segunda-feira, 4 de setembro de 2017

O verdadeiro combate do século: Eliseu desafia McGregor!

A notícia está a correr mundo. É uma bomba no MMA ou “Mixed Martial Arts” para os que andam mais distraídos e não conhecem esta modalidade. O repórter insustentável não podia perder a oportunidade de uma entrevista ao mais recente ídolo nacional: Eliseu. Encontrámo-lo depois de lutar arduamente com um prato de picanha. Estava a preparar-se para uma sesta com aquele ar de quem nunca é nada com ele, mesmo quando acaba de enfiar uma bolachada num adversário.

Por que razão desafiou o Conor McGregor? O combate do século não deveria ser com o Floyd Mayweather? Acabou de ganhar ao McGregor… 
Esse combate foi uma fantochada. Se é para bater bate-se com tudo o que se tem mais à mão ou ao pé. Se o adversário está a pedir para lhe empurramos com o calcanhar a cana-do-nariz para junto do hipotálamo, não faz sentido nenhum enfiar-lhe um soco na boca. Os homens lutam quando não há regras ou se querem ver livres delas. Lutar com regras não faz sentido nenhum. O McGregor, se quisesse, enfiava-lhe dois biqueiros e resolvia o assunto.

A sua vida vai dar uma grande volta. O que o leva a deixar o estádio da Luz e outros estádios de Portugal para continuar a sua carreira em sucessivas “tournées” organizadas pela UFC (“Ultimate Fighting Championship”)? 
Estou farto da Liga e da FPF. Não organizam nada de jeito. É por estas duas entidades que me vou embora. Vim para o Benfica porque me disserem que tudo era permitido e que podia fazer tudo o que quisesse. É verdade. Mas que interesse tem fazer tudo e mais um par de botas se ninguém marca nada?

Mas acabou de renovar contrato com o Benfica…
Porque me disseram que com o vídeo-árbitro passavam a marcar tudo e é o que se vê. A continuar por cá a minha carreira não sai da cepa torta.

Queixa-se que o Benfica não o apoia? Que não lhe dá todas as condições para evoluir? 
Estão sempre a dizer que não faço nada. O que é que quer que eu pense? Como é que posso evoluir? Não é só o treinador e o presidente. Os adeptos e os comentadores da televisão também. Há dias apliquei um “quebra rótulas” ao Diogo Viana. O árbitro ainda marcou uma canelada a favor dele quando ele nem sequer me tocou. Na televisão, um Senhor Doutor, que faz comentários de MMA, com imagens em câmara lenta e tudo veio dizer que fiz “pé em riste”. Diz que quer levar o MMA para Loures. Diz que enfia uma pantufada nas ventas do Quaresma. Como é que vai fazer isso tudo se confunde um “quebra rótulas” com um “pé em riste”?...

Mas os adversários queixam-se muito de si. Há razões para isso?
Claro que sim. Queixam-se por que elas lhes doem e não é pouco. Em Portugal, há “fair play”. Os adversários reconhecem o que eu faço. As injustiças são tão grandes que são eles próprios a recorrer para a Liga e a FPF. Mesmo assim o que é que acontece? Nada como se eu nunca lhes tivesse feito nada.

Em Espanha o seu trabalho era mais reconhecido? 
Em Espanha é tudo muito diferente. Não interessam as cores das camisolas nem os nomes de ninguém. Só interessa se dás ou se levas. Espetas uma cotovelada num Messi ou num Cristiano Ronaldo e o árbitro marca. Se for num outro jogador qualquer, acontece-te o mesmo. Em Espanha marcavam-me tudo. Em Portugal não me marcam nada.

A ida para UFC vai permitir a sua evolução? Quais são as expectativas?
Gosto de estar dentro de um octógono. Quatro linhas são muito poucas para mim. Para o Caniggia quatro linhas estavam bem. Para mim não dá. Se os lados fossem todos iguais ainda vá que não vá. Assim estão-me sempre a fugir pelo comprimento. Vejo-me e desejo-me para os apanhar, sobretudo o Gelson. A maior parte das vezes não consigo e só vou a tempo de lhes arrear fora das quatro linhas, que não conta para nada.

Vê-se a regressar a Portugal, ao Benfica ou a outro clube qualquer?
Não encaro essa possibilidade. Não quero acabar como o Paulinho Santos que foi o herói de toda uma geração. Nunca mais me vou esquecer de o ver esfregar o cotovelo, uma e outra vez, no céu-da-boca do João Pinto. Veja o que é que lhe aconteceu? Um dia, na Final da Taça, fez bem a montada num argentino e encheu-lhe a cara de socos. O árbitro não marcou nada. O argentino, que era um fiteiro, enfiou-lhe uma cotovela nas fuças ao ponto de elas ficarem tão amolgadas que mais pareciam a montanha-russa da Disneylândia, em Paris, onde levei os miúdos no ano passado. Nunca mais ninguém o respeitou. O Porto ainda o tentou aproveitar nas camadas jovens, para ver se descobria novos talentos para a modalidade. Mas, nessa altura, os árbitros se viam uma camisola deles não marcavam nada. Uma injustiça. Não quero acabar assim.

Desejo-lhe boa sorte, Eliseu. Venham daí esses ossos para despedida. Ai! 
Desculpe o mau jeito, mas não se deve aproximar pelo meu lado esquerdo. Com todas as lesões no plantel, o médico do Benfica nunca mais me faz a operação à catarata deste olho. Só vejo sombras. Na dúvida ponho sempre o cotovelo à frente.

Esta entrevista é um soco no estômago. Causa uma profunda impressão, mesmo em jornalistas experimentados como o insustentável. Estamos condenados a ver os melhores de nós partirem. Partem porque não são piegas. Partem porque partem a cara a qualquer um sem pedir autorização a ninguém. É o sentimento de injustiça, mais do que o dinheiro, que os leva a partir. Estamos condenados a vê-los triunfar lá fora, onde se pode começar a vida de novo sem olhar à cor da camisola que se veste. O jornalismo de investigação faz-se destas denúncias.


(Nem sequer há a possibilidade de existirem coincidências. Não existe semelhança com a realidade. O insustentável repórter não existe. O futebol não é o MMA. É um desporto com regras, em que não se permite qualquer tipo de violência sobre os adversários. Os árbitros estão lá para que assim seja. Se não virem o que deviam ter visto, o vídeo-árbitro verá com toda a certeza. A Liga e a FPD existem para assegurar que essas regras são cumpridas e que existe “fair play”. Estas instituições e todos os protagonistas do futebol estão sempre sob permanente escrutínio de uma imprensa desportiva livre e implacável, doa a quem doer. Este “post” constitui uma simples homenagem ao Mário-Henrique Leiria e uma lembrança das conversas deste Verão com o meu sobrinho João)

17 comentários:

  1. Respostas
    1. Meu caro,

      Depois de um "post" destes não se lembra de outra coisa. Ou temos piada ou não temos piada. Tristes é que não.

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    2. Antes triste com piada que alegre e lampião. Agora apaga tudo...

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    3. Caro Silas,

      Também me ri com essa.

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  2. Caríssimo:

    Bem esgalhado! Fartei-me de rir!
    Este cavalheiro que comentou antes, sente-se muito só com o seu único neurónio.

    Grande Abraço

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    1. Meu caro,

      Eu ri-me com o meu sobrinho João. Também se riu com isto. Somos três pelo menos. Alguma piada isto deve ter. O que não faz sentido é depois de ler este rolo todo dizer que somos tristes, como fez o cavalheiro anterior.

      Um grande abraço

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  3. Caríssimo:

    E mais uma coisa: é bom saber que ainda há quem se lembre e aprecie o Mári-Henrique Leiria.
    Sai dois Gins Tónicos à memória dele!

    Grande Abraço

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    1. Meu caro,

      O Mário-Henrique Leiria era um génio. Tenho uma relação especial com o poema da nêspera. Não posso contar a razão.

      Um grande abraço outra vez

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    2. Caríssimo:

      Eu sei de cor a "História exemplar", que é o meu favorito. E bem me apetece aplicá-lo muitas vezes...
      Mas a "Nêspera" também é dos bons.
      Então dita pelo saudoso Mário Viegas...

      Um grande Abraço

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  4. Parabéns Rui
    Eu também ri e ouvi dizer que o Eliseu ainda se riu mais só de pensar nas nêsperas que ia espetar no MacGregor. Não o quis desiludir e não lhe disse que era uma brincadeira. É deixar o moço sonhar pois “ sempre que um homem sonha. o mundo pula e avança. como bola colorida. entre as mãos de uma criança” e no entretanto o Eliseu não vai às trombas a ninguém.
    Ab

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    1. Caro Trindade,

      Obrigado. Esperemos que ele se entretenha com o McGregor e deixe as trombas em paz da rapaziada que anda a jogar à bola.

      Um abraço

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  5. Caro Rui,

    O Eliseu Picanhinha nem ao Leiria lembrava. Teria que se dar à estampa uns novíssimos contos do Gin...

    Abraço

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    1. Caro Gabriel,

      Não lembrava ao Leiria, nem depois de uma garrafa de Hendricks.

      Um abraço

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  6. Caro Rui,

    Excelente post. Também me ri, bastante, neste regresso de férias. Parabéns por ser tão bom a criar ficção em torno do futebol como a escrever sobre a ficção em que o nosso futebol se transformou.

    SL

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    1. Caro João,

      Este "post" também marcou o meu fim de férias. Tinha-o prometido ao meu sobrinho que também se chama João (só que é do Porto). Acho que é um "post" que um benfiquista também se poderia rir.

      Este "post" teve uma grande utilidade. Fiquei a saber que está a ser editada a obra completa do MHL. Só estavam publicados os Contos do Gin Tónico e os Novos Contos do Gin Tónico. O primeiro volume chama-se "Ficção" e tem muita obra inédita. Só foi pena ter sabido disto antes de férias, se não já tinha marchado. Assim vou ter menos tempo para o ler. Vou-me divertir tanto a lê-lo como a ver jogar o Eliseu.

      Um abraço

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