Demoro mais a expelir as derrotas do meu corpo e da minha
mente. Como elas têm sido em número considerável, apenas com o recurso a um
laxante me é permitido continuar a viver de forma minimamente aceitável. E não
é nada fácil escrever sobre o assunto.
Fui ver o Sporting a Barcelona, perdão, a Barcelos, no jogo para o campeonato.
Ainda hei-de escrever o guião para uma longa-metragem desse jogo e a sua
envolvência. Fico-me por uma curta (metragem), mas grossa. Ali chegados,
notamos o misterioso desaparecimento das roulotes. À imagem do desaparecimento
das abelhas, nenhuma explicação plausível foi enunciada. Na procura de uma
bucha apenas encontramos alguma irritação. Estava frio, muito frio. Na entrada
para a bancada Norte, onde se encontrava o grosso dos adeptos do Sporting, à
irritação, frio e alguma fome, tivemos que juntar uma pitada de paciência.
Para além da proibição (nem sempre, nem para todos) óbvia de
entrar no estádio munidos de catanas, explosivos, pistolas e cacetes, também
não se podia entrar com nada que tivesse grafado JL, Juventude Leonina, ou Directivo, o que desde logo suscitou
algumas questões interessantes. Gente havia vestida dos pés ao pescoço com os
ditos, outros juravam acrescentar a roupa interior, outros nem se lembravam se
tinham, ou não tinham, em qualquer sítio, as palavras proibidas escritas.
Outros juravam não entregar as tatuagens. Bom, depois de apurada conferencia lá
se deixou entrar tudo menos os cachecóis. Alguns putos entraram assim no
estranho mundo das proibições e dos ultras, deixando o seu querido cachecol à
porta. Um absurdo que nos levou à queima para começar o jogo.
E no começo do jogo, ali mesmo à minha frente, o Jesé sofreu
penalti, na única vez, em setenta e tal minutos em que ganhou a posição a um
jogador adversário. O árbitro sabia ao que vinha e fez de conta (sem precisar) que
não era nada com ele. A partir daí o deserto, de ideias, de fio de jogo, de
qualidade dos intervenientes. A partir daí apenas o frio, a fome, alguma
irritação, a paciência, nos lembravam que estávamos vivos e num estádio de
futebol. Dentro de campo não se podia dizer o mesmo.
Já sabemos a história, sem remates não há golos. Apenas o
Ilori torna isso possível. O Ilori e o guarda-redes do Gil. Conseguimos chegar
ao intervalo sem cortar os pulsos. Foi um feito apenas ultrapassado pelos
resistentes que conseguiram chegar ao final do jogo. É certo que temos cinco ou
seis jogadores (cuja contratação até é da responsabilidade desta direção) cujo
talento para jogar futebol foi-nos manifestamente exagerado, mas não estávamos
a jogar em Barcelona, apenas em Barcelos. Compete ao treinador a redundância
de treinar e o aborrecimento de planear o jogo contra uma equipa que toda a
gente sabia como ia jogar.
No final do encontro Silas disse que tinha mostrar mais uns vídeos
aos jogadores e que sentiu que a equipa, em certos momentos (não foram todos?),
estava completamente descoordenada, com cada um a jogar para si. Esperamos, assim, pela coordenação no jogo seguinte.
O jogo seguinte continuou a ser em Barcelona, perdão, em Barcelos. Por
razões profissionais não pude me deslçocar ao estádio. Não sei se as roulotes
apareceram. A equipa do Sporting, isso é certo, não marcou presença na primeira
parte do jogo. Por vergonha, provavelmente por estar a jogar contra as segundas
linhas do Gil, lá tivemos que disputar a segunda parte com o suspeito do
costume a dar um ar da sua graça, lá para o final do jogo. Silas, sempre
assertivo, afirmou que tem tido pouco tempo para treinar. Ninguém lhe recordou
a recente paragem de três semanas. Aqui ninguém é responsável e ninguém é responsabilizado.
Somos uma simpatia no trato. É isso que às vezes enerva o Marcos Acuña. Mas já está tudo perdoado.
Venha o Moreirense. Se tivéssemos tido mais tempo para treinar é que era. Não
era?
Roulotes?! Não houve interessados em colocar tais equipamentos com medo de desacatos
ResponderEliminarCarissimo,
ResponderEliminarDesacatos em Barcelona, perdão, em Barcelos? Entre quem?
As ditas foram proibidas e até houve quem tentasse furar o bloqueio, entre as moradias, mas havia instruções para multar fosse quem fosse. Essa história faria parte da minha longa metragem. Mas não há tempo nem paciência para isso.