O jogo, de sábado, contra o Porto e os comentários e análises que lhe seguiram foram extraordinários. O extraordinário está fora do ordinário, do normal. Não se pode ver e analisar o que está fora do ordinário, do normal, como se se estivesse a ver o próprio ordinário, o normal. Os conhecimentos de aerodinâmica atuais que nos permitem apreciar o voo de um avião não nos permitirão compreender um ovni quando o virmos, se alguma vez o virmos. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, mesmo que ambas as coisas voem.
Houve bola, jogadores, treinadores e árbitros e, assim, mentes menos avisadas veem um avião e analisam o seu voo como se de um avião se tratasse. Mas bola, jogadores, treinadores e árbitros também fazem um ovni; e é um ovni que devemos ver e é o seu voo que devemos analisar. O que vimos tem um passado e um contexto conhecido aos quais o sistema de justiça vai chamando nomes (“apitos”, “malas” e por aí adiante). Repeti-los (e repetir-nos) não ajuda à compreensão porque, começando por nos parecer esdrúxulos, logo já nos habituamos a eles até passarem a ser normais, nada extraordinários, portanto.
Para se compreender o jogo de sábado e o nosso campeonato, o extraordinário, em síntese, temos que recorrer à guerra fria e à Cortina de Ferro. Nesse tempo, na Europa Oriental, os países tinham clubes do regime. Uns tinham sido criados pelo exército, outros pela polícia e outros ainda pelos serviços secretos. Os exemplos são vários. Retenho um dos mais extraordinários (lá está, fora do ordinário, do normal): o Steaua de Bucareste. A história encontra-se disponível no ciberespaço e não a vou repetir. Retenho um dos fragmentos: entre 1986 e 1989, permaneceu invicto durante 104 jogos consecutivos disputados no campeonato, série que se concluiu abruptamente após a execução do ditador Nicolae Ceausescu mas que, ainda hoje, constitui recorde europeu.
O Zaidu devia ter sido expulso pela entrada sobre o Pedro Porro? O Zaidu devia ter sido expulso pelo “penalty” sobre o Pedro Gonçalves? O árbitro e o vídeo árbitro erraram ao não marcar “penalty”? O Corona fez falta para mais um amarelo? E o Otávio e o Uribe? Se o Rúben Amorim foi expulso, o Sérgio Conceição também o devia ser? O tempo de desconto não foi adequado? Sim, sim, sim, sim, sim, sim e sim? Não! O sim aplica-se ao ordinário, ao normal, não ao extraordinário.
A claque do Steaua de Bucareste tinha o seguinte cântico: “Tu podes ser um cão ou tu podes ser um adepto do Steaua”. A mensagem é simples, ou és do clube do regime ou és um cão. Seria delicado informarem-nos qual o clube dos militares e qual o clube dos serviços secretos. Que não temos clube, já sabíamos. O que ainda não sabemos é de que clube devemos ser. Cão é que não!
Caro Rui Monteiro
ResponderEliminarSe alguém tivesse dúvidas sobre o seu post, bastava ouvir o Luís Filipe Vieira, ontem na TV 3, sobre a zanga com o Pinto da Costa.Está lá tudo.
Após o " tratado de Tordesilhas " confirmado ontem pelo Vieira, ainda há gente que tenha dúvidas?
O único homem no Sporting, que nos últimos anos colocou a nu o poder estabelecido chamava-se Bruno de Carvalho. Percebe-se agora o ódio que lhe foi( e ainda é ) nutrido, d e os seus eunucos ( alguns do Sporting ), não matam os tiranos, pedem mais, como dizia o Zeca Afonso.
Para quando o fim do video árbitro da Sportv dos jogos do Sporting. Aquele ex.arbitro da regional que faz de vídeo árbitro, está impregnado de antisportinguimo primário, ou será só cretinice?
Um abraço
Meu caro,
EliminarTodos sabemos o que se passou no jogo. Sabemos os sportinguistas e sabem os da SporTV e os demais. O Porto não pode perder e o Benfica também não. Contra o Marítimo, foi um acaso. Andou-se a discutir se uma bola que não entra na baliza também pode ser golo. Ninguém procurou discutir como é que uma falta ofensiva foi transformada num "penalty".
No sábado foi mais do mesmo. O Sporting passa para a frente e passou a valer tudo. Nem me irrita especialmente o que se passou. O que me irrita é os sportinguistas que têm um tal ódio ao Varandas que não vêem o que está à frente dos olhos. No Sporting, o Zaidu tinha acabado a carreira no sábado. O que diríamos todos nós? Um jogador que faz uma entrada despropositada para vermelho. A seguir, é comido na desmarcação do Pedro Gonçalves, faz "penalty" e é expulso. Estaríamos todos a insultar o Varandas e outros que tais pela contratação de outro perneta. No Porto, acabou como herói.
Jogámos contra o Campeão Nacional, que nos ficou à frente dezenas de pontos. A nossa equipa é praticamente toda nova e cheia de miúdos. Não ganhámos pelas razões que sabemos. Pergunta: como é que o Porto é campeão a jogar tão pouco?
Abraço
Claro que tem razão no se que refere ao Zaidu. Aliás, seria interessante fazer uma estatística das entradas a matar do Zaidu, quando estava no Marítimo, e agora no Porto.
EliminarEle mal assinou pelo Porto, foi informado, que naquele clube, vale tudo, não há problema....
Quando ao Varandas: Não votei nele. E não votei porque continuo a pensar, que ele não foi correto com o Bruno de Carvalho e a sua atitude na gestão do Sporting deixa muito a desejar.
Não gosto, pessoalmente, das claques pelas razões sobejamente conhecidas, quando não fiscalizadas, são facilmente monopolizadas por grupos criminosos e nazis. Mas não se pode ter uma politica de terra queimada, porque as claques bem organizadas de apoio ao clube são sempre necessárias. Ir ver jogo de futebol, não é a mesma coisa que ir à missa.
Para já não falar da rábula da Assembleias gerais.
No entanto, enquanto for Presidente do clube, é o meu Presidente.
Sei muito bem separar as águas....
Peço desculpa em estragar a analogia, mas "cães", aqui, refere-se aos rivais directos do Steaua, os "Cães Vermelhos" ("Cainii roșii"), modo como se autodenominam, com orgulho, os adeptos do Dínamo de Bucareste - que era o clube do Ministério do Interior, ou seja, da Securitate (e do nosso Marius Niculae), pelo que não eram propriamente desvalidos como nós. SL e obrigado pelo excelente trabalho. JPT
ResponderEliminarMeu caro,
EliminarObrigado pela correcção. Este meu "post" decorre de um "link" enviado por um amigo meu. A parte dos cães também serve de "punch line" e pouco mais. A história do futebol nos países de leste está cheia de histórias de clubes do regime. As bancadas estavam sempre recheada de tropa fardada a ver o jogo. A história do Steua é uma entre muitas. diferencia-se das de outros pelo facto de dispor do recorde de jogos invictos. Acho que um dias destes o Porto ou o Benfica vão bater esse recorde pelo caminho que as coisas vão.
SL
Eram as bancadas mais verdes da Europa. Daquilo a que por cá se chamava "feijão verde". JPT SL
EliminarSobre este assunto, vem propósito uma história que me foi contada pelo próprio. Nos anos 80 do século passado, o Porto foi jogar a Moscovo contra um dos clubes que pertencia ao exército.Um adepto do Porto,meu amigo,para além de ser Escuteiro, não falhava um jogo do Porto nas competições cá dentro e lá fora. Quando veio de Moscovo vinha muito admirado, porque " nunca tinha visto tanto escuteiro junto na vida dele a ver um jogo de futebol".
EliminarEste jogo com uma arbitragem, os portistas acabavam o jogo com pelo menos 9 jogadores. Deram pau à farta e amarelos, poucos.
ResponderEliminarA cereja no topo no bolo: o penálti "revertido" (ehehe) podia ter sido visto através de uma fresta do Estádio, por um habitante que estivesse à janela nos prédios em frente ao Estádio, tal era a sua clareza, mas o VAR com 8/9 (?) câmaras não viu. Para este nem a optivisão lhe pode valer, portanto nada menos que a sua expulsão da arbitragem, para o "reversor" pela péssima "apitadeira", do principio ao fim do jogo, devia de regressar, com a visão melhorada e calminho, depois de passar a pandemia. Eles mereciam.
Uma moeda tem duas faces, Benfica e Porto preenchem-nas. São farinha do mesmo saco...
Ó Migang, com toda a consideração, o Bruno de Carvalho? Já passou há tanto tempo, o tempo não anda para trás.
O Poeta iletrado
Sl
Meu caro,
EliminarO problema é que a história repete-se e a nós pouco nos importa se se repete como tragédia ou como farsa. No próximo jogo será assim e no seguinte também até o fim dos tempos. Ou se muda de regime ou não há nada a fazer. Não se percebe é como se consegue construir uma Perestroika qualquer.
SL
Caro Rui,
ResponderEliminarPermita-me assinalar esta pequena curiosidade de que sou testemunha à força: nos sucessivos TJ's da RTP eles não se cansam de afirmar que o Benfica tem 5 pontos de vantagem sobre o Porto. Mesmo sem mentir tentam esquecer que há 4 equipas a 5 pontos e uma delas tem um jogo a menos. Ai se a má fé fosse taxada a uma taxa razoával...
SL
Caro Aboím Serôdio,
EliminarO campeonato ainda mal começou e o campeão já está anunciado. O Porto perdeu 5 pontos. Sobre o Benfica. O Sporting serve para o que sempre serviu, para fazer número. É assim que os nosso jornalistas pensam futebol.
SL
Rui Monteiro
ResponderEliminarO campeão já está encontrado, Jorge de Jesus em mais uma brilhante tirada : "nunca um clube ganhou os primeiros 4 jogos do campeonato". Os incidentes em Alvalade inserem-se numa estratégia equilibradora, mal seria se o FCP perdesse, ficava a 7 pontos, lá se ia o equilibrio imaginário.
Depois há sportvs, dezenas deprogramas futeboleiros. Há que manter o mínimo de competição.
O Sporting há 40 anos não conta, os Sportinguistas divertem-se na guerra dos varandistas x brunistas.
Sábado há mais. Força Amorim
SL
João Balaia
Caro João,
EliminarA questão é mesmo essa. É preciso manter a roda a girar mesmo que não se saia do mesmo sítio. Há jornais para vender, programas desportivos para produzir, jogos em "pay per view", etc. Tem que se dar a impressão que o campeão é incerto quanto tudo está escrito nas estrelas.
SL
Caro Rui,
ResponderEliminarExtraordinária crónica. Procuro sempre ver o futebol jogado e não a farsa executada pelas arbitragens, mas ele há coisas que não podem ser analisadas enquanto ordinárias. O que se passou no Sábado foi fora do normal e portanto é um erro arriscar uma análise ordinária. Daí achar a sua análise extraordinária.
No entanto há algo de normal no meio disto tudo: as extraordinárias declarações de Sérgio no final do jogo! Depois de um jogo em que os seus jogadores distribuíram fruta a torto e a direito acabou por dizer: "Há jogadores que têm de perceber o que é a identidade do FC Porto" Fiquei também eu sem perceber, mas desconfio que pode ter a ver com a fruta, ou com o desconhecimento de alguns jogadores sobre os verdadeiros milagres que a sua gerida distribuição podem fazer...
SL
Caro João,
EliminarExcelente observação. Imagino que a identidade do Porto passe por entrarem em campo com um faca do Rambo e uma Kalashniko. Entrar em campo só com vontade de partir a tíbia e o perónio do adversário é para meninos.
SL