Ando há semanas para escrever qualquer coisa sobre o Sporting nesta nova configuração que lhe é dada pelo Rui Borges e os jogos [entretanto] realizados. O Rui Borges é um treinador português certificado, um treinador com esta Denominação de Origem Protegida [DOP]. Como treinador português, é sobretudo alguém que desenrasca o que for preciso com o que tiver mais à mão [ou ao pé, para ser mais rigoroso]. A tática, o sistema de jogo, seja o que for que se chama à disposição dos jogadores em campo a correr para a frente e para trás, é resultado de circunstâncias, de contingências. Sem essas circunstâncias e, assim, sem necessidade de desenrascar, o Rui Borges não expressaria as suas virtudes [que são muitas], seguramente.
É assim um género de senhor Manuel que tanto chamo para arranjar as persianas, instalar o fogão, pintar a casa ou dar um jeito na canalização [o vizinho de baixo está-se sempre a queixar e resta-me recorrer a uma sonda da NASA, daquelas que usam para explorar Marte e outros sítios como este, onde há muitos vizinhos de baixo]. Imaginem um treinador alemão, um Roger Schmidt desta vida, a lidar com o permanente rebuliço sanitário e organizativo que vem caracterizando o Sporting dos últimos dois meses. Querer contratar um lateral direito espanhol para substituir o Esgaio e descobrir que (já) o tinham contratado há ano e meio; dar com metade da equipa em lista de espera no Serviço Nacional de Saúde; querer contratar um extremo do Bahia que joga no União de Leiria e acabar a contratar um extremo do Bahia que joga no Bahia; ter um diretor desportivo do Manchester City que faz um gancho no Sporting e que contrata jogadores do Bahia estejam onde estiverem, joguem onde jogarem.
O Rui Borges tudo aguenta, a tudo resiste, nunca se resignando, nunca se queixando. Dêem-lhe um canivete suíço e uma chave inglesa e ele monta uma equipa. Transforma trios de centrais em duos que parecem trios e às vezes até são trios; avança um central para o meio-campo e um jogador do meio-campo para o ataque; põe os laterais a jogar a extremos; percebe que o lateral direito que fala castelhano é o lateral direito espanhol que queriam contratar. Fazer implica convencer os jogadores a fazê-lo, mesmo sem o treinar. Se precisa de empatar, empata; se precisa de ganhar, ganha; se pode ganhar por poucos, não continua na fossanguice para ganhar por mais, como se não houvesse amanhã.
O [eventual] problema dele será a normalidade, a monotonia do dia a dia de uma organização, os jogadores certos para os lugares [certos], o diretor desportivo sem estar de malas aviadas, o centro de treinos sem parecer as urgências do Santa Maria ou do Curry Cabral. O problema será essa normalidade e também o futuro do Bruno Lage [e, antes, do Vítor Bruno]. Com seis pontos de atraso, os treinadores do Benfica e do Porto têm feito o que podem para a criação de um mito [sportinguista]. Sem eles, [provavelmente] as circunstâncias fariam o seu [inexorável] caminho.
[O objetivo era dizer umas coisas sobre os jogos realizados em janeiro, do Campeonato, da Taça da Liga ou da Liga dos Campeões. Esta figura do Rui Borges dá-me comichões na ponta dos dedos e não, não consigo parar de escrever sobre ele e as suas circunstâncias trágico-cómicas. Os jogos ficam para outro dia mais inspirado]
O que o Rui fazia bem era tentar emprestar o seu senhor Manuel ao Sporting. Tarefas várias, desde clínicas a administrativas (presidência incluída) (des)esperam por ele.
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarAté emprestava, mas o senhor Manuel ainda não acabou de me pintar a casa. O senhor Manuel nem sempre aparece de acordo com o combinado, mas imagino que isso não fosse problema no Sporting.
SL
Caro Rui,
ResponderEliminarHá muito tempo que não passava por aqui, vim aqui quase por acaso e vejo que andei a perder (muito!). As suas crónicas continuam certeiras. Resume de forma brilhante as últimas semanas de Sporting. Sobre as próximas não estou tão certo, ainda é cedo para dispensar o Sr. Manuel, mas mais tarde ou mais cedo acabará em Manchester...
Quanto ao Rui Borges há muito que não arriscávamos num treinador Português DOP, andámos a apostar em malta pouco certificada. Vamos ver como corre. Prognósticos só no fim da época!
SL
Caro João,
EliminarDe vez em quando venho ao blogue escrever umas patetices para desenjoar [para desenjoar e apoiar a malta].
O Rui Borges é o típico treinador português. É um gajo porreiro, dá-se bem com os jogadores, embaralha de tal forma o discurso que a comunicação social não percebe o que ele diz. Há mais de vinte anos, o Inácio, outro típico treinador português, operou um milagre, um milagre parecido com aquele que esperamos do Rui Borges.
Grande abraço,
RM