domingo, 19 de setembro de 2010

O Professor: Segundo Acto: A Casa do Futebol, adaptado de “O Alienista”, de Machado de Assis

Regressado a Portugal e sustentado pela fama que o precedia, o Professor decidiu, então, concretizar o seu maior sonho, fundando a Casa do Futebol, em Lisboa, no antigo edifício do Hospital Júlio de Matos. Com o apoio do Governo, o Professor internava compulsivamente na Casa todos aqueles que entendia que não possuíam rudimentos mínimos do fenómeno futebolístico, submetendo-os a um vasto programa de testes e tratamentos até que alcançassem o estádio superior do conhecimento científico do futebol.

De início, começou por proceder ao internamento de casos mais evidentes e consensuais, como Luís Campos ou Carlos Azenha. Seguiram-se, sem surpresa, Querido Manha e Joaquim Rita. Rui Santos, o querido amigo de longa data do Professor, também não escapou: ainda balbuciou qualquer coisa do tipo “ai, ai, ai, isso agora é que não pode ser”, mas lá teve que se resignar ao internamento ante o douto parecer do Professor. Paulo Sérgio, Carvalhal e Freitas Lobo queriam, eles próprios, por sua iniciativa, dar entrada na Casa do Futebol e, depois de várias tentativas, lá conseguiram. Pelo contrário, Bettencourt, Filipe Vieira e Vale e Azevedo tentaram, numa primeira fase, protestar, mas acabaram por ser, também eles, internados (embora Vale e Azevedo tivesse, depois, conseguido interpor uma providência cautelar e… escapulir sorrateiramente pela porta dos “fundos”). Quando chegou a vez de Fernando Santos, o povo simples do futebol começou a interrogar-se: o Professor, estudioso e meticuloso como era, lá devia ter as suas razões, mas, que diabo, mesmo com todas as ajudas alheias, a verdade é que, na “ralidade”, o Fernando Santos era …o Engenheiro do Penta!

Gerou-se uma pequena tempestade na comunicação social desportiva em Portugal. O Professor, sempre arguto, convocou uma conferência de imprensa: “Direi pouco, ou até não direi nada, se for preciso. O futebol é, meus senhores, uma coisa séria e merece ser tratada com seriedade. Não dou razão dos meus actos de Treinador a ninguém, salvo aos mestres e a Deus. Se quereis emendar a administração da Casa do Futebol, estou pronto a ouvir-vos; mas se exigis que me negue a mim mesmo, não ganhareis nada. Podia convidar alguns de vós a vir ver comigo os hóspedes da Casa; mas não o faço, porque isso seria dar-vos razão do meu sistema, o que não farei a leigos, nem a rebeldes”. Ante os argumentos de autoridade exibidos pelo Professor, a Comunicação Social ficou convencida e dispersou.

O internamento de novos pacientes continuou – Hugo Gilberto, Pôncio, Dias Ferreira e Seara foram os senhores que se seguiram. Surpreendentemente, porém, passados uns dias, o Professor anunciou a libertação de todos os hóspedes da Casa do Futebol, assumindo, com humildade, o seu erro: de acordo com as conclusões irrefutáveis dos estudos minuciosos que tinha vindo a desenvolver sobre os hóspedes da Casa (na altura, já cerca de seis milhões e pico de reclusos), deveria ser nela internado, afinal, quem tivesse sólidos conhecimentos científicos do futebol e não o contrário.

A população rejubilou com esta decisão do Professor, a comunicação social acolheu-a também de bom grado e a tranquilidade regressou, pois, ao Reino do futebol. Porém, algum tempo depois, começaram a ser internados António Tadeia, depois, Jorge Jesus e, de seguida, Paulo Bento. E, logo… surpresa geral, Pinto da Costa. Uns dias depois, Sir Ferguson (que tinha vindo a Portugal para pedir ao Professor que devolvesse os seus pinos de treino favoritos dos tempos de Manchester), também teve a mesma sorte. Mais tarde, escândalo internacional, nem… Big Mou escapou ao internamento!

Face a uma enorme manifestação de protesto convocada para a Casa do Futebol, o Professor teve, então, que enfrentar corajosamente a rude populaça, expressando os seus pontos de vista com a habitual elegância e tranquilidade: Vocês são pessoas que ou não sabem ler ou, a partir de determinada hora, não sabem o que dizem. E, tu, pá, que queres, és grande, mas não és lá grande coisa! Oh, seus grandessíssimos &#### $$ ####, por que é que não vão protestar para a #$%# ## ###?!? E tu, pá, queres dois socos, é?!? . A populaça não esperava uma oração de sapiência tão telúrica e abrasiva por parte do Professor – alguns comentaram mesmo que as suas citações estavam a evoluir - e, também ela convencida pelo seu imenso talento, dispersou.

O Professor pôde, então, prosseguir sossegadamente a sua demanda do Santo Graal do conhecimento futebolístico, aprofundando os exames sobre os pacientes, através de vastos inquéritos ao passado e ao presente, aplicando-lhes, de seguida, o método terapêutico mais adequado. Como comentou na altura o sempre respeitado Gabriel Alves, a força da técnica havia, uma vez mais, levado a melhor sobre a técnica da força.

To be continued… Não perca, por volta das 12 horas da manhã, no seu ILdL, o Último Acto de “O Professor: Plus Ultra”

1 comentário:

  1. Espero que tenha um final feliz! Adoro finais felizes! E se for tipo lucky luke, de costas e a partir para longe, ao pôr do sol (embora por mim a hora seja indiferente), qual lonely cowboy, melhor!
    Fico a aguardar, expectante!

    ResponderEliminar