Ver o jogo do Sporting contra o Sacavenense para a Taça de Portugal na TVI, na televisão da Cristina Ferreira, gerava expetativa, muita expetativa. Esperei, esperei e nada. Nem o António Costa, nem o Marcelo Rebelo de Sousa, nem o Luís Filipe Vieira entraram em campo para fazer umas pataniscas de bacalhau ou uma simples entremeada na brasa. Em vez disso, parecia que estava a ouvir os Tempos Difíceis, de Charles Dickens, ou o Manifesto do Partido Comunista, de Friedrich Engels e Karl Marx. Os do Sporting representavam a burguesia, a classe dominante, os proprietários dos meios de produção, enquanto os do Sacavenense representavam o povo, os oprimidos e o proletariado. Parecia que o Sporting se encontrava a jogar contra o Fabril quando o Fabril tinha jogado contra o Porto. Segundo os comentadores, os do Sacavenense tinham acabado de deixar o Charles Chaplin sozinho na linha de montagem de Tempos Modernos, sem sequer mudar o fato de macaco.
Mal o jogo se tinha iniciado e já o Nuno Santos tinha molhado o bico. Os comentadores tentaram transformá-lo num novo milagre mariano ao afirmar que o passe tinha sido do Borja. Por falar em Borja, gostei de o ver jogar no lado direito. Sendo canhoto, anda sempre à procura do pé esquerdo quando a bola lhe vai para o direito e essa dessintonia entre o pé que está mais à mão e o pé que está mais ao pé [da bola, entenda-se], constitui uma revienga imparável. Como centra tão mal com o pé esquerdo como com o direito, o resultado é o mesmo, mas passa por dispor de um estilo enleante e azougado. O Coates marcou o dois a zero passado um pouco. O Rui Veloso cantou uma coisa sobre voar sobre os centrais mas com o Coates não é bem assim, é voar contra os centrais, contra a bola, contra o guarda-redes, contra a baliza. O Jovane marcou o terceiro, apesar dos comentadores jurarem a pé juntos que não, não havia “penalty” nenhum. Como todos sabemos, quem mais jura mais mente, acabando por pedir desculpa.
Mal se iniciou a segunda parte e já estava outra vez o Nuno Santos a fazer das suas, das dele, salvo seja, e o Coates só teve de empurrar para o quarto golo. O Jovane ainda foi a tempo de fazer de central, tornando a jogada mais real, mais próxima de um jogo contra o Fabril ou o Paredes, essas grandes equipas de jogadores profissionais, treinados e bem treinados. Sem o efeito surpresa do Borja do lado direito, os do Sacavenense perceberam que o Borja era o Borja e ala que se faz tarde pelo lado esquerdo da nossa defesa. Um operário marcou um golo e, subitamente, um operário era um jogador de futebol, com chuteira, calções e camisola. Estava tudo em modos de assim, até que entrou mais um puto, o Pedro Marques. O puto queria marcar golos à viva força. Atacava a bola de cabeça, não dava uma bola por perdida, tentava e marcava, e voltava a pedir a bola, queria mais, sempre mais. Tudo acabou com o último golo de outro puto, Gonçalo Inácio, impedindo o Coates de fazer “hat-trick” [se fosse comigo, tinha-lhe enfiado uma galheta].
Começo a suspeitar que não esteja a ver jogar o Sporting ou que o esteja a ver mas na RTP Memória. Onde anda aquela equipa que transformou o Alverca e o Loures em colossos do futebol nacional? O que tem a dizer o Ministério da Coesão Territorial sobre isto? Foi para isto que se criou o Ministério da Coesão Territorial? Ao menos que mandem entrar em campo alguém do ministério para fazer umas pataniscas de bacalhau ou uma entremeada na brasa.
"Priceless", Rui. Parabéns!
ResponderEliminarObrigado Pedro.
EliminarFicamos a aguardar pelas pataniscas de bacalhau ou pela entremeada.
Abraço
Genial com sempre!
ResponderEliminarSó lhe posso pedir, e passe o descaramento, que publique as suas crónicas mais rapidamente. Já é difícil aguentar ver o Sporting jogar tão mal, mas ter de aguardar uma semana pelas suas crónicas é demais.....
Caro Frederico Fernandes,
EliminarAntes de mais, obrigado! Estive para escrever no dia, mas não foi possível. Entretanto meteu-se o Maradona e não achei conveniente. Vamos ver se para a próxima tenho tempo para escrever no dia.
SL
realmente, os comentários estavam a irritar sobremaneira
ResponderEliminarparecia que o Sporting ganhou 7-1 sem saber ler nem escrever
Caro Calheiros,
EliminarNós jogámos contra uma equipa da terceira divisão e enfiámos 7 a 1. O Porto e o Benfica jogaram com equipas da terceira divisão e ganharam por dois a zero e um a zero, respetivamente.
Ouvindo os comentários, nós jogámos contra uma equipa da terceira divisão e, por comparação, o Porto e o Benfica com equipas da Liga dos Campeões. É preciso ter lata!
SL
Rui Monteiro
ResponderEliminarNinguém mais do que Pedro Marques merece este post mas também Gonçalo Inácio por ter colocado o placard nos numeros que são tão queridos à família leonina.
SL
João Balaia
Caro João,
EliminarMas esta equipa do Sacavenense era de operários exatamente igual à outra que também levou 7 a 1.
SL