domingo, 5 de janeiro de 2020

A minha angústia a apanhar sol


Meus amigos peço desculpa pela minha loucura, mas gosto de ler nas entrelinhas. Anos atrás, no consulado de Godinho, o presidente do Porto desejava um Sporting mais forte. Era um desejo com o bafo do moribundo, bem o sabemos. O treinador do Porto, no final deste jogo, faz mais ou menos o mesmo, mas com menos flores: era uma injustiça termos marcado mais - dizia ele - porque o Sporting esteve bem, e até terá sido um jogo difícil. É assim que se fazem os enterros e respetivas despedidas de alguns conhecidos rivais. A solenidade do momento não deve tolher o nosso raciocínio: o que interessa é não contarmos para as contas finais.

O jogo foi o que se viu. E olha que fizémos um bom jogo. Aos cinco minutos já estávamos a passar para a próxima passagem de ano futeboleira. As contas eram fáceis: treze pontos para o primeiro, nove para o segundo. Era o jogo de uma época. Mas ninguém estava preocupado. No final passamos para dezasseis e doze pontos para o primeiro e segundo, respetivamente. Segundo o treinador ainda estamos com um olho no segundo e outro, se calhar, no cigano. Atrás de nós já se sente um ou outro olho com a mesma convicção ocular. Andamos nisto com a dedicação de um adolescente a quem proíbem o exagero da consola. Ele sabe que o pai também gosta de jogar.

Em breve, esmiuçaremos a época à procura de nenúfares. Será tudo previamente planeado ao pormenor. Não fosse o movimento de rotação e translação da terra e ainda estaríamos no centro do universo. Mas assim é o sol que terá de fazer o seu trabalho: brilhar para nós. Desculpem-me a angústia. 

14 comentários:

  1. Caro Gabriel,

    É de facto impossível não lembrar essas palavras de Pinto da Costa quando se ouvem as declarações do Conceição. Voltámos ao tempo do 'coitadinho' do Sporting, um grupo de bons rapazes que não incomoda ninguém...

    Quanto ao jogo jogado, também nos traz memória dos tempos de vitórias morais. Nada como começar o ano com grandes revivalismos, mas à boa maneira do Sporting olhos postos na época... futura!

    SL

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    1. Caro João,

      Nem mais. Vivemos para reviver e em negação.

      SL

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  2. caro, parabéns pela lucidez genial. Concordo também com o joão acima, voltamos às vitórias morais como se dieputar um jogo em casa, e fizemos um bom jogo, não fosse a nossa obrigação. Voltamos ao discuros do coitadnho e da preparação da próxima época. Toda a gente nos via dar palmadinhas nas costas.

    Luís Macedo

    SL

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    1. Meu caro,

      Obrigado. Já se sentem as palmadinhas nas costas. Quando são condescendentes e nos dão palmadinhas isso tem um nome, não?

      SL

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  3. Já para não falar da vergonha da passagem de "o mundo sabe que" com o jogo a decorrer. De um alvalade abafado pelos adeptos portistas. Já para não falar de nenhuma palavra sobre o comportamento dos No Name em Guimarães, as palavras vão todas para os nossos. Quanta gente foi afinal ao estádio num domingo à tarde???

    SL

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    1. Meu Caro,

      No início ainda pensei que estavamos perante alguém que queria dar uma certa ordem ao futebol portugûes, começando pelas claques. Depois percebemos que tudo não passa de uma vendetta (e não me parece que seja apenas do presidente) para apagar tudo que estaria relacionado com a direcção anterior: claques, músicas, até o estádio cheio. Com a No Name vivem eles bem. E os Super Dragões também apreciaram o ambiente.

      SL

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  4. E ninguém poderá dizer que não morreremos de forma absolutamente única e espectacular!!! Ao discurso de velório do nosso Querido Sérgio só faltou o piscar de olho directivo às viúvas que vamos deixar, como já antes fizeram p.ex. a Moutinho e Comp. Lda..

    Ontem jogámos com a nossa melhor equipa (a diferença entre Battaglia e Doumbia não é significativa) e fizemos provavelmente o melhor jogo que a nossa melhor equipa tem capacidade para fazer.

    É bom que tenhamos noção que o jogo de ontem é o melhor que conseguimos produzir, pode correr bem num dia de acerto na finalização ou correr mal noutro onde a bola não entre.

    Agora é tentar fazer o nosso melhor o máximo de vezes possível até final... não vai ser simples.

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    1. Meu caro,

      Quando tocam os sinos a finados, todos se aproximam do velório para dizer umas palavras de circunstância sobre o morto. Ainda não estamos mortos, mas cheira-lhes a carcaça moribunda.

      SL

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  5. Não vejo razão para tanta angustia.

    O nosso mister, perfeitamente alinhado com a estratégia da direcção e consciente do papel e dimensão do clube, está confiante que ainda vamos apanhar e ultrapassar o Famalicão.
    Não disse nada sobre Guimarães e Braga o que indicia que estamos fortes e nem sequer são assunto.

    A aposta na formação segue dentro de momentos com mais meia duzia de artigos no jornal dos amigos sobre o Pedro Mendes. Infelizmente o mister não deve ler jornais, não percebe o génio que ali está e não o convoca.
    Podia ser também com o Daniel Bragança mas o Keizer preferia o Eduardo e mandou-o para o Estoril sem possibilidade de regresso a meio do ano. À revelia da “estrutura”, aparentemente. Malvado do Keizer.

    Para acabar em beleza só falta venderem, a meses do Europeu, o jogador que se vangloriavam de conseguir manter no R&C da época anterior mas que afinal até queriam vender. Ou não. Não sei o efeito que o frio e as rabanadas podem ter tido nas convicções desta gente.

    O que nos vale é que a direcção tem a origem dos problemas do Sporting bem identificada: as claques. Ou porque existem, ou porque não apoiam. Facil, Facil...

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    1. Meu caro,

      É uma angústia solar. Todos temos mais em que pensar. Mas que o clube está sem direcção definida está. Não tarda teremos uma narrativa sobre as contas. Nada de novo, meu caro, já vivemos este filme.

      SL

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  6. Como se fala de angústia, lembrei-me do livro de Graciliano Ramos, ecritor brasileiro do Nordeste, onde há muito sol mas, confesso, que terminar de ler o seu livro "Angústia" foi angustiante. Ou, dada a época do ano, de "Inverno do nosso descontentamento" de Steinbeck mas, a nossa angústia começou no Verão quando levámos cinco batatas dos lampiões e o "homem do leme" disse que não estava preocupado, aí, logo se percebeu que a época iria ser angustiante, com sol ou com chuva.

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    1. Meu caro,

      Acompanho-o nas leituras. Principalmente o Steinbeck. A nossa angústia não tem época. Temos que acabar com isso. E reescrever a nossa angústia.

      SL

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  7. Uma memória de 6 de Janeiro 2017:
    Gostei de ler em oartistaegoleador
    "É o momento certo também para o Sporting perceber se todo o investimento deste ano valeu a pena, ainda mais quando se falharam a maioria das contratações e o estado das coisas em nada se alterou no nosso futebol.
    Talvez esteja na hora de despachar os artigos com defeito e fazer regressar a prata da casa, que fará certamente melhor, com mais paixão e entrega e por menos dinheiro. Eles hão-de justificar a aposta e serão depois recompensados por isso, como foram outros. Porque a nossa formação é selo de qualidade e basta olhar para o que de melhor tem o nosso plantel.
    Que esta revolta sirva para canalizar as forças para o que resta da temporada. Vamos precisar de estar juntos, unidos e fortes. "
    # anos depois mais do mesmo...nem unidos nem fortes SL

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    1. Meu caro,

      Fui ver. Unir as forças tem que partir de cima. A responsabilidade também. Setenta milhões mais a academia não são coisa pouca. Haja vontade e capacidade. A segunda parece-me mais difícil.
      SL

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