José Mourinho decidiu recorrer,
numa recente conferência de imprensa (segundo alguns especialistas em analisar
conferências de imprensa) que antecedia o jogo em Chaves, aos seus famosos mind games. Como tenho legítimas espectativas
em a ser um spin doctor, fui ver. Os
jogos mentais, afinal, resumiam-se à famosa cortina de fumo (afastando o foco
do seu jogo), tentando, ao mesmo tempo, a manobra
de Heimlich das conferências de imprensa, que consiste em apertar o gargalo
aos árbitros, permitindo-os respirar por uma palhinha: o respeito que têm pela
arbitragem. Nada de novo, pensei: isto fazia-se na minha terra quando era
pequeno, e ainda se faz mais ou menos em todas as terras pequenas e não só:
falar à boca grande, lançar iscos, armadilhar a opinião pública do bairro, se
possível, atear uns fogachos, aqui e ali.
Quando assistia, placidamente, ao
segundo golo do Paços de Ferreira, um golo que deveria ser devidamente
emoldurado em vídeo e mostrado aos jogadores do Sporting durante o resto da
temporada, em sessão dupla, lembrei-me, não sei porquê, da conferência de
imprensa de Mourinho. Mourinho nem sequer era treinador do Benfica no último
jogo da taça; ainda recentemente foi seu adversário e, caso tivesse ganho a
eliminatória, talvez ainda passeasse o seu talento no grandioso campeonato
turco. O seu discurso não me impressionara,
mas fizera alguma mossa no cocuruto do treinador do Sporting. Em primeiro lugar
porque lhe respondeu. Em segundo, porque respondeu mal.
Se queria responder, teria de se
lembrar da sua Mirandela local e das coscuvilhices que certamente viveu.
Aprende-se muito. Se queria responder, poderia ter convidado o seu homólogo a
visitar o museu do Sporting, e assim poder ver ao vivo a taça de que tanto
gosta de falar. Ou, poderia ter sugerido uma visita ao museu do Benfica para
ver a taça Lucílio Baptista, para não ser demasiado exaustivo. Ou, poderia não
ter respondido, concentrando-se na equipa do Sporting. Dessa forma, talvez os
jogadores percebessem a importância do (seu) jogo, e as dificuldades que
certamente o Paços iria causar.
Voltando ao segundo golo do Paços
e ao seu vídeo emoldurado, poderíamos acrescentar que este permite-nos ter uma
imagem global de um jogo abordado de forma descontraída, sempre à espera que a
nossa senhora das dores (ou o espírito de Gyökeres) resolvessem. Ficamos a
saber que a voz de Mourinho chega ao céu (e a alguns árbitros) e que o espírito
de Gyökeres não chega para tudo. Valeu-nos o Sr. Ferreira em pleno
prolongamento das nossas dores.
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