terça-feira, 30 de janeiro de 2018

No princípio era uma ideia...

Na base da sua Ideia, estará o conceito platónico de princípio geral (do mundo inteligível), o qual se constituirá na Ideia Universal, donde brotam as nossas ideias das coisas. Jorge Jesus, certamente um platónico, devidamente secundado pelo Professor Manuel Sérgio, constitui assim a base da sua ideia de jogo, que por sua vez se constituí como ideiazinha universal que ultrapassa velozmente qualquer ideia, seja de quem for.

Nessa sua ideia, cabem uns vinte e tal malotinhas que devem jogar à bola segundo o princípio universal do mister. Quando isso não acontece, o problema não reside na ideia universal, nem sequer na ideiazinha universal, mas na incapacidade do malotinha ou malotinhas em perceber, sentir, e expor em campo essa brisa perfeita de um ideal. Acontece, não raro, que um malotinha escolhido para representação ideal dessa ideia, seja incapaz de a realizar. Nesse caso, muito provavelmente, a escolha desse malotinha não vem do ideólogo da ideia mas de outros, nem sempre capazes de a acolherem.

Outras vezes, também com alguma regularidade, alguns malotinhas são afastados do grupo e do seio da grande ideia, voltando muito tempo depois a serem acolhidos no regaço da mesma. Não se percebe o porquê de, da grande ideia universal apenas brotar uma ideia (também ela universal) de jogo. Eu próprio sou capaz de ter mais de uma ou duas ideias por semana. Mas nem sempre, admito.

Dá-se o caso de alguns malotinhas, mesmo os que não jogam, eu incluído nesse lote, não fazerem a mínima ideia da ideia do mestre, notando-se, por vezes, que o mestre oscila na corda bamba dessa ideia, mas sem nunca a renegar. Deve ser mesmo uma grande ideia que emana da ideia universal. Somos campeões de inverno da taça CTT. Ainda não perdemos cá no burgo. Mas sinceramente, não fazemos a mínima ideia do que poderá acontecer. Pois não?


segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Verdades, mentiras e vídeo

A Taça da Liga merecia também um filme de Steven Soderberg. Em 2009, o vídeo não deixava margem para dúvidas: o Pedro Silva tinha dominado a bola com o peito. Seguiu-se uma rábula protagonizada pelo Lucílio Baptista e a sua equipa de arbitragem que se concluiu com um “penalty” contra o Sporting. Como se demonstrou, nenhum dos árbitros tinha efetivamente visto “penalty” algum, tendo o bandeirinha que estava mais mal colocado adivinhado que tal tinha acontecido. Havia vídeo mas, de acordo com as regras, o que valia era a mentira. Essa taça passou a ser um símbolo da mentira do futebol português.

Este fim-de-semana assistiu-se a vídeos e a mentiras, tendo, apesar de tudo, prevalecido a verdade ou, pelo menos, parte dela.

Contra o Porto, mesmo com vídeo e vídeo-árbitro, o árbitro não marcou um “penalty” escandaloso a favor do Sporting. Sem vídeo-árbitro, o árbitro não marcou o “penalty”. Com vídeo-árbitro, o árbitro continuou a não marcar o “penalty”. Um pouco mais tarde, o Porto marcou um golo. O árbitro e o fiscal-de-linha nada assinalaram. O vídeo-árbitro veio confirmar que o jogador do Porto estava fora-de-jogo, restando saber se muito se pouco. Sem vídeo e vídeo-árbitro, continuava-se com a mentira toda. Com vídeo e vídeo-árbitro, repôs-se parte da verdade.

Estranhamente estes dois lances foram equiparado, como se uma mentira fosse igual a uma verdade. A coisa foi tão longe, que ouvi um daqueles entendidos da bola que pululam na televisão a dizer que o árbitro e o vídeo-árbitro só tinham reposto a verdade no segundo lance, porque sabiam da mentira no primeiro. De repente, uma mentira passou a ser igual a uma verdade. No futebol português, está toda a gente tão habituada à mentira que a confundem com a verdade. A verdade, as duas verdades, é que foi “penalty” contra o Porto e o golo foi marcado em fora-de-jogo.

Contra o Setúbal, o árbitro não viu “penalty” nenhum. O vídeo-arbitro veio confirmar que tinha sido “penalty”. O árbitro não quis acreditar no óbvio e foi confirmar também. Demorando cerca de cinco minutos, acabou por marcar “penalty” a muito custo, tendo-se esquecido de expulsar o jogador do Setúbal. Numa das substituições, o jogador do Setúbal atirou-se para o chão e demoraram cerca de três minutos para o tirar de campo. Estes oito minutos, mais as substituições e todas as estratégias de perda de tempo do Setúbal, deram origem a uma compensação de cinco minutos. Sem vídeo e vídeo-árbitro, continuava-se com a mentira toda. Com vídeo e vídeo-árbitro, repôs-se parte da verdade, mantendo-se parte da mentira no que respeita à expulsão do jogador do Setúbal e ao tempo de compensação.

Sem vídeo e vídeo-árbitro não teríamos chegado à final. Mesmo na final, sem vídeo e vídeo-árbitro não teríamos ganhado. Não ganhou a verdade toda. Ainda se manteve uma parte da mentira. Mesmo sem a verdade toda, ganhámos. Com a verdade toda, talvez nem precisássemos da lotaria dos “penalties”. A quem é que interessa continuar com a mentira? Não me parece que seja ao Sporting.

domingo, 28 de janeiro de 2018

«O peido que a senhora condessa deu, não foi ela, fui eu»



Tal como celebra a mitologia do anedotário nacional, atribuindo a Bocage, poeta setubalense, o dichote acerca do peido da senhora condessa, também agora o peido do senhor Jesus não foi dele, foi provavelmente do Nelson.
O Nelson, só pode ter sido ele, pôs a jogar de início o Bryan, o Montero e o Rúben e esqueceu-se do Acuna e do Battaglia e outras maldades que agora, por falta de paciência e memória, não me apetece enumerar. Aliás, tivesse eu memória e até correria o risco de me lembrar de outra Taça conquistada, há não muito tempo, por um treinador infinitamente menor e com um plantel bem inferior e já com o Nelson.  
Felizmente, na segunda parte, o Salvador (o Nosso) voltou. Jesus pôs tudo na ordem, colocou os do costume, nos sítios do costume e foi a estória do costume. A equipa de futebol, antes conhecida por Sporting e agora identificada por "a equipa de Jorge Jesus", lá foi indo, nem bem nem mal, antes pelo contrário.
Nos penaltis, o Nelson, mesmo que mais aligeirado de responsabilidades, não se deu sequer ao trabalho de ir para trás de baliza, como Jesus lhe tinha ordenado. Assim o Patrício não defendeu nenhuma. Felizmente, os rapazes, superiormente orientados por Jesus que os ensinou a todos, lá meteram as cinco “batatas”. Da próxima, quando as coisas não correrem tão bem, já sabemos de quem será a culpa. Da condessa e do Nelson, naturalmente.

Taça Pedro Silva

Mal soube da constituição da equipa percebi logo que hoje ninguém nos conseguia parar. O Jorge Jesus assegurou que o faríamos pelos nossos próprios meios, entrando para esse efeito o Bryan Ruiz e o Montero. Entrámos parados e parados ficámos durante quarenta e cinco minutos. Era assim que estava o Coates quando aconteceu golo do Setúbal, seguindo escrupulosamente as instruções do treinador. Há jogadores que não estão com boa cara, como o Rúben Ribeiro, o Coates, o Bryan Ruiz ou o Montero, mas não estão pior do que muitos outros que jogam no campeonato de veteranos. Estava à espera de ver jogar o Manuel Fernandes e mais vontade tive de o ver entrar quando percebi que era o Doumbia a entrar em vez dele num momento que tão precisados de golos estávamos.

Para a segunda parte, o Jorge Jesus mandou entrar uns rapazes mais novos e tirou os mais velhos. Encostou o Acuña à esquerda, meteu o Battaglia no meio para avançar o Bruno Fernandes, que passou a jogar da direita para o meio. Num primeiro momento, os jogadores pareceram ficar surpreendidos com a possibilidade de se jogar a correr e de com essa falta de (es)tática se criarem oportunidades de golo. Só assim se explica tamanho desperdício.

O desperdício era tanto que numa só jogada desperdiçámos três vezes o golo a um metro da baliza, tendo um jogador do Setúbal acabado com aquele sofrimento do guarda-redes de lhe estarem sempre a atirar bolas contra ele e metido mão à bola. O árbitro e o vídeo-árbitro demoraram mais ou menos dois dias para deliberarem e decidirem o “penalty”. Rui Costa, rigoroso como é, resolveu compensar essa paragem com cinco minutos de descontos. Percebendo também que o jogador do Setúbal não tinha nenhum objetivo de evitar um golo mas tão-somente o de terminar com o suplício do guarda-redes, não lhe mostrou o vermelho.

A empatar, o Setúbal apostou tudo nos “penalties” e o Rui Costa também: entre substituições, lesões e outras perdas de tempo, não mais se jogou à bola até ao final do jogo. Aparentemente, o José Couceiro pensava que o Edinho podia marcar os “penalties” todos. Não podia, como lhe explicaram. Marcou somente um e pode ir para a reforma contar aos netos esse seu feito, mostrando as imagens a despir a camisola e a fazer umas macacadas que ninguém percebeu. O Jorge Jesus meteu a “carne toda no assador” e não dispensou as superiores qualidades do Coates e do William Carvalho na marcação de “penalties”. Não podendo contar com o Nelson atrás da baliza, era a última arma que dispunha. Ganhámos, demonstrado que parados e de bola parada ninguém nos para.

PS1. Somos os melhores adeptos do Mundo. Hoje, foram os adeptos a levar a equipa às costas. É inacreditável a forma como nunca perdemos a crença. 

PS2. Hoje devia ter sido o Pedro Silva a erguer o caneco. Não se pode reparar o esbulho do Lucílio Baptista. Mas convém nunca o esquecer, como se viu hoje outra vez. Para mim, acabou a Taça Lucílio Baptista e começou a Taça Pedro Silva.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

C'um caneco

A (des)organização da meia-final da taça Lucílio Batista, rebaptizada de CTT fez jus ao seu nome: uma bela merda. Desculpem-me a sinceridade linguística.  Alterações à circulação pedonal (pasme-se) através do Bairro da Misericórdia, supostamente existe por ali uma casinha da claque feminina (?) do Braga, obrigou a malta a uma volta razoável e a algum corta mato. Chegados à entrada exterior do recinto, filas intermináveis de Sportinguistas, mas lá conseguimos entrar. Depois foi pior, com bilhete para entrar na porta 9 ou 19, ambas se encontravam fechadas. Fizeram-se algumas perguntas. A resposta era a porta 15 para toda a gente. Como é possível só uma entrada? O mais caricato é que era só fogo-de-vista. A malta se quisesse entrava de bazuca e lança granadas (do outro lado a claque do porto fez algumas demonstrações pirotécnicas do mais fino quilate). Entrados, lá subimos as escadas mas não nos deixaram ir para o piso superior (estava cheio?), parece que os bilhetes eram daqueles das camionetas antigas, cada um sentava-se onde queria e podia. Lá descemos 50 lanços de escadas e entramos finalmente a um minuto do início do jogo. Outras centenas (milhares) não tiveram essa sorte e foram entrando às pinguinhas, ficando muitos deles no início da bancada junto ao relvado, obrigando assim todos os outros a levantarem-se.

Começa o jogo. Rapidamente percebi o porquê de se dizer por aí que o Porto é uma equipa intensa: chaga a ser gratificante ver a forma desinibida como distribuem pau, lenha da antiga, com o beneplácito do homem do apito, fazendo jus à memória das arbitragens de Lucílio baptista. O homem do apito, aliás, sofreu durante o jogo praticamente todo de miopia daltónica, entremeada com verdadeiras alucinações, isto é, não via coisas consoante a cor das camisolas dos intervenientes, e via (imaginava) coisas consoante a cor da camisola dos intervenientes.

 Por outro lado, rapidamente se percebeu que havia jogadores a menos do lado do Sporting: o Gelson teve que pedir (desde o início do jogo que se via isso) pelas alminhas para sair, e foi preciso atirar-se para o chão aos gritos para o conseguir. O Acuna parecia que ia explodir a qualquer momento, e fiquei com a sensação que bastava tapar-lhe boca por segundos para irmos todos pelos ares. Não sei porquê mas o Rúben Ribeiro dá a sensação de andar por ali perdido, não fosse o cabelo amarelo e dificilmente tínhamos dado por ele. O William, por seu lado, arrasta a sua lentidão com a classe que lhe reconhecemos, não esteve mal na primeira parte, muitas vezes como verdadeiro libero. Grande jogo do Coentrão e do Mathieu.


Do jogo não rezará a história. O Rui já disse tudo. Se aquela que foi à trave tem entrado, tinha conseguido beber a primeira cerveja mais cedo. A saída foi outro filme dos antigos. Primeiro esperar que os meninos do Porto saíssem, por motivos de segurança, disseram, sem se rir. Lá subimos 10 andares, mais uma voltinha ao parque da pedreira para nos encontramos todos, Sportinguistas e Portistas na primeira curva da estrada. Sem polícia por perto. Correu bem. Agora é erguer o caneco no sábado. Aposto que o Gelson vai jogar. 

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

O amor está no ar!

A Taça Lucílio Baptista e a sua final não interessam para nada. A meia-final ainda menos, se tal é possível. Interessava ganhar ao Porto. Ganhar, desesperadamente ganhar. Por todas as razões e mais uma: não há bancos de suplentes que cheguem para a raiva do Coentrão.

Não entrámos mal. Os calmeirões do Porto demoraram a aquecer. Depois de aquecerem, começaram a lavoura do costume. Primeiro, distribuíram pau em tudo o que estava de pé, até não sobrar nenhum. Depois terraplenaram o campo para cima e para baixo, tantas quantas as necessárias, ao ritmo do batuque do Marega. Chegámos ao intervalo a respirar por uma palhinha.

Esperava-se o pior na segunda parte. A equipa estava dizimada. Restavam as nossas duas torres e o monstro das balizas. E havia o Battaglia, o nosso Tenente Ressler, do Blacklist. Como ele diz, “I’m only doing my job. I’m a field agent. I kick down doors. I’ll leave all the politics and the bureaucracy to the pros”. Bateu tanto mas tanto no Brahimi que até a mim me chegou a doer. Mas o Brahimi nunca quebrou nem torceu. Aguentámos investida atrás de investida e não só não desarmámos como complicámos. O Jorge Jesus tirou duas lesmas, o Acuña e o Rúben Ribeiro, e meteu duas moscas mortas: o Bryan Ruiz e o Montero. Estávamos com cerca de dez jogadores e passámos a nove num só golpe (de génio).

Chegámos aos “penalties” com alívio e esperança. O monstro das balizas tinha-nos dado a última final da Taça de Portugal e também nos iria dar esta vitória. Nenhuma equipa do Mundo marca cinco “penalties” seguidos ao Rui Patrício. Procurámos equilibrar esta vantagem, colocando o William Carvalho a marcar o último “penalty”, quando sabemos que em cinco penalties seguidos não marca um. Mas um monstro é um monstro e o Brahimi assustou-se. Finalmente percebemos a razão não só de o continuarmos a ver a jogar como da própria existência do Bryan Ruiz: marcar o penalty decisivo.

Mas o principal resultado do jogo não foi a vitória. Finalmente, desfez-se aquele que era o maior mistério do Sporting e que o Jorge Jesus não se cansava de procurar deslindar. Pensava-se primeiro que era o Gelson Martins; depois o Podence; depois ainda o Bruno Fernandes; por fim, o Rúben Ribeiro. O mistério em vez de se deslindar adensava-se.

Hoje tudo ficou esclarecido. Começou por lhe agarrar a camisola, como quem brinca à apanhada, seguido de um abraço terno e de um mão trémula que desliza pelo tronco forte à procura da braguilha. O árbitro, Nuno Almeida, viu e confirmou. O vídeo-árbitro, Artur Soares Dias, viu e confirmou também. Não era falta. Não era “penalty”. Era amor. Não me espantaria se saísse agora de casa e encontrasse o Danilo e o Bas Dost de mãos dadas nos bares junto à Sé de Braga. O acasalamento que tanto o Jorge Jesus procurava consumou-se. Um final feliz, pois.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Mais uma época sem escalpe

Saem mais uns tantos jogadores e entram outros tantos ou mais: Rúben Ribeiro, Wendel, Misic e Montero. Aguardam-se notícias do Raphinha e do Marcelo. Como a equipa titular está a cair aos bocados, se os que saem não contam, ainda bem que saem, para entrarem outros que contem. O problema é que o Jorge Jesus nos vai informando que os que entram não contam também. Então, entram para quê?

O Wendel e o Misic estavam de férias. O Montero não joga desde novembro. Aparentemente vêm fazer uma pré-época de seis meses para se prepararem para a próxima. Mesmo que venham o Raphinha e o Marcelo, ninguém acredita que peguem de estaca na equipa. Talvez o Raphinha seja uma alternativa para sair do banco, mas não estou a ver como é que o Marcelo vai jogar (durante os jogos não se substituem centrais e para terceira opção não parece que o André Pinto não tenha dado conta do recado).

A equipa está a cair aos pedaços e a época pode perder-se este mês. Nos filmes do faroeste, quando tudo parece perdido e os índios já afiam os “tomahawks”, aparece sempre a cavalaria. Aparece no limite mas aparece. No nosso caso, a cavalaria também parece que chega a tempo mas, na prática, vai chegar com seis meses de atraso (ou de avanço). Preparamo-nos para uma época em que ficamos sem escalpe outra vez. Se é para ser assim, prefiro que venha já o John Wayne de fato de treino. Prefiro quem masque tabaco a quem masque chiclete.

sábado, 20 de janeiro de 2018

Esperar e ter esperança

Perdemos, perdão, empatámos com, porventura, a pior equipa do campeonato. Era tudo demasiado fácil para não procurarmos complicar. Contra um ataque inofensivo, um meio campo à deriva e uma defesa a dar abébias, nada melhor do que a célebre ideia de jogo do Jorge Jesus, seja isso o que for. A execução dessa ideia de jogo transformou-se num fim em si mesmo, interessando pouco os resultados.

O que falta em capacidade de explosão e potência nos jogadores, sobra na arte de trocar a bola a toda a sela, a passo e sem o propósito devido: o golo. Os jogadores deleitam-se em jogadas inconsequentes, jogando ao “meiinho” com o adversário sem perder a bola para não terem de correr atrás dela. Jogam ao “meiinho” na defesa, jogam ao “meiinho” no meio-campo, jogam ao “meiinho” na área do adversário, contando com o empenho e dedicação do próprio Bas Dost. Os jogadores acasalam todos tanto e tão bem que se esquecem que o objetivo é consumar o ato com o adversário. O Ruben Ribeiro encaixa que nem uma luva no ritual e o Montero, sempre que não estiver acabrunhado, o que é raro, também encaixará.

O fácies dos jogadores não denota uma centelha de irritação, de raiva ou de incomodidade. A placidez, a troca de palavras amigáveis, pedindo sempre desculpa se não passaram a bola a outro, o autocontentamento só são quebrados quando o Bruno Fernandes vislumbra o espaço que os outros não veem e inventa uma jogada ou o Gelson Martins estica o jogo. Sustemos a respiração, mas por pouco tempo.

O Setúbal só teve que fazer o que fazem todas as outras equipas: esperar. Esperar até que o tempo nos vá desgastando, física e psicologicamente, e se instale alguma ansiedade. Quando o jogo caminha para o fim, basta meter uns avançados frescos e acreditar que, numa biqueirada para frente, uma desconcentração da defesa ou um golpe de sorte lhes permita marcar um golo. Foi o que aconteceu ontem. Não se pressionou como se devia o lançamento lateral, o Coates estava desconcentrado e o Mathieu não tinha pernas para chegar mais cedo ao adversário. Se fosse no princípio do jogo, dificilmente teria acontecido. É por isso e só por isso que sofremos golos a acabar os jogos.

O que fazer? Esperar, continuar a esperar. Não é só a nossa sina. Somos realmente bons nisso. Outros já teriam desistido. Apesar de tudo, no final do jogo de ontem houve um sinal, um sinal só para ter esperança: a raiva do Coentrão. Espero que ele e outros em vez de esmurrarem o banco dos suplentes esmurrem as fuças do Jorge Jesus, dizendo-lhe que querem marcar golos, ganhar jogos e conquistar títulos e que estão fartos de defender a ideia de jogo do treinador como se ele e só ele interessasse.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Ganhar a quem ganhou e assim por adiante

Jogávamos contra o mais que provável finalista da Taça de Portugal. A equipa que ganhou à equipa que ganhou à equipa contra a qual empatámos a jogar fora, levando um banho de bola. Jogávamos também contra alguns jogadores dessa equipa que nos ganhou moralmente, sendo que nenhum deles era o Danilo, embora tenham em comum com ele o facto de serem produtos financeiros especulativo ao estilo do Saco Azul do BES e da Ongoing que vão sendo transacionados sucessivamente a uma tal velocidade que, como se viu ontem no jogo do Braga contra o Benfica, nem chegam a perceber quais são os colegas de equipa. Todos os cuidados eram poucos, pois.

Entrámos com a tática habitual retirada de um manual de Subbuteo. A bola é passada entre os jogadores de pé para pé sem ninguém sair do sítio. De vez em quando, o Gelson Martins, o Coentrão ou o Bruno Fernandes desatinam e correm à desfilada para grande consternação de Jorge Jesus. O Aves começou a queimar tempo desde o primeiro minuto. Não havia livre, lançamento lateral ou pontapé de baliza que demorasse menos do que uma eternidade. Nesse aspeto, o Quim foi insuperável. Não pareceu uma aposta inteligente a de perder tempo parando o jogo. O Sporting encarrega-se de o fazer sem ajudas, trocando permanente a bola de forma inconsequente.

Para lhes dar confiança, deixámos que o Aves tivesse as duas primeiras oportunidades de golo. Na primeira, o Rui Patrício fez a mancha habitual. Na segunda, o Salvador Agra, essa grande esperança do futebol português de vinte e tal anos que o Benfica contratou esta época para conseguir o penta, pensou que tinha enganado o Mathieu não percebendo que quem estava a ser enganado era ele, limitando-se o Rui Patrício tirar-lhe a bola dos pés. Até que o Rúben Ribeiro, que dá mostras de estar plenamente integrado na (es)tática do Jorge Jesus, sacou uma jogada de peladinha e meteu a bola na cabeça do Bas Dost, que se tinha desmarcado como quem diz “mete-a que eu empurro-a”, em holandês, claro está, para o primeiro golo.

Na segunda parte entrámos com um pouco mais de vontade e de velocidade, mas quem pensava que o jogo prometia enganava-se. O Gelson Martins ensarilhou-se com a defesa e um deles fez penalty. O Bas Dost marcou o segundo golo com a paradinha do costume. Todos os guarda-redes sabem de antemão o que ele vai fazer, mas acabam sempre deitados a olhar para a bola dentro da baliza. A vontade e a velocidade, que eram poucas, despareceram. O Aves desanimou definitivamente. O Acuña arranjou uma lesão conveniente. Entrou o Bryan Ruiz para acabar de entediar os que ainda não estavam entediados. A lentidão é sempre tanta que não há melhor para queimar tempo. No entanto, contrariando as orientações de Jorge Jesus, o Bruno Fernandes desmarcou o Piccini pelo lado direito que centrou para o Bas Dost fazer o “hat-trick”.

O Jorge Jesus considera que o Bas Dost precisa de alguém muito específico para acasalar e continua na demanda do Santo Graal. Havia o interesse de ver em que medida o Rúben Ribeiro acasalava com o Bas Dost. Acasala e muito bem, como se viu. Não parece é que o Bas Dost acasale com o Rúben Ribeiro de forma muito diferente da que acasala com outros, como o Gelson Martins, o Podence, o Bruno Fernandes ou o Piccini. Não é homem para um homem só, mas também não parece dado à devassa. É mais dado à monogamia em série, tal o amor que dedica em cada golo a quem lhe passa a bola, seja ele quem for.

sábado, 13 de janeiro de 2018

A procissão já não vai no adro

Vai a meio. E o Sporting não apenas está em todas as competições, como luta por elas com legítimas expectativas de vitória. Em todas as modalidades e escalões. Passado o Natal e os Reis, não se escutaram as piadas do costume. Pelo contrário, certamente que os emails falam de um outro Natal, cuja localização não dista muito de Alvalade. Aguardemos pois, pelo Carnaval, ou Dia dos Namorados, talvez pelas feiras de tradições que proliferam pelo nosso país em Fevereiro, para encontrar uma época propicia para as nossas cerimónias fúnebres, assim o sonham os nossos adversários. Se tudo falhar, certamente que cairemos lá para o dia do Pai, de Março é que não passamos, parece que os estou a ouvir, máximo dos máximos, lá pela Páscoa, tu queres ver.

Do andar da procissão, recordo, não sem vontade de rir, as lamúrias dos entendidos, que o Sporting empatou os jogos importantes, a saber: com o Porto, Braga e Benfica. Como se, para empatar, do outro lado não estivesse também uma equipa que empatou. E nos sonhos deles não está. Recordo o prodigioso sonho, perdão, a prodigiosa vitória (moral) do Benfica em casa connosco que contou apenas um ponto. Recordo que o Sporting entrou de forma mais ou menos displicente como sempre o faz com equipas menores. Isto há-de resolver-se, pensaram. E, não fosse o Gelson, no final da primeira parte, ter falhado um golo cantado, não teríamos o (tal) prodígio da segunda. A equipa mais pequena a acreditar e agigantar-se (e depois a queixar-se) e a ganhar moralmente. Em tudo, não sei se perceberam, um jogo semelhante ao disputado com o Cova da Piedade, com a ligeira diferença do adversário ter disputado o jogo todo, e logo na primeira parte ter tido duas oportunidades de golo para abrilhantarem a nossa moinice displicente.

Tivesse o Piedade seis milhões de adeptos e trezentos e vinte comentadores a soldo e teria sido a nossa cova, pelo menos moralmente. E se calhar com mais razão. A nossa sorte é eles não estarem na primeira liga, caso contrário, seriam quatro candidatos ao título. Perdão, cinco. É que hoje o braguinha pode ganhar, sabiam?

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Piedade de nós e de (Jorge) Jesus

É preciso ter piedade de Jesus. O Bruno de Carvalho tem que lhe dar as prendas que ele quer por que, de outra forma, esta equipa ainda nos sai uma rica prenda. Não sei se a culpa é do Jorge Jesus que não consegue encontrar alternativas ou que manda os suplentes jogar mal para receber as ditas prendas. O que sei é que se era para jogar com o Bryan Ruiz a oito mais valia termos ficado com o Aquilani. Dentro do mesmo estilo, no que respeita ao corte de cabelo e à barba aparada, o Aquilani sempre corria mais alguma coisa e passava a bola mais depressa (fiz uma rápida sondagem a umas amigas e todas me disseram que, na dúvida, também ficavam com o Aquilani).

O Piedade é que não teve piedade nenhuma de nós. Fechou-se atrás, esperou que perdêssemos umas bolas e fez uns contra-ataques a aproveitar a enorme capacidade de marcação com o olhar e os cabelos ao vento do Bryan Ruiz. Acertaram duas vezes nos ferros e, por sorte, o Rui Patrício não levou duas sem culpa nenhuma como habitualmente. Na primeira parte, para a troca, o Sporting não fez uma jogada de jeito ou um remate com perigo que se visse.

Para a segunda parte saíram o Bryan Ruiz, rumo ao México, e o Bruno César para entrarem os inevitáveis Bas Dost e Bruno Fernandes. A jogar com onze, a equipa melhorou. O Podence encostou definitivamente à direita, os laterais subiram para dar mais largura ao jogo de ataque, o Bas Dost ficou mais fixo entre os centrais e o Doumbia, mais móvel, recuava para o apoio (impressionou-me a forma como o Doumbia cumpriu este posicionamento tático que o Jorge Jesus lhe ordenou, tendo em consideração a forma fluente como os dois dialogam em francês). O Piedade fechou-se ainda mais e passou-se a jogar nos últimos trinta ou quarenta metros. Esperava-se o golo a qualquer momento e ele aconteceu. O Bruno Fernandes foi enganando uns tantos incautos que lhe foram saindo ao caminho até rematar e fazer a bola passar por cima do guarda-redes depois de tabelar no Evaldo (não sei se o Evaldo dá azar a qualquer equipa ou se trouxe o azar de Alvalade).

Mal marcámos o golo, sofremos uma súbita paragem cerebral coletiva. Alguém perdeu uma bola parva. O Piedade tentou fazer não sei bem o quê pelo lado direito. Alguém cedeu um canto parvo. O Piedade mandou uma bola para um cabeceamento fora da área, a defesa subiu e houve um parvo que deixou os adversários em jogo. A bola embrulhou-se entre vários parvos e o parvo do árbitro viu um “penalty”. Acabámos por sofrer o empate, sem o Rui Patrício ter culpa nenhuma e sem termos o Gelson Martins para entrar. Voltámos ao mesmo, mas com mosquitos por cordas. Até que o Bas Dost fez o que tinha de fazer, fazendo um “amortie” com a sola da chuteira para dentro da baliza. O jogo acabou naquele momento. No lado esquerdo do ataque, o Acuña, o Coentrão e o Bruno Fernandes, com uma ou outra ajuda, encanaram a perna à rã o resto do tempo entre faltas, lançamentos laterais e cantos.

Estes jogos à quarta-feira deixaram de ser pagos como horas extraordinárias e não dão direito a ajudas de custo quando se disputam fora de Alvalade. Nestas condições não se pode pedir muito mais aos jogadores. Pedia-se mais ao árbitro que sempre recebe algum. Na SporTv não se passou nada. Na BenficaTv teria sido um festim. O Rui Vitória passaria a seguir a sua carreira e as claques do Benfica, perdão, uns grupos (des)organizados de adeptos, passariam a segui-lo também mas até casa se fosse preciso.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

“Double standard”

Há manifestamente “double standard” na avaliação dos treinadores pela imprensa e nos “media” em geral, conforme estejam ou não no Benfica. O Jorge Jesus sofreu isso na pele mais do que qualquer outro. Aquilo que era visto como mobilização e determinação durante os jogos, passou a falta de decoro e hooliganismo. Aquilo que era visto, com bonomia, como pitoresco e autêntico, passou a iliteracia e narcisismo.

O Rui Vitória é um caso extraordinário. É tratado como se fosse um senhor. No futebol português só houve um e chamava-se Bobby Robson. De repente, temos um tipo com conversa de chacha e ar entre o de funcionário das finanças reformado e o de professor de ginástica dos antigos, tratado como se fosse o Sir Bobby Robson. Toda a gente percebe que não passa de um sonso. No entanto, nunca os jornalistas o confrontaram com as suas contradições no que diz e nos seus comportamentos. O Sérgio Conceição limitou-se a constatar o que todos pensam e ninguém foi capaz de dizer. É por estas e por outras que gosto do Sérgio Conceição.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

O Marítimo jogou melhor do que nós na Luz

Vi o jogo no café do costume. Regressei a casa ainda a tempo de ver na SIC Notícias um caixa d’óculos qualquer aborrecidíssimo com a exibição do Marítimo. Mérito ao Sporting não atribuiu nenhum. Estou em desacordo. O Marítimo jogou melhor do que nós na Luz. Dizem que perdeu muitas bolas. Nós perdemo-las todas. A diferença está na qualidade dos jogadores. A jogar em 4x3x3 é preciso ter uma referência na área como o Bas Dost. De outra forma, há muita excitação pelas alas, muito entusiasmo, mas no momento da verdade ninguém sabe o que fazer à bola.

A história foi a história dos golos. Na primeira parte, fomos à baliza uma vez e marcámos um golo. Gostava de ver o Gelson Martins a meter mais destas de primeira para o Bas Dost. Assim é muito mais simples. Na segunda, ameaçámos num canto, pelo William Carvalho, e praticamente a seguir o Bruno Fernandes recuperou uma bola e isolou o Bryan Ruiz que a passo de caracol se deslocou para a área demorando tanto, mas tanto tempo a decidir o que fazer que quando decidiu já só lhe restava a opção de rematar. Não sei se ainda pensava que na baliza estava o Júlio César que, em circunstâncias semelhantes, meia-hora antes do remate do adversário atirava-se a adivinhar o lado para onde iria a bola.

A golearmos por dois a zero, o Jorge Jesus meteu trancas à porta. Entraram o Battaglia e o Acuña para substituírem o Podence e o Bryan Ruiz. Preparava-me para um resto de segunda parte completamente entediante. Felizmente, não foi assim. O Bruno Fernandes mais adiantado desatou a abrir o livro. Fez uma assistência para uma tapinha do Bas Dost no terceiro golo. A seguir, chutou com todas as ganas, permitindo uma grande defesa ao guarda-redes e uma recarga de cabeça do Bas Dost para o quarto golo (na dúvida, o Bas Dost foi-lhe agradecer o golo na mesma, como rapaz bem educado que é). Frustrado, em vez de atirar a toalha ao chão, atirou mais uma bomba para mais uma grande defesa do guarda-redes seguida de outra bomba do Acuña para o quinto golo.

De vez em quando, o Jorge Jesus prova a si próprio que o plantel é mais extenso do que ele próprio pensa. O André Pinto não comprometeu. O Iuri Medeiros entrou bem. O Bryan Ruiz é uma excelente alternativa a jogarmos com dez ou com o Alan Ruiz, que é a mesma coisa. Mas quem me impressionou mais foi o Ristovski. Com ele, a equipa ganha mais profundidade do lado direito, podendo o Gelson Martins jogar mais por dentro. O Piccini praticamente só apoia o Gelson Martins, não esticando tanto o jogo. É importante ter alternativas para surpreender os adversários.

sábado, 6 de janeiro de 2018

A Crónica dos Outros

Passados uns dias de um derby muito pouco normal é possível refletir não só sobre o jogo mas também as reações ao mesmo. Digamos que no jogo os papéis se inverteram, com o Sporting a fazer um jogo mais "à Benfica" e vice-versa. Os adeptos não trocam tão facilmente de papel, mas vou imaginar que o fariam.

Se o Benfica tivesse jogado como jogou o Sporting o que diriam eles e os cartilheiros deles sobre o jogo? Diriam que o Benfica tinha feito uma exibição 'personalizada', a gerir com mestria a vantagem magramente merecida aos 20 minutos. Um Freitas Lobo qualquer falaria da gestão dos 'momentos do jogo' ou na 'capacidade de sofrer'. O empate surgido a escassos minutos do fim e seria resultado não de má estratégia do (brilhante) treinador - que estava a 3 minutos de dar um KO num dos principais adversários - mas de um erro individual, claro está. Gelson Martins seria eleito o melhor em campo e andaria a semana toda a ser vendido aos maiores clubes do mundo, por verbas nunca vistas.

Como foi o Sporting que jogou assim, o que dizem os próprios Sportinguistas? Que foi uma vergonha jogar 70 minutos na luz a segurar o resultado de 1-0. Que o treinador persiste nos erros já cometidos noutras paragens e não aprende que nestes casos tem mesmo é de ir para cima deles e matar o jogo. Que há muito tempo que não jogávamos tão mal um derby. Que não conseguimos segurar resultados. Que este ano não nos conseguimos impor às equipas que estão mais próximas do nosso nível ou acima. Etc, etc, etc.

Assim como assim, revejo-me bem mais na crónica dos Sportinguistas. Quando assim é, deve estar tudo bem. E já agora, deixem o Gelson em paz.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Aberto até de madrugada

Sobre o último dérbi, duas notas apenas:
Quem ouvisse os adeptos, comentadores e, sobretudo, o treinador do Benfica no final do jogo, sentia uma certa euforia, uma daquelas euforias ocas que se denominam normalmente de vitória moral. De diagnóstico fácil, a vitória moral assenta num conjunto de pressupostos mais ou menos objectivos: árbitro, oportunidades falhadas, sorte, azar, o poste que não deveria estar ali, o jogador que não estava e deveria estar. Como especialistas em vitórias morais, e experts no quase, conhecemos bem esta maleita. Ainda bem que agora a doença está do lado deles. Deixem estar que está bem assim.

Do lado do Sporting, escutando alguns comentários, e percorrendo de forma não exaustiva a bloga leonina, apercebemo-nos de um certo desalento nem sempre assumido. Uma boa primeira parte, uma segunda parte que praticamente toda a gente prefere não abordar, e quando o faz, fá-lo sobre a forma de vassalagem ou de gosto de você leãozinho. Na verdade ganhámos um ponto. Desta vez o quase , foi um quase que aguentávamos o um a zero. E isso diz tudo sobre o Sporting neste jogo.

Na verdade o Benfica estava a três pontos do Sporting e por aí se ficou.  Estava a três do Porto e agora está a cinco. O Sporting continua com vantagem de três pontos sobre o Benfica, mas agora estando a dois do Porto. É fácil perceber quem foi o vencedor do dérbi. Foi o Porto, não foi Jorge Jesus?

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Compreensão lenta

Compreender o jogo de ontem contra o Benfica não é para qualquer um. A equipa do Sporting é melhor e o treinador também. Ficámos a ganhar cerca dos vinte minutos. Assistimos a setenta minutos em que o meio-campo do Sporting foi terraplanado com o treinador a ver e a não mexer uma palha. Quem não percebesse nada do futebol português, poderia ser levado a pensar que o Rui Vitória é um génio.

O William Carvalho a perder bolas sobre bolas e a não recuperar nenhuma, o Battaglia transformado num escuteiro, o Acuña a não conseguir atacar nem defender, parecia incompreensível. Mais incompreensível parecia a substituição do Gelson Martins pelo Bryan Ruiz. A saída do Gelson Martins parecia incompreensível, mas sempre se podia admitir que estava lesionado. A entrada do Bryan Ruiz é que parecia completamente incompreensível. Se era para jogar à Mourinho, entrava o André Pinto ou, na melhor das hipóteses, um trinco qualquer (admitindo que existia algum no banco). Se era para jogar como deve ser, entrava o Doumbia ou o Podence. Nessa altura veio-me à cabeça o óbvio, se não compreendemos o que vemos é porque não temos inteligência para tanto, sobretudo quando o que se vê tem o dedo do Jorge Jesus. Nessa altura, compreendi tudo.

Havia um plano. Doesse a quem doesse o Benfica não podia perder e nós estávamos lá para garantir que não perdesse. Depois dos emails e de campanhas miseráveis na Liga dos Campeões, na Taça da Liga e na Taça de Portugal, perdendo, corria-se o risco de a direção do Benfica cair de madura e com ela mais uns tantos maduros. Não queremos isso. Não queremos o Benfica fora do campeonato desde já. Queremos mais emails e revelações dos mercados da bola. Ainda ontem ficámos a saber que um jornalista de Lisboa ganha mais do que um jornalista do Porto e que qualquer um deles ganha menos num mês do que duas senhoras numa noite. Também não queremos ficar a disputar o título sozinhos com o Porto, que eles são manhosos e têm os emails.

Depois de compreender tudo, fiquei muito mais contente com o resultado. O plano foi executado com todo o brilhantismo, nem de mais, nem de menos. Talvez fosse de evitar o golo do Gelson Martins. Mas, tendo-se cometido esse erro, o penalty estúpido do Battaglia a acabar o jogo foi de génio (o Rafa, como sempre, tinha fechado os olhos e a bola preparava-se para esbarrar no Rui Patrício). Foi melhor assim. Até pareceu que não estava tudo planeado. Só uma dúvida me inquieta: e se o Jorge Jesus também recebeu algum email e apagou mesmo tudo?