quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Foi-se!

O Bruno Fernandes foi-se. A sensação de perda é enorme e é maior ainda quando os nossos adversários elogiam o negócio. Eles sabem que vamos ficar mais fracos. Foi um privilégio vê-lo jogar por nós, com a nossa camisola. Muito poucos estiveram ao seu nível, talvez o Balakov. Com ele em campo, tudo era possível, tudo era sempre possível: um remate indefensável, um passe de morte, um livre à maneira, uma arrancada imparável. Devemos-lhes várias vitórias e não mais nos esqueceremos da eliminatória da época passada contra o Benfica na Taça de Portugal: manteve-nos à tona na primeira mão e resolveu na segunda, quando só tínhamos olhos para ele e só dele esperávamos que fizesse o que era preciso fazer. 

Enfim, foi-se ou foram-se os dedos e ficaram os anéis. Os anéis ajudam a encontrar os respetivos dedos, mas nada nos garante que sejam os dedos certos, sobretudo quando estamos cansados de trocar dedos certos por anéis e anéis por dedos errados. Talvez seja melhor guardar os anéis e fazer o melhor possível com os dedos que ficam, embora não façam uma mão, uma mão cheia (de jogadores) que permita construir uma equipa, uma verdadeira equipa. A esperança, essa, com ou sem Bruno Fernandes, tem de seguir dentro de momentos e pode ser o Plata, o Camacho ou outro herói improvável qualquer, como o Bruno Fernandes quando chegou de Itália. É a vida, a vida dos clubes, e não há outra para viver.  

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

É preciso ter karma, muita karma


Jogar numa segunda-feira às 21h é tudo menos um convite para ir à bola. Com chuva melhor ainda. Mesmo tendo em conta estas condicionantes, ter pouco mais de doze mil espectadores nas bancadas é indigno de um clube como o Sporting. Trata-se mesmo de um record negativo de assistências em encontros da primeira liga. Mais importante que a contabilidade dos presentes será avaliar a abstenção dos ausentes. Ninguém está preocupado.

Karma is a bitch: Chega Sporar, seis meses de atraso que até lhe viraram as tripas do avesso. Vai para o banco com uma casa de banho portátil por perto, não vão as coisas descambar. Dezassete minutos e já está lá dentro a substituir Luiz Phellype, único ponta disponível, às vezes sem lança. Sabemos depois que Phellype tem para seis meses, mais ou menos, e ficamos na mesma. Apenas um ponta-de-lança mais o Jesé a meter música e água por todos os lados. Tudo menos golos. O único clube do mundo que se diz candidato a títulos sem ovos. Vamos outra vez ao mercado. Lá para Junho teremos novidades. Está tudo planeado.  

Diz que lá vai o Fernandes com o Bruno acoplado: saindo o Bruno saem pelo menos dois jogadores, segundo o Silas três ou quatro. Outros dizem que agora é que é: o sistema liberta-se. Outros que vamos ao fundo. Compram-se máscaras para o vírus corona e impermeáveis com botija de oxigénio para sobrevivermos às profundezas. Fazem-se contas ao dinheiro: que não chega nada ao Sporting, outros que chega mas não basta. Outros afirmam que desaparecerá num ápice. A todos sabe bem uma novela. Esta finalmente terá acabado. Vamos à próxima. O protagonista é sempre o mesmo: o Sporting!

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Rúben Dias wherever, forever

Regressado de umas curtas férias em Viena, na Áustria, arranjo uma gripe das antigas ou das modernas, como se quiser, com um vírus em mutação acelerada que apanhei num "streaming" a ver o jogo contra o Setúbal. Quando recupero, afinal nada se tinha passado. Até o Marques Mendes desconfiava que os dinheiros de Isabel dos Santos não resultavam de um projeto agropecuário bem-sucedido no Namibe, à base de ovos, galinhas e, por vezes, enchidos. O Rui Pinto tanto é um “hacker” como um “whistleblower”, conforme os “leaks”, que os há para todos os gostos. A Ana Gomes sabe sempre e os outros só sabem quando é conveniente, podendo convenientemente nem chegar a desconfiar. 

Foi com este estado de espírito de nada se passa, de absoluta normalidade que vi o jogo contra o Marítimo. Não desconfiei, nem estranhei quando vi a equipa adversária entrar em campo com pelo menos uma meia dúzia de Rúbens Dias. O Rúben Dias enfia uma trancada por trás no Bruno Fernandes e o árbitro vai-lhe explicar que assim não, assim não pode ser. Enfia uma cotovelada no Ristovski e o árbitro volta-lhe a explicar que não senhor, assim não pode ser. Sem sequer se dar ao trabalho de disputar a bola, calca o Doumbia e o árbitro já nem lhe diz nada, considerando-o um caso perdido, um caso sem recuperação, sem pedagogia que resulte, quanto mais um amarelo ou dois. 

Na segunda parte, o Rúben Dias desata a atirar-se para o chão de cangalhas em toda e qualquer circunstância. O árbitro acha-lhe graça e vai-lhe fazendo as vontades, entretendo-nos com ele e marcando falta atrás de falta, pouco interessando se foi (ou não) ou se foi ao contrário. A pantomina é muito apreciada pelo locutor da SporTv, sempre sério e assertivo na análise das quedas de cangalhas sem se escangalhar. E também não se escangalha quando dá conta do frango do guarda-redes do Marítimo e do remate com o pé esquerdo do Rafael Camacho para o primeiro golo. Procurou, procurou e encontrou: onde é que já se viu um jogador marcar um golo com o pé? Que sentido terá a vida de um locutor se não for o de ajudar o árbitro e dobrar o VAR sempre que a oportunidade espreita? Mas essa vida esboroou-se-lhe entre os dedos das mãos quando viu o Borja marcar outro golo com o pé, desta vez sem ser anulado. 

Há quem diga que o Sporting jogou também, que houve futebol. Que o Bruno Fernandes fez mais um remate dos seus, levando a bola a embater na trave, sem quaisquer hipóteses de defesa. Que o Sporar parece estar vivo e de boa saúde, sem problemas de maior no trato gastrointestinal. Que o Jovane Cabral recuperou de lesão e voltou a jogar com golo nas botas. Que o Gonzalo Plata parece ser uma excelente alternativa. Que o Rafael Camacho continua a afirmar-se. Quem é que quer saber disso quando se tem à disposição uns tantos Rúbens Dias e árbitros e locutores a condizer? Palermas, se querem futebol, vão à ópera, ver e ouvir a Orquestra Filarmónica de Viena!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

A encruzilhada


Frederico, o Invisível, emergiu ontem de um nevoeiro cerrado que durava há semanas (derrotas com Porto, Benfica e Braga) para apresentar o jogador Sporar. O jogador chega ligeiramente atrasado, cerca de seis meses, mais concretamente. Antes o nevoeiro tinha tragado o jogador Fernando, recambiado após umas curtas férias de seis meses, assomando também, por vezes, um tipo chamado Jey-M, conhecido como o jogador Jesé. Entretanto, o Paladino Frederico, sua alma gêmea, entretinha-se a gatinhar em algumas reuniões os problemas do futebol português, leia-se as claques do Sporting. De resto, as preocupações eram todas nossas, as de alguns adeptos inconformados com as derrotas envoltas em pele de cordeiro. Pelos vistos o trabalho invisível terá redundado em resultados bem visíveis. A encruzilhada afinal é nossa. Também essa é invisível aos olhos de Frederico.  

domingo, 19 de janeiro de 2020

Tapar a minha angústia com uma peneira


Meus amigos, continuamos em franca recuperação… dos nossos valores, formas de estar e espírito sportinguistas. Apesar de estarmos, no final da primeira volta, a dezanove pontos do primeiro lugar, doze do segundo, atrás do Famalicão e com o Braga a morder-nos os calcanhares, ninguém parece preocupado, aceita-se com naturalidade e razoabilidade e maturidade esta sina perdedora. A única preocupação razoável são as claques, as nossas, bem entendido. Terá Frederico falado sobre o assunto (respeitosamente) com Vieira na tribuna? Não é de crer que o tenha aborrecido com essa ou outras minudências.

O mais interessante é a passividade amorfa dos adeptos durante e depois dos jogos. Antes também. Voltamos à lengalenga da cultura desportiva, como se na indústria do futebol e quejandos alguém se preocupasse realmente com isso. Não se trata de ganhar a todo o custo mas sim de competir a todo o custo. São coisas deferentes. É preciso que os jogadores e o treinador percebam o que é competir com o Leão rompante ao peito.

Veja-se de soslaio este jogo com o nosso grande rival. Desta feita não foi a grande vitória moral como contra o Porto (já agora, o Braga não foi lá ganhar?), não, foi aceitação da superioridade do plantel, da equipa, dos jogadores (já agora, e da direção também, não?), dos roupeiros, dos olheiros, e do orçamento do rival, como se isso ganhasse jogos. Se isso ganhasse jogos tínhamos ganho ao Tondela, ao Gil Vicente, ao gigantesco Alverca, e por aí fora. Para ganhar é preciso conhecer o adversário, as suas qualidades e fraquezas, conhecer bem a nossa equipa e tentar surpreender. Competir é isso. Depois logo se vê.

Vivemos à sombra do ataque à Academia. Serve para tudo. Ninguém anda preocupado porque ninguém é responsabilizado. As claques servem como peneira (efémera) para tapar o sol e a minha angústia. Quanto ao resto, aconselha-se os jogadores e equipa técnica do Sporting a darem uma vista de olhos ao jogo da seleção de andebol contra a Suécia. Quando competimos olhos nos olhos também podemos ganhar. A qualquer um.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Estranha forma de vida


Frederico no seu labirinto continua a sua cruzada pela moralização do futebol português. Qual paladino, investe freneticamente, mas apenas em assuntos de claques e seus arredores. A dezasseis pontos do primeiro lugar e a doze do segundo, não encontra nada melhor para fazer do que cavaquear com alguns secretários de estado, curiosamente, sem nenhum dos seus congéneres a acompanhá-lo. Ao seu lado apenas os encontrará na tribuna presidencial, de resto, as opiniões dos seus congéneres relativamente ao assunto em questão são conhecidas: uns não reconhecem a existência de claques no seu clube, apenas grupos (des)organizados; outros ostentam com orgulho o símbolo da sua guarda pretoriana. No seu labirinto Frederico nem a si mesmo se encontra.

Curiosamente, ou talvez não, o paladino não investe na denúncia dos e-mails, padres, paróquias, ou frutas da época, o paladino não denuncia arbitragens condicionantes que por aqui o sempre atento Rui Monteiro desmascara, o paladino não quererá aborrecer secretários de estado com tamanhas minudências. As preocupações do paladino são outras. No início percebia-se, agora cheira a fait-divers ou a esqueletos em decomposição no armário.

Pacto Leonino

No Sporting, vivem-se tempos de chumbo (a expressão é um pouco exagerada mas não me ocorre de momento uma mais feliz). Testemunho atrás de testemunho, o tribunal vai esviscerando o antigo presidente. Do atual não se vislumbra um projeto, uma ideia, um rumo que mobilize os sócios e adeptos, enquanto se vão recolhendo assinaturas para promover a sua destituição. Com novas eleições, seria o regresso dos pavões habituais com uma ou outra alma bem-intencionada que, sendo eleita, rapidamente iria congestionar ainda mais o Inferno. De um saco de gatos, evoluiríamos para um circo de feras, continuando cada sportinguista na sua trincheira com a possibilidade de se recolher em mais algumas, enquanto continua o fogo de artilharia. 

Esta minha angustiante reflexão encontrou alívio numa sugestão de leitura do meu amigo Júlio Pereira. Sugeriu-me a leitura do conto “Democracia Eletrónica” do livro “Sonhos de Robô” do Isaac Asimov, talvez a maior referência da literatura de ficção científica. O conto futurista, escrito há mais de cinquenta anos, descreve as eleições norte-americanas controladas por um supercomputador, que, recolhendo informação de todos os cidadãos, seleciona um, o mediano, o eleitor-padrão para escolher o Presidente dos Estado Unidos da América. Assim se evitam campanhas eleitorais e o confronto entre grupos de cidadãos organizados em partidos políticos, garantindo-se ainda que as preferências dos eleitores são cientificamente respeitadas. 

No nosso caso, sem o supercomputador, será necessário encontrar um método equivalente, produzindo os mesmos resultados. Proponho, assim, que se peça ao Leonardo Jardim para escolher um novo presidente, um com quem esteja disposto a trabalhar. Não tenho dúvidas que o sócio mediano, o sócio e eleitor-padrão, qualquer que ele seja, gostava de ser um Leonardo Jardim com as quotas em dia. Ah, estava-me a esquecer: é preciso contratá-lo primeiro!

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Mais fluoxetina para melhorar a autoestima sportinguista

Não sei se a autoestima dos sportinguistas anda pelas ruas da amargura ou se é congénita, isto é, se ser-se do Sporting implica baixa autoestima. Acabado o jogo contra o Porto, regresso a casa ainda a tempo de ver um adepto a dizer que a equipa tem um problema de atitude. A partir daí foi um chorrilho de autocrítica sobre a eficácia, a qualidade dos jogadores e, inevitavelmente, o Varandas e a preparação da época. A autoestima é tão baixa que aceitamos todas as narrativas sobre o jogo como se nem o tivéssemos visto. Deixo cinco notas que permitem a um sportinguista com adequada autoestima aguentar este resultado e preparar-se para o jogo contra o Benfica. 

[O conceito de arriscar demasiado] 
No sábado à noite, no meio de mais um “zapping”, ouço um senhor comentador com o cabelo pintado de cor de ferrugem a analisar o triplo ou o quádruplo “penalty” do Ruben Dias num só lance, afirmando que se trata de um jogador que arrisca muito e que naquele lance tinha arriscado demasiado. Se bem percebo a semântica, o Ruben Dias é como aquele condutor que excede sempre os limites legais de velocidade na expetativa de não ser apanhado pelo radar ou pela própria polícia de trânsito. No futebol não é aleatória a presença de radar ou de polícia de trânsito: não há jogo se não houver essas condições. O Ruben Dias não arrisca nem deixa de arriscar, infringe a regras de jogo perante a complacência dos árbitros que veem o que todos vemos e fazem de conta que não estão no estádio mas, por azar, escondidos na berma da Estrada Nacional Nº2. 

[Quem não arrisca não petisca e o petisco sai sempre aos mesmos] 
Não se petisca se não se arrisca e não há domingo sem sábado. Havendo risco e petisco no sábado, também haveria no domingo, estava bom de ver, quando se tem o mesmo árbitro que ainda há uns meses validou um golo com a mão ao Porto na Final da Taça de Portugal. Como também não há segunda sem domingo, li a análise efetuada por um ex-árbitro n’ “A Bola” a dois lances do Alex Telles, um que deveria ter originado um “penalty” e outro o segundo amarelo e consequente expulsão. Na análise recorre-se outra vez não às regras de jogo mas ao Código de Estrada: o Alex Telles arriscou demasiado também. Se continuo a perceber a semântica, os jogadores deixaram de fazer faltas e passaram a arriscar. Vamos admitir por um só momento que a situação era exatamente a inversa: o Acuña arriscava demasiado duas vezes e no final o Sporting ganhava dois a um. Alguém estaria a falar noutra coisa se não nisso e isso ainda seria qualificado como "arriscar"? É verdade que a situação é hipotética. O Acuña mesmo sem arriscar nada levou um amarelo, não fosse pensar que podia arriscar alguma coisa. 

[A eficácia de uns e a falta de eficácia de outros] 
Os resultados no futebol não encerram nenhum dilema moral. Quem ganha merece ganhar porque, de outra forma, não se tratava de futebol mas de patinagem artística. Outra coisa bem diferente é encontrar explicações “a posteriori” para os resultados. A explicação encontrada foi a da famosa eficácia e da sua relação com a qualidade dos jogadores. O Soares foi eficaz e o Acuña também. Quanto ao Marega, este sim, encerra em si mesmo um dilema que deixa perplexos os adversários e mais ainda os seus colegas de equipa: nunca se sabe para que lado ele não vai conseguir dominar a bola e se para esse (não) efeito recorre ao fémur, à tíbia ou ao perónio da perna esquerda ou direita. O Marega mais uma vez não conseguiu dominar a bola, perdeu-a e, com isso, acabou por a meter dentro da baliza. Nos manuais das melhores universidades e no Canal 11, da Federação Portuguesa de Futebol, qualifica-se este tipo de situação como “piço do caraças”. Em conclusão, o Sporting e o Porto foram igualmente eficazes só que o segundo teve um “piço do caraças”. 

[A ironia do Sérgio Conceição] 
O Pinto da Costa sempre teve sentido de ironia e as suas declarações marcaram o estilo do Porto até hoje. Ninguém se esquece da sua resposta, quando interpelado por um jornalista para análise de um lance em que o velho João Pinto aliviou a bola contra a barra da sua própria baliza, que ele assim terá procedido para evitar ceder canto. É neste registo irónico que compreendo a afirmação do Sérgio Conceição de que o primeiro golo do Porto resultou de um lance estudado. Admito que lhe tenham perguntado como é que explicava o facto de o Marega não conseguir dominar uma bola e, às vezes, ao perdê-la acabar por marcar golo. Sem o registo irónico, a afirmação é desprovida de sentido. Se o Marega treinasse afincadamente a receção de bola, deixaria de ser imprevisível e não mais conseguiria marcar golos ao perdê-la, depois de lhe tocar com a extremidade anatómica mais improvável. 

[A tática, sempre a tática] 
O treinador da equipa que ganha tem sempre razão. Outra coisa bem diferente é encontrar razão (racionalidade) no que faz como forma de explicar o resultado. O Porto não ganhou o jogo porque entrou o Luiz Dias. O Porto ganhou o jogo porque o Soares marcou o segundo golo, depois de um canto bem marcado pelo Alex Telles que encontrou o Doumbia a dormir. O Sporting entrou muito bem na segunda parte e dominou durante vinte a vinte cinco minutos, criando diversas oportunidades de golo. Não marcando, quando a pilha se esgotou, o Porto equilibrou o jogo e num lance de bola parada marcou (nestas circunstâncias foi eficaz). Depois do segundo golo, o jogo nunca mais foi o mesmo. Não se pode analisar o que se passou a seguir com a mesma grelha de leitura do que se passou antes. Os lances criados pelo Luiz Dias foram depois do segundo golo e não antes. O Silas não reagiu mal. Perdido por cem, perdido por mil, desmontou a equipa e apostou em partir o jogo, arriscando os contra-ataque do Porto, mas tentando numa ou noutra situação apanhar o adversário desequilibrado e em desvantagem numérica. A intenção tinha a sua razão de ser: o Porto tem muitas dificuldades em controlar o jogo com bola. Esqueceu-se foi que para esse efeito estava lá o árbitro. Depois desse golo, foram marcadas mais faltas do que no resto do tempo e, assim, o jogo não se partiu, embora o Sporting ficasse mais exposto defensivamente.

domingo, 5 de janeiro de 2020

A minha angústia a apanhar sol


Meus amigos peço desculpa pela minha loucura, mas gosto de ler nas entrelinhas. Anos atrás, no consulado de Godinho, o presidente do Porto desejava um Sporting mais forte. Era um desejo com o bafo do moribundo, bem o sabemos. O treinador do Porto, no final deste jogo, faz mais ou menos o mesmo, mas com menos flores: era uma injustiça termos marcado mais - dizia ele - porque o Sporting esteve bem, e até terá sido um jogo difícil. É assim que se fazem os enterros e respetivas despedidas de alguns conhecidos rivais. A solenidade do momento não deve tolher o nosso raciocínio: o que interessa é não contarmos para as contas finais.

O jogo foi o que se viu. E olha que fizémos um bom jogo. Aos cinco minutos já estávamos a passar para a próxima passagem de ano futeboleira. As contas eram fáceis: treze pontos para o primeiro, nove para o segundo. Era o jogo de uma época. Mas ninguém estava preocupado. No final passamos para dezasseis e doze pontos para o primeiro e segundo, respetivamente. Segundo o treinador ainda estamos com um olho no segundo e outro, se calhar, no cigano. Atrás de nós já se sente um ou outro olho com a mesma convicção ocular. Andamos nisto com a dedicação de um adolescente a quem proíbem o exagero da consola. Ele sabe que o pai também gosta de jogar.

Em breve, esmiuçaremos a época à procura de nenúfares. Será tudo previamente planeado ao pormenor. Não fosse o movimento de rotação e translação da terra e ainda estaríamos no centro do universo. Mas assim é o sol que terá de fazer o seu trabalho: brilhar para nós. Desculpem-me a angústia.