domingo, 17 de dezembro de 2017

Não se importam de falhar menos golos para a próxima, se faz favor?

Foi um jogo sem história ou, por outra palavras, com uma história de golos falhados e de um vitória que acabou por ser fácil. Entrámos a toda a brida e não demos a tradicional meia parte de avanço. Com o Podence e o Gelson Martis a aparecerem por todo o lado, qualquer defesa começa a adornar. Marcámos um golo na primeira meia hora, mas ficámos a dever à falta de jeito no último passe e a hesitações na finalização mais um ou outro. Mas o golo foi uma delícia: o Podence recebe a bola no meio, avança e ameaça um passe para a desmarcação do Bas Dost, faz uma revienga e passa de calcanhar a bola por trás das costas e desmarca pelo meio o Bruno Fernandes que, na cara do guarda-redes, faz golo com a frieza de um veterano de uma qualquer equipa italiana.

O Portimonense fez o que pôde e o que não pôde para se manter à tona. Por volta da tal meia hora equilibrou mais o jogo. Durante a primeira parte, destacou-se um tal de Paulinho, que sentou duas vezes o Mathieu e mandou uma biqueirada para a bancada, e um tal de Nakajima, que, supersónico, ficou de caras com o Patrício e o seu pânico por se encontrar frente-a-frente com ele levou-o a aliviar a bola pela linha de fundo. Seja como for, o Portimonense tentou sempre jogar o jogo pelo jogo sem as mariquices das perdas de tempo e do autocarro do costume. Não deu, mas podia ter dado.

Para a segunda parte a malta estava desconfiada. Como se viu, o Portimonense não veio a Alvalade para alegrar a festa e para desistir à primeira contrariedade. Continuámos a falhar golos, mas o jogo estava animado. Adivinhava-se o golo do Sporting – até por que o Bas Dost ainda não tinha marcado nenhum – mas o Portimonense não dava ar de se resignar. Até que o lateral direito se passou da cabeça e quis arrancar a canela do Acuña. O árbitro mostrou-lhe o segundo amarelo, mas podia, e devia, ter mostrado o vermelho direto. A jogar contra dez, o cerco do Sporting apertou-se e marcámos o segundo. O Bas Dost recebeu a bola no meio, desmarcou o Gelson Martins que, depois de ir à linha, atrasou para o Bruno Fernandes dar um toque para o lado onde apareceu o Bas Dost novamente a marcar como se de um penalty se tratasse: fez a paradinha habitual, atirou o guarda-redes para um lado da baliza e rematou para o outro.

O Jorge Jesus mandou, e bem, acabar com a brincadeira e tirou o Acuña, que estava um pouco chocho, diga-se, e o endiabrado Podence, metendo o Bruno César e o Battaglia. Passámos a controlar mais o jogo, o Portimonense continuou a tentar, mas o meio-campo e a defesa chegavam e sobravam para as encomendas. Com o jogo neste marasmo, passei a ter um olho na televisão e outro na leitura de um livro de John Roemer, “Um futuro para o socialismo marxista”, que tinha acabado de comprar no Continente, juntamente com o bacalhau, que o “voucher” de 15% acabava esta semana (não deixa de ser espantosa a combinação de coisas que podemos comprar nestes hipermercados; não existe ideologia ou a ideologia é a do consumo à esquerda ou à direita das prateleiras).

O Roemer, às páginas tantas, afirma que os países da COMECON apresentaram melhor desempenho económico que os países da OCDE desde o pós-guerra até aos anos 70. O declínio deveu-se a problemas de agente-principal e à incapacidade de inovar sem estímulos de mercado. No Sporting não parece que tenhamos esses problemas: os interesses dos agentes (jogadores) correspondem aos interesses do principal (treinador), isto é, embora o Jorge Jesus não faça como o Estaline e não mande os jogadores para o Gulag, ninguém se atreve a não fazer o que ele manda, e a inovação, enquanto deixarem jogar o Podence e o Gelson Martins, parece não ter fim.

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