sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Coisas da seleção

Nesta semana e meia, à falta de drogas duras tivemos que nos contentar com metadona: sem campeonato, restou-nos a seleção e os jogos amigáveis da Liga das Nações. Por muito maus que sejam, um Feddal ou um Vietto sempre são melhores do que um Félix ou um Rúben Dias. Não, não se refere às qualidades futebolísticas, ou à falta delas, e ao jogo propriamente dito, mas à cor das camisolas e à importância do que se joga. Cada jogo da seleção constitui desafio intelectual. O emaranhado de pernas é de tal forma que nem o Vasco da Gama da bola consegue encontrar o caminho marítimo para onde quer que seja. Os adversários vão insistindo, insistindo até desistirem e se conformarem com o destino. O destino está escrito nas estrelas: o empate sempre que possível ou a vitória por exclusão de partes. 

Retenho alguns momentos, algumas imagens e sons. António Tadeia: “Grande passe, grande classe do João Félix! Ah, afinal era o Bruno Fernandes”. O Fernando Santos a franzir o sobrolho, preocupado, ao ver a equipa em quinze minutos ultrapassar mais vezes o meio-campo do que na final do Campeonato da Europa. Ver o Bruno Fernandes levar um pontapé na cabeça e ficar estendido no chão e o Mbappé a hesitar se enfrentava o Pepe ou não, acabando por decidir atirar a bola fora com grande “fair play”. O Pepe é como o Papa por portas travessas, consegue reconciliar as nações e construir a paz. Por falar em Papa, foi à Divina Providência que o Fernando Santos apelou a subida da defesa da França, impedindo o golo do Pepe. Imagino o Fernando Santos a dizer ao apóstolo Pepe: “Em verdade, em verdade vos digo, não marcarás na baliza do próximo”. O génio do Fernando Santos ao substituir o Cristiano Ronaldo pelo Victor Lindelöf [as melhoras para o Cristiano Ronaldo, que ganhou Covid-19 e o Jorge Mendes a respetiva comissão]. 

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Meu caro,

      Não julgue que é fácil resumir uma realidade tão complexa como a que Fernando Santos sempre cria.

      SL

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