segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Je suis Charlie!

Fui jantar a casa de uns amigos, não vendo o jogo em direto. A confiança era total. Não vacilei, nos queijos, na sapateira ou no robalo. Ataquei com o que tinha mais à mão. Não perdi um tópico de conversa. Do meu lado esquerdo, ao fundo da sala, passava o jogo. Dei uma ou outra olhadela, de esguelha, de soslaio, tranquilo, muito tranquilo. Como disse, confiança total: a vitória era nossa assim ou assado, como o robalo.

Cheguei a casa e vi o jogo em diferido. Um exercício mais ou menos burocrático, como verificar se as vacinas estão em dia ou a data de validade do Cartão de Cidadão ou da Carta de Condução. Sabemos de antemão que está tudo bem. Queremos é tomar nota mental da necessidade mais ou menos urgente de passar pela Loja do Cidadão. Estava tudo em dia, como esperava. Em janeiro, talvez não fosse má ideia passar pela Loja do Cidadão para trazer um calmeirão para o ataque, um Bas Dost por um oitavo do preço anterior.

Há um ano, qualquer equipa que jogasse contra o Sporting entrava de peito feito à procura da vitória. Agora entram para perder por poucos. O Farense esteve impecável. Entrou para perder por um e o mais tarde que pudesse ser. Só perdeu por um no final do jogo e assim podem voltar para casa com a consciência do dever cumprido e com a confiança em alta. Não sou do Farense, mas, se fosse, estava orgulhoso daqueles bravos rapazes. Entre eles e o árbitro, com os do Sporting à mistura, conseguiram arranjar 44 faltas, mais ou menos uma por minuto de jogo útil. É bom, muito bom. É obra! 

O Sporar marcou de “penalty” à Panenka. Pouco se falou desse feito, dessa impossibilidade có(s)mica, de um eslovenos marcar como um checo. Falou-se de artes marciais mistas ou MMA. Há opiniões para todos os gostos. Vale mais pontos o direto do guarda-redes nas fuças do Feddal ou o mata-leão aplicado no pescoço do Coates? Na conferência de imprensa o Rúben Amorim foi ambíguo. Por um lado, prefere o mata-leão mas, por outro, confessa que um direto é mais contundente. Também não sei dizer. Foram dois bons golpes que apanharam os adversários desprevenidos. Conclui-se o jogo e uma horda de muçulmanos do último reduto do Algarbe Alandalus, armada de cimitarras, desatou a perseguir campo fora o Charlie Hebdo. O árbitro não foi de modas e, solidário, mostrou um cartão onde se lia em letras garrafais “Je suis Charlie!”.

3 comentários:

  1. Ah grande Eça. É sempre um prazer ler-te.
    Saudações leoninas

    ResponderEliminar
  2. Caro Rui Monteiro
    Melhor que a discussão sobre o penalti foram os comentadores de serviço dos diversos canais, alguns até espumavam raiva ( eu já fui vacinado ). Já contavam com mais algumas anedotas sobre o natal. Saiu-lhes o tiro pela culatra. Mas há um sujeito da Bola TV, cujo lencinho vermelho na lapela não engana ( é como o algodão ) vomita a seguinte diatribe: o Farense foi prejudicado. O Guarda Redes do Farense não fez penalti. E acrescentou " houve sim um penalti sobre o Coates, mas como o arbitro não apitou, logo não conta. O que conta é que o penalti que foi assinalado não existiu. Por isso o Farense foi prejudicado e o Sporting beneficiado. Ora aí está lógica da batata.
    Mas aquela figura inenarrável do vídeo árbitro da Sport Tv, deve praticar " COICEBOLL " quer no jogo " jogado " quer no " Português ". Na casa deste sujeito deve ser cá uma confusão dos raios. Não é que falou várias vezes numa revista pornográfica espanhola chamada INTERVIU, confundindo com INTERVEIO?
    Não há na Sport Tv ninguém melhor que este sujeito?
    Até quando temos de aturar esta gente?
    Um abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Meu caro,
      Se fosse presidente, a primeira medida era ter uma conversa muito séria com estes senhores da Sporttv. Podemos também fazer como o Benfica e fingirmos que temos uma televisão própria, cobramos assinaturas próprias e acabamos a devolver o dinheiro à NOS por portas travessas, para eles nos tornaram a dar através do contrato de cedência de direitos de transmissão. Acabava-se com os comentadores, aumentavam-se artificialmente as receitas (que sempre teriam de ser deduzidas dos custos). Se o Benfica faz isto não sei porque não fazemos o mesmo.

      Abraço

      Eliminar