Guimarães constitui um “swing state”. Nada está decidido à partida, tanto se ganha como se perde e perder ou ganhar decide campeonatos. Quando se perde, perde-se o campeonato. Quando se ganha, não é certo que se ganhe o campeonato. Mas sem se ganhar, não se ganha o campeonato, como demonstram os últimos ganhados pelo Sporting. Para se ganhar um “swing state” não se pode facilitar à Hillary Clinton. É ir para cima deles desde o início, interessando pouco se são hispânicos, afroamericanos ou "white anglo-saxon protestants" (WASP).
Era para ir e fomos. Ainda estavam os de Guimarães a ajeitar as meias e os calções, quando o Sporar se deixa antecipar pelo guarda-redes e o João Mário enfia uma bojarda à barra. Logo a seguir, o Sporar fica isolado do lado direito do ataque e volta a fazer-nos lembrar o Krpan, embora, talvez, com um pouco menos de velocidade. Bola recuperada pelo Pedro Gonçalves, tabela com o Sporar, corrida desenfreada até à área, passe para o Nuno Santos, que fica à procura do pé que tinha mais à mão até o descobrir e enfiar um remate rasteiro com o pé esquerdo, fazendo o primeiro golo.
A ganhar por um a zero, o Sporting acalma e o Guimarães passa a trocar a bola de trás para a frente, de frente para trás e vice-versa [não é indiferente a ordem, mas não sei bem como explicar: começa-se atrás e só se pode passar para a frente e só chegada a bola à frente é que se pode passá-la para trás; também se pode passar para o lado, mas acho que dá para perceber a ideia, a dinâmica da coisa]. Aparece o Quaresma e foi enternecedor o seu duelo com o Neto. Dois homens entradotes, mostrando boa disposição e fazendo-nos lembrar que o envelhecimento ativo e saudável deve ser prioridade das políticas públicas. Ainda esperei vê-los a jogar uma bela partida de dominó, mas não foi possível, porque, entretanto, o Neto ia fazendo de Otamendi, não fosse o Adán estar atento [passada a pandemia, lembrar de voltar a levar o Neto ao lar].
Os de Guimarães começaram a ficar empolgados, liderados pelo Quaresma montado num alazão branco, gritando: “Bora, bora que já estão cagados!”. Ou porque não estavam ou porque estavam e precisavam de ir mais descansados para o intervalo fazer o que tinha de ser feito, os do Sporting encheram-se de brios. O João Mário ganha a bola à entrada da área, enfia uma cueca num adversário e vai pelo campo fora até desmarcar o Sporar, no lado direito, que volta para trás, passa para o Pedro Porro, tabela entre os dois, passe atrasado e balázio do Pedro Gonçalves para o dois a zero. Este rapaz talvez ainda não seja um Darwin, mas não deixa de corresponder a uma boa evolução da espécie.
Os de Guimarães entram na segunda parte com a faca na liga. O André André não leva o segundo amarelo por agarrar o Pedro Gonçalves, ficando evidente que se está em presença de dinastia protegida pelo “establishment”, um género de mistura de “Clynton's family” e de Wall Street. Não levou e fez-nos perder tempo com o VAR e as suas habituais mariquices do fora-de-jogo. O Adán molha o dedo para ver de onde vem o vento, calcula o movimento na vertical, uniformemente (des)acelerado em função do pontapé e da gravidade, e na horizontal, uniforme na ausência de atrito, e coloca a bola no Pedro Gonçalves que a domina e faz o três a zero. O rapaz talvez seja mesmo a evolução final da espécie, sendo necessário uns milénios ainda para o Darwin descer da árvore e se transformar num primata assim. O resto, bem, o resto interessa pouco. O Rúben Amorim fez as substituições que se impunham e o Matheus Nunes parte o resto da loiça que estava por partir e os do Guimarães passam a ter medo de sair do seu meio campo, tal o receio de o verem à desfilada.
A “flash interview” começa bem com o Neto, parecia um senador do Minnesota ou assim. Piora com o nosso treinador principal Ferro. Ainda não lhe deram outra cassete e ele continua a debitar a anterior. Quando se ganha por um, faz sentido dizer que se deviam ter marcado mais uns tantos e que se criaram oportunidades para tal. Quando se ganha por quatro e se diz o mesmo, é falta de respeito pelo adversário. Na conferência de imprensa, o Rúben Amorim comporta-se como um verdadeiro Joe Biden. O Sporting é candidato ao título? Cada jogo são três pontos e é preciso contar até ao fim. O Sporting é a equipa que pratica o melhor futebol? Cada jogo são três pontos e é preciso contar até ao fim. O Sporting é beneficiado por não jogar as competições europeias? Cada jogo são três pontos e é preciso contar até ao fim. Quem não suporta este discurso é um ressabiado benfiquista, que, a propósito da pandemia, só nos quer deixar festejar no Marquês pela manhã com uma meia de leite e umas tostas no bucho.
Muito, muito muito bom! Já não me ria assim há uns tempos! Espero que saibamos, acertadamente, separar as alegrias que o futebol nos dá, nos dias de hoje, das tristezas com que a direcção de agora nos tem vindo a brindar. Esperemos que a primeira pancada não venha já, desapercebidamente, na próxima abertura do mercado futebolístico em Janeiro! Esperemos!
ResponderEliminarJosé Manuel David
Caro José Manuel David,
EliminarObrigado, estamos cá para isso.
Desta Direcção não se espera muito (se não estragar está bem). Dos jogadores e treinador tudo. Vai haver tristezas mas estas alegrias já não os tiram.
SL
Caro Rui,
ResponderEliminarPercebi quase tudo até porque vi o jogo na GOL TV (em Inglês de luso) e foi mesmo assim!
Já percebi menos a parte do ressabiado benfiquista mas se me enganei não me corrija! Foi esse o que não quer a Ana Gomes como candidata à presidência?
Bucho quererá dizer estômago?
Abraço grande ("again", como o Sporting)
Caro Aboím Serôdio,
EliminarÉ esse exactamente. Falo dele na qualidade de benfiquistas e ex-membro da Comissão de Honra do LFV. Bucho quer dizer estômago, é isso mesmo.
Abraço
Absolutamente brilhante de imaginação e descrição.
ResponderEliminarAndam de facto por ai uma linguagens estranhas que o comum dos mortais não entende. Por exemplo, alguém dizia ontem que "os números mostram que não somos uma equipa má a defender”. E no mesmo dia da declaração foram 9 golos em 3 jogos... o homem tinha razão. Nao é "má" ...
Caro Sol Carvalho,
EliminarA narrativa anda aí. Não há bem mérito nem trabalho. Hoje ganhámos por uma coisa, amanhã por outra. Quando nos fizerem a folha, fica demonstrado que eles, os da narrativa, sempre tinham razão.
SL
Se eu fosse presidente da nossa agremiação, o Sr.Rui Monteiro, seria o meu director de comunicação
ResponderEliminarDesculpe o abuso
SL
Obrigado meu caro.
EliminarEscrever estas coisas dá-me alguma prazer, prazer que não teria se fizesse disto profissão. Não, não estou a pensar mudar de profissão, pelo menos por enquanto.
Está desculpado e mais do que desculpado.
SL
Diretor de comunicação não direi, mas devia, e merecia, ter lugar cativo como colunista no jornal do Sporting :)
ResponderEliminarBrilhante! Sporting sempre.
Obrigado.
EliminarEscrever umas coisas no nosso jornal enche a qualquer um de orgulho. Aliás, a Presidência não fazia mal nenhum de convidasse muitos dos que escrevem em blogues sobre o Sporting. Há cabeça convidava o Pedro Azevedo do Castigo Máximo.
SL
À minha maneira vi-me 'obrigado' a deixar o meu 'extasiamento' lá pelo meu canto. Obrigado Rui.
ResponderEliminarGrande abraço e SL
Obrigado Álamo.
EliminarHonram-me sempre muito as suas distinções. Cá vamos nós ao fim destes anos todos a manter vivo o sportinguista. Somos dos últimos dos moicanos.
Abraço
Muito bem! Make Sporting great again, é o que todos nós ambicionamos... SL
ResponderEliminarObrigado meu caro.
EliminarSL
Espero que o Rubem Amorim recomende a leitura destas crónicas aos jogadores.São autênticas fontes de motivação.
ResponderEliminarSaudações leoninas
Caro S. Almeida,
EliminarNunca tinha pensado nas minhas crónicas nesses termos. às tantas resulta. Convém lembrar que, como adeptos, também temos as nossas embirrações de estimação. A minha é o Neto, mas estou disponível para o Neto e o Rúben Amorim me convencerem do contrário.
SL