Entrámos com a tática habitual retirada de um manual de Subbuteo. A bola é passada entre os jogadores de pé para pé sem ninguém sair do sítio. De vez em quando, o Gelson Martins, o Coentrão ou o Bruno Fernandes desatinam e correm à desfilada para grande consternação de Jorge Jesus. O Aves começou a queimar tempo desde o primeiro minuto. Não havia livre, lançamento lateral ou pontapé de baliza que demorasse menos do que uma eternidade. Nesse aspeto, o Quim foi insuperável. Não pareceu uma aposta inteligente a de perder tempo parando o jogo. O Sporting encarrega-se de o fazer sem ajudas, trocando permanente a bola de forma inconsequente.
Para lhes dar confiança, deixámos que o Aves tivesse as duas primeiras oportunidades de golo. Na primeira, o Rui Patrício fez a mancha habitual. Na segunda, o Salvador Agra, essa grande esperança do futebol português de vinte e tal anos que o Benfica contratou esta época para conseguir o penta, pensou que tinha enganado o Mathieu não percebendo que quem estava a ser enganado era ele, limitando-se o Rui Patrício tirar-lhe a bola dos pés. Até que o Rúben Ribeiro, que dá mostras de estar plenamente integrado na (es)tática do Jorge Jesus, sacou uma jogada de peladinha e meteu a bola na cabeça do Bas Dost, que se tinha desmarcado como quem diz “mete-a que eu empurro-a”, em holandês, claro está, para o primeiro golo.
Na segunda parte entrámos com um pouco mais de vontade e de velocidade, mas quem pensava que o jogo prometia enganava-se. O Gelson Martins ensarilhou-se com a defesa e um deles fez penalty. O Bas Dost marcou o segundo golo com a paradinha do costume. Todos os guarda-redes sabem de antemão o que ele vai fazer, mas acabam sempre deitados a olhar para a bola dentro da baliza. A vontade e a velocidade, que eram poucas, despareceram. O Aves desanimou definitivamente. O Acuña arranjou uma lesão conveniente. Entrou o Bryan Ruiz para acabar de entediar os que ainda não estavam entediados. A lentidão é sempre tanta que não há melhor para queimar tempo. No entanto, contrariando as orientações de Jorge Jesus, o Bruno Fernandes desmarcou o Piccini pelo lado direito que centrou para o Bas Dost fazer o “hat-trick”.
O Jorge Jesus considera que o Bas Dost precisa de alguém muito específico para acasalar e continua na demanda do Santo Graal. Havia o interesse de ver em que medida o Rúben Ribeiro acasalava com o Bas Dost. Acasala e muito bem, como se viu. Não parece é que o Bas Dost acasale com o Rúben Ribeiro de forma muito diferente da que acasala com outros, como o Gelson Martins, o Podence, o Bruno Fernandes ou o Piccini. Não é homem para um homem só, mas também não parece dado à devassa. É mais dado à monogamia em série, tal o amor que dedica em cada golo a quem lhe passa a bola, seja ele quem for.
Caro Rui
ResponderEliminarComo de costume uma excelente e realística crónica do jogo.
Tivessem outros essa capacidade de observação e análise.
Parabéns
Abraço
Caro Trindade,
EliminarObrigado. Com um pouco de sorte ainda acabo no "scouting" ou noutro departamento qualquer do Sporting com nome em estrangeiro.
Abraço
Cara Rui,
ResponderEliminarParabéns pelo resumo. Ler a sua crónica foi a única coisa relacionada com o jogo de ontem que não foi verdadeiramente entediante.
SL
Caro João,
EliminarTambém o escrevi para sacudir o tédio. Obrigado.
SL