O futebol tem uma componente de aleatoriedade que confere uma imprevisibilidade aos resultados como praticamente nenhuma outra modalidade desportiva ou, pelo menos, as mais populares. Nessas modalidades, os resultados quase que podem ser determinados probabilisticamente a partir dos dados de cada jogo. As percentagens determinam os resultados, por outras palavras. No futebol, muitas vezes, demasiadas vezes não é assim. Num dado jogo, um acontecimento isolado, por muito inverosímil que pareça, pode determinar o resultado. É por isso que ao árbitros têm mais influência nos resultados nesta modalidade do que em qualquer outra e as suas decisões acabam por os determinar.
A influência dos árbitros nos resultados está mais documentada. Lembro-me de várias situações. Para, pelo menos, não parecer facioso, recordo algumas que não envolvem o Sporting. Recordo o Mundial de 2002, em que tudo se fez para que a Coreia do Sul fosse o mais longe possível na prova. Recordo o jogo entre Chelsea e o Barcelona para a Liga dos Campeões, em 2009, em que não foram assinalados quatro penalties a favor do Chelsea. Recordo, por fim, o jogo entre o Bayern de Munique e o Porto para a Liga dos Campeões, em 2000, em que, depois do golo do empate do Mário Jardel, o árbitro nunca mais deixou jogar o Porto até estar assegurada a vitória do Bayern de Munique. Assisti aos jogos e senti-me enojado.
Se era assim no futebol organizado pela FIFA e pela UEFA não era difícil de perceber que no futebol português a situação ainda era pior. O Apito Dourado revelou todas as práticas e relações perigosas entre os diferentes agentes do futebol português. Essas práticas e relações perigosas atingiam evidentemente toda a organização do futebol português. Se não foram promovidas, foram pelo menos toleradas pelos dirigentes da Federação e da Liga. Em vez de se levar a investigação até ao limite e varrer tudo o que havia para varrer, atribuiu-se a culpa ao Valentim Loureiro e ao Pinto da Costa e um estatuto de gente débil aos árbitros, especialmente a alguns deles. Circunscrevendo-se desta forma as responsabilidades, o famoso “sistema” estava oleado para continuar a funcionar com os mesmos e com outros protagonistas. O facto de ter passado quase incólume pelo Apito Dourado, dava-lhe mais força e autoridade ainda.
A recente revelação de emails demonstrou que o “sistema”, nas suas práticas e relações entre agentes, estava mais refinado. Em vez de telefonemas, passou-se às novas tecnologias e ao “agora, apague tudo”. Os media e a comunicação social agora também fazem parte desse "sistema". Assiste-se na televisão e nos jornais a autênticas campanhas de desinformação e manipulação da opinião pública. O que vem nos emails é grave, mas o que não vem, ou ainda não veio, é mais grave. Todas as patifarias que possamos imaginar se não aconteceram foi por mero acaso. As práticas e relações que as permitem estão à frente do nariz e atingem o coração do futebol português. Só não vê quem não quer ver. A simples suspeita mata, neste caso o futebol português.
A Federação e a Liga apelam às boas maneiras e à paz no futebol, como se o problema fosse de discurso e da mania de se andar à pancada e não de organização e de adoção de práticas e relações adequadas da sua estrita responsabilidade. O governo e as organizações do Estado, nomeadamente o IPDJ e a ERC, assobiam para o lado. O Ministério Público e a Judiciária parecem ser os únicos a fazer alguma coisa perante o alarme social. Mas o tempo da Justiça não é o tempo dos cidadãos e das suas organizações e a sua aplicação não pode, não deve deixar de se basear na presunção da inocência.
Nestas circunstâncias, como defendi, este campeonato nem se devia ter iniciado. Aparentemente, está-se à espera que a caravana passe mesmo que os cães estejam mais acirrados do que nunca. Não me parece que seja possível. Com o campeonato disputado como está pelo Benfica, Porto e Sporting, é possível? Se até lá não acontecer nenhuma desgraça, alguém acredita que no Marquês de Pombal ou na Avenida dos Aliados se vai fazer uma simples festa do título? Ninguém vai fazer nada? Não está ninguém desse lado a ler e a ouvir o que se passa? Ninguém se sente enojado?
E agora que os emails sao publicos.... qual e mesmo aquele que mostra corrupcao ou trafico de influencia formal?
ResponderEliminarChegaste a ler o texto, pá?
EliminarCaro Luís Ribeiro,
EliminarEm que mundo é que vive? "Corrupção ou tráfico de influências formal"? Isso é exactamente o quê? É corrupção e tráfico de influências em papel selado com assinatura reconhecida no notário? Enfim...
Agildo Ribeiro contou que uma vez, num voo, ficou sentado ao lado de uma boazona com quem teve a seguinte conversa:
EliminarPor um milhão de dólares a Sra ia para a cama comigo?
- Por esse valor ia.
- E por 10 dólares ?
- Mas julga que eu sou alguma p..a?
- Que é eu percebi da resposta à primeira pergunta. Só estava a tentar negociar o preço.
Formalmente a Sra não era. Mas como o Agildo nós também já percebemos :)
Caro Alberto Valente,
EliminarEssa é genial!
Não percebo. Quais são os emails ou vouchers que provam corrupção ou tráfico de influências? Até agora os emails provam que o Benfica nunca teve qualquer tipo de corrupção ou tráfico de influências, por isso o Governo e as entidades nunca se irão pronunciar porque o processo, à semelhança dos vouchers, irá ser arquivado por falta de provas.
ResponderEliminarPior que isso foi a corrupção activa, como afirma com todas as letras o MP, praticada por um vice presidente do clube que comprou, ficou provado que pagou a corruptos todos identificados com nome, informação sigilosa sobre 196 árbitros.
Mais sigilosa do que simples números de telefone. Até nr.s das contas bancárias lá tinham. Sò faltavam os saldos bancários.
Onde pára essa informação?
"mas o que não vem, ou ainda não veio, é mais grave." O quê?
O que ainda não saiu ninguém conhece mas já presumem que é grave?
A isso chama-se "wishful thinking" e as autoridades e o MP não se guiam por tal coisa.
Esqueçam os emails!!
Ia escrever algumas linhas mas substituo-as pelo seguinte: és burro!
EliminarCaro Anónimo,
EliminarE que tal ler o "post" e pensar um bocado no que leu? Se não serve a sugestão, então também lhe serve a resposta que dei ao Luís Ribeiro mais acima.
Não sei direito, português mal, mas os entendidos sabem a diferença entre corrupção e denúncia caluniosa... Para bem do futebol houve condenação,.... Apito dourado ...bola ...padres e missas ...até agora ...bola...
ResponderEliminarAfinal sempre existem nádegas..resultado .... A merda de futebol , fpf e liga que temos.
E aqui está a diferença: este, para além de humilde, não é burro.
EliminarCaro Anónimo,
EliminarNunca aconteceu nada. As organizações que dirigem o futebol nacional, como a FPF e a Liga, também pensam assim. Imagine-se que se tornavam públicos emails destes envolvendo partidos políticos, governos e interesses económicos? Ficava tudo como se nada fosse?
Estás retratado quando dizes que o que fez PPc foi corrupção. Estás retratado quando dizes que não existe tráfico de influências nos e-mails vermelhos. E até poderia ser corrupção o que fez o maluco do PPC, que já foi expulso de sócio do Sporting. Nenhuma instituição está a salvo de ter um malfeitor no seu seio. Qualquer família pode ter uma maçã podre no seu seio. Esse depósito de 2 mil euros aconteceu antes de um jogo dos quartos-de-final da Taça de Portugal frente ao Marítimo. O fiscal-de-linha já não esteve no jogo. Não foi por acaso que o dinheiro foi depositado num banco na Madeira. PPC queria que o fiscal-de-linha fosse apanhado a receber dinheiro do Marítimo. Isto foi um acontecimento condenável. Mas se os lampiões e murcões só têm este acontecimento para enlamear a reputação do Sporting, é muito pouco. E isto, porque no caso de lampiões e murcões não falamos de casos pontuais, falamos de sistemas organizados e das sequentes vitórias espúrias obtidas através desses expedientes.
ResponderEliminarMestre só de apelido mesmo. Hahahahaha
EliminarMeu caro Hélder Mestre,
EliminarO "post" não é sobre o PPC. Quer comentar o "post" ou fazer de conta?
Rui Monteiro, parabéns. Posso assinar por baixo o seu comentário?
ResponderEliminarComentário que também valeu pela reacção galinácea, claramente encartilhada: qual o e-mail que prova corrupção ou tráfico de influências?
Qual o Clube que teve um vice-presidente acusado de corrupção activa...(tréu-téu-téu, pardais ao ninho)
Responder-lhes para quê? Eles não pensam e, se pensam, como devem receber "à peça", tanto se lhes dá, como se lhes deu: é bombar!
Pobres idiotas, lembrem-se que o pior está para vir.
Meu caro,
EliminarMuito obrigado. É um prazer que o assine.
Acho que desta vez as coisas podem acabar muito mal. A FPF, a Liga, o Governo e o Estado português estão a brincar com o fogo. Se não fizerem nada, não sei o que vão dizer quando acontecer uma desgraça. Espero estar enganado.
SL
A forma como um povo se comporta no desporto diz tudo sobre a sua mentalidade. Se alguma coisa deveria fazer qualquer português sentir-se enojado é pela mentalidade do compadrio. Ainda esta semana ficamos a saber de coisa pior do que os emails do Benfica: a lei de financiamento dos partidos. Isto, sim é deve enojar! Emails do Benfica?!?
ResponderEliminarCaro Saraiva,
EliminarCompadrio é a palavra certa. Como diria o Padre Américo, somos todos bons rapazes, andamos é com más companhias.
Ou como dizia o o outro: "Não há rapazes maus. Há é grandes filhos de mães sem cama certa"!
EliminarCaro Carlos Fonseca,
EliminarEstá melhor parafraseado o Padre Américo.