quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Nova teoria das estruturas (II)

(continuação daqui)

Com o Rui Borges a fazer de Rui Borges e a dar o peito às balas, a inexistente estrutura poderia dormir mais descansada. O exportado fora definitivamente exportado e com o seu braço direito a prazo, entrávamos numa nova fase de reestruturação à portuguesa que consiste basicamente em fazer de morto.

Fazer de morto tem que se lhe diga: é preciso muito treino a alguma desenvoltura, ainda que estática. Esta assentou na concepção de uma cabeça bicéfala (para mantermos aqui alguma coerência anatómica) que substituiria o braço direito: um tecnocrata e um olheiro, reportando diretamente ao presidente, este sim, um verdadeiro expert a fazer de morto, principalmente quando a presunção o terá levado a abrir demasiado a boca.

A coisa até estava a correr bem, no entanto, com alguns resultados menos conseguidos dos nossos rivais (ao Porto, em falência de vários órgãos, falta-lhe a bengala que normalmente o amparava e, no Benfica, o presidente Di Maria tudo tem feito para ser reconduzido mais um ano, com o Otamendi a director desportivo), e com um Rui Borges habituado a desenrascar-se, conhecedor das limitações do nosso campeonato, o dever de mexer uma palha pôde dormir descansado durante algum tempo.

Enquanto isso, numa época em que podemos comemorar o bicampeonato (inédito em muitas décadas), a equipa desmoronava-se entre lesões e castigos, ao ponto de Fresneda aparecer a defesa direito a fazer de um Fresneda que ele viu num filme espanhol sobre auto motivação e capacidade de adaptação, filme esse que, não tarda, está a passar no telemóvel do Esgaio.

À modernidade líquida de Bauman, o Sporting contrapõe a futebolidade (deixem passar) líquida, onde a continuidade se torne descontínua, fluindo em conformidade. Ao mesmo tempo, a essa futebolidade e estrutura líquidas, junta-se o recurso à nossa senhora das dores, muito requisitada por enfermos e enjeitados. Nesse sentido, compreende-se a invulgar desenvoltura estática que nos acompanhou no último mercado, como se estivéssemos bem providos. Entretanto, o braço direito foi definitivamente exportado. Valha-nos o Biel Teixeira, que nos chega de São Salvador… da Bahia.


1 comentário:

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