quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Filhos de um deus menor

 

O jogo para a liga dos calmeirões entre o Moreirense e o Sporting, perdão, entre o Porto e o City, foi extremamente interessante do ponto de vista sociológico/futebolístico, permitindo-nos, finalmente, perceber a expressão: o rico, come; o pobre, alimenta-se. A grande diferença entre o Porto-City e o Sporting-Moreirense é que o Porto jogou em casa. O Porto é mais rico que o Moreirense e o City é mais rico que o Sporting, sendo que as diferenças de orçamentos entre Porto/City e Sporting/Moreirense são igualmente brutais, embora o Porto seja um cliente habitual da calmeirões e, por isso mesmo, segundo os próprios, um membro do clube.  

Todavia, quando assistimos a ambos os jogos, reconhecemos parecenças interessantes: tanto o Porto como o Moreirense (e aqui talvez mais o Porto), pouco ou nada fizeram para ganhar o jogo, estando largos períodos sem sequer se aproximar da baliza adversária, quanto mais fazer um remate enquadrado com a dita cuja. City e Sporting, por outro lado, para além do domínio territorial e da posse de bola, jogaram uma espécie de tiki-taka maníaco compulsivo, com sucessivas trocas de bola para o lado e para trás, ora verificando se a torneira estaria fechada, ora se o gás teria sido desligado. Sei o que isso é, vou muitas vezes atrás para ver se fechei a porta do carro.

Entretanto, mesmo assim e, apesar disso, construíram várias oportunidades para golo, sendo que o Sporting conseguiu ganhar (sem espinhas) o jogo. Os comentadores, por seu turno, salientaram o grande jogo defensivo (não poderia ser outro, obviamente), tanto do Moreirense como do Porto, acrescentando, no caso do Porto, o enorme pragmatismo dos 60 milhões em fundo. Uma luz ao fundo do túnel.

Reza a nossa história alternativa que Lito Vidigal se terá deliciado ao assistir ao pragmatismo (deixem passar) de Sérgio Conceição (em tudo semelhante ao do Marítimo quando enfiou três batatas no Dragão), muito próximo do pragmatismo do Marítimo no recente jogo com o Benfica. Jorge Jesus, que aprecia a relativização da verdade, consoante a andança do vento, terá vislumbrado em Conceição uma força inequívoca de futebol com pouca nota artística, bem próximo do (supostamente) defendido por Lito Vidigal. Não fosse aquela falta marcada ao contrário que resultou no segundo golo do Benfica, e ainda estaríamos a discutir se voltava o professor de ginástica ou o senhor Lage. Consoante a luz divina surgisse na noite de Vieira.

Como parentes pobres que somos disto tudo, resta-nos jogar jogo a jogo. Mesmo com pouca luz. 


6 comentários:

  1. Excelente texto, como sempre.
    É interessante -já não é a primeira vez - que o Porto quando joga com um grande da Europa, lá vem com a treta da contabilidade das equipas, mas nunca o faz quando perde com equipas, cujo orçamento, por vezes, é o valor de um jogador do Porto. E mesmo quando não tem justificação - ou porque joga mal, ou porque perde - toda a gente é invejosa e sulista. Pensava que este " bicho da fruta " já tinha sido extinto, até porque as pessoas não são parvas. Mas não. Quer o Avante do Porto( vulgo jornal o Jogo,) quer as célebres notas informativas do antigo regime na TV ( vulgo Porto Canal )ainda continuam a explorar este filão dos anos 80, do século passado, que tão bons resultados deu ao Porto. Será que ainda dá?
    Um abraço

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    1. Obrigado meu caro,

      Tudo isto está relacionado com a luz (ou a fruta) divina.

      SL

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  2. Claro que dá bons resultados , não tão bons como os dos lampiões , que teem outros métodos , mas qualquer deles incomparávelmente melhores que os nossos .

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  3. JJ e Conceição: dois sonsos com boa imprensa e muita falta de noção.
    Havia de ser o treinador do Sporting, fosse ele o Ruben Amorim ou outro qualquer, a ter as atitudes que estes dois têm tido.

    O nosso "jogo a jogo" tem uma prova de fogo esta semana. Depois de ver as nomeações, fiquei com a impressão temos uma emboscada montada lá para os lados de Famalicão. 2020 está a ser um ano atípico e fala-se muito no "novo normal" mas no nosso futebol há coisas que não mudam de maneira nenhuma. Que me engane...

    SL

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    1. Meu caro,

      Há coisas que não mudam. O "novo" normal é afinal o velho normal. Ou será que não?

      SL

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