segunda-feira, 10 de setembro de 2018

How Democracies Die

O apuramento dos resultados das eleições do Sporting coincidiu com a leitura de “Como as Democracias Morrem”, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt. Demorando seis horas para anunciar os resultados finais, o trapalhão do Marta Soares conseguiu que lesse o livro todo antes de ficar a saber que Frederico Varandas era o novo presidente do Sporting. Há males que vêm por bem.

A sobrevivência das democracias não depende exclusivamente da existência de constituição que as defenda nem de eleições livres. Depende de muitas regras, mais tácitas do que explícitas. As mais importantes são a da autolimitação de quem exerce o poder e a do respeito pelo adversário, nunca em nenhum momento, por muito que se discorde, deverá ser considerado nem insinuado como ilegítimo.

O Sporting não vive em nenhum sistema presidencial nem parlamentar. Apurados os resultados, as candidaturas e os seus protagonistas deixam de representar quem quer que seja e os diferentes órgão sociais eleitos passam a representar todos os sportinguistas. Os sportinguistas a partir desse momento passam a representar-se a si próprios nas Assembleias Gerais. O que visa as eleições é assegurar a livre escolha de órgão sociais do clube que garantam a prossecução dos seus objetivos e a perenidade da organização.

Desse ponto de vista, mal acaba o ato eleitoral, deixa de haver vencedores e vencidos. Há órgãos sociais eleitos e que passam a exercer funções e nada mais, em benefício do Sporting e dos seus associados, representando-os a todos. O João Benedito e o Frederico Varandas estiveram muito bem nas declarações finais. O João Benedito reconhecendo o Frederico Varandas como seu presidente. O Frederico Varandas reconhecendo, com humildade, que, pela sua relevância como atleta do clube, o João Benedito tem um lugar inapagável na história do Sporting.

Há só um ponto que vi esgrimido no final das eleições e que vem da deriva autocrática do passado e daquela que há no pior de cada um de nós. Depois de eleito pelas regras vigentes, Frederico Varandas é o legítimo presidente do Sporting. O facto de ter menos eleitores não diminui em nada a sua legitimidade. As regras, tácitas e explícitas, não se colocam em causa, sob o risco de se colocar em causa o modo de vida democrático. Espero que se tenha aprendido com a experiência e se deixe de brincar aos estatutos e regulamentos, com alterações sob chantagem e sem se cuidar das regras de convivência que estabelecemos e nos permitiram chegar até aqui após mais de cem anos de existência.

7 comentários:

  1. Caro Rui, foi para ficar satisfeito que mais uma vez aqui passei. E assim foi, como sempre, até quando discordamos.

    Abraço

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    1. Meu caro,

      Os sportinguistas são assim ou, pelo menos, devem ser assim. Cada um à sua maneira, mesmo discordando, concordam numa coisa: na defesa do Sporting.

      Abraços,

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  2. Os sócios mais antigos acham que devem ter certos direitos que os mais recentes não devem ter,assim haverá sócios de primeira e de segunda.Sinceramente pouco me incomoda porque não sou nem pretendo ser,mas outros haverá que se sintam injustiçados...

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    1. Meu caro,

      Os sócios mais antigos não acham que têm mais direitos. Têm efetivamente mais direitos. Não porque os reclamam, mas porque os conquistaram com militância ativa, cumprindo os seus deveres, nomeadamente pagando as quotas.

      Num país, os homens ou as mulheres são todos iguais. Sendo todos iguais, têm direito ao mesmo voto. Num clube com as características do sporting não. Há homens e mulheres que pela sua militância têm mais direitos do que outros porque também cumpriram mais deveres do que os outros.

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    2. Ser sócio há mais anos em lugar nenhum significa mais militância.
      Mas casos assim será noutros não.
      Implica apenas e somente mais anos de sócio, mais cotas pagas.

      Se isso é justificação para mais votos é outra conversa. Cada um com a sua opinião.
      Agora misturar anos de sócio e militância não tem lógica nenhuma.

      Num ponto tem razão, nada a dizer, é a regra. E tem de ser respeitada enquanto não for mudada. Ponto.

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  3. Invejo-o, eu não creio conseguir ler o How democracies die em 6 horas...

    Sobre os votos. Parece-me evidente que num clube nunca poderá ser um homem um voto, ou então os novos sócios só deveriam poder votar ao fim de x (5?) anos. Para defesa do próprio clube. Mas talvez pudessemos reduzir a diferença entre os votos.

    Parabéns pelo seu blog. Foi sempre um ponto de frescura no meio deste calor todo dos últimos meses.

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    1. Meu caro,

      Não me inveje. Leio porque não sei fazer muito mais e a minha vida social porventura está uma desgraça. Cá em casa só veem defeitos.

      Pode-se sempre ponderar mais ou menos a antiguidade, mas não se pode deixar de o fazer. Por aquilo que vou lendo não parece que esse seja um problema. Aparentemente, quem tem mais peso eleitoral (nº de leitores x nº votos por eleitor) é um estrato intermédio. Não são como se diz os mais velhos. Também acho que não se pode ser sócio e no dia seguinte ter direito a voto. Era meio caminho andado para uma “chapelada”.

      Tem-se aqui procurado analisar a situação do Sporting e argumentar com base em dois princípios. Primeiro, levar a sério os argumentos dos outros e argumentar de forma séria também (por exemplo, não sei se o BdC enlouqueceu ou não, mas, enquanto ele foi presidente, se não estou de acordo tenho de rebater de forma séria os seus argumentos). Segundo e decorrente do primeiro, nunca desqualificar quem nem concorda ou tem opinião diferente, todos somos sportinguistas e nisso concordamos sempre.

      SL

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