O Professor, tal como o Pacheco do Eça, era um ser superior, cujo espírito brilhante, ele mantinha, por opção própria, cuidadosamente ocultado e resguardado de tudo e todos, ficando quase sempre calado, recolhido, nas suas profundidades. Nascido nos ninhos de incubação das Universidades, o Professor dedicou-se, logo desde que lhe começaram a crescer os primeiros pêlos do bigode, ao exigente estudo científico do fenómeno futebolístico. Rapidamente, porém, ganhou asas e voou para o estrelato, ao produzir um conjunto de máximas futebolísticas tão originais e profundas como “o futebol tem de ser arte”, ou “o maestro [ele próprio, o Professor, naturalmente] fará funcionar bem a orquestra”, ou, ainda, “o melhor futebol do mundo tem de ser com os melhores jogadores do mundo”. O semi-sorriso enigmático e condescendente, a sábia gestão dos silêncios, ou o seu ar ausente ou de enfado quando tinha que justificar quaisquer opções tácticas perante o povo ignaro do futebol não enganava: estávamos perante um Treinador com imenso talento.
Era, também, sem dúvida, um gentleman: a forma sempre educada e cordial como nas conferências de imprensa e após resultados menos sucedidos dizia que “não acho que se deva discutir táctica entre treinadores e jornalistas” era manifesta evidência disso. A atitude frontal e corajosa como assumia as suas responsabilidades em momentos particularmente difíceis era, aliás, lendária: frases como “é preciso limpar a porcaria da Federação”, ou “herdei um Ferrari sem rodas no Real Madrid”, ou, ainda, “estava no lugar errado na hora errada” outra vez na Selecção Nacional, foram, entretanto, adoptadas como paradigmas de liderança em escolas de gestão internacionais tão prestigiadas como Harvard ou o MIT - Massachusetts Institute of Technology.
Apesar de ter sido sempre muito infeliz (enquanto Treinador de futebol profissional, bem entendido) em quatro dos cinco Continentes, o reconhecimento generalizado do seu imenso talento fazia com que ninguém se surpreendesse por a sua cotação permanecer, ainda assim, "em alta". Muito infeliz, é certo, nos resultados desportivos, o Professor era, porém, muito feliz nos resultados financeiros - como dizia o brasileiro Isaías a propósito das vultuosas indemnizações contratuais dos Treinadores despedidos (nesse caso, Artur Jorge), “o Professôo faz contrato por treis ano e recebe em treis meises…”. O Professor era, pois, um Treinador pobre em títulos, mas rico em ouro. Fiel seguidor de Samuel Becket, ele acreditava, piamente, na sua máxima: “Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor”.
To be continued… Não perca, hoje, pelas 24 horas no seu ILdL o Segundo Acto de “O Professor: A Casa do Futebol”
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