Nem sempre os fins justificam os meios, mas, no Sporting, parece que os meios se justificam independentemente dos fins. O que conta, o que verdadeiramente conta é tática, não como forma de chegar ao resultado, mas substituindo-o como objetivo. Instalou-se uma burocracia, o que conta é o processo, que desce aos confins do departamento mais obscuro para voltar a subir na hierarquia, sem falhar uma carimbo, uma assinatura. A troca de bola entre os centrais, o recuo do Doumbia, o avanço dos laterais, a descida à vez do Wendell e do Bruno Fernandes não encontram no ataque nenhuma dinâmica que o justifiquem. O que se passa atrás não tem nenhuma relação com o que se passa à frente, onde estão os avançados parados à espera de Godot.
O Gil Vicente não precisou de fazer nada ou, melhor dizendo, só precisou de esperar que nos suicidássemos. Na primeira parte, praticamente só o Ilori atacou com ousadia, infelizmente sem se dar conta que aquela não era a área do adversário. E os disparates são como os GNR, andam sempre aos pares: passa à bola ao adversário e recupera deixando outro em jogo. E o disparate emparelhou-se outra vez quando o remate fraco do Wendell adormeceu o guarda-redes enquanto esperava pela bola. Ao intervalo, o empate justificava-se, o que não se justificava era o resultado; em vez de 1 a 1, devia ser -1 a -1.
Na segunda parte, o Gil Vicente passou a jogar para nulos e nós continuámos para negativos. No jogo do King é a mesma coisa, no futebol não. No futebol, quem joga para negativos perde sempre, independentemente do adversário jogar para nulos ou escolher trunfo. Oferecemos um “penalty” e, quando o Bruno Fernandes tentou fazer de central de último recurso no terceiro golo, até parecia que do outro lado jogava o Messi. O Vítor Oliveira, no fim, procurou confundir-nos ainda mais, para ser corporativamente simpático com o Silas. Talvez tenhamos piores jogadores do que o Benfica ou o Porto, mas não jogámos contra nenhuma dessas equipas, jogámos contra o Gil Vicente. Jogámos contra o Gil Vicente e não criámos uma oportunidade de golo para amostra nos segundos quarenta e cinco minutos.
As desculpas perspetivam o pior. A carne é fraca, segundo o Silas, é fraca e não tem cabeça para cumprir as orientações, jogando cada um para seu lado. São muitos anos a virar frangos. Um Carlos Manuel ou um Paulo Sérgio cheira-se à distância. Quanto tempo vai demorar até encontramos o Jesualdo Ferreira da nossa salvação? Ainda chegará a tempo?
caro Rui Monteiro,
ResponderEliminarSubscrevo o seu último parágrafo. Não há dúvida que a maioria dos nossos jogadores é fraquinha, mas, que diabo, jogámos contra o Gil Vicente cujos jogadores não são melhores que os nossos. Portanto é como diz, ainda não encontrámos um Jesualdo. Nesse ano, de triste memória, foi o único que conseguiu colocar a equipa a "jogar à bola".
SL
Meu caro,
EliminarConhecemos a ladainha do costume: a preparação da época foi péssima, as contratações constituem um somatório de falhanços, os jogadores não são os desejáveis. Mas, bem, isto não desculpa o treinador e a forma como a equipa joga. Jogámos contra o Gil Vicente, não jogámos propriamente contra o Barcelona. É preciso ter noção da (falta de) exigência da maioria dos jogos do campeonato nacional.
SL