sábado, 23 de setembro de 2017

Sonsice

Li o artigo do Presidente da FPF no Público de hoje (ontem). A rapaziada do futebol nunca nos surpreende. Começa com a gabarolice de ter sido nomeado para uns cargos quaisquer na UEFA e na FIFA que ninguém quer saber. A partir daí e cheio de si começa uma reflexão profunda sobre o papel do futebol na Europa e no Mundo. Conclui essa parte da reflexão com um verdadeiro achado: “o ecossistema económico do futebol mundial está a mudar muito depressa”.

Imbuído da autoridade que os tais cargos internacionais lhe dão e embalado pela sua prosápia sobre o “ecossistema”, desata a defender a paz no futebol, qual Guterres de chuteiras. Fala de ódio, cobardia, violência, insultos, ameaças, insinuações. Conclui com a mais recente descoberta do caminho marítimo para a Índia: “existem sinais de alarme no futebol português”.

Dedica a parte final do artigo a falar de corrupção. Sempre há corrupção no futebol português. Não é novidade para ninguém. O que é novidade é o Presidente da FPF ter falado nisso como se tivesse nascido hoje. Apelou ao Estado, ao Governo e à Assembleia da República para acabarem com este estado de coisas (devia ter apelado ao Trump, por que para acabar com alguma coisa, seja qual for a coisa, não há melhor). Conclui afirmando que a FPF “está a fazer a sua parte” e que “ninguém pode ficar de fora desta responsabilidade” (o parágrafo é razoavelmente incompreensível mas parece que a responsabilidade está na procura de “soluções construtivas e pacificadoras”, na linha de uma Madre Teresa de Calcultá ou de um Mahatma Gandhi).

A primeira parte é possidonismo em estado puro. Na segunda parte, fiquei a saber que o ódio, a cobardia, a violência, os insultos, as ameaças e as insinuações começaram no sábado passado comigo e com um amigo meu a ver o Sporting – Tondela enquanto emborcávamos uma garrafa de Guarda Rios que comprámos em promoção no Continente. O senhor qualquer coisa da UEFA e da FIFA só descobriu tudo isso hoje e não tem nenhuma responsabilidade. Por fim, fiquei descansado por a FPF “estar a fazer a sua parte”. Não me parece que deva explicar aos pacóvios tugas da bola de que “parte” se trata. Será uma “parte” que só pessoas que têm cargos internacionais e falam de “ecossistemas” entendem.

10 comentários:

  1. Fernando Gomes acaba de descobrir o "esternocleidomastoideo" do futebol: o “o ecossistema económico do futebol mundial"!
    Ah, ganda Vasquinho, perdão, Fernando Gomes, dá-lhes forte, pá, pode ser que desmaiem!...

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    1. Meu caro,

      O texto está cheio de pérolas destas. Estou mesmo a ver o Jorge Jesus em vez de falar em equipa começar a falar em ecossistema também.

      SL

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  2. A "parte" que a FPF trata é aquela, bem recheada, que lhe cabe desde que Scolari e Cristiano Ronaldo chegaram à Selecção A.
    O brasileiro já saiu. O Cristiano, ainda tem uns 5 anos pela frente.
    Depois, a "parte" diminuirá e chegará a menos pessoas.
    E, aí, não haverá tempo para "sinais de alarme". A guerra começará bem forte (e não precisa de um Trump que, nessa altura, esperemos já não existir).

    um abraço

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    1. Caro Cantinho,

      Bem observado. Ainda me lembro que no Euro 2004 havia quem defendesse o Simão Sabrosa em vez do CR7. O Scolari insistiu e a partir daí todos foram felizes. Resta saber se é para sempre. Como sempre, não é.

      Um abraço

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  3. Mas esse senhor não estava no FCP naquele tempo, estava distraído e não viu nada? Demagogia barata; porque não disse nada quando o adepto italiano foi assassinado? Só agora acordou para os sinais de alarme? o clube do seu patrão está em risco, daí a preocupação.

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    1. Meu caro,

      Chama-se a uma pessoa destas um sonso, para não dizer mais.

      SL

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  4. não fosse o artista administrador da Sad do fcporto nos tempos áureos do "apito dourado" (lembram-se????)...
    o mal do futebol nacional assim como da política e do próprio país é o nível médio de inteligência da população... come tudo gelados com a testa e os poucos que não comem são chamados de labregos...
    Enfim, o texto está brilhante como sempre, Caro Rui Monteiro!

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    1. Caro João,

      Temos um problema com a memória enquanto povo. Para além de absolutamente piroso, anda a virar frangos destes há anos como se nunca fosse nada com ele. A verdade é que tem excelente imprensa e toda a gente o considera genial.

      Em condições normais, um texto como o dele devia concluir com a sua própria proposta de demissão. É uma declaração de impotência e incompetência para lidar com o "ecossistema nacional". Também o devia levar a voltar à escola e à minha antiga professora primária.

      SL

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  5. Amigo Rui
    Este Sr. Gomes tem um percurso sobrevivente / ascendente num ecossistema onde só vingam os melhores na ocultação, na hábil escolha de aliados, na elegante finta aos adversários, na arte sublime de evitar conflitos num ecossistema particularmente dado a atritos.
    Chegado a este ponto o Sr. Gomes parece um comissário de policia que não procura resolver os crimes mas antes parece preocupado pela agitação mediática que estes criam. Os criminosos partilham da mesma indignação: «Não façam ondas!».
    Por falar em discurso de ódio eu, que me considero um homem pacífico, depois de ouvir os comentários do digníssimo Freitas Lobo durante o jogo do Sporting Moreirense dei por mim a, apenas a espaços, articular uns adjetivos em relação à postura moral da mãe do senhor ou mesmo a arquitetar uns planos de maneira a alterar a sua fisionomia com uns sopapos. Parece de somenos mas os freitas lobos desta vida também não ajudam a pacificar o futebol.
    Abraço
    PS (salvo seja) Não tive oportunidade na altura mas adorei o seu texto do «Banco bom e banco mau». Uma jóia da literatura bloguista economistico-futebolística . Parabéns
    Abraço

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    1. Caro Trindade,

      Quando assim acontece, venho ao blogue e escrevo umas parvoíces sobre eles, apelando também ao ódio, à violência e ao seu contrário ao mesmo tempo.

      Não vi o jogo de hoje. A história do Setúbal, do Aves, do Feirense, do Steua repetiu-se. Demos quarente e cinco minutos de avanço. Para azar levámos um golo a acabar a primeira parte, acontece. Depois foi correr atrás do prejuízo. O Jorge Jesus nunca aprende apesar dos avisos.

      SL

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