terça-feira, 18 de janeiro de 2011

As lições do Professor: Como conjugar o verbo responsabilizar (*)

De acordo com a imprensa desportiva de hoje, o Prof. Queiroz responsabiliza o seu adjunto Agostinho Oliveira pelos maus resultados da Selecção Nacional nos jogos de apuramento para o Euro 2012, frente ao Chipre e à Noruega. Anteriormente, o Prof. Queiroz responsabilizara o Secretário de Estado do Desporto Laurentino Dias pelo seu afastamento da FPF. Poucos meses antes, o Prof. Queiroz havia responsabilizado o dirigente da FPF Amândio de Carvalho pelos maus resultados da selecção nacional no Mundial 2010 da África do Sul. Há uns anos atrás, o Prof. Queiroz responsabilizou Luís Filipe Scolari por este ter atribuído – depreende-se que indevidamente - a braçadeira de capitão da selecção nacional a Cristiano Ronaldo.

Enfim, ao longo da sua carreira, o Senhor Professor, apesar do seu imenso talento, teve que ir responsabilizando, de forma sistemática, mas sempre elegante, os seus dirigentes, os jogadores ou, agora, os adjuntos pelas sucessivas infelicidades das equipas que dirigia. Quando não havia mais nenhum ombro vizinho para o qual transferir o fardo da responsabilidade, o Senhor Professor teve, então, que o descarregar, com ar pesaroso, em cima do seu (e principalmente nosso) triste fado.

A enorme capacidade do Senhor Professor, quer para assumir  as suas responsabilidades de líder, quer para ser solidário com os seus dirigentes e subordinados,  recorda-me uma fantástica fábula de Ambrose Bierce. Contam os velhos sábios que, um dia, há muitos e muitos anos, ia um "Magnífico Professor" a subir pensativamente a "Montanha do Sucesso", quando se cruzou com um “Homem Simples do Futebol" que ia a descer. O "Homem Simples do Futebol" suspendeu a sua caminhada e interpelou-o:

- Se sigo esta direcção não é por ter gosto nisso, mas por me dar menos trabalho. Peço-lhe, "Magnífico Professor", que me ajude a chegar ao topo.

- Com o maior prazer – respondeu o "Magnífico Professor", cujo rosto se iluminou com a glória irradiante do seu pensamento. – Sempre considerei a minha força um dom sagrado, que devo conservar para socorrer os meus semelhantes. Fique, portanto, tranquilo, caro amigo, que eu assumo a responsabilidade de levá-lo comigo até ao topo. Ora ponha-se atrás de mim, e empurre.

(*) Baseado na Fábula "Economia de Forças" de Ambrose Bierce

2 comentários:

  1. Excelente texto, muito bem escolhida a analogia da fábula com o fabuloso Professor. Talvez dos melhores textos (se não o melhor) sobre Queiroz que li (e olhe que saíram em catadupa o ano que passou).

    Cumprimentos

    HC Marx

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  2. Caro HC Marx,

    Antes de mais, agradeço as suas amáveis palavras. Confesso, de qualquer forma, que não foi muito dificil construir o texto, até porque a douta personagem continua a dar-nos motivos diários de inspiração.

    Um abraço,

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