Há jogos que são pretextos. Quantos e quantos de nós não agendámos uma partida de futebol com os amigos com o pretexto de jantarmos [juntos]? A vitória ou a derrota pouco importava ou importava na exata medida em que determinava quem pagava o jantar. No passado sábado, este jogo [do Sporting] contra o Chaves tinha vários objetivos seguramente, mas o de se disputar uma partida relativamente à qual interessasse o resultado é que não: o Sporting [já] era campeão, o Chaves [já] tinha descido de divisão. Quem assistiu ao jogo queria festa e nada mais: a pirotecnia, a entrega da taça ou a despedida do Neto e do Ádan.
Essa [falta de] interesse no jogo [propriamente dito] esteve presente desde o primeiro minuto. Talvez o árbitro fosse aquele a quem menos interessasse o jogo e, em contrapartida, o vídeo-árbitro aquele para quem este jogo ainda tinha razão de ser. Assim, o jogo não foi um jogo entre duas equipas de futebol, mas um jogo entre o árbitro e o vídeo-árbitro. O resultado não foi nada, mesmo nada equilibrado: o vídeo-árbitro ganhou de goleada. Cada decisão originava a sua reversão, com o árbitro acabrunhado a explicar aos espetadores a razão para decidir o contrário do que tinha decidido minutos antes uma e outra vez. Minutos e minutos de jogo parado enquanto se esperava uma e outra decisão [definitiva]. Um martírio!
O Chaves começou por dar um pequeno ar da sua graça. Para não perder a [recente] compostura de campeão, o Sporting reagiu e o resultado foi a primeira decisão do árbitro revertida pelo vídeo-árbitro e um “penalty” transformado numa bola ao ar. Jogada pelo lado esquerdo do ataque, centro, corte de um defesa do Chaves pela linha de fundo e segunda decisão do árbitro revertida pelo vídeo-árbitro e um pontapé de canto transformado num “penalty”. Recuperação da bola pelo Coates, contra-ataque rápido, o Gyökeres a galgar metros sobre metros, a rematar à baliza, a marcar mais um golo e terceira decisão do árbitro revertida pelo vídeo-árbitro e um golo transformado num livre contra o Sporting à entrada da sua área. Enquanto se preparava a marcação do livre, confusão na área, jogadores a agarrarem-se e cotovelada no peito do Hjulmand e expulsão do jogador do Chaves, sem direito e reversão desta decisão pelo vídeo-árbitro. Resultado [final]: três para o vídeo-árbitro, um para o árbitro.
Ah, estava a esquecer-me! Ganhámos por três a zero, com dois golos de Gyökeres e um de Paulinho. O Gyökeres estava tão interessado no jogo como o vídeo-árbitro e demonstrou o seu aborrecimento por o árbitro não o deixar continuar a jogar e a marcar mais um o outro golo, dando apenas dois minutos de descontos quando [só] a despedida do Neto demorou uns dez. É importante que se leve o trabalho a sério, que se leve o trabalho até ao fim, por respeito por quem está a assistir. É doença, é verdade, bem sei, mas eu sou dos que acreditava que podíamos chegar aos cem golos [e acreditava mesmo quando faltavam dois ou três minutos]. Quando está garantida, como esta estava [há mais de duas jornadas], a festa sempre pode esperar.
[Com esta vitória contra o Chaves, batemos o recorde de pontos, de vitórias e de vitórias em casa. O Benfica, segundo classificado, ficou a dez pontos e o Porto, terceiro, a dezoito. É uma época memorável. Se ganharmos a Final da Taça, contra o Porto, se conseguirmos a “dobradinha”, é épica. A nós resta-nos continuar jogo a jogo, crónica a crónica, até tudo se encontrar acabado por esta época. É preciso levar o trabalho até ao fim, como disse]
Caro Rui,
ResponderEliminarO árbitro chamava-se Manuel Oliveira, o guião do jogo estava escrito e culminava com uma festa épica mais que preparada. Não havia muito para inventar nem nada para correr mal, era engonhar 90 minutos [ou 80, com a merecida homenagem ao Neto]. Ninguém esperava era que aparecesse do lado de lá do ecrã um árbitro tão empenhado em mostrar trabalho que cheguei a duvidar que o Gyökeres desta vez merecesse o prémio de melhor do jogo.
Ainda assim, tudo está bem quando acaba bem. O Gyökeres marcou três e contaram dois. O VAR ganhou de goleada, mostrando o poder da tecnologia. E o Paulinho mostrou os dentes, provando que uma [boa] música também ajuda a fazer de um [bom] jogador uma lenda para os adeptos.
Venha então o Jamor, jogo a jogo, crónica a crónica, e com mais um final feliz, para se passar do memorável ao épico!
SL
Caro João,
EliminarO ar de enfado do árbitro cada vez que tinha de rever as imagens e comunicar a decisão ao público falava por si. Este jogo não interessava a ninguém. Interessava na exta medida que no final havia uma festa. A festa era tão, mas tão importante que o árbitro praticamente não deu descontos. Afinal, interessava ao vídeo-árbitro.
Abraço,
RM
"[...] Minutos e minutos de jogo parado enquanto se esperava uma e outra decisão [definitiva]. Um martírio!"
ResponderEliminarÉ verdade. Mas são dores de crescimento. Se se deixa esse argumento do martírio vingar lá se vai-o-VAR-de-vela e então é voltar a ver a vilanagem em bar aberto.
Lamento o registo sério :( ...
Abraços
Meu caro,
EliminarTambém não tenho dúvidas. Sem vídeo-arbitro nunca ganhávamos campeonato nenhum. Só que isto está a ficar chato e não é pouco.
Abraço,
RM
Fosga-se, muito chato é ser-se gamado à tromba esticada! Esta é daquelas coisas em que ou se intervém com pinças ou se faz m€r&@. Mortinhos por que acabe o var andam uma data deles ...
EliminarAliás o Rui faz parte do reduzidíssimo grupo de gente capaz de tratar deste assunto como deve ser! Escangalhar por complecto a argumentação básica (não me leve a mal mas o ser "chato" faz parte delas...!!) de azuis e encarnados enquanto potencia virtudes da coisa. Com gente como eu não se pode contar...as luvas brancas estão demasiado sujas ...
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