do introito final, com um assertiva adenda ao "jogar à Benfica contra 10" do Eduardo Madeira. Além de ter sido por pouco tempo (aos 86 minutos) não estávamos a perder ou empatados, mas a ganhar por 3-1.
    Saudações leoninas

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    1. Obrigado, Carlos Antunes.
      Com efeito, quando estava a concluir o “post” li algures essa referência e não a achei correta. Não se trata principalmente de mais ou menos tempo a jogar contra dez. Trata-se de jogar contra dez sempre que se está a perder ou empatar.
      No nosso caso, no jogo contra o Young Boys, quando se deu a expulsão o jogo já tinha acabado na cabeça dos jogadores. A menos de cinco minutos do fim do jogo, o resultado estava feito e mais do que feito.
      SL
      RM

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