(Uma
nota prévia. Não gostei nada de perder. Nunca gosto. O árbitro foi uma nódoa em
relação aos critérios disciplinares. Sei também que não jogamos fora contra um
campeão nacional de uma potência alpina pois aí seríamos esmagados, apanhávamos
pelo menos cinco. Também não sou músico. Dito isto, passemos à música.)
A nível orquestral estivemos
bem em muito aspetos. A Família das Percussões marcou bem o ritmo. Os
instrumentos de percussão pontuaram e destacaram bem os trechos da peça em
execução e fizeram a orquestra vibrar. O piano (sim, é um instrumento
de precursão!) entregue como sempre ao brilhante Rui Patrício, esteve
excelente. Não falhou uma nota. Não se lhe pedia rapidez de processos mas sim concentração
e discernimento e foi o que ele deu. Já o par de pratos esteve desequilibrado. Jérémy
Mathieu, teve uma das melhores exibições da noite, esteve sempre afinado e
corajoso a equilibrar a sua secção. Arriscou a espaços uns solos e, em
determinadas alturas, calou até solistas adversários de classe mundial. Já Sebastián
Coates, falhou muitas vezes os tempos e marcações e deu uma fortíssima fífia
numa nota falsa que marcou fortemente o desempenho da orquestra. Os tímpanos, Fábio
Coentrão e Cristiano Piccini, estiveram atentos e acertados e, por vezes, audazes,
pelo menos enquanto tiveram forças e lhes chegou oxigénio ao cérebro, a um mais
do que a outro.
A Família das
Madeiras, aqueles que normalmente dão “cor” ao som da
orquestra, esteve reduzida aos clarinetes de Marcos Acuña e Gelson Martins. Não
estiveram particularmente brilhantes no capítulo de atacar os momentos altos da
peça. No entanto, quanto a manter a unidade musical da orquestra e a sua coesão,
estiveram muito bem e foi incontestável a sua entrega ao sucesso coletivo da
orquestra. Nestes casos é difícil julgar a interpretação dos instrumentistas
sem conhecer as instruções precisas do maestro.
Na Família dos
Metais, o maestro abdicou para esta interpretação da
tuba de Alan Ruiz, o que se percebe dada a ligeireza e rapidez de interpretação
que se pedia para esta peça. Assim, esta secção foi assegurada pelo trompete de
Bruno Fernandes que teve uma interpretação com altos e baixos. Esteve bem na
intensidade e nos ocasionais solos e muito menos lúcido na distribuição e nas
entradas. De qualquer modo, compreende-se pois ainda não é um intérprete maduro
e não contemporiza devidamente os silêncios. Nesta secção esteve ainda o potente
trombone de Rodrigo Battaglia e a magistral trompa de William Carvalho. Ambos foram
responsáveis pela avalanche sonora da orquestra, conferindo-lhe a dramaticidade
e a grandiosidade que a obra pedia. Deram agilidade sonora ao mesmo tempo que
soaram de maneira ponderada e majestosa, nem se dando assim pela falta da tuba.
Não sendo de todo habitual em relação aos cânones
clássicos, mas normal no que a este tipo de peças diz respeito, o maestro
abdicou da Família das Cordas tendo
apenas alinhado com um spalla,
o primeiro violino. Para muitos, este é o principal grupo de instrumentos de
uma orquestra e dentro destes o violino, graças à sua versatilidade e alcance, que
se torna assim a principal voz da família. Tendo abdicado das violas,
violoncelos, contrabaixos e harpa, o maestro entregou esta dura tarefa a dois
violinistas. Primeiro, Seydou Doumbia que, assertivo e empenhado, tentou em
rapidez levar a orquestra a outros níveis. Não foi bem sucedido e o jurado
romeno Ovidiu Hategan acabou mesmo por não
ajuizar bem a sua interpretação solista. Foi substituído no segundo andamento
por Bas Dost. Um intérprete com outro peso, com mais escola, mais clássico e
disciplinado na sua interpretação. Mesmo assim, não tendo deslustrado, também
não atingiu a musicalidade pretendida. Acabou por oferecer a melhor
oportunidade de solo que teve ao trompetista Fernandes e este não a aproveitou
da melhor forma. Dizem que este parece mais talhado para raros momentos Maestosos do que para os comuns
Vivace.
Quanto ao maestro, Jorge Jesus,
deve ser realçado que desta vez não deu largas à sua liberdade criativa, própria
de quem vem de áreas mais populares como o fado operário ou malandro, não se
tendo entregado a improvisações interpretativas. Preocupou-se desta vez, e bem,
com a coesão da orquestra, deixando em aberto a possibilidade de um ou outro
solista brilharem, o que, infelizmente, não veio a acontecer.
Em suma, foi um bom concerto,
animado e colorido, excelente público e com bons intérpretes mas, infelizmente,
a música continuou a mesma!
Caro Trindade,
ResponderEliminarTemos que elaborar uma lista das nossas melhores postadas. Esta é uma delas.
O meu pai obrigou-me a aprender música. Andei nessa vida mais de uma década. Ficou o solfejo que é mais ou menos como a matemática. Da música propriamente dita é que foi pior. Tocava acordeão. Sinto a falta de referência a este instrumento. Será que o Battaglia não podia ficar com esse instrumento que tanto me diz? Fica a sugestão.
Um abraço
Caro Trindade,
ResponderEliminarObrigado pelo concerto. A música assim nunca é a mesma.
Aguardemos os próximos capítulos, nunca se sabe...
Abraço!