(continuação daqui)
Com o Rui Borges a fazer de Rui
Borges e a dar o peito às balas, a inexistente estrutura poderia dormir mais
descansada. O exportado fora definitivamente exportado e com o seu braço
direito a prazo, entrávamos numa nova fase de reestruturação à portuguesa que
consiste basicamente em fazer de morto.
Fazer de morto tem que se lhe
diga: é preciso muito treino a alguma desenvoltura, ainda que estática. Esta
assentou na concepção de uma cabeça bicéfala (para mantermos aqui alguma
coerência anatómica) que substituiria o braço direito: um tecnocrata e um
olheiro, reportando diretamente ao presidente, este sim, um verdadeiro expert a fazer de morto, principalmente
quando a presunção o terá levado a abrir demasiado a boca.
A coisa até estava a correr bem,
no entanto, com alguns resultados menos conseguidos dos nossos rivais (ao Porto,
em falência de vários órgãos, falta-lhe a bengala que normalmente o amparava e,
no Benfica, o presidente Di Maria tudo tem feito para ser reconduzido mais um
ano, com o Otamendi a director desportivo), e com um Rui Borges habituado a
desenrascar-se, conhecedor das limitações do nosso campeonato, o dever de mexer
uma palha pôde dormir descansado durante algum tempo.
Enquanto isso, numa época em que
podemos comemorar o bicampeonato (inédito em muitas décadas), a equipa
desmoronava-se entre lesões e castigos, ao ponto de Fresneda aparecer a defesa
direito a fazer de um Fresneda que ele viu num filme espanhol sobre auto
motivação e capacidade de adaptação, filme esse que, não tarda, está a passar
no telemóvel do Esgaio.
À modernidade líquida de Bauman,
o Sporting contrapõe a futebolidade (deixem passar) líquida, onde a continuidade
se torne descontínua, fluindo em conformidade. Ao mesmo tempo, a essa futebolidade
e estrutura líquidas, junta-se o recurso à nossa senhora das dores, muito
requisitada por enfermos e enjeitados. Nesse sentido, compreende-se a invulgar
desenvoltura estática que nos acompanhou no último mercado, como se estivéssemos
bem providos. Entretanto, o braço direito foi definitivamente exportado.
Valha-nos o Biel Teixeira, que nos chega de São Salvador… da Bahia.