segunda-feira, 19 de agosto de 2019

São Renan e o apóstolo Fernandes


Estou convencido que tudo não passa de uma estratégia para adormecer os nossos rivais e depois dar a estocada final. A venda do Bas Dost em fim-de-semana de jogo (daquela forma profissional) revela um amadurecimento da estrutura tão rápido que não tarda cai de podre. Keizer estará a par desse amadurecimento apenas se ler esta posta.

Sobre o jogo? Entramos a jogar contra o Braguinha, uma sucursal domingueira dos nossos rivais. Esse jogo durou 15 minutos. Depois entrou o Arsenal em campo para nos desvairar. Como é que o Arsenal entrou em campo? Faz parte da estratégia. O Apostolo Fernandes ainda se chegou à frente a ver se na próxima janela de transferências se atira com toda a convicção borda fora. Entretanto, São Renan, mesmo saindo dos postes com a convicção de uma laje de granito, lá foi chegando para todas as encomendas, destacando ainda mais a estratégia de enrolar os nossos adversários em permanentes brindes e outras minudências.

Isto de treinar para dar a entender aos outros que não se treina não é nada fácil, é mesmo tão difícil como gerir um clube dando a entender que não se gere mas gerindo pela calada, mesmo sem dar a entender que se gere. Faz tudo parte de uma estratégia. A coisa é tão perfeita que os jogadores das equipas adversárias falham golos com a convicção de que os iam marcar. Keizer ainda os enrola mais num novelo táctico cujo vértice é um Neto de avós desconhecidos e um Vietto que entra em campo para sofrer faltas. Nem que para isso tenha que esperar pelos adversários. Ainda gritamos pelo Krpan mas não fomos ouvidos. Faz tudo parte de uma estratégia genial.

Bem, ganhámos, diverti-me muito, mas agora vou descansar uns dias. Não aguento tamanha dose de genialidade.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

De ideias anda o mundo cheio


Numa música dos Mão Morta, banda de Braga, podemos escutar no refrão: tenho uma ideia, tenho uma ideia, vamos fugir. Talvez este refrão assente como uma luva sonora na alma sportinguista da atualidade. Mas fugir para onde? É uma boa questão.

Ter uma ideia não basta. Muito menos se for apenas uma. Já aqui escrevi que até eu sou capaz de ter duas ou mesmo três ideias numa semana. Ou até num espaço de tempo mais curto. Sem grande esforço. Jorge Jesus tinha uma ideia de jogo. Tinha igualmente um compartimento muito reservado no seu cérebro onde se idolatrava essa ideia, com velinhas e tudo. A sua ideia aos poucos transformou-se num ícone, e como todos os ícones, com velinhas e incenso à mistura, ultrapassou o próprio criador pela esquerda. Isto começou ainda no Benfica e passou por osmose para o Sporting. Na primeira época (lembro-me bem) aquilo quase que resultava por KO técnico, não fosse a fanfarronice do costume, desta vez não acompanhada pela máquina de propaganda bem oleada do Benfica, nem toupeiras que lhe valessem. Em Alvalade os animais são outros e nem sequer precisamos de inimigos. Bom, essa ideia que cristalizou num ícone foi depois o que se viu e continua a ver agora no ninho do Urubu.

Peseiro não tem bem uma ideia, faz uma pequena ideia de ter tido (algures no tempo) uma ideia aqui, outra ali, sendo que ambas não germinaram. Peseiro quase que ganhou uma vez. Mesmo sem ideias. Assim continuou. E agora verificamos que, às vezes, não fazer uma pequena ideia das coisas pelo menos não confunde os outros. Principalmente os jogadores. Sousa Cintra confunde-se com Sousa Cintra e isso diz tudo.

Quando o Keizer veio tinha uma ideia (talvez atá mais do que uma), não fazendo, no entanto, a mais pequena ideia de onde se ia meter. Talvez por isso lá foi ganhando despreocupadamente. Assim que as coisas (com alguma naturalidade diga-se) esmoreceram, leia-se, alguns resultados, Keiser caiu no erro de se aculturar rapidamente em vez de se adaptar. Keizer até tinha a ventura de não conhecer a língua, de não saber quem eram o Varandas, o Pinto, o Vieira, o Rui Santos, os emails, as toupeiras e os beija mãos. Teve aí uma oportunidade única de se estampar com grande pompa e circunstância e assim ficar nas nossas memórias à imagem de outros que se estamparam em grande sem nada ganhar, ficando para sempre nos nossos corações.

Mas não, Keizer, escutando vozes vindo não se sabe bem de onde, vozes melífluas, Keiser aculturou-se rapidamente, começou nele a medrar uma outra ideia, algo que se ouvia por aí em nome do pragmatismo, algo plantado para o agarrar à mediocridade de um jogo que entre nós se joga em todo o lado, inclusive no campo. Keiser perdeu-se nesse emaranhado de vozes difusas, perdendo-se com ele a identidade da equipa. A ideia nova não difere das velhas que todos conhecemos. Keizer foi aceite. Quase todos aplaudiram.

No defeso não se defendeu, não falou, não percebeu que nada estava a acontecer e que ninguém sabia, nem ninguém sabe ainda, como o plantel vai estar no final de Agosto. Keizer quando falou, disse que Vietto e Bruno não fazem sentido em campo. Que sobre Matteus Pereira o melhor é falarem com o diretor. Que devíamos jogar melhor. Não sei se keizer reparou que ninguém falou sobre ele, sobre o seu trabalho, que ninguém aparecia na fotografia a seu lado. Keizer nisso ainda não é tuga o suficiente. Ainda não percebeu. Mas já dever ter uma pequena ideia.

domingo, 11 de agosto de 2019

É aborrecido


Gosto particularmente de falar de futebol com um amigo meu, fiel Gilista. Sempre que reafirmo a minha desconfiança sobre a exigência (e a falta dela) no futebol do Sporting, ele contrapõe o fenómeno da desresponsabilização, processo com alguns anos que, no seu entender, levará inevitavelmente à inimputabilidade do plantel (e da estrutura) e à indiferença dos adeptos, no seu estádio último, claro, mesmo que estes continuem fieis.

A mim parece-me uma análise a não descurar, juntamente com a falta de exigência, estando ambas interligadas. Mas acrescento uma política de comunicação extremamente fraca e um descuido de linguagem (e conhecimento) brutais. Veja-se a utilização da palavra “chato”. Chato poderá ser um parasita, um indivíduo desagradável, ou um adjetivo que nos remeta para algo inconveniente, ou mesmo maçador. No Sporting, o adjetivo chato assume várias gradações, na minha opinião todas erradas. Para um ex. presidente, uma invasão (é disso que se trata) de uma academia de futebol era algo chato. Para outro, mais recentemente, uma derrota por cinco a zero era algo para um tipo ficar chateado.

Não percebo a razão da chatice. Mas percebo que poderá existir alguma inquietação nas derrotas. Estar preocupado implica questionar as razões da inquietação. Tentar perceber se existe algum problema. Não é uma preocupação de maior estar preocupado com o seu trabalho, seja ele qual for. Não revela idiotia, questionar se existe algum problema de saúde em alguma situação desconfortável de alguém com o seu corpo. Numa empresa, quem dirige preocupa-se em fazer mais e melhor e em recuperar resultados menos positivos.

A não preocupação tem uma hierarquia que poderá redundar em desleixo. Uma derrota, mesmo por cinco não é o fim do mundo, mas não se traduz apenas (supostamente) numa semana má (pois não senhor Keizer?). Uma semana má é o prato do dia de quem trabalha. E mesmo quem não trabalha tem as suas semanas más. Recentemente experimentei jogar uma raspadinha, não saiu nada, fiquei chateado, mas não preocupado. Deveria?

Os resultados do Sporting (incluindo o de hoje com um golo sofrido de bradar aos céus) são reveladores. Entre oficiais e oficiosos e a feijões que seja, nada escapa, desde a época passada que não ganhamos um jogo. Não é caso para ficarmos preocupados? Bem, pelo menos, aborrecidos. Mas posso arranjar outros sinónimos. A sério que posso. Estou aborrecido. 

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Por outros cantos (do Morais)

O Pedro Azevedo, simpaticamente, lembrou-se de mim para escrever um texto, em jeito de testemunho, depoimento, sobre as nossas relações de afetividade com o Sporting. O “post” tem uma componente mais pessoal e intimista, mas também procura ser o retrato de um tempo, do tempo que me foi dado viver e à minha geração. Existem umas referências históricas e culturais. Enviei “link” a vários amigos e amigas e foi muito divertido obter respostas sobre a música e o que ela significava e ainda significa para nós. 

Podem lê-lo aqui. Não sei se mereço, mas o Pedro Azevedo merece seguramente.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Keizerismo - Peseirismo

Rasgar as vestes ou o cartão e culpar o Varandas ou o Keizer desopila mas não gera qualquer entendimento útil sobre o que ontem se passou. Sem esse entendimento, estamos condenados ao Mito de Sísifo e a carregar o sportinguismo montanha acima para o ver despencar-se uma e outra vez. Vou lendo e ouvindo que os jogadores do Benfica são muito melhores. Arrisco-me a dizer que se se trocassem as camisolas, estaríamos a dizer o mesmo. O Coates é muito pior do que o Ferro, o Mathieu do que o Rúben Dias e o Acuña do que o Grimaldo? 

A fanfarronice do Bruno Lage ia-lhe saindo cara. Não sei se previu ou não previu, mas o sistema dos três centrais surpreendeu-o num primeiro momento e não se viu a perder por sorte (e competência do seu guarda-redes). Mas o que também foi evidente é que o nosso plano era o de surpreender o adversário e, acabada a surpresa, não havia muito mais. Este sistema de três centrais não é igual ao da época passada, pois os jogadores não são exatamente os mesmos. É diferente jogar com o Borja do lado esquerdo ou com o Mathieu. Tirou-se do meio o jogador mais inteligente e mais capaz de dobrar os seus colegas e de sair a jogar ao mesmo tempo que se o obrigava a estar com um olho no burro e outro no Acuña, acautelando as suas subidas. Para equilibrar a equipa, o Bruno Fernandes tem de se posicionar mais à esquerda, com responsabilidades defensivas acrescidas e ficando distante dos locais onde pode fazer a diferença, nomeadamente aproveitando um ressalto ou saindo a jogar com mais opções de passe. 

Mal os jogadores do Benfica deixaram de pressionar à maluca os centrais, o Sporting teve as habituais dificuldades de saída da bola para o ataque. Com três centrais sem especial pressão, esperava-se que saíssem mais a jogar, de forma a surpreender o adversário. De outra forma, os médios ficam em inferioridade para receber a bola e a passar ou sair a jogar. Em contrapartida, a equipa continua a não pressionar alto ou a fazê-lo de forma desconfiada e a desistir à primeira. Jogando nas transições ou no erro do adversário, o Bas Dost é um jogador a mais. Não se lhe pode pedir que seja um pino na frente porque o que ele dá à equipa são movimentações de ataque à bola para finalização e nisso é muito bom, como todos sabemos. 

Na primeira parte, o Sporting controlou os acontecimentos, teve mais oportunidades de golo mas acabou por ficar em desvantagem, num lance revelador das suas fragilidades defensivas, dispondo de cinco defesas e de dois médios à sua frente. O Wendell deu todo o espaço e tempo necessários ao Pizzi para meter a bola nas costas da defesa, o Neto não encostou ao Seferovic, o Thierry Correia calculou mal a trajetória e tentou fechar por dentro, o Renan Ribeiro não deu um passo em frente para encurtar o ângulo e o Rafa acertou de primeira com a canela e colocou o Benfica na frente. 

No início da segunda parte, ainda parecia que podíamos dar a volta, mas, a partir do momento em que o Bruno Fernandes levou uma pancada e passou a coxear, era uma questão de tempo até tudo se desmoronar. Não consigo dizer que no segundo golo a culpa é do Mathieu, dado que o Coates não aliviou e foi-se embrulhar com ele, deixando-lhe a bola sem querer e com ele parado à espera de tudo menos daquilo. O terceiro começa numa falta escusada do Coates seguida de um remate em que o Renan Ribeiro parece mal batido. O quarto é revelador do estoiro da equipa, sem ninguém a acompanhar o Pizzi que em movimento e de frente para a baliza fez o que quis. O quinto não aconteceu antes por acaso e demonstrou a excelente capacidade de reação do Borja. 

Há jogos como este, acontecem. Mas temos de analisar o que aconteceu em perspetiva, no tempo longo. Há anos que o Sporting não revela andamento para os noventa minutos quando joga com equipas melhores. Vem pelo menos do tempo do Jorge Jesus. As razões podem ser de vária ordem, táticas, físicas ou de qualidade dos jogadores, mas o que impressiona é andarmos nisto há anos. Os jogadores parecem estar sempre muito distantes uns dos outros. O meio-campo acaba sempre em desvantagem e os adversários aparecem de frente para a defesa com esta às arrecuas. A partir de certa altura, há uns jogadores que deixam ou de recuar ou de avançar, partindo-se a equipa. Não se consegue jogar em ataque continuado ou quando acontece é mais permitido do que conquistado. Os jogadores são sempre os mesmos e jogam até cair para o lado, não se compreendendo as contratações enquanto efetivas alternativas para o treinador. Os golos resultam de acasos e do virtuosismo dos melhores jogadores e muito pouco do envolvimento coletivo. 

Contrariamente ao que afirmou Frederico Varandas, há razões para desconfiar da estrutura e do que anda a fazer. O resultado de ontem tem uma componente que pode ser explicada pelo acaso que um jogo sempre envolve. No entanto, nada do diagnóstico do jogo é, propriamente, novidade. A equipa e o seu modelo de jogo não dão sinais de melhoria. Os jogadores são sempre os mesmos. A aposta é nos jovens e no “scouting” e depois essa aposta não tem reflexos na equipa principal. O treinador foi escolhido porque dispunha de perfil necessário para dar resposta a estas apostas e melhorar o nosso jogo. Quem conhece o futebol português e os seus contornos, não espera títulos, a não ser muito esporádicos. O que legitimamente se espera é valorização de jovens jogadores e bom futebol. Se não se corresponde a essa expetativa, então o Peseiro servia, desde que devidamente equipado com uma pata de coelho.