terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Foi tão bom para ti como para mim, não foi?

Dois grandes treinadores, dois grandes senhores do futebol mundial. Decidiram tudo no “pré-match”. O Jorge Jesus avançou primeiro: “Valverde, não metes o Messi e eu não meto o Bas Dost. Que dizes?” Valverde, como grande negociador, contrapôs: “Não chega. Tens de meter o pastelão do Alan Ruiz”. Jorge Jesus não se ficou atrás e procurou fechar o negócio: “Meto o pastelão do Alan Ruiz e tu metes o pastelão do André Gomes”. “Fechado”, conclui Valverde, acompanhado da bacalhauzada do costume. Duas notas sobre este diálogo: a enorme dificuldade em traduzi-lo do espanhol e o facto de o Jorge Jesus, como qualquer Secretário-geral da Organização das Nações Unidas, tratar toda a gente por tu.

Com os dois maiores goleadores europeus fora de campo e, em vez deles, dois dos maiores pastelões da Europa e, até, do Mundo, a primeira parte decorreu como se esperava. Não aconteceu rigorosamente nada. O Barcelona foi trocando a bola até lhe ser marcado jogo passivo. O Sporting resolvia tudo muito mais depressa, perdendo a bola sob qualquer pretexto ou sob pretexto algum. Salvou-se um nó do Luis Suárez sobre o Coates seguido de um remate para grande mancha do Rui Patrício. Pensei que se tratava de uma quebra do código de conduta grave entre dois uruguaios e que tudo podia acabar com o Coates a enfiar-lhe uma chuteira pelo esófago abaixo. Depois percebei que era tudo a brincar e combinado com o Rui Patrício. O Rui Patrício precisava de aquecer para a entrada do Messi e, como se viu depois, adora chatear qualquer Bota de Ouro.

Na segunda parte, tudo mudou. O Jorge Jesus quebrou o pacto de não-agressão. Tirou o pastelão do Alan Ruiz e meteu o Bas Dost. Para que não existissem dúvidas sobre as suas (más) intenções, meteu o Gelson Martins também. O Valverde nem queria acreditar no que via e colocou o Messi a aquecer. Mesmo com ele a correr fora do campo, o Barcelona desatou logo a jogar melhor. De repente, estava no banco a despir o fato de treino. O Jorge Jesus deu imediatamente ordens para deixarmos marcar um golo para que, na dúvida, o Valverde não o metesse. Só assim se explica que, na sequência de um canto, um jogador de metro e meio tenha marcado de cabeça um golo ao primeiro poste sem saltar praticamente.

Mas o Valverde estava furioso e não voltou atrás e o Messi entrou mesmo. Com medo que ele entrasse desembestado e desatasse a correr, fintar e marcar golos, o Jorge Jesus deu ordens para o Bas Dost falhar golos de baliza aberta para não o irritar ainda mais. Não era preciso, como se viu. O Rui Patrício entre o Ronaldo e o Messi não tem dúvidas. É capaz de levar um golo de remate do Ronaldo do meio-campo, mas come remates do Messi à entrada da área ao pequeno-almoço todos os dias. O dois zero só aconteceu porque o Mathieu queria demonstrar que o Rui Patrício só leva golos parvos e sem culpa nenhuma.

Noutro contexto, tudo isto teria acabado com o Valverde a empurrar para trás com a perna despida os lençóis e a passar o cigarro ao Jorge Jesus, depois de uma puxa profunda, enquanto perguntava: “foi tão bom para ti como para mim, não foi?”

Pensei que o Benfica tinha pulverizado todos os recordes da Europa. Não é verdade. Fiquei a saber que não bateu o recorde do Dínamo de Zagreb. Foi por pouco, mas há que dar o mérito a quem o tem. Mesmo assim, não deixa de ser um feito passar a ser a pior equipa que jogou a Liga dos Campeões abaixo dos 45 graus de latitude e a oeste dos 15 graus de longitude.

13 comentários:

  1. LOL, muito bom este texto, nunca comento aqui mas desta vez decidi abrir uma excepção, nada melhor que ler os teus textos para aliviar a minha azia quando o Sporting perde ;)

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    1. Caro Luís Vieira,

      Também escrevo estes textos para desopilar. Para mim, tem enormes efeitos terapêuticos. Ainda bem que também tem para si e para outros.

      SL

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  2. Muito, muito bom! é mesmo disto que um leão precisa para recuperar de um derrota. SL! JPT

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    1. Caro JPT,

      Disto e de uma vitória contra o Boavista; para além das façanhas do Gloriso na Europa.

      SL

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  3. Excelente texto...terapêutico! Este tipo de terapia só será possivel no seio de sportinguistas. Parabéns

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    1. Meu caro,

      Obrigado. De facto, não vejo este tipo de terapia mais saudável em outros clubes. A malta gosta mais de andar à porrada.

      SL

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  4. Grande texto!
    Parabéns!
    SPOOOOORTING!

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