segunda-feira, 9 de outubro de 2017

O foco

A atender em alguns programas desportivos(?) que ontem visitei  de forma fugaz, o foco das atenções, não é, pasme-se, a selecção nacional, mas sim o Sporting. Não nos admiramos nada com o incómodo causado por estarmos vivos. E bem vivos. Mas há quem não consiga disfarçar de forma alguma. Recuemos então à semana que antecedeu esta paragem para as selecções.

Será interessante analisarmos essa semana de três jogos sob a perspectiva (hoje muito utilizada) do foco. O foco, como motor oculto da excelência, para nos socorrermos do Goleman, não é nada fácil de explicar e muito menos de potenciar. Mas parece. O foco é jogo a jogo, dizem-nos. Nesse caso o foco do Sporting seria o Moreirense, o Barcelona e depois o Porto. Alguns seres humanos julgaram ser possível esta sequência focal. Digamos assim.

Lamentamos desanimá-los, mas o foco deveria ser o campeonato. Ganhar o título nacional. Nesse sentido, ganhar em Moreira de Cónegos revestia-se de importância capital. O Sporting partiria para o jogo com o Barcelona como primeiro do campeonato e assim chegaria ao jogo com o Porto. Duas ou três batatas não fariam mossa. Afinal era o Barcelona em pleno PREC Catalão, como estupidamente li algures. Com o Moreirense empatámos por falta de comparência, e não sou eu quem o digo. Muitas almas presentes no jogo confirmaram-me isso mesmo sem quaisquer rodeios: pagaram bilhete e o Sporting só apareceu a meio da segunda parte para comer bolo. Qual era o foco então? Nem sequer o jogo a jogo. É isso que jogo a jogo quer dizer: nada. Às vezes a cabeça voa e já está noutro lado.

Com o Barça ganhámos…moral. Destas vitórias anda o inferno cheio. A liga dos calmeirões é uma competição digna de um conto de fadas, mas cheia de sapos que dificilmente serão príncipes. Quem escreve o guião não está para aí virado, basta ver os nossos jogos contra equipas alemãs noutros anos. Contra o Barça perdemos o jogo e voltamos à confraria do quase. Perdemos, igualmente, o Doumbia e meio joelho do Coentrão. O resto da equipa ficou feita numa compota de músculos a despedir-se dos adeptos.

Foi essa compota de músculos que entrou em campo no jogo seguinte. O jogo seguinte é sempre o foco, não é? O Porto focou-se mais na nossa baliza e não respeitou o nosso grande esforço contra o Barcelona. Ficamos a saber que um joelho do Coentrão vale mais que o Silva completo. Ficamos a saber que grande parte dos jogadores que não jogam, estão lá para não jogar. Ficamos a saber que vamos ter que ir ao mercado (diz-nos JJ) pele centésima décima quarta vez. Ao contrário de outros anos, tivemos sorte e ficamos vivos. A compota de músculos agradeceu aos adeptos. Os focos desligaram-se ao saberem que numa semana não ganhámos nenhum dos jogos, a não ser um: moralmente. 

8 comentários:

  1. Excelente!
    O foco deve ser o campeonato. Ponto. estamos vivos e alguém não gosta nada disso. Devemos concentrar-nos em nós nada mais.

    SL

    Leão de Leiria

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    1. Caro leão,

      Obrigado. O foco nem sempre acompanha os vivos. O campeonato é essencial!

      SL

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  2. JJ está-se cagando para o campeonato (logo, para o Sporting).
    Já tinha o jogo com o Barcelona preparado e na cabeça há muito tempo.
    Deve pensar que ainda olham para ele (ou se alguma vez olharam).

    É um filme que já vimos.
    Quando, em Dezembro, já não houver Champions, arranja-se outra desculpa para mais uma época perdida e virá a promessa (para nos calar), que agora já se prepara o futuro (com gente da casa, que anda a deslumbrar pelos Rio Aves mas não conseguem rivalizar com meros Petrovics e filhos de Bebeto).

    Em Julho, depois de vendido o William, lá tornaremos às dezenas de "contratações cirúrgicas" e a constatação que "temos plantel para todas as frentes". No fim disso, jogam (os mesmos) 11.

    SL

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    1. Caro Cantinho,
      le jeux sont fait: Andar atrás do prejuízo é o nosso nome do meio. Mais reforço menos reforço jogam sempre os mesmos. Quando estão disponíveis. E depois?... logo se vê.

      SL

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  3. Parabéns pela excelente prosa.
    Quanto a Jesus acho por bem lembrar que é já milenar a sua aposta num pequeno grupo de comensais, doze suponho que é o número bíblico. E ainda è o que temos: uma equipa de onze e o suplente Bruno César.
    Acreditai portanto.
    Abraço

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    1. Caro Trindade, obrigado!
      Acarditamos sempre! começo a achar que o fazemos sem critério...

      Abraço

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  4. Caro Gabriel,

    Como é evidente o foco era o jogo contra o Barcelona. O treinador preparou a equipa para jogar na máxima força esse jogo. Planeou o jogo do Moreirense em função desse. Esteve disponível para pagar o preço do desgaste desse jogo no jogo contra o Porto.

    Se isso foi assim para o treinador ainda mais terá sido para os jogadores. Os jogadores querem jogar esses jogos. Nu subconsciente estão sempre esses jogo. Compete ao treinador mudar o foco. O problema é que o foco do treinador era o mesmo.

    SL

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    1. Caro Rui,

      passamos de desfocados na Europa para focados. Vamos ver as contas no final. O campeonato deve ser o foco que ilumina os nossos passos...
      Abraço!

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