quarta-feira, 30 de abril de 2014

Pum, pum, pum, pum

Pum, pum, pum, pum. Com quatro batatas se mata o tiki-taka. Com mais estes dois golos, o Cristiano Ronaldo soma dezasseis na actual Liga dos Campeões e bate mais um record. Mas bom, bom é o Ribéry.


(Quando vi o Pedro Proença mostrar o amarelo ao Dante, veio-me subitamente à memória o vermelho mostrado pelo Cosme Machado ao Rojo no jogo contra o Belenenses)

terça-feira, 29 de abril de 2014

Profecias que se cumprem a si próprias e prognósticos no fim do jogo (III)

Subitamente, não há comentador, jornal desportivo ou outro qualquer meio de comunicação social que não se preocupe com o nosso futuro próximo. Vamos ter muitos jogos. Vamos jogar na Liga dos Campeões. Vamos ter imensas deslocações aos locais mais recônditos do Continente.

Por detrás desta preocupação está a mais sublime hipocrisia. Desta vez safaram-se. Para o ano é que vamos ver! Querem-nos tratar como um epifenómeno. Não querem intromissões na luta pelo título. Não temos direito a essa luta. Essa luta está destinada por usucapião.

Estão enganados. Este ano era extraordinariamente difícil. Ninguém dava um tostão furado por nós. A equipa era fraca. O que não era fraco era uma incógnita. O Presidente aguentou-se à bronca: primeiro com os credores, depois com os empresários dos jogadores. Escolheu um treinador que é um bocado de gelo.

A equipa não joga sempre muito bem. Mas é uma equipa chata. Não concede grandes oportunidades de golo aos adversários. Não deixa jogar. Quer a bola e troca-a quantas vezes forem necessárias até aborrecer o adversário. Não tem grandes estados de alma. É cínica. Não é muito criativa na frente. Mas concretiza as poucas oportunidades que cria. Ao princípio pelo Montero. Mais tarde pelo Slimani. Só perdeu com os rivais fora de casa. Ganhou os jogos que lhe competia. Não ganhou contra o Rio Ave, o Nacional, a Académica e o Setúbal, porque não bastam os adversários, é necessário contar com os árbitros também. Sempre que dependeu de si, nunca deu abébias.

Para o ano vai ser mais do mesmo. Vamos jogar a Liga dos Campeões e não vamos fazer pior que os nossos rivais nos últimos anos, que pouco ou nada fizeram, a não ser encher umas tantas páginas dos jornais desportivos com as contas do costume misturadas com umas bravatas.

Não há dinheiro. O Leonardo Jardim vai inventar outros Willians e Manés. Mas esses vão acrescentar aos Willians e Manés que já lá estão. Pouco a pouco, jogo a jogo, sem olhar para os outros e com os outros a olhar para nós.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Gigantes


Impressão Digital

     Os meus olhos são uns olhos,
     e é com esses olhos uns
     que eu vejo no mundo escolhos, 
     onde outros, com outros olhos,
     nao vêem escolhos nenhuns.

     Quem diz escolhos, diz flores!
     De tudo o mesmo se diz!
     Onde uns vêem luto e dores,
     uns outros descobrem cores
     do mais formoso matiz.

     Pelas ruas e estradas
     onde passa tanta gente,
     uns vêem pedras pisadas,
     mas outros gnomos e fadas
     num halo resplandecente!!

     Inutil seguir vizinhos,
     querer ser depois ou ser antes.
     Cada um é seus caminhos!
     Onde Sancho vê moinhos,
     D.Quixote vê gigantes.

     Vê moinhos? São moinhos!
     Vê gigantes? São gigantes!

    Antonio Gedeão in "Movimento Perpétuo", 1956

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Profecias que se cumprem a si próprias e prognósticos no fim do jogo (II)

Ontem procurei explicar por que razão o Duarte Gomes fez mais pela permanência do Jorge Jesus no Benfica do que o Luís Filipe Vieira. Procurei explicar tal raciocínio com recurso ao jogo da Taça de Portugal.

Em resposta, um benfiquista, imagina-se, considerou que “falar do árbitro nesse jogo é delirante”. O Benfica estava “estoirado depois dos jogos da Liga dos Campeões” e andou o jogo “a engonhar”. Os jogadores estavam tão estoirados que “dois deles saíram lesionados”. O Sporting marcou dois golos “aleatórios”.

A relação entre uma equipa estoirada e a arbitragem é que parece delirante. Segundo o Cantinho do Mariais, só pode ser interpretada à luz de uma norma do Luís Filipe Vieira. Qualquer coisa do tipo: "Se durante um jogo de futebol profissional de uma competição oficial, uma equipa já se apresentar limitada fisicamente, devido a cansaço acumulado resultando mesmo em jogadores substituídos, a equipa de arbitragem (também ela profissional) deve-lhe prestar imediato auxílio, equilibrando as forças entre as equipas em competição, podendo mesmo funcionar como elemento extra na procura e alcance da vitória. À equipa limitada fisicamente, pode-lhe ser permitida qualquer tentativa de cometer actos que vão contra as regras do jogo, como a utilização de membros superiores no esférico ou mesmo pontapear adversários dentro da grande área. Aos actos ilícitos praticados pela equipa limitada fisicamente, mesmo comprovando-se a intencionalidade da sua execução, nunca se poderá comprovar a intenção em provocar dolo na equipa adversária".

Os benfiquistas, por vezes, parecem conseguir demonstrar a lógica circular  do Catch 22, explicada pelo Joseph Heller, mas ao contrário. Parafraseando-o, uma pessoa só deve ser considerada lúcida quando passar num teste de lucidez. Ninguém lúcido está disponível para efetuar um teste de lucidez. Quando se submete a ele, então é porque não está lúcido.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Profecias que se cumprem a si próprias e prognósticos no fim do jogo (I)

Os campeonatos só interessam até que esteja decidido o vencedor. Após o apito final dos jogos que os decidem, festejam-se e, em seguida, passam a estatísticas. Agora, entra-se na fase das narrativas sobre os (de)méritos das equipas. A história, mesmo a pequena história do futebol, é escrita pelos vencedores. As narrativas dessas vitórias têm dois papéis: legitimam quem ganha, mesmo que a legitimidade e a justiça da vitória sejam duvidosas, geram um contexto para a época seguinte. É importante estar atento a estas narrativas, pois elas condicionam o futuro.

Atribui-se um grande mérito ao Luís Filipe Vieira por ter mantido o Jorge Jesus. O que parecia uma loucura apresenta-se como um ato de gestão visionário. A manutenção do Jorge Jesus dependeu do LFV e de muitas outras circunstâncias.

Há várias que a explicam. Escolho um delas: o jogo da Taça de Portugal contra o Sporting. Esse jogo foi em 9 de novembro de 2013. Depois de um início de campeonato engasgado e a jogar miseravelmente, o Benfica estava em terceiro lugar a três pontos do Porto. Esteve a ganhar por três a um. Permitiu o empate. Ganhou por quatro a três. Assistiu-se a um dos maiores gamanços da história desta época; gamanço que foi mesmo reconhecido pela tradicional balbúrdia jurisdicional do futebol português.

Não posso, ninguém pode efetuar o exercício contrafactual. O que teria acontecido a Jorge Jesus se tem perdido, nos termos em que devia ter perdido (depois de estar a ganhar por três a um e de um início de época cheio de contestação e de maus resultados)? Não teria resistido, a meu ver. Teria saído pichado com alcatrão e penas no próprio dia. Não só não saiu como o Benfica ganhou confiança e moral. Sendo assim, quem é que assegurou a manutenção do Jorge Jesus no Benfica? O Duarte Gomes, pois claro. Mas houve mais…

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Não se festejam os segundos lugares

Milagrosamente, um amigo meu pediu-me para efetuar no sábado uma conferência em Chaves. Evitei, assim, uma série de tarefas domesticas associadas à Páscoa. Os amigos são para as ocasiões, sobretudo para as mais difíceis. Não só me livrei de chatices como conheci pessoas interessantes. Tive a oportunidade de conversar longamente com o Dr. Amílcar Salgado, produtor dos vinhos da Quinta do Arcossó. Nesta altura, espera-se que faça um trocadilho aproveitando a homografia. Qualquer coisa do tipo, houve demasiados golos para tão poucos golos; ou houve mais golos do que golos.

Só aceitei realizar a conferência com a condição de, no fim, ver o jogo. Tinha um jantar notável à minha espera, mas só depois do jogo. Primeiro a obrigação, só depois a devoção. Entretanto, a conferência atrasou-se. Houve quem quisesse falar comigo no final. Simpaticamente, acedi em pulgas.

Acabei por ver a segunda parte. Fiquei com a sensação de não ter perdido muito. Para o bem ou para o mal, esmeramo-nos no que fazemos. Quando estamos a engonhar, engonhamos com zelo e proficiência. Esqueceram-se foi de explicar ao Mané ao que estávamos e ao que vínhamos. Os entusiamos da canalha depois dão nisto. O rapaz entusiasmou-se e, de repente, estava o Adrien na posição de que tanto gosta. A dúvida fica sempre no ar, para nós e para o guarda-redes. A pergunta que procura responder é sempre a mesma: é desta que remato para o lado esquerdo ou continuo a rematar rasteiro e colocado para o lado direito? O guarda-redes colocou todas as fichas na continuidade. Azar e um a zero.

Continuámos a trocar a bola atrás, mas agora ainda mais lentamente. Ficámos à espera que o Belenenses se desmanchasse. Que, por uma vez, se deixasse de cautelas e caísse sobre nós. Que nos desse umas abébias na defesa e no meio campo. Mas eles nada. Continuaram à espera que lhes oferecêssemos um golo.

Estava o jogo nesta modorra, quando se começou a fazer sentir o efeito Cosme Machado; fenómeno natural há muito estudado e ainda não completamente compreendido, face à sua aleatoriedade. Começou de forma insidiosa. De repente, não havia uma bola disputada de cabeça que não fosse falta contra nós. Os livres sucediam-se ao mesmo ritmo das demonstrações de falta de jeito dos jogadores do Belenenses para jogar à bola. Mas o Cosme Machado começa como uma brisa e acaba transformado num tornado. O Rojo, mais impetuoso, faz uma falta. O jogador do Belenenses rebola-se no chão como se lhe tivessem arrancado o dente do siso sem anestesia. O Cosme Machado aproveita de imediato.

O que estava mal, piorou. A jogar contra dez, o Belenenses viu-se na obrigação de atacar; algo que tinha evitado com muito esforço e dedicação. Tirou uns jogadores mais pequenotes e meteu outros maiores e mais frescos. Meteu um calmeirão com cara de poucos amigos. Quando entra um destes percebemos que estão à espera que numa molhada o grandalhão acabe por tropeçar na bola e marcar um golo. Mas este grandalhão não era dado a grandes tropeções, apesar de o Dier e o Maurício terem procurado insistentemente tropeçar um no outro. O William Carvalho é que não está para tropeções nestas alturas.

O jogo lá acabou. Ganhámos e ficámos definitivamente em segundo. Festejámos, mas não muito. Ninguém no seu juízo perfeito festeja um segundo lugar. 

domingo, 20 de abril de 2014

Ressurreição



Não vi o jogo de ontem. Em compensação, na RTP Memória, vi um pouco do mesmo jogo mas o de 1989. Neste ressuscitar de memórias constatei o óbvio, pouco mudou nestes 25 anos! Deu para lembrar  que os comentadores lampiões desde sempre tiveram cátedra na televisão. Paulo Catarro e o comentador Humberto Coelho, neste caso, estavam no seu melhor com a sua famosa visão oblíqua. O árbitro Rola era também ele um insigne representante da excelência da arbitragem portuguesa. Tal como o Cosme o é hoje, basta pensar naquele vermelho ao Rojo. Também  naquele  jogo, dominamos mas podíamos ter feito muito mais. Uma equipa com  Figo, Balakov e Amunike podia fazer sempre mais e melhor, mesmo tendo como treinador o Sr. Queiroz. Ontem, com um muito melhor treinador mas sem "Figos ou Balakoves", podiamos mesmo assim ter feito muito melhor. Seja como for, ganhamos os dois jogos, o de ontem e o de há 25 anos. Ontem conseguimos um importante objetivo desportivo e financeiro e adiamos a festa de alguns jarretas que estavam já de plantão nas televisões à espera do foguetório. 
  
(a RTP com má Memória, o ano não é 1989)
Hoje, algumas religiões, comemoram a Ressurreição. "Ressuscitou dos mortos ao terceiro dia [para outros, ano] conforme as Escrituras". Outro facto importante: ressuscitar só é possível depois de se morrer.  Aleluia! Aleluia! Aleluia!